quinta-feira, 1 de novembro de 2007

NEOMALTHUSIANISMO - por valdir izidoro silveira*

O espírito de Malthus ronda pelas plagas do campo brasileiro. Agora, os arautos do biocombustível, do etanol, que são os mesmos dos slogans “Crescer o bolo para depois dividir”, “Plante que o João garante” e outras enganações, estão de volta. Recentemente um artigo assinado pelo ex-ministro do planejamento da ditadura Antonio Delfim Netto , o “lagartão da soja”, alcunha que os gaúchos lhe concederam pelo Confisco da Soja, onde o ministro decidiu impor, sobre o preço da soja exportada, uma tarifa aduaneira de 30%. O artigo “Malthusianismo” publicado do Boletim da FAEP, onde questiona os “Movimentos sociais com objetivos ecológicos” que se opõem a avalanche do milho e da cana para a produção de biocombustíveis.
De nada adiantou o exministro mudar de partido porque ele continua no mesmo lado; do lado das elites, do lado das multinacionais. Ele só acertou num diagnóstico, aliás nos plagiou, quando reconhece que “a agricultura é o único setor da ec onomia onde milhões de produtores, individualistas e desorganizados, enfrentam uma estrutura oligopolista de compra, o que significa que transferem potencialmente para os consumidores todos os seus ganhos de produtividade”.
Outra afirmação equivocada de Delfim Netto é de que “os ganhos de produtividade do setor agrícola são resultado do desenvolvimento da (...), dos transgenicos (...)”. Os eventos transgenicos atuais, principalmente a soja RR não são mais produtivos pelo simples fato de se lhes colocarem a “vantagem” da resistência ao herbicida glifosato da Monsanto; mesmo porque os ganhos de produtividade são uma característica conferida à soja ou outra cultura pelo melhoramento genético convencional. Mentem quando dizem que os transgenicos são mais produtivos!
É ótimo, para nós, quando o ex todo poderoso ministro da agricultura , da economia e do planejamento da ditadura admite e reconhece, coisa que não o fazia antes, que os agricultores “enfrentam uma estrutura oligopolista de compra”, no caso as multinacionais Monsanto, Syngenta, Cargill, Bayer, etc., que vendem insumos dolarizados, na alta, para os agricultores e compram os cereais em reais na baixo, ou desvalorizados. Qual o mote dessa gente: acabar com a fome; o velho discurso esfarrapado neomalthusianista de que precisamos de mais alimentos porque a população cresce geométricamente. É... infelizmente, os neomalthusianistas estão vivos!


(*) Engenheiro agrônomo, Mestre em Tecnologia de Alimentos.