segunda-feira, 31 de dezembro de 2007
quinta-feira, 27 de dezembro de 2007
CERVANTES: escravo, judeu, homossexual, proxeneta e... plagiário - por fernando arrabal salomão rovedo
Resenha do livro "Um escravo chamado Cervantes"
Faz pouco tempo que completou os 400 anos do nascimento da 1ª edição da primeira parte do romance “Dom Quixote de La Mancha” (1605-2005). E ainda hoje ressoa o foguetório das comemorações, das muitas edições e reedições de obras escritas por Miguel de Cervantes. Mas também mereceram destaque aquelas publicações destinadas
a especular sobre a vida do audaz manchego. Muitas leituras focalizam não só as obras de Miguel de Cervantes, mas também o vasto repertório de obras correlatas, destinadas a esmiuçar o acervo literário e a vida do genial fidalgo.
Um dentre os milhares de trabalhos sobre Miguel de Cervantes é Um escravo chamado Cervantes, de autoria do escritor hispano-marroquino Fernando Arrabal. Não é uma obra recente, primeiramente foi lançado em 1996 na França, onde o autor é mais reconhecido por sua obra teatral e adaptações cinematográficas, para aportar três anos depois cá entre nós em edições e reimpressões – o que é este caso.
Fernando Arrabal é um autor que ficou conhecido pelo talento rebelde, explosivo, que caracterizou alguns autores nascidos sob a ditadura franquista. Desde o tempo das primeiras peças e filmes, criou fama como o inventor do teatro do pânico – é o que disseram de suas chocantes peças teatrais e roteiros para cinema – fama que carregou para toda a obra que produziu, sob o signo da reação cultural ao franquismo.
Ser um rebelde revolucionário nas letras é ao, mesmo tempo, usufruir de certa liberdade, mas igualmente servir de telhado de vidro diante da pressão dos reacionários às suas idéias. Se, por um lado, lança um autor nos mares da fama de maneira espetacular, por outro, obriga-o a seguir uma estrada nem sempre gloriosa, porque cheia de balões de ar, vácuos indesejáveis: são os caminhos das terras de ninguém, de onde muitos saem vestidos num paletó de madeira.
Este Um escravo chamado Cervantes veio a lume baseado num documento, datado de 1569 e descoberto espetacularmente em 1820, segundo o qual se vinha saber que Cervantes em plena juventude (quando tinha só 21 anos de idade), foi condenado pelo rei da Espanha, a ter a sua mão direita amputada e a um desterro de dez anos. Essa condenação, segundo os cânones da época, equivalia à pena aos acusados de homossexualismo, nem mais nem menos! No entanto o jovem futuro escritor conseguiu que a dita condenação não fosse cumprida graças à cobertura que lhe deu um Cardeal amigo da família, que facilitou sua fuga para a Itália.
É claro que a partir desta explosiva descoberta – que muitos cervantistas ilustres se esforçaram por manter escondida – tudo ou quase tudo que se escreveu sobre Miguel de Cervantes teria que passar a uma severa e rigorosa revisão. Fernando Arrabal tomou para si a tarefa de exercer uma parcela dessa revisão. Se ele foi feliz ou infeliz nesta tarefa, dize-o a fama que o livro arrebanhou. Seja como for, mexer com Cervantes, sua obra e sua glória, é algo assim como condenar – o autor e a audácia – ao cadafalso.
Para classificar Cervantes como um escravo, Arrabal nos remete não só ao motivo direto do documento, comprovando, sim, que a escravidão se verifica não apenas sob os grilhões de ferro, mas igualmente sob a ditadura efetiva que a nobreza exercia sobre os súditos. Aliada dos poderes secundários da Igreja, cuja opressão se verifica como segundo degrau hierárquico da dominação, essa escravidão atingiu Cervantes diretamente no cerne do seu labor literário. Como autor ele não conseguiu romper a barreira dos intelectuais próximos do poder e da Inquisição para levar a sua obra ao público. Antes, teve que gastar prestígio e artimanha para se manter vivo e atuante.
Num segundo plano Arrabal perde muito tempo na busca dos antepassados mais longínquos de Cervantes para posicioná-lo como judeu de descendência cristão-novo. O que temos, na tese defendida por Arrabal, é que o cristão-novo jamais deixa de ser judeu, mesmo que decorridas várias gerações. Mas Arrabal no livro descreve uma exceção dessa regra de interesse: o Bispo de Burgos – depois também de Castela – dom Pablo de Santa Maria, foi um antigo rabino da cidade. Dom Pablo, assustado pela imprevista matança e perseguição dos judeus, abraçou o cristianismo com tal fé que logo alcançou a mitra de Burgos. A nova fé que o Bispo assumiu seria de tal maneira exacerbada por Pablo de Santa Maria e de tal modo cruelmente exercida, que tanto o pai quanto o filho, dom Alonso de Cartagena (que também seria Bispo), se transformaram em ferozes implacáveis perseguidores de judeus!
Portanto, não há como explicar a obsessão que move Arrabal em Um escravo chamado Cervantes, tampouco essa necessidade depressiva de demonstrar que a descendência de Cervantes fosse ou não fosse judia, posto que, no caso, se trata do menor e menos importante pedaço da biografia do genial fidalgo de La Mancha.
Para fugir da pena a que fora condenado pelo rei da Espanha, Miguel de Cervantes foge para a Itália. Ali chegando arranja abrigo, proteção e trabalho na casa do monsenhor Giulio Acquaviva y Aragon, que Cervantes conheceu durante as pompas fúnebres de dom Carlos, filho de Filipe II morto prematuramente – assassinado pelo pai, dizem. Mais uma vez aparece em cena o Cervantes escravo, desta vez de Acquaviva, também efeminado. Para fugir da escravidão, da subserviência opressiva, Cervantes aproveita a convocação feita para compor o famoso exército de aliados e se inscreve sob o comando de João de Áustria para combater os otomanos em Lepanto.
Como é sabido, Cervantes se arrisca destemidamente. Ele busca de todas as maneiras alcançar o perdão pelas loucuras que fez, mas também conseguir ascensão na nobreza, algo que ambiciona desde sempre, mas jamais verá realizado. Numa das refregas o agitado e valente soldado é atingido de forma violenta por um fragmento de granada. A explosão feriu todo o lado esquerdo do seu corpo, deixando os membros seriamente avariados. Decorre daí a suspeita folclórica de que, se tivesse sido cumprida a primeira parte da condenação em que Cervantes perderia a mão direita e agora ferido na batalha, vendo inutilizando todo o lado esquerdo, jamais o Dom Quixote teria sido escrito, perdendo a humanidade a criação da maior de suas obras primas.
Ao retornar para a Espanha após ter se recuperado das feridas – de posse de vários documentos atestando a sua bravura e recomendando o aproveitamento em cargos imperiais – o barco em que Cervantes viaja é seqüestrado por piratas árabes: passageiros e tripulantes são feitos prisioneiros. Em Argel, Cervantes vive a planejar fugas espetaculares, na ânsia de chegar à Espanha e finalmente conseguir a posição social que tanto sonhara, ambição desta vez lastreada nas façanhas heróicas da batalha de Lepanto. A sua atuação teve o testemunho subscrito por nada menos que o próprio João de Áustria, comandante supremo e meio-irmão de Filipe II. Nada consegue e o suplício só termina quando os parentes conseguem o dinheiro suficiente para pagar o resgate. São mais de três anos como prisioneiro – e mais uma vez escravo – do manda-chuva do país, ocasião em que também se torna seu amante, para não perder a viagem.
No entanto está vivo e reencontra a família com um negócio de pensão (hospedaria) montado em Madri. Cervantes usa seus conhecimentos e facilidades sociais para fazer publicidade e expandir o negócio. Viajantes vindos da Itália, da França, dos Países Baixos ali se hospedam. A recepção está aos cuidados da sua irmã Andrea Cervantes, que sabe encher os hóspedes mais importantes com todas as regalias que a posição social merece. Muitos deles deixaram relatos agradecidos e gorjetas valiosas que registram a excelência do bom tratamento que receberam na pensão dos Cervantes. É neste momento que Arrabal, com um dom que só ele possui, consegue transformar Miguel de Cervantes em um legítimo proxeneta, capaz de deixar envergonhado o mais afamado cafetão da Lapa carioca – acusando-o de usar a sensualidade da irmã para atrair hóspedes.
Mas... plagiário? É claro que todos os cervantistas conhecem as leituras e pesquisas que serviram de base para a feitura do romance. Também a elaboração da principal personagem do livro O Genial Fidalgo Dom Quixote de la Mancha já foi objeto de muitos estudos. No próprio romance Cervantes deixa algumas pistas – não são poucas – como no episódio em que são condenados e incendiados muitos livros de cavalaria da sua biblioteca. Quantos e quantos volumes esmiúçam os antecessores e inspiradores do Dom Quixote!
