sábado, 12 de janeiro de 2008

CARTA À HUMANIDADE QUE VIRÁ - por deborah O'lins de barros


Meu nome é Deborah. Embora de família cristã, eu e minhas irmãs (Rachel e Sarah) fomos batizadas com nomes judaicos, por opção de nossos pais. Antes de começar o relato propriamente dito, gostaria de deixar uma colocação às gerações vindouras (outros relatos de meus contemporâneos podem confirmar): viver na época em que vivo é muito chato. A minha história é a micro-história da minha geração; minhas raízes nasceram, foram arrancadas, replantadas, arrancadas novamente e assim por diante.
Eu realmente espero que alguém leia isso em algum futuro, por que não me deparei, até agora, com nenhuma admoestação das gerações que tanto invejo. Todas as guerras, guerrilhas e conflitos do século XX, foram o estopim para a desestruturação política, social e moral desse novo século XXI. A cada dia eu fico com mais medo de presenciar o "admirável mundo novo", previsto pelo escritor Aldous Huxley.
Bem, vamos por partes, vou tentar deixar vocês a par das coisas que acontecem nessa era pós-moderna de intolerância. Há uma metáfora que diz que se alguns jornais forem espremidos, escorrerá sangue por eles. Acreditem. Se eu juntar numa folha as centenas de acontecimentos que ocorreram a partir do ano em que nasci, 1983, e apertá-la, uma poça de sangue venoso se formará junto a meus pés. Mesmo assim, tenho orgulho de ter assistido ao vivo (embora pela literalmente globalizada tevê): a queda do Muro de Berlim, quando eu tinha seis anos; e o que me despertou para a política, os atentados de 11 de setembro de 2001, no World Trade Center.
Sabe o que me deixa mais irritada nesses "tempos modernos"? Parece que não aprendemos nada. Não aprendemos nada com os "erros" do passado, não aprendemos nada na escola. E o pior, ou irônico, é que as pessoas que menos sabem, parecem ser as mais felizes, pois não se preocupam. Como afirmou um personagem do filme que marcou a geração, Matrix, "a ignorância é maravilhosa". Porém, certa vez eu escrevi num caixote, quando me mudei do Rio de Janeiro para Santa Catarina: se a ignorância é uma bênção, eu amo ser desgraçada. E quem opta pela busca do conhecimento se torna um desgraçado mesmo; somos angustiados, poucos, espelhados, impotentes. A grande massa que nos apoiaria numa revolução não pode perder o capítulo inédito da novela.
Não sou de esquerda. Nem de direita. Acho os que se dizem socialistas, piegas, utópicos; os capitalistas burgueses, ridículos; os que se dizem "centro", hipócritas. Considero-me apenas uma sonhadora. Outra coisa interessante na minha geração é que somos um bando de indecisos. Não somos (mesmo que às vezes proclamemos) 100% nada. Combinamos camisa do Che Guevara com tênis All Star; somos católicos e acreditamos em encarnação; praticamos esportes e nos drogamos regularmente; somos mestiços, bissexuais e musicalmente ecléticos.
A música e arte, bem, em geral estão capengas. Na verdade, qualquer coisa ("coisa" mesmo) que for feita por algum famoso ou descendente (o sucesso não é mais mérito, ele é hereditário) e for bem divulgado, terá um bom retorno. Parece que estamos levando a sério aquela piadinha do Andy Warhol de fazer a "arte do comum". E o pior, vende que nem água e custa os olhos da cara. Só um exemplo: os cantores mais populares do século XX, Frank Sinatra e Elvis Presley nunca cantaram nada de instrutivo ou interessante.
É isso. Eu, daqui do passado, espero ter cooperado em alguma coisa para o futuro, isso é, se ele houver; se não acabarem com o mundo antes. Espero que vocês, de fora do paradigma da minha geração, aprendam o que eu nunca aprenderei. Quanto a mim, vou continuar imaginando como seria bom se eu tivesse vivido na época, ou melhor, tivesse sido o Álvares de Azevedo, ou o Edgar Allan Poe, ou a George Sand, ou o Oscar Wilde...

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