sexta-feira, 9 de novembro de 2007

POEMA - de carolina correa*

(......)

Sala vazia.
Futuras conquistas a ocupam por inteira.
Cada canto
Vidas passadas,
Elas somente,
Desfrutam de suas historias,
Gostos e desgostos,
Conquistas e perdas.
4 paredes,
Viajantes constantes
No tempo,
No espaço.

Chaves na mão.
A porta leva ao desconhecido.
Mãos que agora a possuem,
Visam glórias,
E glórias somente.

Concreto,
Moldado conforme gostos e vontades,
Acolhendo futuros heróis da história imediata.
Pura alma.
Pura verdade.
Minha alma.
Minha verdade.
O herói.
Eu.
Eu sou o herói
Dessa história imediata.

* carolina correa (17 anos) é estreante e faz parte do grupo de novos autores do blog.

Um comentário:

Unknown disse...

Henri Bosco, em Le jardin d'Hiacinthe, p. 192, descre (e me ensina):
"Sob a pressão dasmãos e o calor útil de lã, a cera macia penetrava nessa matéria polida. Lentamente, a bandeja de madeira adquiria um brilho suave. Essa irradiação atraída pela ficção magnética parecia vir da entrecasca da árvore centenária, do próprio cerne da árvore morta, e expandir-se pouco a pouco até o estado de luz sobre a bandeja. Os velhos dedos carregados de virtudes, a palma generosa extraíam do bloco maciço e das fibras inanimadas as forças vitais latentes. Era a criação de um objeto, a obra da fé diante de meus olhos maravilhados".
Por sua sua vez, Gaston Bachelard, em A Poética do Espaço, p. 80, infere (e me ensina) que:
"Os objetos assim acariciados nascem realmente de uma luz íntima; chegam a um nível de realidade mais elevado que os objetos indiferentes, que os objetos definidos pela realidade geométrica. Propagam uma nova realidade de ser. Assumem não somente o seu lugar numa ordem, mas uma comunhão de ordem. Entre um objeto e outro, no aposento, os cuidados domésticos tecem vínculos que unem um passado muito antigo ao dia novo. A arrumadeira desperta os móveis adormecidos".
Esses dois excertos revelam o que de fato penso desta poesia. A poeta estreante (e que bela estréia!), como uma arrumadeira, transforma o ambiente ("objeto" morto) num "sujeito" que faz e dá sentido à vida, ou seja, ela - a poeta - dá luz ou pari o seu sujeito e nos oferece na bandeja da poesia. Aos meus olhos, a A., encaixa-se, perfeitamente no conjunto filosófico da poesia do espaço como se nos revela Gaston Bachelar.
De resto, resta-me parabenizá-la:
Parabéns, Poeta.

João Batista do Lago