No entanto, a maior influência coube a Arrabal descobrir, na figura de Feliciano de Silva, antecessor de Cervantes em vários livros de cavalaria – os vários amadises, os romances pastoris, as Celestinas – foi o autor mais admirado não só por Cervantes, mas também por muitas gerações de leitores, eis que suas obras eram muito traduzidas e sempre reeditadas. Arrabal capricha em localizar aqui e ali os sinais mais óbvios de que Miguel de Cervantes não só se serviu da obra de Feliciano de Silva como modelo, mas adquiriu uma cumplicidade tal, uma proximidade tão próxima, que só se pode chegar à fatal conclusão – plágio.
E se é Fernando Arrabal quem tudo isso diz, escreve e assina embaixo, quem sou para contradizê-lo?
Quanto ao livro em si, Um escravo chamado Cervantes é de leitura muito difícil. Ou Arrabal transportou para esta pseudobiografia todas as loucuras inatas da escritura arrevezada que o levou a ser considerado um escritor maldito na melhor das tradições e escreveu mais uma obra indecifrável e cabalmente intraduzível – portanto, se traduzida, totalmente ilegível – ou Carlos Nougué é na verdade o pseudônimo de um desses programas de tradução simultânea que infestam a Internet com a pretensão de enterrar de vez o tradutor...
Porque – é sabido – Fernando Arrabal sempre foi um escritor “difícil”, isto é, autor de textos herméticos e de dupla ressonância. São dramas, romances, roteiros e outros etcéteras que possuem características próprias. Partindo de uma escola que se poderia traduzir surrealista, Arrabal descreve seus temas montando o texto sobre uma estrutura fractal. São textos que soam melhor no teatro ou no cinema, onde o diretor pode improvisar e recriar à vontade, segundo uma interpretação singular.
Por isso mesmo a tradução jamais será entendida pelo leitor não iniciado em Fernando Arrabal. Até mesmo o tradutor mais experimentado pode cair nas armadilhas semânticas, embora se possa pensar que traduzir do espanhol para o brasileiro seja fácil. Não é. Daí a brincadeira acima que fiz com o Carlos Nougué, cuja tradução desta biografia cervantina, Um escravo chamado Cervantes, de Arrabal, só vem demonstrar que desta vez quem foi traído foi o tradutor e não o traduzido.
Faz pouco tempo que completou os 400 anos do nascimento da 1ª edição da primeira parte do romance “Dom Quixote de La Mancha” (1605-2005). E ainda hoje ressoa o foguetório das comemorações, das muitas edições e reedições de obras escritas por Miguel de Cervantes. Mas também mereceram destaque aquelas publicações destinadas
a especular sobre a vida do audaz manchego. Muitas leituras focalizam não só as obras de Miguel de Cervantes, mas também o vasto repertório de obras correlatas, destinadas a esmiuçar o acervo literário e a vida do genial fidalgo.
Um dentre os milhares de trabalhos sobre Miguel de Cervantes é Um escravo chamado Cervantes, de autoria do escritor hispano-marroquino Fernando Arrabal. Não é uma obra recente, primeiramente foi lançado em 1996 na França, onde o autor é mais reconhecido por sua obra teatral e adaptações cinematográficas, para aportar três anos depois cá entre nós em edições e reimpressões – o que é este caso.
Fernando Arrabal é um autor que ficou conhecido pelo talento rebelde, explosivo, que caracterizou alguns autores nascidos sob a ditadura franquista. Desde o tempo das primeiras peças e filmes, criou fama como o inventor do teatro do pânico – é o que disseram de suas chocantes peças teatrais e roteiros para cinema – fama que carregou para toda a obra que produziu, sob o signo da reação cultural ao franquismo.
Ser um rebelde revolucionário nas letras é ao, mesmo tempo, usufruir de certa liberdade, mas igualmente servir de telhado de vidro diante da pressão dos reacionários às suas idéias. Se, por um lado, lança um autor nos mares da fama de maneira espetacular, por outro, obriga-o a seguir uma estrada nem sempre gloriosa, porque cheia de balões de ar, vácuos indesejáveis: são os caminhos das terras de ninguém, de onde muitos saem vestidos num paletó de madeira.
Este Um escravo chamado Cervantes veio a lume baseado num documento, datado de 1569 e descoberto espetacularmente em 1820, segundo o qual se vinha saber que Cervantes em plena juventude (quando tinha só 21 anos de idade), foi condenado pelo rei da Espanha, a ter a sua mão direita amputada e a um desterro de dez anos. Essa condenação, segundo os cânones da época, equivalia à pena aos acusados de homossexualismo, nem mais nem menos! No entanto o jovem futuro escritor conseguiu que a dita condenação não fosse cumprida graças à cobertura que lhe deu um Cardeal amigo da família, que facilitou sua fuga para a Itália.
É claro que a partir desta explosiva descoberta – que muitos cervantistas ilustres se esforçaram por manter escondida – tudo ou quase tudo que se escreveu sobre Miguel de Cervantes teria que passar a uma severa e rigorosa revisão. Fernando Arrabal tomou para si a tarefa de exercer uma parcela dessa revisão. Se ele foi feliz ou infeliz nesta tarefa, dize-o a fama que o livro arrebanhou. Seja como for, mexer com Cervantes, sua obra e sua glória, é algo assim como condenar – o autor e a audácia – ao cadafalso.
Para classificar Cervantes como um escravo, Arrabal nos remete não só ao motivo direto do documento, comprovando, sim, que a escravidão se verifica não apenas sob os grilhões de ferro, mas igualmente sob a ditadura efetiva que a nobreza exercia sobre os súditos. Aliada dos poderes secundários da Igreja, cuja opressão se verifica como segundo degrau hierárquico da dominação, essa escravidão atingiu Cervantes diretamente no cerne do seu labor literário. Como autor ele não conseguiu romper a barreira dos intelectuais próximos do poder e da Inquisição para levar a sua obra ao público. Antes, teve que gastar prestígio e artimanha para se manter vivo e atuante.
Num segundo plano Arrabal perde muito tempo na busca dos antepassados mais longínquos de Cervantes para posicioná-lo como judeu de descendência cristão-novo. O que temos, na tese defendida por Arrabal, é que o cristão-novo jamais deixa de ser judeu, mesmo que decorridas várias gerações. Mas Arrabal no livro descreve uma exceção dessa regra de interesse: o Bispo de Burgos – depois também de Castela – dom Pablo de Santa Maria, foi um antigo rabino da cidade. Dom Pablo, assustado pela imprevista matança e perseguição dos judeus, abraçou o cristianismo com tal fé que logo alcançou a mitra de Burgos. A nova fé que o Bispo assumiu seria de tal maneira exacerbada por Pablo de Santa Maria e de tal modo cruelmente exercida, que tanto o pai quanto o filho, dom Alonso de Cartagena (que também seria Bispo), se transformaram em ferozes implacáveis perseguidores de judeus!
Portanto, não há como explicar a obsessão que move Arrabal em Um escravo chamado Cervantes, tampouco essa necessidade depressiva de demonstrar que a descendência de Cervantes fosse ou não fosse judia, posto que, no caso, se trata do menor e menos importante pedaço da biografia do genial fidalgo de La Mancha.
Para fugir da pena a que fora condenado pelo rei da Espanha, Miguel de Cervantes foge para a Itália. Ali chegando arranja abrigo, proteção e trabalho na casa do monsenhor Giulio Acquaviva y Aragon, que Cervantes conheceu durante as pompas fúnebres de dom Carlos, filho de Filipe II morto prematuramente – assassinado pelo pai, dizem. Mais uma vez aparece em cena o Cervantes escravo, desta vez de Acquaviva, também efeminado. Para fugir da escravidão, da subserviência opressiva, Cervantes aproveita a convocação feita para compor o famoso exército de aliados e se inscreve sob o comando de João de Áustria para combater os otomanos em Lepanto.
Como é sabido, Cervantes se arrisca destemidamente. Ele busca de todas as maneiras alcançar o perdão pelas loucuras que fez, mas também conseguir ascensão na nobreza, algo que ambiciona desde sempre, mas jamais verá realizado. Numa das refregas o agitado e valente soldado é atingido de forma violenta por um fragmento de granada. A explosão feriu todo o lado esquerdo do seu corpo, deixando os membros seriamente avariados. Decorre daí a suspeita folclórica de que, se tivesse sido cumprida a primeira parte da condenação em que Cervantes perderia a mão direita e agora ferido na batalha, vendo inutilizando todo o lado esquerdo, jamais o Dom Quixote teria sido escrito, perdendo a humanidade a criação da maior de suas obras primas.
Ao retornar para a Espanha após ter se recuperado das feridas – de posse de vários documentos atestando a sua bravura e recomendando o aproveitamento em cargos imperiais – o barco em que Cervantes viaja é seqüestrado por piratas árabes: passageiros e tripulantes são feitos prisioneiros. Em Argel, Cervantes vive a planejar fugas espetaculares, na ânsia de chegar à Espanha e finalmente conseguir a posição social que tanto sonhara, ambição desta vez lastreada nas façanhas heróicas da batalha de Lepanto. A sua atuação teve o testemunho subscrito por nada menos que o próprio João de Áustria, comandante supremo e meio-irmão de Filipe II. Nada consegue e o suplício só termina quando os parentes conseguem o dinheiro suficiente para pagar o resgate. São mais de três anos como prisioneiro – e mais uma vez escravo – do manda-chuva do país, ocasião em que também se torna seu amante, para não perder a viagem.
