terça-feira, 27 de novembro de 2007

O QUE É O SISTEMA? - por maurício gomes angelo.

Aviso aos navegantes (engraçado como esse termo soa apropriado): Este artigo não têm nenhuma pretensão de entrar para o hall das reflexões humanas mais complexas da história e nem de ser o guia político mais completo que se tem notícia, ele visa, de um jeito descontraído e palpável, tentar compreender melhor o que é o “sistema”, você sabe o que é o sistema?Quem está minimamente ligado com o mundo da leitura (seja a literatura propriamente dita, textos, contos, crônicas, artigos, jornais, revistas, sites...) ou mesmo quem tem pouca intimidade com ele sempre se depara com uma palavrinha enigmática: sistema. Não simplesmente sistema. Mas “o” sistema. O sistema é tratado como um deus, uma entidade soberana, onisciente, de imenso poder, uma entidade que rege a vida de toda a população mundial. Ás vezes, o sistema é tratado por um heterônimo: a máquina. São, no fundo, a mesma coisa. Pois bem, o sistema é alvo de toda investida que se julgue válida e reacionária. É o culpado por tudo. Não sabe a quem culpar? Culpe o sistema. Embora possa soar vago e incerto, você certamente será visto como alguém culto e consciente.Falar sobre o sistema se tornou algo tão natural e rotineiro que me parece que ninguém nunca pára pra pensar no que é realmente o sistema ou espera que todos deduzam e saibam o que ele é. Esquecem-se que nada é tão traiçoeiro quanto o óbvio. Para desvendar melhor esse “óbvio” resolvi pensar a respeito. A reflexão a seguir foi elaborada em forma de “faq” (frequently asked questions – perguntas feitas freqüentemente). Pensem e divirtam-se.O que é o sistema?Podemos responder essa indagação de várias maneiras. Poderíamos dizer que o sistema “é tudo que está á sua volta, tudo que foi criado ou que existe e que te mantenha inserido dentro dele”. O sistema é, em suma, o mundo em que você vive (ou pelo menos o mundo em que você acha que vive ou tenta viver). O sistema se manifesta sob diversas formas. Ele é o mundo regido pelas leis e regras (sejam físicas ou morais), é também produto direto das instituições governamentais.Mas ele não se resume a algo concreto, de fácil definição ou limitado. Ele pode ser o conjunto de conceitos éticos que seus pais lhe ensinaram durante sua vida e pode ser também a guerra. Ele pode ser o mendigo da esquina ou o sultão bilionário da África. O garoto tomando sorvete ou o pai se embebedando com whisky. O político de cara lavada da tv ou o militante de extrema esquerda. Englobando coisas as quais não podemos reivindicar a criação, o sistema é tudo que nos diz respeito. É a indústria, o governo, os meios de comunicação, as escolas, as universidades, os parques, a religião, a família, o individuo, a sociedade. É o prazer, o amor, o pecado, a dúvida, a retidão, o ódio, a indiferença. É o passado, o presente e o futuro. Tudo isto é o sistema. Ouso dizer – sob todas as implicações que isso traz – que ele é imortal.Quem criou o sistema?Nós. Eu, você, seu pai, sua mãe, Maquiavel, Lênin, Hitler, Darwin, Buda, Jesus...a partir do momento em que passamos a existir ou nos manifestar de forma racional e organizada na terra. Quem o criou fomos nós. Os seres humanos.O sistema é mau?Não. O sistema não é necessariamente mau. Como ele é ambíguo e se manifesta sobre mil formas diferentes, sua natureza não pode ser considerada essencialmente má. Ele não é um demônio superpoderoso sugador de almas humanas. Pelo menos não na maior parte do tempo.Então porque é feita tanta propaganda para que o sistema seja combatido?Simples meu caro. O sistema não é todas as suas definições explanadas acima manifestadas sob sua forma original, pura, inócua. Mas antes, são elas transmutadas, manipuladas, centralizadas e controladas na maior