Sabe-se que a invenção – ou descoberta? – da roda foi um dos maiores avanços da humanidade. A partir dela, a roda, tudo rolou melhor e mais rápido. Na cidade, no campo, nas montanhas; até nas águas e no ar – desde que o trem baixe e o avião pouse. E a coisa andou pelos séculos: para cima, para baixo, para os lados; para noroeste, sudeste; para o bem, para o mal. Rolamos e ralamos.
De importância igual ou ainda maior foi a anterior descoberta – seria invenção? – do fogo. A resposta que repergunto: atritar uma pedra na outra até faiscar e explodir se define como descoberta, invenção ou achado? O mais gratificante é que o homem há 8 mil anos pira com a tocha nas mãos. Uma chama nas trevas pode ser a luz no fim do túnel: uma idéia, um apelo à concentração (iogue), ao grito primal, ao ritual, ao luau, ao uivo, ao coito.
Mais modernamente, o irrequieto espírito humano brinda o mundo com as criações – invenção ou descoberta? – da pólvora, do papel e da imprensa. Surgem as primeiras bombas. Nos campos da guerra e da notícia. Perde o homem, com a ilusão de imitar o big-bang. E ganha, por outro lado, com a propagação do conhecimento. Desse experimentalismo físico-químico sobrevém o progresso científico: hidráulico, mecânico, elétrico, eletrônico, cibernético, quântico, ótico. “Nada de novo debaixo do sol”. Perguntas a Salomão.
De tudo, entretanto, o que ninguém até hoje reconhece os devidos méritos é num certo objeto, singelo, revolucionário, imprescindível. Refiro-me ao botão – sem maiores borbotões. Sim, o mísero e injustiçado botão. Monumental e minimalista. Exemplo palpável, tátil, digital, da estética e da ética. Da estética, por ser bonito ou feio, belo ou horrível, exótico, ingênuo, engraçado, ridículo, extravagante, discreto, grande, médio, pequeno; botão de rosa, botões da blusa. Sobre essa suposta estética, está aí o genial artista, mago, Hélio Leites para confirmar. E de Ética, também, pois esbarra em conceitos fundamentais de moralidade e poder. Como o insuspeito botão soviético, ícone do pavor da Guerra Fria. Como o botão de desligar, que o saudoso humorista carioca Sérgio Porto dizia ser a melhor coisa que a televisão nos oferece. Ah! E “os jogos de botões sobre as calçadas”, na canção de Ataulfo Alves (e Claudionor Cruz?).
São inúmeros os botões a nos solicitar toda atenção e cuidado, dia e noite, a nos exigir dedos ágeis e certeiros. No trabalho e em casa: no chão, na parede, no teto, na mesa, na cama, nos eletrodomésticos, nos eletrônicos. Na rua: em campainhas, nos veículos, na hora de votar, de voltar, de entrar no banco, de pagar a conta. O que seria de nós sem o botão? E os botões de roupa, então! Não há limite: roupa íntima (de meados do século 20 para trás), esportiva, social, de gala – fecho “éclair” e genéricos não valem, nem elásticos. Um simples botão, abotoado ou desabotoado, acionado ou em espera, fora de hora ou de lugar é capaz de mudar os rumos da história, ou menos: de uma festa, de uma reunião, de um encontro, de uma conversa – formal, informal ou em...off.
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