No entanto está vivo e reencontra a família com um negócio de pensão (hospedaria) montado em Madri. Cervantes usa seus conhecimentos e facilidades sociais para fazer publicidade e expandir o negócio. Viajantes vindos da Itália, da França, dos Países Baixos ali se hospedam. A recepção está aos cuidados da sua irmã Andrea Cervantes, que sabe encher os hóspedes mais importantes com todas as regalias que a posição social merece. Muitos deles deixaram relatos agradecidos e gorjetas valiosas que registram a excelência do bom tratamento que receberam na pensão dos Cervantes. É neste momento que Arrabal, com um dom que só ele possui, consegue transformar Miguel de Cervantes em um legítimo proxeneta, capaz de deixar envergonhado o mais afamado cafetão da Lapa carioca – acusando-o de usar a sensualidade da irmã para atrair hóspedes.
Mas... plagiário? É claro que todos os cervantistas conhecem as leituras e pesquisas que serviram de base para a feitura do romance. Também a elaboração da principal personagem do livro O Genial Fidalgo Dom Quixote de la Mancha já foi objeto de muitos estudos. No próprio romance Cervantes deixa algumas pistas – não são poucas – como no episódio em que são condenados e incendiados muitos livros de cavalaria da sua biblioteca. Quantos e quantos volumes esmiúçam os antecessores e inspiradores do Dom Quixote!
No entanto, a maior influência coube a Arrabal descobrir, na figura de Feliciano de Silva, antecessor de Cervantes em vários livros de cavalaria – os vários amadises, os romances pastoris, as Celestinas – foi o autor mais admirado não só por Cervantes, mas também por muitas gerações de leitores, eis que suas obras eram muito traduzidas e sempre reeditadas. Arrabal capricha em localizar aqui e ali os sinais mais óbvios de que Miguel de Cervantes não só se serviu da obra de Feliciano de Silva como modelo, mas adquiriu uma cumplicidade tal, uma proximidade tão próxima, que só se pode chegar à fatal conclusão – plágio.
E se é Fernando Arrabal quem tudo isso diz, escreve e assina embaixo, quem sou para contradizê-lo?
Quanto ao livro em si, Um escravo chamado Cervantes é de leitura muito difícil. Ou Arrabal transportou para esta pseudobiografia todas as loucuras inatas da escritura arrevezada que o levou a ser considerado um escritor maldito na melhor das tradições e escreveu mais uma obra indecifrável e cabalmente intraduzível – portanto, se traduzida, totalmente ilegível – ou Carlos Nougué é na verdade o pseudônimo de um desses programas de tradução simultânea que infestam a Internet com a pretensão de enterrar de vez o tradutor...
Porque – é sabido – Fernando Arrabal sempre foi um escritor “difícil”, isto é, autor de textos herméticos e de dupla ressonância. São dramas, romances, roteiros e outros etcéteras que possuem características próprias. Partindo de uma escola que se poderia traduzir surrealista, Arrabal descreve seus temas montando o texto sobre uma estrutura fractal. São textos que soam melhor no teatro ou no cinema, onde o diretor pode improvisar e recriar à vontade, segundo uma interpretação singular.
Por isso mesmo a tradução jamais será entendida pelo leitor não iniciado em Fernando Arrabal. Até mesmo o tradutor mais experimentado pode cair nas armadilhas semânticas, embora se possa pensar que traduzir do espanhol para o brasileiro seja fácil. Não é. Daí a brincadeira acima que fiz com o Carlos Nougué, cuja tradução desta biografia cervantina, Um escravo chamado Cervantes, de Arrabal, só vem demonstrar que desta vez quem foi traído foi o tradutor e não o traduzido.
HERMANOTHEU NA TERRA DE GODAH - por " o editor enloqueceu"
COISAS DE FIM DE ANO - DIVIRTAM-SE! SE BEBER NÃO DIRIJA!
quarta-feira, 26 de dezembro de 2007
POEMA DE TIGRES - poema de julio almada
01
As garras são meus olhos,
Esses que eram de qualquer outro,
E na ousadia de minha madrugada
Os instalei de súbito em meu corpo.
Olhos renascidos de não morrer
Onde a morte lhes visita a gravidade.
02
Instantâneos e profundos como a saudade:
Noturna matinal arenosa e incômoda.
Lobos aves folhas e olhar de um poço,
Labirinto circular de meus passos felinos.
O tigre dos gritos do meu corpo
Arrasto e não ouvem. Desfolho
Sem saber, o intento no meu rosto.
O Meu Sorriso não tem dizer.
03
Tigres de vôos não vistos,
Não há como ver a altura do imprevisto;
Nem como fugir a fuga dos que tem sina;
Nem como ser luz do que perdeu a vista,
Sem ser brilhar e entorpecer.
Os designados nunca são inteiros
Carregam em seus passos, pés dilacerados:
As pernas e os fatos e as dores.
04
Não há destino exato para a semente no deserto.
Para implacável incerteza desperta.
Para o doer de tigres que desperto.
No tigre dói a não investida,
E assim o tempo cria em mim suas dores.
05
Se persigo veloz tudo que quero:
O fel tenho do não ter e das vontades;
Se passeio ronda a fera como fera,
A vontade que era grande me dilacera.
Sedento da fonte que não seca,
Faminto nas raízes da terra.
06
Quebro a armadilha do labirinto:
Inimigo do transitar das presas,
A prisão do desejo me encarcera.
Os gemidos solitários do secar das ervas:
São explosões inimagináveis do que se queima,
Fogo: angústia nas garras – olhos,
Captura a dor e a corrida do que vejo.
07
Não chamarei de tristes as afiadas unhas,
Nem de solitárias as vítimas da caçada.
08
Há os que praguejam seu destino.
Há os que o destino afaga e cala.
Há no círculo de luz a funda vala
Da fogueira extasiada de algo haver faltado:
Dois dias dois sábados dois olhos,
Ou a mágoa não ter evaporado,
Ou a viagem interceptada de lábios
Que queimariam a febre da fogueira.
09
Quebro nesta tarde com meu correr de tigre:
O braço da sina que me abraça.
Deixem-me por entre flores negras,
Por entre minhas não suavidades:
O tigre que sou – Só garras.
O homem que sou – Só olhos.
As garras são meus olhos,
Esses que eram de qualquer outro,
E na ousadia de minha madrugada
Os instalei de súbito em meu corpo.
Olhos renascidos de não morrer
Onde a morte lhes visita a gravidade.
02
Instantâneos e profundos como a saudade:
Noturna matinal arenosa e incômoda.
Lobos aves folhas e olhar de um poço,
Labirinto circular de meus passos felinos.
O tigre dos gritos do meu corpo
Arrasto e não ouvem. Desfolho
Sem saber, o intento no meu rosto.
O Meu Sorriso não tem dizer.
03
Tigres de vôos não vistos,
Não há como ver a altura do imprevisto;
Nem como fugir a fuga dos que tem sina;
Nem como ser luz do que perdeu a vista,
Sem ser brilhar e entorpecer.
Os designados nunca são inteiros
Carregam em seus passos, pés dilacerados:
As pernas e os fatos e as dores.
04
Não há destino exato para a semente no deserto.
Para implacável incerteza desperta.
Para o doer de tigres que desperto.
No tigre dói a não investida,
E assim o tempo cria em mim suas dores.
05
Se persigo veloz tudo que quero:
O fel tenho do não ter e das vontades;
Se passeio ronda a fera como fera,
A vontade que era grande me dilacera.
Sedento da fonte que não seca,
Faminto nas raízes da terra.
06
Quebro a armadilha do labirinto:
Inimigo do transitar das presas,
A prisão do desejo me encarcera.
Os gemidos solitários do secar das ervas:
São explosões inimagináveis do que se queima,
Fogo: angústia nas garras – olhos,
Captura a dor e a corrida do que vejo.
07
Não chamarei de tristes as afiadas unhas,
Nem de solitárias as vítimas da caçada.
08
Há os que praguejam seu destino.
Há os que o destino afaga e cala.
Há no círculo de luz a funda vala
Da fogueira extasiada de algo haver faltado:
Dois dias dois sábados dois olhos,
Ou a mágoa não ter evaporado,
Ou a viagem interceptada de lábios
Que queimariam a febre da fogueira.
09
Quebro nesta tarde com meu correr de tigre:
O braço da sina que me abraça.
Deixem-me por entre flores negras,
Por entre minhas não suavidades:
O tigre que sou – Só garras.
O homem que sou – Só olhos.
AS IDÉIAS - poema de augusto dos anjos
"De onde ela vem? De que matéria bruta
Vem essa luz que sobre nebulosas
Cai de incógnitas criptas misteriosas
Como estalactites duma gruta?!
Vem da psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas
Que, em desintegração maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa!
