terça-feira, 23 de outubro de 2007

VIVAH - conto de raymundo rolim / livro cesto de pedras

Viva São João, viva São Pedro, viva a Nossa Senhora dos Pilares, viva o sétimo dia do sétimo selo, viva a mercadoria que não veio, viva a presença hospitaleira da lagarta da abóbora, viva a possibilidade de qualquer coisa, viva a porcaria que de vez em quando se instala, viva a parceria feliz entre homem e máquina, viva a sabotagem em nome da alegria de uns para a tristeza de outros, viva a idade de setecentos anos de alguma coisa, viva o mar, viva o ar, viva a baleia chamada de assassina só porque precisa comer um pouco! Viva a onipresença dos poetas, o Sérgio Natureza compositor e seus parceiros e a própria realeza; viva o vovô, viva a vovó, viva o netinho com o dentinho novo, viva o índio Caramuru que nem índio era, viva o pezinho que anda pela primeira vez, viva as sandálias do pescador e Hemingway, viva Érico Veríssimo, Chico Buarque de Hollanda e Machado de Assis, viva a Nossa Senhora da Conceição, viva o pai da Nossa Senhora, a mãe e a avó; viva o monstro da Lagoa Negra, viva o whisky da Escócia, (e aquele lavrado a mão pra matar o guarda), viva o papa que sem ele não podemos comungar com Deus – Será ? Um sonoro viva aos que beijam a mão do papa e se fodem do mesmo jeito. Viva o futebol, o Congresso Nacional e a Aracy de Almeida. Viva o tranco e o barranco, viva a casa da Maria Joana, viva o besouro do deserto que se vira por si, viva o Pedro, o João e o Mané, o Garrincha; (e o meu amigo e goleiro Remonatto de Curitiba que numa só partida em início de carreira há muitos anos tomou sete gols do rei Pelé). Viva a falta de assunto, outro viva aos bilhões de assuntos que se descolam nas bibliotecas, viva a televisão, a fina educação, a bossa nova, vai um viva especial para o samba e Chiquinha Gonzaga, viva os cantores do rádio. Viva os Estados Unidos da América do Norte e o Sudão, viva a melancia, a melancolia, a jaca e a laranja, viva a precariedade de certas situações, viva o bar, a feira e a comoção até às lágrimas. Viva a tarde do dia que amanhece azul e pleno, viva a chuva maravilhosa e o sol, viva o solo, viva a lagartixa, viva o Brasil, viva o povo brasileiro, viva Santo Antão (que não se sabe pra que é que serve), viva o patrono dos escoteiros mirins, viva a calda de pêssegos em lata, viva a bobagem, viva a ciência e as filosofias, viva a roça e a piscina, o espetinho de gato, de rato e de batráquio, viva o Maracanã, viva Alvarenga e Ranchinho, viva o Blues, a música árabe e a erudita, viva Brahms, Carl Gustav Yung e Picasso, viva a Polícia Civil, a Guarda Costeira e um viva absolutamente natural para o Corpo de Bombeiros. Viva a felicidade pura e simples, um viva à vida, e outro viva à morte, viva o choro primeiro e último, viva os amigos, viva os inimigos, viva a camaçada de pau, viva a cambalhota do palhaço, viva a tromba do elefante, viva o jacaré do pantanal, viva o carnaval e o futebol, viva as mulheres, viva os homens , viva o Sultão de Bagdá, viva quem não sabe fazer nada, viva quem aprendeu fazer qualquer coisa nova. Viva a língua portuguesa do Brasil, viva o Barão do Rio Branco, viva a palhoça, viva o Baião e claro, a Bossa; viva Zé Pereira, viva o Frevo e o Maracatu, viva Guimarães Rosa e Hermann Hesse, viva Carlos Castañeda, viva Penélope, viva Luis Gonzaga, viva o som da Quena, viva o violão, viva o piano, viva Van Gogh, viva a estrela de Belém, viva os Reis Magos, viva o exército de homens e almas, viva! Viva a bicicleta, viva Santos Dumont, viva o abrigo anti-nuclear, viva o livro, viva a transparência do sábio, viva a falta de ignorância, viva o chiclete e a banana, viva a chance, viva a xota da Xuxa. Viva o meu amigo Condé, viva a minha amiga Jô que morreu de AIDS, e a minha amiga Bia de Luna que é poeta mimada, viva o meu querido amigo Leonardo Da Vinci, viva a padaria do português, o pão francês, viva o Macaco Simão, viva os Borboletas Azuis, viva a monarquia, viva a eletricidade, viva o campo magnético, viva a bolacha Maria, viva o pinto do nono, viva o vinho da nona, viva a Itália, viva a viola de dez cordas, viva a mulher pelada, viva a noiva, viva a Índia e o planeta lilás que circunda Andrômeda, viva a linha vermelha da razão, viva Reich, viva Debussy e Vivaldi, viva a Santa Maria a Pinta e a Niña, viva Cristóvam Colombo, o genovês (que parece que era catalão), viva a sabedoria dos Lamas, viva a lama, viva o pau duro, viva o pau mole, viva o computador, viva a luz, vivas à saúde e a possibilidade de se comer de tudo. Viva Einstein e a relatividade que não é pouca. (Tudo isso gritava o padre recém saído do seminário, que rouquenho e ao microfone, enfrentava a sua primeira quermesse, depois de ter entornado muito, muito, muito quentão). Alguns fiéis pareciam preocupados com a possibilidade d’ele ter enlouquecido ... um pouco! Fazer o quê? A quermesse já havia chegado ao fim mesmo! E o padre havia ganhado um ursinho de pelúcia (nas argolas) e estava feliz. Era isso! Apenas isso. Só.

2 comentários:

Anônimo disse...

M A R A V I L H A!!!!!!!!!!!

M A I S !!!!!

Luana Thompson

Equipe palavreiros da hora disse...

muito bom "palavras, todas palavras",
parabéns JBVidal, vida longa a este documento que começa a se escrever pelos seus dedos ágeis de poeta inconformado e instigado pelo prazer da literatura.
carlos borges