segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

GÊNESIS e outras histórias - por artur de carvalho



- A verdade é que a humanidade não tem jeito mesmo, deve ser um defeito genético!
- É verdade, é verdade...
- Veja só esse negócio do Abel.
- Abel? Que Abel?
- O Abel, aquele que matou Caim.
- Ah, sei... mas não foi o Caim que matou o Abel?
- Hum, pode ser, mas isso não importa. O que eu estou querendo dizer é o seguinte. Veja bem. Naquele tempo do Caim e do Abel tinha só quatro pessoas no mundo, certo?
- Quatro?
- É, ué. O Abel, o Caim e os pais deles, o Adão e a Eva.
- Ah é, o Adão e a Eva, eu tinha esquecido deles.
- Pois então. Quatro pessoas no mundo. E o que é que acontece? Um deles mata o outro. O que quer dizer que naquele tempo, um quarto da humanidade era composto de assassinos.
- Um terço.
- Como assim, um terço?
- Um terço, ué. Um deles não morreu? Ficaram só três.
- Puxa vida. É mesmo! Um terço! O que só vem reforçar ainda mais a minha tese. Como é que uma espécie pode dar certo se ela já começou com um terço de assassinos fratricidas e...
- Frati o quê?
- Fratricida. O cara que mata o próprio irmão.
- Ah.
- Pois então, se a humanidade já começou com um terço de fratricidas, como é que podia dar certo? Não podia. A coisa vem da genética mesmo. Pra você ter uma idéia, é a mesma coisa de, hoje em dia, dos seis bilhões de habitantes que a Terra tem, dois bilhões deles serem assassinos! Já pensou numa coisa dessas? Dois bilhões de assassinos andando por aí, prontos para matar até o próprio irmão?
- Já imaginou só que coisa horrível?
- Pois não precisa imaginar nada. Olha só aí em volta e vê a porcaria que está. E é tudo por causa desse negócio do Caim matar o Abel. O ser humano já nasceu estragado. Todos nós temos no sangue o DNA de um assassino!
- E isso sem contar outras coisas.
- Que coisas?
- O Caim, ele teve filho com quem?
- O Caim? Bem, sei lá, com uma mulher, evidentemente.
- E qual era a única mulher que estava ali, disponível no momento?
- Minha nossa senhora! A Eva! Rapaz, a coisa é ainda pior do que eu imaginei!
- É verdade, é verdade...
desenho do autor.

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