Vem do encéfalo absconso que a constringe,
Chega em seguida às cordas da laringe,
Tísica , tênue, mínima, raquítica...
Quebra a força centrípeta que a amarra,
Mas, de repente, e quase morta, esbarra
No molambo da língua paralítica!"
Vem essa luz que sobre nebulosas
Cai de incógnitas criptas misteriosas
Como estalactites duma gruta?!
Vem da psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas
Que, em desintegração maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa!
Vem do encéfalo absconso que a constringe,
Chega em seguida às cordas da laringe,
Tísica , tênue, mínima, raquítica...
Quebra a força centrípeta que a amarra,
Mas, de repente, e quase morta, esbarra
No molambo da língua paralítica!"
HERÓIS & DIAS AMENOS - poema de altair oliveira
Temos que a vida não dói.
- Viver é tudo que temos!
Ao menos somos os heróis
Da história que nos fazemos.
E, enquanto o tempo nos rói,
Tecemos planos de engenhos...
Vamos em busca de sonhos
Usando de asas e de remos.
Galgamos sobre o passado
Buscando os dias amenos
Tememos sobre o futuro
Que nem sabemos se temos
Jogamos os nossos melhores
Tentando ganhos pequenos
Treinamos poses de heróis
Da história que nós queremos!
Enfim, nós somos assim:
Restos de tudo que fomos
Mas sempre somos heróis
Da história que nos contamos
Nos cremos por maiorais
Que, ao certo, um dia seremos
Morremos sempre no fim...
- Fingimos que não sabemos!
poema do livro O Lento Alento - 2007 - o autor, que vive em Curitiba desde 1988, é poeta de fundo de quintalde quitinete e canta luazinhas de desenhos de paredes. afirmações do autor.
- Viver é tudo que temos!
Ao menos somos os heróis
Da história que nos fazemos.
E, enquanto o tempo nos rói,
Tecemos planos de engenhos...
Vamos em busca de sonhos
Usando de asas e de remos.
Galgamos sobre o passado
Buscando os dias amenos
Tememos sobre o futuro
Que nem sabemos se temos
Jogamos os nossos melhores
Tentando ganhos pequenos
Treinamos poses de heróis
Da história que nós queremos!
Enfim, nós somos assim:
Restos de tudo que fomos
Mas sempre somos heróis
Da história que nos contamos
Nos cremos por maiorais
Que, ao certo, um dia seremos
Morremos sempre no fim...
- Fingimos que não sabemos!
poema do livro O Lento Alento - 2007 - o autor, que vive em Curitiba desde 1988, é poeta de fundo de quintalde quitinete e canta luazinhas de desenhos de paredes. afirmações do autor.
A REVOLUÇÃO ORGANÍSMICA - por fernando radin bueno
Uma análise sobre a mudança de paradigma
Em meio a um descontentamento de uma camada da comunidade científica e filosófica com relação ao mecanicismo subjacente às teorias materialistas da mente e à física newtoniana no estudo dos fenômenos físicos, surge uma nova abordagem para o estudo da mente, da sociedade e das relações entre os indivíduos que a compõem. Segundo Ludwig von Bertalanffy, em sua obra General System Theory, o paradigma da física newtoniana, que culmina na filosofia kantiana, já não era suficiente para responder a algumas das questões complexas decorrentes do desenvolvimento das ciências biológicas e comportamentais. Vendo lacunas no paradigma dominante, outros cientistas são conduzidos ao pensamento organísmico, e passam a olhar o mundo a partir dessa perspectiva, ou seja, passam a observá-la como organização complexa em constante mudança. O objetivo deste artigo é fazer uma crítica ao paradigma mecanicista a partir da Teoria Geral dos Sistemas, além de pensar nas conseqüências dessa teoria enquanto paradigma em ascensão na filosofia contemporânea.
Imediatamente ao se pensar em organismo várias imagens suscitarão em nossas mentes e categorias variadas estarão presentes em nossos pensamentos, podemos pensar desde uma célula até a constituição do universo que a essência do sistema certamente estará presente. Várias são as características de um sistema complexo, mas iremos nos aprofundar em apenas algumas delas, mais especificamente no conceito de interdependência entre as partes e interação destas com o todo. Qualidade inexistente no paradigma cartesiano, no qual as partes de um sistema eram independentes e autônomas, não constituindo vínculo relacional na formação e manutenção do conjunto, o conceito de conexão entre os elementos de um sistema é revolucionário. Realmente, a revolução organísmica conseguiu achar uma brecha no paradigma cartesiano e, a partir daí, infiltrar-se nele como uma rachadura crescente em um dick; nós podemos tanto contribuir para sua contenção como para a destruição da barragem cartesiana, tudo que devemos fazer é bater as asas.
O andar do relógio
Desde Descartes no século XVI até hoje muita coisa tem mudado, a roda do progresso não poderia ficar estanque. A hipótese levantada por Cartesio de que o universo, o ser humano e a natureza teriam sua constituição análoga a de um relógio suíço foi bem aceita pelos cientistas da época, o que não quer dizer que não houveram objeções. A idéia de que o ser humano teria sua constituição similar a de uma máquina - composto de peças, engrenagens e movimentos mecânicos - levantou grande polêmica e admiração, justamente por explicar algo que, até então, se revelava como misterioso e divino: feito a imagem e a semelhança de Deus, o homem, uma vez despido dessa maneira, teria nas mãos a chave para desvendar o enigma da existência; o racionalismo conquistaria um de seus maiores trunfos. Justamente a partir dessa estabilidade adquirida pelos cartesianos é que esse pensamento começa a ganhar espaço na comunidade científica, pois o objetivo da ciência era e é o de oferecer cada vez mais segurança e certeza em suas proposições e descobertas.
Nada poderia ser mais exato do que a matemática, nem mais perfeito do que o andar do relógio, era por ele que todos organizavam suas tarefas, era a referência comum. Precisamente por sua notoriedade e confiança é que o relógio foi usado como exemplo de sistema; construído por Deus, gozava então de bons precedentes podendo ser amplamente aproveitado como método seguro de se imaginar a vida e a realidade. O relógio simbolizou, para muitos autores, a ordem do universo. Seus movimentos são totalmente previsíveis. Para saber como funciona um relógio, basta desmonta-lo e compreender como suas peças se encaixam. Da mesma forma, para compreender a natureza, bastava desmontá-la, descobrir como funcionam suas partes e tudo se revelaria com espantoso reducionismo e determinismo.
Essa visão de mundo ganhou uma metáfora no Demônio de Laplace. O cientista francês propôs que, se uma consciência soubesse todos os dados de todas as partículas do universo e fosse capaz de fazer os cálculos necessários, teria condições de prever o seu funcionamento com perfeição. O Demônio Laplaciano teria diante de si o passado, o presente e o futuro.
“A inteligência suposta por Laplace seria onisciente, mas impotente para provocar qualquer modificação no curso dos eventos. Restaria a ela um olhar entediado sobre o porvir, pois nada poderia acontecer que não tivesse já previsto”. Isaac Epstein
Muitos críticos empiristas, dentre eles Hume, dirão que esse tipo de razão é indolente, já que o determinismo reduz a realidade a um jogo de cartas marcadas e situações pré-determinadas. Não é de se espantar que Hume será taxado de ateu, pois, ao pregar a autonomia na condução da vida humana muitos sentirão a negação da onipotência de Deus e a adoção de um pensamento laico naquela época não era muito bem vindo. A teoria mecanicista, por outro lado, gozava ainda de muito crédito, tendo sido reforçada pela física newtoniana, defendendo leis imutáveis e a concepção de uma realidade determinista e perene. A idéia de uma causalidade linear também adiquiriu grande força na época, pois, além de se encaixar nas concepções cristãs (gênese/apocalipse; nascimento/morte; início/fim), ainda oferecia um reforço ao determinismo, muito sensual para os cientistas da época. Se a partir do conhecimento de uma causa eu puder determinar sua conseqüência (ou vice-versa), então toda natureza pode ser conhecida e dominada pela razão; acreditava-se que a natureza devia ser torturada e interrogada para a partir daí liberar todos os seus segredos e submeter-se ao jugo da razão.
Porém, por mais que os cartesianos demonstrassem leis e princípios algo ainda permanecia vago, alguma coisa estava faltando. Com o desenvolvimento das ciências biológicas, comportamentais e da própria dinâmica da urbanização sentiu-se uma necessidade de se ir além, de superar a filosofia determinista e caminhar pela sua tangente. A idéia de interação entre os organismos e de sua interdependência causou dúvida na estrutura mecanicista; a sociedade e a natureza não eram constituídas através de uma soma de indivíduos, mas sim da interação entre eles; a soma das partes não era igual ao todo, podendo resultar em crédito ou débito devido às interações inerentes em suas relações. O proletário dependia tanto do burgês para se manter no sistema capitalista quanto este daquele, esta era a essência do pensamento organísmico. Se o universo surgiu a partir de um único ponto então era somente uma questão de tempo.
