sábado, 19 de janeiro de 2008

BÁRBARA LIA ESCREVE PARA BIA DE LUNA

Beatriz Hyuda de Luna Pedrosa - Bia de Luna, foi enterrada ontem. Bia lançou o livro Clivagens e a conhecia mais através dos outros poetas, nunca convivi com Bia. Quando os poetas se reuniam no Bife Sujo em uma época efervescente, que gerou uma coletânea de poesias com este título - Bife Sujo - com as poesias de todos que ali conviviam, eu estava apenas colocando os pés na margem do Lago da Poesia. Mas, sempre vi a Saldanha Marinho como um rio de carvão escuro onde a vida incendiava aqui e acolá em chispas que floresciam ao sopro da beleza, como florescem as brasas na lareira ao vento, como floresce o chão carvão. Ando pensando carvão, este que de tão escuro é azul. Lembro que era a cor dos cabelos de Bia. E ela incendiou brasas azuis na cidade morta. Na Saldanha Marinho, no Sal Grosso, estes lugares onde transitam os artistas, pessoas que vivem livre sem correntes. E a poesia que flanava nas mesas do Bife Sujo e, mais recentemente, no Palco do Kapelle transborda para calçadas tortas, de um tijolo escuro, um rio. Um rio chamado Tempo, uma casa chamada Terra. Ontem vi Mia Couto no Roda-Viva e pensei na poesia como esta coisa abensonhada. Quem viveu abensonhadamente, nem morre. Vi Bia de Luna uma vez, uma única vez, no Hermes Bar, nem faz muito tempo. Hoje li que ontem ela foi enterrada, que faleceu na madrugada do dia 13. Guardo um retrato dela, tecido por outros. Tem um texto do Raymundo Rolim que a evoca, e está no site Palavras, todas palavras... Bia foi uma das personagens da peça de Raymundo Rolim - Ópera da Cidade.
A finitude é matéria pouca, a matéria é pouca, a alma sempre fica gravada, vai reascender vez por outra, um braseiro santo, vai brilhar nos corações de quem ela tocou quando soprar o vento da saudade.
Todas palavras para Bia de Luna.

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