segunda-feira, 17 de setembro de 2007

COMA - poema de jb vidal

COMA

jb vidal
verão/2003




nasço e inauguro em mim a trajetória da morte,
início e fim, siameses do útero à campa,

como fonte, me insurjo, resisto,
consciente de sua presença, prossigo
sepultado vivo na matéria,
com a alma esgarçada na miséria
de um momento que ela mesma desconhece,

não há passado para o início não haverá futuro para o fim,

o que será dos meus pensares?
da razão? o que ficará dos sentidos?
das agonias, dos sofreres,
dos sentimentos, penso profundos,
o que será dos meus saberes?


não me falem de exemplos,
experiências, conhecimentos,
como óbolos para quem vem a seguir,
para eles há futuro, esquecer

não me venham com alegorias cenobitas,
relações de fé-imagem, palavras-reveladoras,
crenças obtusas oferecidas em sacras mansões, não!

digam apenas que estou louco,
que me debato em trevas,
que abreviei a trajetória,
que vivo morto por querer viver depois...

5 comentários:

jairo disse...

Grande poema (COMA) de meu amigo Vidal. Eis o homem na antesala da morte. Matéria e pensar. Conhecimento & experiência. Signos fortes, altamente subjetivos. Indagações q. só um poeta é capaz de lançar no laboratório-vida. Um poema pra ler reler transler.

jAirO pEreIra

Anônimo disse...

Se eh um poema para ser lido e relido jah nao sei....
O principio do fim comisera o ser preso no presente sem la&os coloridos. Fazer o que se a gente quase nao tem olhos para o presente? Um dia ele vem e se planta na frente da gente.........

Anônimo disse...

Ele não é mais o mesmo, desconhece suas pegadas, são tão vazias. Essa tão inusitada leveza em que se encontra faz olhar o mundo como se fosse desconhecido e a ele nunca pertencido. Encontra o oco do corpo enquanto procura as emoções registradas e não as acha e perplexo fica boquiaberto, deixou que tudo assim transcorresse. Em jogo, perdeu a admiração, aquela que fazia seus olhos brilharem noite e dia, agora opacos apercebem-se do escuro. Acabou ficando inerte olhando o pássaro a voar através da vidraça do quarto que o acolhe. Acabou no presente contínuo do verbo e, talvez, nunca mais volte para onde esteve uma vez comigo e outra consigo.
Acabou de acabar com a vida nesse estiro de um suspiro fugaz e acabando com aquele olhar funesto e satisfeito, volta em carne e osso para contar um passado pretérito do perfeito presente.
Não existe mais explicação para esse desatino, a morte do errante se faz necessária, mas há o apego com esse inimigo e a questão se torna contra ele mesmo sobre o que fazer. Morrer sem perceber seria a dádiva vinda dos céus e matar conscientemente seria um ato contingente que requer astúcia, tempo e disposição.
Amar a si próprio até que a morte o separe do corpo venerado exige, de certa forma, a quebra do espelho que o amarra. A procura, constante, da beleza o faz cego, a feiúra passa a ser a concretização de seus erros e de suas falhas inaceitáveis, e o desejo da posse de seu próprio corpo se desfaz. A solidão o ataca de vez, dissimula sua realidade encantadora e o joga longe do espelho, debatendo-se por ver-se corrompida a própria imagem foge com o eco da feiúra, atormentado.
Sem o auto-desejo, sente-se impotente, sem controle, sem poderes de manipulação, sem ninguém, sem direção. Busca o desconhecido como afirmação para lançar sobre ele sua imagem na expectativa de retro alimentar-se devidamente. Alimenta-se, infla-se e volta contra o passado e a favor de um futuro cheio de efemeridades satisfatórias.
O circulo de narciso, a morte e a vida, a paixão pela própria sombra, a cegueira, a surdez, o pouco caso, a insensibilidade benfeitora que tentando destruir o outro quando quem acaba é ele mesmo. Macabra vida essa que não sabe se morre ou se mata
JA

Heloisa B.P disse...

TANTAS E SABIAS PALAVRAS!
VIREI "come-LAS"!!!!!!!!!!

SAUDO OS *PALAVREIROS*****!

Heloisa B.P.
************

VERBERANTE POESIA disse...

Minha cara poeta Heloisa BP, que satisfação encontrá-la por aqui. Volte mesmo - e sempre - pois havemos de comer palavras por cá. Volte e traga consigo também seus (muitos) amigos.

Carinhosamente
João Batista do Lago