Atraso quântico
Quando nosso relógio quebra ou perde a hora (entra em descompasso) devemos achar qual a parte que está quebrada e substituí-la, sendo o ser humano nada mais do que um amontoado de peças unidas pelo movimento de engrenagens. Essa abordagem se vê ultrapassada quando se descobre a infinidade de interações que um indivíduo participa, mesmo inconsciente ou involuntariamente e que determinam de certa forma o caminhar de sua existência. O pensamento complexo ultrapassa as fronteiras do reducionismo investigando as interações das partes e suas conseqüências. Se, por exemplo, uma peça de meu relógio quebra perco a hora do ônibus e não chegarei a tempo na escola, perdendo assim a prova e colocando meu ano letivo em risco. Da mesma forma, as peças do relógio não existem sozinhas nem funcionam por si só, assim, encaixam-se em um sistema maior do que Descartes poderia imaginar, sendo qualquer parte do relógio tão importante quanto ele mesmo.
O individualismo intrínseco na teoria cartesiana reflete muito de sua época e de suas raízes antropocêntricas, além de sua insegurança e incapacidade de compreender a vasta gama de possibilidades no universo. A cooperação perde lugar para a introspecção e assim fugimos do mundo criando explicações próprias para a realidade; essa inversão era o que Marx chamava de ideologia. Segundo Peter Singer, eminente filósofo contemporâneo, somos responsáveis pelo que fazemos e pelo que deixamos de fazer e esse pensamento não poderia ser mais sistêmico,uma vez que todas as nossas ações ou omissões são importantes na dinâmica do sistema, esta que vive de atitudes positivas e negativas, de erros e acertos, do sim e do não.
"O homem moderno tem utilizado a relação de causa e efeito do mesmo modo como o homem da antiguidade usava os deuses, isto é, para ordenar o universo. Isto não ocorria apenas porque se tratava do sistema mais verdadeiro, mas porque era o mais conveniente". Henri Poincaré
Nas palavras de Poincaré, o ser humano se fez mais amigo dele mesmo do que da verdade, alienando-se devido a sua covardia e criando justificativas próprias para sua artificialidade perante o mundo que o cerca. Nesse contexto, a teoria sistêmica, emergindo da revolução organísmica, oferece uma visão muito mais holística e complexa, livre dos grilhões do especismo e de suas limitações individualistas. Segundo Capra, todos fazemos parte e interagimos direita e indiretamente da “teia da vida”, relação entre todos os seres que constituem o universo e isso abrange desde seres vivos até o movimento de planetas, passando pelas estações do ano e pelo quebrar das ondas na praia.
Esse tipo de reflexão nos direciona para um “pensamento ecológico”, justamente por atribuir mais responsabilidade em nossos atos para com o meio ambiente e nossos semelhantes. A “ética da solidariedade”, assim chamada por Morin, se encontra em plena ascensão, executando uma curva inversa ao declínio do paradigma cartesiano; nos encontramos exatamente no “turning point”.
No que diz respeito ao relógio de Descartes, a teoria quântica – desenvolvida no fim do século XIX, devido aos avanços nas observações atômicas; essa teoria iria afundar o navio da ciência ao bombardeá-la com princípios de incerteza e probabilidade – juntamente com a teoria do caos iriam demonstrar o comportamento não-linear de modelos até então considerados exatos e precisos como o movimento pêndulo e do próprio relógio. Mesmo os relógios atômicos, baseados nas vibrações de átomos de césio, apresentam um atraso mínimo, o caos inerente ao seu movimento tratará de retirar a certeza e reduzi-la a probabilidades. Como se vê, a rachadura no dique de certezas cartesianas se apresenta maior e mais perigosa devido ao próprio método do pensamento complexo. As mudanças mínimas apresentarão sérias conseqüências posteriores justamente pela dinâmica do sistema; seu constante movimento cria um efeito similar a uma “bola de neve”, parecendo inofensiva no início tem o poder de engolir pessoas e pensamentos. Processo similar ocorreu com a teoria mecanicista, que se viu diante de um impasse com a organísmica e, pouco a pouco, encurrala-se e tropeça nos próprios erros, deixando livre espaço para o desenvolvimento do pensamento sistêmico, um novo nível de realidade.
A certeza no caos
O impacto da chamada revolução organísmica não foi propriamente o de uma revolução, porém seus efeitos ecoaram de tal forma nas certezas até então adotadas pela ciência que nos parece simplista demais a idéia de que um ponto possa fazer tanta diferença. Sabemos, por outro lado, que o simples erro de sinal em uma equação pode comprometer todo o raciocínio lógico do qual a matemática tanto se orgulha, também temos ciência de que toda mudança, por maior que seja, tem seu início na mente de uma ou de um grupo pessoas; o consenso e a mudança ocorrem com o tempo, porém a revolução acontece naquele momento. De forma similar, a revolução em cima do paradigma cartesiano se deu com base no sistema transgressor, ou seja, indo de parâmetros de ordem (menores) aos de controle (maiores e mais influentes na hierarquia sistêmica), atingindo assim relevância suficiente para remodelar nossa noção de mundo, nos fazendo cair em uma “crise de percepção” . Com isso, o ser humano começa a questionar seu lugar no mundo e sua participação no todo, revalorizando seus valores e transpondo os limites impostos por nós mesmos. Quando o extraordinário se tornar cotidiano, precisaremos de uma nova revolução.
domingo, 23 de dezembro de 2007
ENTÃO... É NATAL!!
sábado, 22 de dezembro de 2007
O NATAL - por eduardo ratton
CHEGAMOS AO FINAL DO ANO COM ALGUNS ARRANHÕES E FERIMENTOS, MAS A ONÇA AINDA NÃO CONSEGUIU NOS PEGAR.
A entrada do ano que se acaba foi quase ontem e, novamente, partimos para outra época. 2007 está findo e 2008 seja bem-vindo!Correria brava, os anos têm passado batidos, por vezes mais gordos, outros mais magros, mais quentes, mais tristes, mais caros e com mais manchetes nos noticiários. Temos trabalhado para “car-va-lho!!!” Anos duros como a peróba, anos fartos de trampos diversos, enriquecedores ou apenas gratificantes o bastante. Instigantes!
Nestes tempos corridos, mergulhamos na onda caminhando a passos largos. Estreitamos o tempo, os laços, apertamos a marcha, os passos, os nós nos sapatos. Aceleramos as horas, os atos, o tic-tac dos ponteiros, a abertura de nossos compassos. Seguimos assim, amados ou não, amigados talvez, como uma massa comum de companheiros neste barco de Noel, nesta arca de Noé, simbólico Pai da biodiversidade.
Durante o ano nem sempre fomos amigos, mas nem por isso tivemos os punhos cerrados, tampouco braços armados. Essa maratona toda é fruto de nossos projetos de vida, nos chamando para detalhar-los, para que se transformem de desenhos a fatos, originais, verdadeiros, legítimos. Nossas expectativas mais íntimas nos empurram para um abismo, nos jogam na vida, na busca desregrada por uma receita universal, misteriosa, única e pessoal. Talvez, a “tal da felicidade” (como cantavam as Frenéticas nos anos 80).Mas talvez estejamos exagerando demais! Eu, talvez estive, creio que estava há tempos atrás!... Corri na velocidade da luz, de uma luz própria e, nas horas da escuridão, acabei sendo cegado pela intensidade do brilho desta minha pretensa luminária, que era apenas uma simples vela no escuro, novamente, tentando ser feliz.
Alguns de nossos pares acabaram sendo atropelados: “Eu fui o primeiro!” E tive que conviver imperativamente com a sensação do “tudo parado”, morto, logo ali caído no chão, na nossa cara! E nós, sempre, carregando este legado de pobres inválidos, feridos, machucados, quase tão sofridos quanto nós mesmo (ou mais).Mas mesmo isso tudo não comove a todos da mesma maneira, não funciona assim!
Somos diferentes, graças ao Deus (de cada um de vocês)... O que agora vejo e neste momento desejo é exatamente isso: a preservação da diferença, da diversidade das vidas, das almas, de feras, feridas ou calmas, enfim, não quero mudar ninguém e, tão pouco, modificar minha teimosia que todos olham com desdém. Um dia, talvez, entendam dos porquês e possam, ainda, me dar razão, ou simplesmente comentarem numa mesa de bar que, o “cabra” era teimoso e obstinado, que embora tinhoso tinha suas razões e suas idéias claras, confundidas com algumas paixões (mesmo que, por vezes, exageradas).
Desejo, para todos, que tudo siga os caminhos mais sábios da consciência humana. Precisamos preservar nossa originalidade, nossas peculiaridades, nossas idéias mais ímpares. Sejamos, portanto, pares, parceiros... Nunca competidores, traiçoeiros, párias desnaturados da sociedade... Não precisamos competir, simplesmente porque não há porque competir. Vamos procurar um galho que não tenha macaco! E pronto!
Nossa corrida e briga é contra nós mesmo!