parte das vezes sob interesses maléficos. Ou então, é a inversão desses valores tratados de forma natural, maquiados para que pareçam aprazíveis, confortáveis e sedutores ao gênero humano. E logo se tome consciência disso, torna-se natural concentrar os esforços para que ele seja exposto e destruído.Hummmm...e como eu faço para destruir o sistema?Uma bela forma de combater o sistema é sendo poeta, escritor, pintor, jornalista...etc. Mas isso são substratos incertos e instáveis que estão em minha mente e não devem ser levados como regra. Se você não possui o talento ou aptidão para alguma das coisas acima, comece por sendo apenas você mesmo. O sistema odeia quem consegue ser ele mesmo. É o que ele mais teme. Seje sociável mas anti-social. Aberto mas individualizado. Generoso mas egoísta. Maleável mas cético. Compreende?Como eu me insiro no sistema e que implicações tem a sua destruição?Você não é algo à parte do sistema. Você está completamente inserido dentro dele. Você nasce nele, com efeito, você É o sistema. Mas um belo dia (se tudo conspirar para isso e você ajudar) como todo bom filho revoltado, você se rebela contra o sistema. Você renega a si mesmo, a sua origem, você não quer mais permanecer sob o jugo do papai. Você, na condição de “sisteminha”, de ramo da árvore, de elo na corrente, aponta o dedão para a cara do papai sistema e o rejeita. Faz juras de ódio eterno e se desprende prometendo se vingar. Toma consciência de todo o tempo que passou sendo enganado. Começa aí a sua vendetta. Seu primeiro ato será procurar “sisteminhas” revoltados iguais a você. Ser o sistema e estar fora dele é um profundo ato de duplipensamento. É o duplipensar em sua forma mais pura. Destruir o sistema – sob o aspecto totalitário e idealizado que a expressão carrega – não é possível. Podemos no máximo reunir e estabelecer contato com o maior número possível de “sisteminhas” revoltados e daí, minando sua força e campo de atuação, tentar criar um “outro mundo”, criar um outro sistema sadio, independente e crítico esforçando-nos para que a sua influência consiga “resgatar” outros “sisteminhas” ludibriados, fortalecendo-nos para encarar a guerra com “o” sistema.Isso não é combater utopia com distopia? Não é uma analogia da eterna guerra entre o bem e o mal?Nossa intenção, e quando digo nossa, refiro-me aos “sisteminhas revoltados” que a partir de agora serão chamados de “inmassa”. Pois bem, a intenção dos “inmassa” não é combater um mundo falso, podre e cheios de regras ditatórias com um outro mundo recheado de leis e regimentos duvidosos, não é criar duas frentes de batalha que guerreiem em segredo, não temos pretensão nenhuma de dizer o que é “bom” ou o que é “mau”. Mas antes, é quebrar parâmetros (e não estabelecer nenhum), destruir conceitos enraizados e levar o ser humano ao seu mais alto desabrochamento enquanto indivíduo. O resto, o florescer da cultura, do pensar, do senso crítico, virá naturalmente como conseqüência de sua independência em relação á máquina. Para todos os efeitos, e aos olhos dos tolos, não temos objetivo nenhum, partindo do principio de que nossa subsistência e desenvolvimento não depende dele.Como podem ver, o sistema, por trás de toda sua pseudo-imponência e de suas barreiras impenetráveis, é fraco, é pobre, quebra-se com facilidade, não resiste ao mero despertar de um único individuo. Pesa contra ele sua própria natureza, seu próprio instinto assassino. Quem sai, nunca mais quer voltar.Aos “inmassa” velhos de guerra e aos recém-convertidos, minhas saudações e meus cumprimentos, minhas boas vindas para se juntar nesta nossa luta silenciosa, dolorosa e mal reconhecida contra ele, o inimigo, o supremo mestre de tudo que nos antagoniza, o sistema!

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