domingo, 14 de outubro de 2007

TE PEGO LÁ FORA - de adilson luiz gonçalves

Que o Congresso Nacional foi transformado num circo, disso ninguém tem dúvida; mas, parece que nossos congressistas e senadores resolveram ir fundo, também, na área de dramaturgia: Agora, tem gente ameaçando dar surra no primeiro mandatário do país, ao vivo e em cores!Antes, a coisa era um pouco mais “light”, com nossos “representantes” limitando-se a expressões, como: “Vossa Excelência é um desqualificado!”; e insinuações sobre o exercício de meretrício por alguns opositores. Hoje, os ameaçam, explicitamente, as “vias de fato”!Será que a TV Câmara e a TV Senado resolveram entrar com tudo na disputa pela audiência, enfrentando as emissoras de canal aberto e a cabo? Parece que sim, pois, além das “novelas” - as CPIs -, também estão programando lutas de “vale-tudo”! Ou será de “tele-catch”? A dúvida existe, pois, no “vale-tudo”, a coisa é “séria”, enquanto que no “tele-catch” há um pouco de encenação, com golpes combinados e torcedores “típicos”, como a velhinha de guarda-chuva, etc... O que ambos têm em comum é que não vale golpe baixo! Mesmo quando o juiz, comicamente, fecha os olhos para as “maldades” cênicas do vilão, e permite que ele vença, os injustamente derrotados e, até, alguns “torcedores” selecionados entram no ringue para dar uma “surra” neles, para o delírio da assistência. Lembram de Ted Boy Marino, Fantômas, Tigre Paraguaio & Cia?Pois é... Só que representar o povo não é nada disso! Ou, pelo menos, não deveria ser. Embora a truculência, física e verbal, não seja novidade no meio político, ela nunca foi símbolo de maturidade ou integridade de seus praticantes. O “coronelismo” do campo, com seus jagunços e matadores de aluguel, e políticos folclóricos, com suas capas pretas e “lurdinhas”, nunca foram exemplos para a democracia. Brandir "toalha molhada", tampouco. Dizer que tem “aquilo roxo” pode ter importância para quem tem interesse ou tara por aberrações anatômicas, mas, não é atestado de dignidade e ética para o exercício de mandatos eletivos. Usar de espaços públicos para chamar opositores “para a briga” também não é o que se espera de nossos homens públicos.A denúncia de que alguns políticos de oposição estariam sendo monitorados por órgãos de inteligência governamental, é grave! Mas, isso não os deveria surpreender, já que quem se propõe a representar o povo deve, por princípio, não ter nada a esconder. Já a afirmação de que estariam recebendo ameaças – extensivas a parentes - é gravíssima, e inaceitável! O curioso é que a solidariedade vem, também, de quem têm ligações com personalidades que quase foram cassadas, por motivos análogos... Não importa! As denúncias são sérias devem ser apuradas com rigor absoluto! Mas, entre o desconfiar e o provar há um percurso, que inclui a necessidade de denunciar, para salvaguardar a integridade física e moral do ameaçado; e a prudência, para aguardar as diligências cabíveis. O estado de direito, característica da civilização moderna, estipula que o assunto seja tratado no âmbito jurídico, e não por autotutela! Ameaçar fazer justiça com as próprias mãos, dar demonstrações verbais de “macheza” e afins podem agregar componentes dramáticos, mas não têm, nem podem ter, peso significativo em regimes democráticos. Os antigos eram mais discretos: marcavam duelos, com padrinhos e tudo... Só que, fosse na base da força física, ou da habilidade com florete ou pistola, o vencedor não era, necessariamente, quem tinha razão. Quase sempre, nenhum tinha! E mesmo quem vencia, só demonstrava, com isso, capacidade física ou habilidade com armas. O mesmo vale, em muitos casos, para as palavras...Agora, se a “lógica” for privilegiar a truculência física, então, em vez de votações em dois turnos, teremos lutas, com dois assaltos. O eleitor terá que escolher entre lutadores de: boxe, caratê, kung-fu, tae-kwon-dô, sumô, luta greco-romana, jiu-jitsu... “Ultimate fight!”: Para abreviar a tramitação, as lideranças poderão escolher seus “campeões”, para um torneio estilo medieval... Quem ficar de pé, no final, aprova ou veta a lei! Se o vencedor for da oposição, o presidente ainda terá o direito de desafiá-lo, numa última tentativa de aprovar sua proposta... Bem, nesse caso precisaríamos ter um presidente peso-pesado, em plena forma física... Algo parecido com o atual Governador da Califórnia: Arnold Schwarzenegger! Mas, mesmo ele teve que se desculpar por ter chamado alguns de seus opositores de “maricas”, por não terem aprovado uma lei proposta por seu governo.Falando sério: Oposição e situação sempre irão existir em regimes democráticos, pois a alternância de poder implica em disputa de poder! O que se espera de nossos políticos é coragem e valentia, sim; mas, para mudar o que existe de errado nesse país, e não para defender a si próprios e aos seus, ameaçando surrar seus pretensos antagonistas.Esse tipo de exemplo, aliás, é perigoso, pois, talvez, faça os eleitores crerem que é possível melhorar o desempenho de nossos homens públicos com o mesmo tipo de artifício.Se a moda pega...

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