Devemos buscar mais cores e muitas mais tintas! Diversos números para não pintarmos apenas os “setes” (quem sabe os oitos, os noves, ou os sessenta e noves). Para sermos melhores que nós, para progredirmos e conseguirmos ser tão rápidos para, repentinamente, ao olharmos no espelho possamos flagrar a nossa imagem de um segundo atrás! Enxergar a própria nuca, antes que o espelho tenha tido o tempo de refletir a imagem de nosso olhar.
Este é o desafio simbólico de quem quer melhorar. Seja este o nosso desafio!Que nossa regra seja partilhar, dividir para somar, trocar idéias, multiplicar, até mesmo criticar nossos mais fraternos ideais. Que tenhamos em mente a lógica de nossos conterrâneos tropicais. Quando os recursos são limitados, o melhor é a instintiva partilha, ao invés de uma competição desmedida no seio da própria matilha.
Somos responsáveis pelo futuro da nossa espécie, das outras também, e de muito mais. Queremos toda essa biodiversidade, de verdade, para uma real sociedade, de cidadãos comuns, comuns no nobre direito de se afirmarem raros! De serem queridos e de “se valerem” caros! Não somos simples coadjuvantes de fúteis e insuportáveis seriados. Não queremos ser nem estar enlatados, como peixes pequenos, descabeçados. Estarmos confundidos e rotulados como a tal farinha de um mesmo saco!Somos únicos, exóticos por natureza, bizarros até! Somos o puro desejo de nossos genes pareados, de alguns pares de base desparceirados, que livremente se articularam para manter a própria existência, a instintiva excelência, a compartilhada competência. Competência sim, competição não! Até porque não temos adversários com tantos brios, qualidades, estratégias e, infelizmente, com tanto rancor, cinismo e orgulhos com dor! Estes somos nós!
A competência não é competitiva, ela é de responsabilidade, de incumbência, de sabedoria, de discernimento, de consciência, de respeito, de muita força, de coragem, de saber avaliar as conseqüências! Vamos enfrentar as bruxas, desafiar os espinhos do caminho, sem sandálias, sem grandes dilemas. Cada qual tem um papel neste teatro da vida, afinal, tem algo que é seu, apenas seu, que ninguém pode copiar ou roubar.A tal genialidade está em todos, está em ser por simplesmente ser; está em descobrir o óbvio de cada um e a obviedade de todos; somos, ao fim, uma multidão de míopes, guiando cegos no desvendar das coisas que estão bem aqui na nossa cara! E cada insignificante formiga que se mantiver antenada, trará o indispensável alimento para sua colônia, para várias tribos, para todos os seres vivos.Que bom se nos próximos tempos diminuíssemos nossas diferenças, sem as insalubres desavenças, evidenciadas por nossos atos mais falhos, inconscientes e intolerantes. Cada um sabe a sua letra decor, sua fala, seu papel, em cima do palco, dentro da sala, nesta “salada da vida”, já tão intensamente temperada.Somos cartas embaralhadas, mas somente as parelhas formam canastras, canastras reais e, apenas assim, somamos mais pontos, sem jamais “perder o naipe” a que originalmente pertencemos. Sejamos, pois, o coringa, o sete de copas, os audazes ases de ouro, os espadilhas ou os reis de paus, nunca o mole, o caixão o quatro ou o cinco indesejável e que sempre produz dissabor.Cada qual é uma figura, carimbada, assinada, premiada, fora de série.
Não somos meros números, tampouco uma carta qualquer a ser descartada. Somos parte importante desta partida, desta parada da humanidade! Somos todos distintos, cada um e cada qual com suas qualidades e imperfeições.Quanto mais originais nos prestamos a ser, mais difícil é o processo de nos fazermos compreendidos, integrados e inseridos. É o duelo entre os normais e os demais. Felizes são os loucos, pois não herdam a nossa razão. Precisamos querer “mais erosão e menos granito”, precisamos daquilo que não temos dito, inclusive daquilo que tememos e por vezes sofremos. Precisamos gostar do inacabado, do imperfeito, do estragado. Não queremos só canção, precisamos de gritos e de revolução.
Desejo que todos tenham e mantenham toda a originalidade que contenham; que sejam comedidos ao viver suas verdades; que acreditem nas suas próprias invenções, fugindo das convenções, das doutrinas, das competições, das disputas tolas e sem objetivos claros ou princípios raros.
Que 2008 seja ímpar, embora bissexto! Que todos possamos ser bons pares, parceiros, companheiros de bar e da mesma barca; que a lealdade dos navegadores deste mar, seja nossa marca.
Atitudes de fidelidade, de amor e de ajuda.
O novo tempo é de mudanças e que estas não sejam apenas políticas ou climáticas!Que possamos curtir mais os momentos, todas as horas, cada instante; que deixemos nossos troféus na estante e, daqui em diante sempre iremos avante! Passos firmes, definidos, bem distribuídos, acreditando na própria história, valorizando a própria memória, apreciando a sábia trajetória de nosso ser infante, nosso acervo gigante, nossa cabeça grande de um “Ser Elefante”...e “que se foda” o beija-flor e a macacada!Temos muito para viver até chegarmos a ser apenas uma imagem de seres extintos do passado.
Somos nós agora os atores, os principais autores desta história e façamos dela uma narração pictórica.Mais vida, mais diversão, mais alegria! Vamos ensinar nossos filhos como aproveitar a vida e o Mundo, e não como vencer na vida e vencer todo mundo, cavando trincheiras no solo pantanoso, deste jogo tão marcado. Continuemos radicais nas nossas ações, mas tolerantes nas nossas interpretações. Amigos em todas as horas, originais desde criancinhas.
Saúde, paz, verdade, vida e tudo que o bom vento velhinho nos traz de tempos atrás, de passados Natais, de nossos anseios ancestrais.
Beijos e abraços, felicidades, bandeiras brancas e “-Vamos pro Limpo!” A Luta continua e o Luto é passageiro.
Guardem esta mensagem, pois ao longo do ano próximo não custará nada reler e refletir sobre isto, mesmo quando chegarmos de madrugada exalando malte e totalmente liquidados, mais parecendo burros e com outros incorporados.
Vamos criar nossa própria oração!
Mais beijos e abraços e não se esqueçam que:
”Pouco conhecemos do que já passou, e menos ainda daquilo que ainda virá!”
Eduardo
Apagando as luzes de 2007... e acendendo o sol do novo 2008!
CONSULTA MÉDICA - por "o editor enloqueceu"
Um médico sincero foi questionado sobre vários conselhos que sempre nos são dados...
Pergunta: Exercícios cardiovasculares prolongam a vida, é verdade ?
Resposta: O seu coração foi feito para bater por uma quantidade de vezes e só... não desperdice essas batidas em exercícios. Tudo gasta-se eventualmente. Acelerar seu coração não vai fazer você viver mais: isso é como dizer que você pode prolongar a vida do seu carro dirigindo mais depressa. Quer viver mais? Tire uma soneca !!!
P: Devo cortar a carne vermelha e comer mais frutas e vegetais?
R: Você precisa entender a logística da eficiência... .O que a vaca come? Feno e milho. O que é isso? Vegetal. Então um bife nada mais é do que um mecanismo eficiente de colocar vegetais no seu sistema . Precisa de grãos? Coma frango.
P: Devo reduzir o consumo de álcool?
R: De jeito nenhum. Vinho é feito de fruta. Brandy é um vinho destilado, o que significa que, eles tiram a água da fruta de modo que vc tire maior proveito dela. Cerveja também é feita de grãos. Pode entornar!
P: Quais são as vantagens de um programa regular de exercícios?
R: Minha filosofia é: Se não tem dor...tá bom!
P: Frituras são prejudiciais?
R: VOCÊ NÃO ESTÁ ME ESCUTANDO!!! ... Hoje em dia a comida é frita em óleo vegetal. Na verdade ficam impregnadas de óleo vegetal. Como pode mais vegetal ser prejudicial para você?
P: Flexões ajudam a reduzir a gordura?
R: Absolutamente não! Exercitar um músculo faz apenas com que ele aumente de tamanho.
P: Chocolate faz mal?
R: Tá maluco? !!!! Cacau!!!! Outro vegetal!! É uma comida boa pra se ficar feliz ! !! E lembre-se:
A vida não deve ser uma viagem para o túmulo, com a intenção de chegar lá são e salvo, com um corpo atraente e bem preservado.
Melhor enfiar o pé na jaca - Cerveja em uma mão - tira gosto na outra - muito sexo e um corpo completamente gasto, totalmente usado, gritando:
VALEU !!! QUE VIAGEM !!!!!! !!!!!!
Pergunta: Exercícios cardiovasculares prolongam a vida, é verdade ?
Resposta: O seu coração foi feito para bater por uma quantidade de vezes e só... não desperdice essas batidas em exercícios. Tudo gasta-se eventualmente. Acelerar seu coração não vai fazer você viver mais: isso é como dizer que você pode prolongar a vida do seu carro dirigindo mais depressa. Quer viver mais? Tire uma soneca !!!
P: Devo cortar a carne vermelha e comer mais frutas e vegetais?
