O que distingue aquele que consegue realizar daquele que nem ousa tentar? É o “saber fazer”, ou se preferirem o “savoir-faire” o “know-how”. Não se trata de puro instinto ou privilegio genético e sim, de disciplina, de obstinação, do desejo de realizar e de contribuir para a melhoria da vida da sociedade em toda sua inter-relação: social, econômica, intelectual, ambiental, de saúde e do próprio saber! Surge então outra pergunta: “O que é o saber?” Infinitas respostas apontariam para a simples imaginação do desempenho competitivo do dia-a-dia: do bem sucedido economicamente, dos recordistas de produção, de vendas ou, até mesmo, do conhecimento e da manipulação de tecnologias de difícil acesso e compreensão. De outro lado, filósofos existencialistas poderiam concluir que “o saber” não deva estar relacionado, necessariamente, com o construir materialmente e sim, com o prever conseqüências, imaginar soluções, ensinar a outrem, compreender a angustia e os sofrimentos daqueles que jamais poderão compreender complexas tecnologias ou simples comportamentos sociais. O discurso governista da priorização da educação se resume na tentativa de cumprimento de exigências constitucionais e legais, cujos resultados esperados são índices, informações numéricas despersonalizadas, nunca qualitativas. A real avaliação do processo educacional é anterior ao processo estatístico que produz a manchete jornalística. Há que se permitir, previamente, a existência das condições morais, de saúde íntegra e, principalmente, emocional para que os indivíduos estejam aptos a receber o conhecimento, a raciocinar e a prever conseqüências, a praticar aquilo que receberam como aprendizado ou criaram de suas próprias capacidades imaginativas: - A debilidade emocional dificulta a passagem do saber para o fazer! A importância do processo educacional exige drástica mudança da forma de condicionamento da informação que, atualmente, está organizado para produzir pessoas inseguras, frágeis e sem capacidade criativa. Este processo deturpado se inicia no âmago da família, no ciclo educacional básico e médio, no exagero de algumas religiões, enfim, através de críticas imperativas do comportamento espontâneo das crianças, que acabam por anular e castrar a capacidade de inovar e, assim, condicionando seus comportamentos a se tornarem, no máximo, a repetição de ícones anteriores.
EDUARDO RATTON
Professor Titular - UFPR
EDUARDO RATTON
Professor Titular - UFPR
6 comentários:
Muito bom o alerta que o senhor faz, e correto. Agora, é preciso que os DONOS da educação no país saibam disso. De que forma? só mesmo nós, o povo, forçando mudanças na área, como o senhor está fazendo divulgando seu pensamento a respeito. Vamos em frente, se cada um fizer a sua parte...
abraço
Heitor Guimarães
parabéns palavreiros uma página cultural sem frescuras e permitindo o debate. grande contribuição no meio de tanta coisa ridícula
muito professor bem colocado. espero ve-lo outras vezes através de seus artigos
abraços
LA
você mete o dedo na ferida compropriedade. É uma pena que ela ( a ferida)não doa onde tem que doer, no governo, só doi na educação e consequentemente em nós.
Continue professor quem sabe
Heron Zvinski
Muito bom Eduardo não sabia que vc pensava assim.
bj
LU
Parece-me que não ousar tentar não tem essa relação direta com não saber fazer, mas muitas vezes com não saber porque fazer. E entender essa questão talvez seja mais importante do que nos lançarmos como cegos na direção da "eficiência" nas ações. Que grupo mais desamparados somos nós, seres humanos, com tantas metas de tão pouco sentido à frente, na direção dos quais insistimos em seguir como crianças que não sabem, não conseguem, não querem entender em toda a sua extensão, talvez com medo de perceber o quão vazias podem se revelar quando atingidas. Com medo de descobrir que afinal das contas nada significavam para nós e que nelas gastamos tanto tempo, tanto esforço, tanta vida. Ou que talvez não haja mesmo sentido nas metas, mas na coragem de assumir as lutas verdadeiras, mal ou bem lutadas, a coragem pode ser mais reveladora do que a eficiência. Refiro-me àquelas lutas que guardamos na gaveta, aquelas que falam à nossa alma. Queremos ousar escutá-la? Ou preferiremos nos esconder em conceitos amplos o bastante para não conterem nada como "sociedade", "política", "dia-a-dia"?
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