quarta-feira, 3 de outubro de 2007

SABOR DA FRUTA - conto de jb vidal

aquelas coxas roliças apertando uma calcinha, que eu não sabia distinguir se bege ou branca-suja, chamaram minha atenção ao olhar para a bergamoteira onde ela havia subido a fim de apanhar algumas frutas (em outras regiões do Brasil são conhecidas por tangerina, mexerica, mimosa e sei lá mais o quê); eu estava sentado no chão comendo uma delas, gostosíssima, agridoce; o vento soprava de leve, apesar de ser inverno o minuano (vento pampeano), chegaria daí a alguns dias; o chão em que eu sentava pertencia à Estância do Cinamomo, ou o que dela restou, propriedade do meu avô Alcides e da minha avó Emília, com os quais eu morava desde os dois anos de idade, situada em Parada Quebracho, um vilarejo, no município de Bagé, Rio Grande do Sul.
ali fui alfabetizado pelo avô, tendo como primeiro livro o jornal Correio do Sul, editado na cidade; foi minha única leitura, diária, por muito tempo. o texto jornalístico, curto e revelador, relacionando fatos às pessoas, dava-me a conhecer um outro mundo, diferente daquele em que vivia. fascinava-me.

provavelmente resida, aí, o fato de querer, sempre, saber mais sobre mim próprio e o ser humano, enquanto escuridão cerebrina, e suas conseqüências.

por ter convivido desde os primeiros anos de vida com vacas, terneiros, bois, cachorros, touros e cavalos, aprendi a gostar da lida do campo; com quatro anos já executava pequenas tarefas referentes ao dia-dia de uma estância.

chega! vamos voltar à calcinha da Nenéca.

pois é, esse era o nome da menina de doze anos que vestia a tal calcinha de cor indefinida.

durante o primeiro olhar senti algo indescritível, baixei a cabeça, vergonha talvez, tornei a olhar no segundo seguinte, não sabia porquê, mas com interesse redobrado; tinha claro que ali estava escondido o lugar por onde as meninas mijavam e segundo conversas dos peões, que ouvia no galpão - naquela época, não existia TV nem programa infantil - a gente poderia fazer algumas coisas desde que a dona do "mijador" permitisse; isto, somado à minha observação da natureza, era toda a informação que tinha, sobre sexo, aos dez anos de idade.

associando essas conversas com o que via, fui sendo tomado por uma sensação de perigo alternada com alegria e o pau ficou duro; pau? pauzinho.

ela continuava alegre, assobiando, encima da árvore, colhendo os frutos e jogando para que eu os pegasse.
- pega aí Joãozinho! com a maioria deles caindo no chão porque meus olhos não saíam daquela bunda; ela havia colocado a perna direita em outro galho, para melhorar o apoio, e agora, podia ver o fundilho da calcinha enfiado no "mijador".

o coração disparou. senti medo.

Nenéca, cabelos pretos, longos, até a cintura, coxuda para sua idade, era filha de um tuco (operário de estrada de ferro) amigo de meu avô e a mãe dela fazia alguns serviços de cunho doméstico para minha vó.

porque moravam a cerca de dois quilômetros da estância, e o percurso era feito a pé, deixavam a menina com meus avós para irem buscá-la três ou quatro dias depois, quando haveriam outros serviços para sua mãe.

no meu quarto havia três camas de solteiro e Nenéca dormia em uma delas, quando lá ficava. recordo que ela levava para mim, anos antes, a mamadeira noturna quando já estava deitado. daí a convivência.

nunca esqueci o momento em que nossos olhares se cruzaram, durou milésimos de segundo, mas pareceu uma eternidade, sorriu e entendi, que lá de cima, ela sabia para o que eu estava olhando, tive certeza de que gostava; fez uma bolsa com a saia do vestido de chita, colocando ali, algumas frutas, e desceu; depositou-as no chão, sentou-se à minha frente, cruzou as pernas puxando o vestido até o meio das coxas e descascou uma bergamota. meus olhos tentavam ir além da calcinha enfiada no "mijador" que separava alguma coisa “parecida com pedaços de carne”; um calor intenso tomou conta do meu corpo.