R: Você precisa entender a logística da eficiência... .O que a vaca come? Feno e milho. O que é isso? Vegetal. Então um bife nada mais é do que um mecanismo eficiente de colocar vegetais no seu sistema . Precisa de grãos? Coma frango.
P: Devo reduzir o consumo de álcool?
R: De jeito nenhum. Vinho é feito de fruta. Brandy é um vinho destilado, o que significa que, eles tiram a água da fruta de modo que vc tire maior proveito dela. Cerveja também é feita de grãos. Pode entornar!
P: Quais são as vantagens de um programa regular de exercícios?
R: Minha filosofia é: Se não tem dor...tá bom!
P: Frituras são prejudiciais?
R: VOCÊ NÃO ESTÁ ME ESCUTANDO!!! ... Hoje em dia a comida é frita em óleo vegetal. Na verdade ficam impregnadas de óleo vegetal. Como pode mais vegetal ser prejudicial para você?
P: Flexões ajudam a reduzir a gordura?
R: Absolutamente não! Exercitar um músculo faz apenas com que ele aumente de tamanho.
P: Chocolate faz mal?
R: Tá maluco? !!!! Cacau!!!! Outro vegetal!! É uma comida boa pra se ficar feliz ! !! E lembre-se:
A vida não deve ser uma viagem para o túmulo, com a intenção de chegar lá são e salvo, com um corpo atraente e bem preservado.
Melhor enfiar o pé na jaca - Cerveja em uma mão - tira gosto na outra - muito sexo e um corpo completamente gasto, totalmente usado, gritando:
VALEU !!! QUE VIAGEM !!!!!! !!!!!!
sexta-feira, 21 de dezembro de 2007
RECEITA PARA SE MANTER COMUNISTA APÓS OS 30 - por otávio machado de albuquerque
Parabéns camarada, mais um aniversário. Você está preocupado porque em alguns anos atingirá a marca de 30 anos, aquela marca que lhe contaram que ao atingi-la você não será mais comunista. Como continuar comunista depois dos 30? Quer saber? Leia as instruções abaixo com cuidado porque senão o seu irmão mais novo deixará de confiar em você. Afinal, não confie em ninguém com mais de 30. Não confie em ninguém com 32 dentes.
A primeira regra para se manter comunista após os 30 é: nunca diga que é comunista. A segunda regra para se manter comunista após os 30 é: NUNCA diga que é comunista.
Isto significa que você deve adotar um pseudônimo para dizer que você não é comunista. Você dará a desculpa que a sua identidade secreta foi criada para você se defender do patrão, quando na verdade neste "novo eu" você poderá externar todo o Partidão que existe dentro de você sem ser ridicularizado. Se alguém questionar a duvidosa coerência do uso de pseudônimo você vai lembrar que Stendhal, Lênin, Pablo Neruda e George Orwell usavam pseudônimos. Afinal, para você e seus seguidores você é um deles.
A terceira regra para se manter comunista após os 30 é se afastar do mundo produtivo. Monte sua própria banda antiamericana ou, melhor ainda, torne-se um professor universitário. Assim você poderá viver confortavelmente à custa de seus fãs ou do governo. Você terá um refúgio contra o capital para escrever maciçamente contra ele sem ser importunado.
Você poderá escrever e falar qualquer asneira que defenda o comunismo. Que a URSS foi libertária e, mesmo que seja contraditório, você dirá que o comunismo nunca existiu e que Stálin é o grande culpado. Defenderá Cuba, mas dirá que o comunismo nunca existiu. Defenderá que a URSS não foi um império, mas negará a existência do comunismo. Meu jovem, na vida você faz escolhas. Seja coerente ou seja comunista.
Apoio é importante. Se você tiver uma banda, logo terá um fã-clube. Se você se tornar um professor universitário logo terá vários "voluntários" trabalhando de graça para você. Eles divulgarão os seus livros, seus artigos sem que você precise pagar nada por isso. Sempre terá uma pessoa carente que vai acreditar nos seus discursos contra o sistema. Ora, quer algo mais sedutor do que isso? Dizer a um jovem que quer mudar o mundo que existe uma saída? Lembre-se. Ingênuos não faltam nesse planeta.
Reescreva a história. Diga que o comunismo é a força do povo e não a forca do povo. Diga que o comunismo não matou ninguém. Diga que não é um sistema que poucos ganham muito e muitos não ganham nada, além de chibatadas nas costas e férias forçadas na Sibéria.
Para ser defensor do comunismo é necessário exaltar o crime. Assassinos em massa são líderes e assassinos comuns são vítimas do sistema capitalista opressor. Culpe o capitalismo por tudo. Culpe a polícia sempre. Nunca os bandidos. Exalte o comunismo sempre. Mas lembre-se, ele nunca existiu de verdade. Não esqueça de mencionar que os direitos humanos são para todos, mas esqueça dos policiais, sim. Você vai ensinar que os policiais são os novos capitães do mato e em todo camburão tem um pouco de navio negreiro. Os seus seguidores acreditarão que você é mesmo contra o sistema. Se alguém invadir a sua casa ligue para a polícia, mas não diga a eles que você os critica e nem diga aos seus amigos o que aconteceu. Afinal quem precisa de polícia, não é verdade? Mas, cuidado. Defender o crime e difamar pessoas nem sempre dá certo.
Escreva muitos livros. Sobre tudo. Escreva muitos artigos. Sobre tudo, mas culpe sempre a burguesia e os Estados Unidos. Sempre culpe os EUA por todos os males do mundo. Faça textos antiimperialistas, mas negue a todo tempo que a URSS foi imperialista. Você pode fazer isso, claro. Se ficar muito claro que a URSS é imperialista, diga que o verdadeiro comunismo nunca existiu. Culpe então o Stálin e diga que um dia o Messias chegará para libertar o povo das amarras da tirania. Deixe a entender que o Messias pode ser você. Se tudo isso não colar, bote a culpa nas elites deste país.
Use a incoerência. Sempre. Defenda ditaduras em nome da liberdade. Defenda o patriotismo, mas use o brasão da URSS. Diga que você defende os negros, mas em todos os seus registros classifique-se com Caucasiano (Branco), apesar de ser mestiço. Defenda as mulheres em público, mas seja machista no privado. Defenda o uso do idioma português correto, mas ignore os analfabetos que chegam ao poder. Acuse a burguesia de todos os males. Importante: você não é burguês. Minta. Diga que você acessa a Internet de uma Lan House e não de casa, afinal você é um defensor dos pobres. Não pega bem que saibam que você tem carro, tv a cabo, máquina digital, microondas, celular com câmera e internet com banda larga em casa. Denomine-se "outsider" (em inglês mesmo) e mantenha um perfil cheio de preferências e fotos no Orkut. Passe a todos que você é cult e inteligente. Procure comunidades de pensadores e movimentos sociais. Não basta ser comunista, tem que ser cult.
As pessoas deixam de ser comunistas após os 30 anos porque entram em contato com a realidade. Amadurecem e percebem o grande erro que é regulamentar a vida das pessoas de cima para baixo. Só afastado do mundo da fantasia da vida acadêmica e artística você começa a entender que a melhor saída para corrigir as injustiças é mudar as pessoas, não os sistemas. Só os artistas, comunistas e os que vivem das tetas do governo podem encher os pulmões e dizer: “Eu sou burguês, mas eu sou artista. Estou do lado do povo...”
Entendeu? O importante não é só enganar os outros, mas enganar a si próprio. Desta forma você ultrapassará a barreira dos 30 e continuará a ser comunista.
Siga estes passos e com certeza você vai ganhar muito dinheiro. Lembre-se, Cristo atingiu seu ápice aos 33 anos. Portanto, nunca deixe de ser a vítima, mas muito cuidado para não ser desmascarado um dia!
A primeira regra para se manter comunista após os 30 é: nunca diga que é comunista. A segunda regra para se manter comunista após os 30 é: NUNCA diga que é comunista.
Isto significa que você deve adotar um pseudônimo para dizer que você não é comunista. Você dará a desculpa que a sua identidade secreta foi criada para você se defender do patrão, quando na verdade neste "novo eu" você poderá externar todo o Partidão que existe dentro de você sem ser ridicularizado. Se alguém questionar a duvidosa coerência do uso de pseudônimo você vai lembrar que Stendhal, Lênin, Pablo Neruda e George Orwell usavam pseudônimos. Afinal, para você e seus seguidores você é um deles.
A terceira regra para se manter comunista após os 30 é se afastar do mundo produtivo. Monte sua própria banda antiamericana ou, melhor ainda, torne-se um professor universitário. Assim você poderá viver confortavelmente à custa de seus fãs ou do governo. Você terá um refúgio contra o capital para escrever maciçamente contra ele sem ser importunado.
Você poderá escrever e falar qualquer asneira que defenda o comunismo. Que a URSS foi libertária e, mesmo que seja contraditório, você dirá que o comunismo nunca existiu e que Stálin é o grande culpado. Defenderá Cuba, mas dirá que o comunismo nunca existiu. Defenderá que a URSS não foi um império, mas negará a existência do comunismo. Meu jovem, na vida você faz escolhas. Seja coerente ou seja comunista.
