A construção de falsos poetas e a conivência da mídia cultural brasileira.
A poesia brasileira, salvo exceções honrosas, está mergulhada numa densa escuridão. Invadida por marqueteiros, a poesia brasileira se debate quase sem saída. Na poesia dos marqueteiros vale só o experimentalismo cultivado com a arrogância. E a palavra arrogância tem de entrar aqui porque a discussão deixa até mesmo de ser por questões literárias. É uma questão de honestidade. O jogo é de cartas marcadas, tudo com espaço garantido numa mídia sem compromisso cultural nenhum. Um jogo de favores e confetes mútuos. Uma paisagem constrangedora. Bem diz o poeta Roberto Piva: "Só aceito um poeta experimental que tenha vida experimental. Não tenho nenhum patrono no ‘Posto’ nem leões-de-chácara e guarda-costas literários nas redações de jornais e revista. Nada mais provinciano do que os clubinhos fechados da poesia brasileira, com seus autores-burocratas tentando restaurar a Ordem/.../" O mais deprimente nesse quadro de sombras é o comportamento da chamada mídia cultural, especialmente de São Paulo e Rio de Janeiro, que, quase toda, se presta ao trabalho de inventar valores nessa paisagem cada mais melancólica. Poetas são inventados da noite para o dia. Uma louvação sórdida. Uma mentira jogada na cara dos que ainda conseguem pensar neste país medíocre. O que se vê é uma festa regada com a inconseqüência que representa, no fundo, uma afronta à inteligência. Poetas brasileiros que hoje escrevem poemas utilizando palavras — é lógico — são praticamente ignorados por essa mídia que se afirma cultural, mas que é feita única e exclusivamente de e para apadrinhados que mais se preocupam com vaidades levianas do que com a poesia. É um sarau interminável de veleidades. Manuel Bandeira escreveu que "a poesia está em tudo — tanto nos amores como nos chinelos, tanto nas coisas lógicas como nas disparatadas". Mas de que adianta essa descoberta da poesia em todo lugar, já que ela parece pertencer apenas a alguns detentores do poder da mídia que promove quase só mediocridades, num jogo lastimável? Tem-se que evitar a generalização. Até porque, nesse imenso vale de lágrimas, existem poetas honestos no trabalho de elaborar uma obra séria ao homem, que sirva à vida, que sirva à própria poesia. É muito difícil, atualmente, situar a poesia brasileira sem destacar essa desonestidade que corrói a produção poética, devidamente amparada por uma chamada mídia cultural sem compromisso com nada. No Brasil, este é um tempo que transforma compositores de música popular em poetas grandiosos. Um deboche. Os tecnocratas da poesia no Brasil querem a morte da palavra. Os tecnocratas da poesia querem a morte do poema. Os tecnocratas do poema querem a morte da poesia.
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2 comentários:
MAGNÍFICO
muitos beijos
LU
Parabens!
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