quinta-feira, 22 de novembro de 2007

EU GOSTO DE APANHAR NA CARA - conto de luciel ribeiro.


Desde que eu era apenas uma adolescente, eu já sentia o prazer de levar um tapa bem dado na cara. Nada me dava mais prazer, do que desrespeitar meu padrasto, e sentir sua mão pesada em meu rosto. Não sei por que sou assim, gostar de apanhar, nenhuma mulher que conheço, gosta de apanhar, nem mesmo aceitam que gritem com elas. Eu amo violência doméstica, entre quatro paredes, gosto de chegar a sangrar. Passa longe de masoquismo, sou uma mulher doente por apanhar. Não gosto de apanhar de chicote ou tapas, gosto de levar socos na boca, no olho, de ser atirada na parede, de levar chutes. Me recordo da primeira agressão que sofri ao treze anos. Depois de chegar tarde da noite em casa, meu padrasto veio tirar satisfações. - Não lhe interessa seu velho – respondi sem olhar para as fuça dele. - É assim que você responde para seu pai – disse ele. Eu voltei e fui até em frente dele e respondi – Você nunca vai ser meu pai, velho!A esbofeteada em minha cara foi tão forte quanto instantâneo, cheguei a cair no chão. Ele virou as costas e voltou para o quarto de minha mãe. Fiquei caída no chão com a mão em meu rosto. Sentindo o sangue arder. Em vez de sentir dor, afirmo que sentir e prazer e passei a rir. Depois desta primeira agressão, outras aconteceram. Cada vez mais freqüente, quase todos os dias. Toda vez que estava na presença, a sós com meu padrasto, eu dava um jeito de deixá-lo furioso comigo.Quando ele assistia jogo, eu mudava de canal, ficava horas no banheiro, chamava ele de velho, ele odiava esse apelido. Ele tinha cabelos brancos, mas pintava-os de preto regulamente, para não dar nas vista que era um velho. E nada me dava mais alegria do que chama-lo de velho e logo em seguida receber uma boa esbofeteada na cara. Passados alguns anos, ele nem me dava tapas, mas sim murros. O ódio dele só aumentava na mesma proporção do meu prazer em apanhar.Quando não se enfurecia comigo, eu o incitava a me agredir.- O que aconteceu velho pintado, não vai me bater hoje, ou será que já não tem mais força pra isso – dizia a ele. As bordoadas vinham ferozes. Eu não vencia em comprar maquiagens para disfarçar os hematomas. E não me cansava de arranjar desculpas para minha mãe sobre os olhos roxos, boca inchada e coisas do tipo. Brigas na escola, boladas na cara na aula de educação física, quedas na calçada, e todas essas bobagens que as meninas arrumam para enganar a elas mesmas. Quanto estava na presença da minha mãe, e meu padrasto estava perto, nós dois éramos cúmplices das agressões. Ele não falava a minha mãe que eu o desrespeitava, e eu não falava que ele me batia.O Tempo passou, e meu padastro realmente ficou velho, e muito fraco, sofria de problemas cardíacos, até que um dia sofreu um enfarte.O último suspiro que ele deu, foi depois dele ter me batido como nunca havia me batido antes. Aquela noite foi a última. Ele começou a me esmurrar contra a parede, e quanto mais ele me dava socos, mais eu dava risadas e o chamava de velho fraco e desprezível. Minha boca sangrava, e sentia o meu olho inchando, de repente, ele ficou ofegante, não conseguia respirar, ajoelhou-se no chão e pedia me ajuda. Eu me sentei encostada na parede do meu quarto, e fiquei olhando o meu padrasto agonizando seus últimos momentos de vida. Não podia conter um sorriso em minha boca ensangüentada.
- Cadela, filha da puta - foram as últimas palavras daquele velho.
Hoje sou uma mulher casada, tenho dois filhos. Mesmo assim gosta de violência. De Apanhar na cara.Quando namorava Ricardo, ele era um homem amável e sensível. Sempre me dizia coisas bonitas e carinhosas. Mas faltava algo na relação. Faltava violência. Eu sentia falta de apanhar. De levar uns belos murros na cara. Para incitar violência em Ricardo, fiz o que deixa qualquer homem furioso.
Traição. Foi o que eu fiz.
Era terça-feira, Ricardo me ligou perguntando se eu gostaria de sair. Respondi que estava com dor de cabeça.
- Tudo bem então, quando você estiver melhor me liga - falou Ricardo, com aquela voz de anjo de sempre. Em seguida liguei para Josias, um cara que sempre foi afim de mim, e marquei um encontro em um bar. Encontro marcado, tratei de ligar para Solange, minha melhor amiga, e mandei ela ligar para Ricardo, falando que eu estava na bar com outro.No bar, tive que ficar enrolando o Josias até que Ricardo chegasse. Quando Ricardo entrou no bar, e me viu sentado na mesa com Josias, passei em cima da mesa, derrubando uma garrafa de cerveja e dei um beijo em Josias, e fiquei grudada nele por um bom tempo. Parei de beijar Josias e olhei para ver onde estava o Ricardo. Para minha surpresa, ele tinha sumido.
- Este foi o melhor beijo da minha - falou Josias.
- Eu vou embora - disse me levantando.Josias me agarrou pelo braço.
- Você não vai há lugar nenhum.
- Me solta Josias - gritei com ele. Mas não sei o que houve que Josias me agarrou e tentou me beijar outra vez.
- Você vai ter que dar mais um beijo, está pensando o que sua cachorra - gritou ele.Uma garrafa atingiu em cheio a cabeça de Josias. Era Ricardo. Josias colocou as mãos na cabeça e virou-se para ver quem o atingiu. Ricardo pegou uma cadeira e arrebentou no peito dele. Josias caiu no chão atordoado. Os olhos de Ricardo exalavam ódio e raiva. Quando olhou pra mim, senti até cala frios.
- Dor de cabeça sua vadia - disse ele vindo até mim.
- Qual o problema - respondi a ele.
Ricardo agarrou uma garrafa erguendo rapidamente.
- Agora você vai realmente ficar com dor de cabeça!Quebrar uma garrafa de vidro na cabeça, não foi lá a coisa mais prazerosa que já senti.A pessoa que vi depois do Ricardo quebrando minha cabeça, foi a de um médico, abrindo o meu olho.
- Ela está bem - disse o doutor para outra pessoa - até de tarde, ela já pode ir para casa.Eu estava em uma cama de hospital, em um quarto cinza. O médico saiu. Olhei em volta para ver quem mais estava ali. Era Ricardo, com um buquê de flores.
- Olá Silvana - disse aproximando-se de mim.
- Olá.- Trouxe isso pra você.Ele colocou o buquê em meus braços e depois sentou-se na cadeira.
- Agora sei que me ama! - disse a ele com a dor do meu coração.Depois que sai do hospital me casei com Ricardo. Em nossos momentos íntimos, não usamos garrafas de cerveja, e sim, chicote e algemas.

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