sentia o rosto queimar. a cabeça rodava.

a brisa leve, trazia consigo o perfume dos caules recém agredidos pelo colher das frutas. é impossível descrever o que sentia no ambiente em que me encontrava, a pastagem imensa, o pomar das mais variadas frutas, os animais pastando, o céu límpido e azul, tudo formava uma harmonia indelével.

por mero impulso, me coloquei de joelhos à sua frente, esmagando algumas frutas. curvei-me e passei as mãos em suas pernas até alcançar o "mijador".
o coração parecia um potro xucro querendo saltar do peito. descruzou as pernas deixando-as abertas ao mesmo tempo em que deitava na grama; eu continuava passando os dedos por cima da calcinha, molhada, "tá mijando!" pensei, até que comecei a tirá-la, ela ajudou levantando a bunda e a peça foi parar abaixo dos joelhos; sentindo no corpo ondas de calor e frio deitei-me sobre suas pernas, entre-abertas, e comecei a lamber o "mijador". “engraçado, mas não posso parar" prestava atenção no sabor, ficava olhando aquelas carnes que saiam para fora do corpo, queria espiar o “mijador”. assim, enquanto lambia, veio à lembrança de que "os cachorros lambiam o mijador das cadelas, que o touro lambia a vaca e depois mugia cavocando o chão com uma das patas dianteiras, que os cavalos garanhões faziam as mesmas coisas que os touros e relinchavam" passei então, a arranhar a grama e gritar; lambia, arranhava e gritava, lambia, arranhava e gritava!

ela pegou-me pelos ombros e me pôs de lado, desabotoou a bombacha que, também, foi parar nos joelhos; cuecas? só fui usá-las depois de adulto, por recomendação do tintureiro.
voltou a deitar-se me puxando para cima. não sabia o que fazer.
- pega ele e bota, disse. entendi quem era ele; com a mão esquerda procurei, pelo tato, o lugar onde devia enfiá-lo “os touros e os garanhões, também enfiavam nas vacas e nas éguas”, pensei.

encontrei.
era o céu! quente e molhado.
meu corpo estremeceu todo arrepiado. sentia vontade de rir e chorar.

não sei quanto tempo ficamos assim, naquele põe e tira instintivo, às vezes saía fora e eu procurava o céu com avidez; de repente, "algo aconteceu", senti meu pau latejando e doendo, parei de arranhar a grama, pois os dedos sangravam. já não gritava. garganta seca e sem voz. ela começou a gemer "será que está doendo?" indaguei-me, sem parar. a cabeça continuava a rodar. alguma coisa acontecia, lá embaixo, com o meu pau e o "mijador". repentinamente, o ar da respiração ofegante entrou pelo meu ouvido esquerdo como se fosse uma língua de fogo e tudo cessou.

não entendi nada "eu não quero parar! porque parou tudo?..." aí, a exaustão.

o maxilar doía, embaixo da língua ardia, os dedos inchados, sangravam. sentei. levei a mão até o pau molhado. cheirei e lambi. cheiro e gosto do "mijador". bom. muito bom. fiquei em pé e continuei a me examinar.
as pernas tremiam. olhei para Nenéca como indagando porque me encontrava naquele estado. olhou-me, sorriu e puxando a calcinha disse:
- vamos? juntou as bergamotas do chão fazendo um cesto com a saia do vestido.

andamos sem palavras.

não ria, mas minha alma dava gargalhadas e cambalhotas de alegria, uma alegria imensa, havia descoberto algo fantástico, e, "agora era como um touro, um garanhão, lambia, arranhava, gritava e enfiava o pau no mijador da Nenéca".

eu era outro e o mundo mudara.

Um comentário:

Anônimo disse...

quanta ternura, que simpliciadade!!!lírico.
muito bom.

abços para a equipe dos palavreiros,

Tania Scorsin