sábado, 27 de outubro de 2007

MANOEL de ANDRADE lança livro de poemas

No dia 15 de outubro o poeta Manoel de Andrade lançou na Livraria Curitiba/Shopping Estação o livro de poesia CANTARES editado por Editora Escrituras. O lançamento registrou um público que levou o jornalista João Alécio Mem, assessor de imprensa da livraria, a declarar: "...foi o melhor e mais concorrido lançamento de poesia dos últimos tempos na Livraria Curitiba."
Cantares reúne poemas, todos frutos do venturoso reencontro de Manoel de Andrade com a poesia depois de trinta anos de abstinência literária. Apenas três deles — “Temporada de amigos”, “Marítimo” e “Um homem no cais” — foram escritos na década de 1960 e engavetados por não refletirem as prioridades políticas de sua poesia naquele “Tempo Sujo”.
Manoel de Andrade apresenta algumas janelas pelas quais ele vê o mundo: sua infância litorânea, a nostálgica ansiedade do marinheiro que não foi, o olhar crítico da indignação política, social e, sobretudo, a inquietude com a sobrevivência ambiental do planeta.
Com esses poemas, entrega a expressão mais bela e honesta da sua condição humana sem nada esperar em troca, a não ser a anônima emoção que alguém possa ter em sua leitura. E Manoel de Andrade diz a seu leitor, na apresentação da obra: “E, se este alguém fores tu..., é exatamente para ti que eu escrevo. E se tu fores capaz de abrir tuas velas e navegar comigo, de te indignar perante a injustiça ou de sentir, como eu, esse profundo respeito por tudo o que respira, valeu a pena buscar-te nos meus versos. É com essa única intenção que minha lírica paternidade envia, despojada e comovida, estes meus filhos ao mundo. Para que cumpram alguma missão de beleza, para a qual foram escritos”.

A seguir um poema do autor de CANTARES:


“POR QUE CANTAMOS”

Curitiba, maio de 2003
para Mario Benedetti(*)




Se tantas balas perdidas cruzam nosso espaço
e já são tantos os caídos nesta guerra...
Se há uma possível emboscada em cada esquina
e temos que caminhar num chão minado...

“você perguntará por que cantamos”

Se a violência sitia os nossos atos
e a corrupção gargalha da justiça...
Se respiramos esse ar abominável
impotentes diante do deboche...

“você perguntará por que cantamos”

Se o medo está tatuado em nossa agenda
e a perplexidade estampada em nosso olhar...
Se há um mantra entoado no silêncio
e as lágrimas repetem: até quando, até quando, até quando...

“você perguntará por que cantamos”

Cantamos porque uma lei maior sustenta a vida
e porque um olhar ampara os nossos passos.
Cantamos porque há uma partícula de luz no túnel da maldade
e porque nesse embate só o amor é invencível.



Cantamos porque é imprescindível dar as mãos
e recompor, em cada dia, a condição humana.
Cantamos porque a paz é uma bandeira solitária
a espera de um punho inumerável.

Cantamos porque o pânico não retardará a primavera
e porque em cada amanhecer as sombras batem em retirada.
Cantamos porque a luz se redesenha em cada aurora
e porque as estrelas e porque as rosas .

Cantamos porque nos riachos e lá na fonte as águas cantam
e porque toda essa dor desaguará um dia.
Cantamos porque no trigal o grão amadurece
e porque a seiva cumprirá o seu destino.

Cantamos porque os pássaros estão piando
e ninguém poderá silenciar seu canto.
Cantamos para saudar o Criador e a criatura
e porque alguém está parindo neste instante.

Pelo encanto de cantar e pela esperança nós cantamos
e porque a utopia persiste a despeito da descrença.
Cantamos porque nessa trincheira global, nessa ribalta,
nossa canção viverá para dizer por que cantamos.

Cantamos porque somos os trovadores desse impasse
e porque a poesia tem um pacto com a beleza.
E porque nesse verso ou nalgum lugar deste universo
o nosso sonho floresce deslumbrante.




(*) Escrevi estes versos motivado pelo belíssimo poema “POR QUE CANTAMOS” do poeta uruguaio MARIO BENEDETTI. Num tempo em que todos caminhamos sobre o “fio da navalha” me senti, como poeta, implicitamente convocado a também testemunhar por que cantamos.


Nesta foto feita na noite de autógrafos aparecem o autor com os amigos, da esquerda para a direita: o escritor José Zokner (Juca), o poeta e escritor Walmor Marcellino, o poeta JB Vidal, o poeta (anfitrião) Manoel de Andrade, o cartunista Solda, o escritor Ewaldo Schleder e o artista plástico João Osório Brzezinki.
Foto de Angélica.

Um comentário:

Anônimo disse...

Manoel, procurei, não encontrei.
Sabes da LUCY?
Se me informares,
agradecer-te-ei!