No filme “Os Sicilianos” (“Clan des Siciliens”, 1969) há uma cena em que o fantástico ator Jean Gabin chama a atenção de Alain Delon e, em tom entre o crítico e o irônico, dispara: “Você tem o cérebro abaixo da cintura!”...Obviamente, a tradução foi bastante amena, pois o texto original é bem mais “específico”.Será que essa é a condição da classe média, que não tira o “traseiro” da cadeira, para negociar juros e taxas menores com as instituições bancárias, e só discute e reclama em “mesas de bares”?Sinceramente, não sei o que é pior: essa “letargia” que o presidente Lula atribui à sociedade, ou a “idéia fixa” que tem conduzido a política econômica do país.Inerte a sociedade não é! Se fosse, com certeza, Lula não teria sido eleito! E o que a sociedade esperava com sua eleição? Mudanças, principalmente na política econômica!Infelizmente, o que se vê, no setor, está mais para continuísmo do que para evolução, permeado por cuidados que, longe de denotarem prudência, beiram à falta de curiosidade científica. É como se os responsáveis pela política econômica tivessem uma receita única – imutável - baseada no ditado: “Não se mexe em time que está ganhando!”. Não há dúvida que existe alguma verdade nele, mas a prática também demonstra que times que “estão ganhando” tendem ao colapso, por saturação, distração, obsolescência ou inércia. Por conta disso, estrategistas renomados alertam que é imprescindível aprimorar idéias e renovar de metas, constantemente, com o objetivo de alcançar novos patamares de desenvolvimento... Em vez disso, o que se vê é um repetitivo e sufocante apertar dos cintos de uma camisa-de-força. Cada nova ata do COPOM demonstra que seus integrantes têm medo. Só que medo, em excesso, tolhe o raciocínio e pode descambar em paranóia!O presidente minimiza a responsabilidade do governo e critica a sociedade “chorosa”. Exorta-a para que se encha de coragem e levante o “traseiro” - bastante dolorido, pela política tributária - para negociar com os bancos... Enquanto isso, o governo federal acena com uma provável “ajuda” financeira aos operadores de planos de saúde... Já a ministra Dilma Youssef afirma que o governo não pode intervir nos preços praticados pelas concessionárias de serviços públicos... Ué? A sociedade também pode negociar para diminuir as tarifas públicas?Talvez o governo diga que sim... Mas qual o limite entre a livre negociação e as garantias previstas nos contratos de privatização, consideradas como “cláusulas pétreas” pelas agências controladoras? E quem é esse “mercado” que estabelece a valor das tarifas?Quando a sociedade levantou o traseiro, nas eleições de 2002, resolveu “mexer em time que estava ganhando” na esperança de mudar um modelo que já estava se esgotando. Por prudência, creio, o atual governo optou por evitar mudanças abruptas. Só que já está na hora de sair da “banguela” e estabelecer novas metas. O mínimo que a sociedade cobra desse – e de todos os governos – é coerência! Em nome dessa condição o presidente Lula deve ponderar se faz sentido criticar as taxas de juros elevadas, praticadas pelo sistema bancário, e, ao mesmo tempo, manter e, até, ampliar uma das maiores cargas tributárias do mundo! A sociedade também pode levantar o traseiro para mudar isso, ou deve continuar a mantê-lo, exposto, na janela...? Supondo que a recomendação também seja a de reclamar: Qual a fronteira entre a recusa em pagar novas taxas ou reajustes de tarifas abusivos, e a desobediência civil?A inércia, o descaso e o medo têm efeitos negativos em todos os setores da sociedade! A inércia e o descaso atrofiam as funções cerebrais, o que coloca o cérebro “abaixo da cintura”. Já o medo - quando atinge o estágio de pavor - pode afetar o sistema digestório, principalmente os intestinos... Nessas circunstâncias é preciso ter muito cuidado, para evitar que o cérebro seja, definitivamente, perdido...Para afugentar esse risco é fundamental que o governo federal - que tem méritos e erros, como qualquer outro - demonstre que, também na condução da política econômica, a esperança vence o medo!
Filme: Os Sicilianos Título original: Clan des Siciliens País: França
Idioma: francês e inglês
Ano: 1969
Direção: Henri Verneuil
Roteiro: José Giovanni, baseado na obra de Auguste Le BretonGênero: Crime / Drama
Elenco: Jean Gabin, Alain Delon, Lino Ventura, Irina Demick, Amedeo Nazzari, Philippe Baronnet, Karen Blanguernon, Yves Brainville, entre outros.
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