O QUE QUIS DIZER JUAN CARLOS COM: ¿POR QUE NO TE CALLAS?
Quando o Rei Juan Carlos, de Espanha, mandou que o Presidente Hugo Chavez, de Venezuela, calasse a boca, ele não estava necessariamente advertindo a pessoa do presidente venezuelano, tampouco a instituição presidencial do país de Chavez; também, de forma alguma, o rei espanhol estava ali defendendo a dignidade do Governo do qual é locupletário ou das instituições políticas nacionais; e muito menos, ainda, o povo espanhol.
Não. Absolutamente não. Juan Carlos, em verdade, estava ali desde sempre – defendendo o quinhão da Europa rica e, consequentemente, o “status quo” do imperialismo capitalista-econômico-financeiro, que se traduz no conceito de “Consenso de Washington”. Quem observou muito bem isso (aos meus olhos de maneira intuitiva, isto é, inconscientemente) foi o Presidente do Brasil, Lula, ao inferir que ele, o rei, é que seria o patinho feio da reunião dos países latino-americanos, em Chile.
O ¿por que no te callas?, não é, como o reducionismo da imprensa festiva latino-americana – e mundial –, sob o aparato das elites econômicas internacionais, detentoras de 90% da riqueza mundial, pretendeu fazer crer a “nosotros ciudadanos”. A frase, recheada de indignação cênica, contra o que chamaram de desrespeito ao povo espanhol, não passa de engodo, de jogo cênico dos senhores donos do mundo. Representa um “aviso” aos governos latino-americanos que não querem se enquadrar ao sistema do “deus mercado”, hoje cognominado de “Convergência Universal”, que é a versão light do consenso de Washington, que, definitivamente, fracassou, sobretudo depois da “quebra” do México.
O ¿por que no te callas? é, assim, o aviso do imperialismo capitalista-econômico-financeiro, albergado por esse novo conceito de “Convergência Universal”, menos exigente e que, ainda, permite esquecer que “Washington” sugere, mas jamais cumpre o receituário por ele próprio proposto.
Entretanto, nada disso foi mostrado ou discutido pela imprensa festiva latino-americana e mundial. Quatro razões estão na base dessa não-informação: 1) o interesse dos grupos econômico-financeiros que detêm o poder da Comunicação e das Comunicações; 2) a incompetência geral da rede de profissionais desses setores, esvaziados que foram de quaisquer compromissos com a verdade; 3) a pauta do medo a partir das desregulamentações propostas – e postas em práticas – pelos governos latino-americanos, em obediência aos ditames dos senhores donos do mundo; 4) A desqualificação do trabalho, e com este, do trabalhador ou operário, ou proletário.
A imprensa festiva, então, precisava dizer alguma coisa. Daí, sob o comando dos senhores donos do mundo, sob a batuta das oligarquias econômicas mundiais, sob o reinado de um rei proscrito pela América Latina e sob o poder dos oligarcas das Comunicações, resolveu partir para a demonização pura e simples do outro ator, que diga-se de passagem, não passa também de um ditador de meia-tigela: Hugo Chavez, mas que tem tido o mérito de enfrentar os imperadores e os imperalistas.
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* joão batista do lago é poeta, escritor, pesquisador, jornalista e pensador empiricista.
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