Apoio é importante. Se você tiver uma banda, logo terá um fã-clube. Se você se tornar um professor universitário logo terá vários "voluntários" trabalhando de graça para você. Eles divulgarão os seus livros, seus artigos sem que você precise pagar nada por isso. Sempre terá uma pessoa carente que vai acreditar nos seus discursos contra o sistema. Ora, quer algo mais sedutor do que isso? Dizer a um jovem que quer mudar o mundo que existe uma saída? Lembre-se. Ingênuos não faltam nesse planeta.
Reescreva a história. Diga que o comunismo é a força do povo e não a forca do povo. Diga que o comunismo não matou ninguém. Diga que não é um sistema que poucos ganham muito e muitos não ganham nada, além de chibatadas nas costas e férias forçadas na Sibéria.
Para ser defensor do comunismo é necessário exaltar o crime. Assassinos em massa são líderes e assassinos comuns são vítimas do sistema capitalista opressor. Culpe o capitalismo por tudo. Culpe a polícia sempre. Nunca os bandidos. Exalte o comunismo sempre. Mas lembre-se, ele nunca existiu de verdade. Não esqueça de mencionar que os direitos humanos são para todos, mas esqueça dos policiais, sim. Você vai ensinar que os policiais são os novos capitães do mato e em todo camburão tem um pouco de navio negreiro. Os seus seguidores acreditarão que você é mesmo contra o sistema. Se alguém invadir a sua casa ligue para a polícia, mas não diga a eles que você os critica e nem diga aos seus amigos o que aconteceu. Afinal quem precisa de polícia, não é verdade? Mas, cuidado. Defender o crime e difamar pessoas nem sempre dá certo.
Escreva muitos livros. Sobre tudo. Escreva muitos artigos. Sobre tudo, mas culpe sempre a burguesia e os Estados Unidos. Sempre culpe os EUA por todos os males do mundo. Faça textos antiimperialistas, mas negue a todo tempo que a URSS foi imperialista. Você pode fazer isso, claro. Se ficar muito claro que a URSS é imperialista, diga que o verdadeiro comunismo nunca existiu. Culpe então o Stálin e diga que um dia o Messias chegará para libertar o povo das amarras da tirania. Deixe a entender que o Messias pode ser você. Se tudo isso não colar, bote a culpa nas elites deste país.
Use a incoerência. Sempre. Defenda ditaduras em nome da liberdade. Defenda o patriotismo, mas use o brasão da URSS. Diga que você defende os negros, mas em todos os seus registros classifique-se com Caucasiano (Branco), apesar de ser mestiço. Defenda as mulheres em público, mas seja machista no privado. Defenda o uso do idioma português correto, mas ignore os analfabetos que chegam ao poder. Acuse a burguesia de todos os males. Importante: você não é burguês. Minta. Diga que você acessa a Internet de uma Lan House e não de casa, afinal você é um defensor dos pobres. Não pega bem que saibam que você tem carro, tv a cabo, máquina digital, microondas, celular com câmera e internet com banda larga em casa. Denomine-se "outsider" (em inglês mesmo) e mantenha um perfil cheio de preferências e fotos no Orkut. Passe a todos que você é cult e inteligente. Procure comunidades de pensadores e movimentos sociais. Não basta ser comunista, tem que ser cult.
As pessoas deixam de ser comunistas após os 30 anos porque entram em contato com a realidade. Amadurecem e percebem o grande erro que é regulamentar a vida das pessoas de cima para baixo. Só afastado do mundo da fantasia da vida acadêmica e artística você começa a entender que a melhor saída para corrigir as injustiças é mudar as pessoas, não os sistemas. Só os artistas, comunistas e os que vivem das tetas do governo podem encher os pulmões e dizer: “Eu sou burguês, mas eu sou artista. Estou do lado do povo...”
Entendeu? O importante não é só enganar os outros, mas enganar a si próprio. Desta forma você ultrapassará a barreira dos 30 e continuará a ser comunista.
Siga estes passos e com certeza você vai ganhar muito dinheiro. Lembre-se, Cristo atingiu seu ápice aos 33 anos. Portanto, nunca deixe de ser a vítima, mas muito cuidado para não ser desmascarado um dia!
quinta-feira, 20 de dezembro de 2007
CENA de SEXO - conto de luis felipe leprevost
“nada mais limpo que teus pés na chuva”
(Augusto Silva)
Atinha-se à cabeça, depois à base, meus pentelhos, engolia-me, a boca mais aberta, movimentos lentos... masturbação oral... látex não, não conhecíamos camisinha... ela bate uma siririca, eu olho... ela lambe meus mamilos... calmo ziguezague de línguas... ela é uma cientista da minha anatomia... começa a me cortar, aos poucos... volta para o saco... lambidela no cu... fujo... ela não é uma dominatrix... eu não sou um cara com uniforme de bombeiro... opto por carinho e cuidado... como nomear aquilo...? posição ginecológica...? as pernas em ângulo de quase 180 graus... pornô, mas com amor... não são exatamente besteirinhas o que falo nos ouvidos dela... opto em ser atencioso... nem ela me parece adepta do sadomasoquismo... não tinha roupa de enfermeira nos cabides... não havia escolhido sexy-langeries... não vestia espartilhos... sabia me segurar pelo cabelo, a parte de trás de minha cabeça enquanto eu a chupava... sabia prender com seus dez dedos o redor do meu punho, melhor que algemas sua pressão... sabia agarrar os pêlos do meu peito e quase arrancá-los feito rasgasse uma camiseta... ela sabe ir por minhas artérias... alcançar meu sistema nervoso... me hipnotizar... ir me sarrando... permitindo-me provar canapés de sua polpa... o que chamo xana... chamo xota... chama... chamo enxame... chamo Sheila... ela me beija sobre a cueca... tiro a cueca... chupa as bolas... tenta aproximação anal... fujo... ela monta em mim... rebola, não feito puta, senão uma bailarina... depois, sim, é puta e não deixa de bailar, nem seu carinho diminui... nem são posições de kamasutra aquelas, são uma técnica de desde sempre, e muito nossa... nenhuma semelhança com frango assado... que idiota sussurraria tesuda no ouvido de sua garota sem resultar no enrubescimento do próprio pau...? esperma... é o meu esperma... são as carnes pudendas dela... lavou, tá novo... mas não nos lavávamos, prosseguíamos, às vezes sem tirar o pau de dentro... era esperma lavando esperma... camadas de gosma seca debaixo de gosma nova... e o odor... chame fetiche quem queira... duvido, mas talvez Sheila guardasse vibradores na gaveta do banheiro... não fui conferir, não me interessam aquelas coisas com formato de pepino, avestruz, capitão gancho... ela me cavalgando interessa, minhas pernas fadigadas... panturrilhas suadas... a nuca querendo se esticar e lá no alto, pescoço de girava feroz, alcançar a jugular de Sheila... sugar sua pureza e doença de ser mulher... o colchão me engolia... eu sou o causador de uma voracidade traiçoeira... estamos nos metendo pelo corpo um do outro, sozinhos mas não separados... sozinhos feito aleijões um do outro... sem Sheila estou inteiro mas aleijado de Sheila, uma parte de mim, uma perna, talvez mais do que isso, não existisse... um lado meu, moral, metafísico, interior, fundo, houvesse removido Sheila em mim, por ela e à revelia dela... e o grelo está ali em minha frente... a mulher ao redor de uma buceta... o grelo um bichinho sem escrúpulos... qualquer movimento e é imprescindível que criemos garras... a matéria do que Sheila é feita treme, quase uma inconsciência sísmica... agora manobra sobre mim, 69, estou embaixo, calcanhar de um no lóbulo da orelha do outro... saco, virilhas, o cu de Sheila, ela vai no meu, não tenho aonde fugir... somos bife sobre a chapa borbulhante, as fibras endurecem, células se contorcem, mangue branco, as pálpebras querem virar do avesso e levantar vôo para dentro de um céu que é o interior do globo ocular... acreditamos ser pássaros libertos, morcegos frutíferos... há lugares em que só chegamos apostando na incerteza... abismos podem ter rede de proteção ou não...essa a primeira trepada... Sheila não era capaz de conter seus gemidos... o busto se empinava como que por conta própria, em alavanca, a lombar em ângulo convexo... a minha boca, os meus dentes... a língua dela, saliva dela... nossas línguas duas lesmas dando nó... dedos, palmas das mãos... as barrigas, umbigos... o ventre de Sheila, os pentelhos sem depilação... calado, concentrado me dedico à foda, a função de fazê-la gozar... deslizo nela, ela às vezes diz mais, às vezes pede sim... os seios, bicos rosáceos, ora marrons... um par de tetas não é o melhor amigo das melodias, só se você for capaz de assobiar e chupar cana ao mesmo tempo, não que eu não seja, eu sou, mas éramos um tácito acordo entre silêncios... silêncios que se traíssem em sussurros, dengos, pedidos, ordens, súplicas... meu pua bombava, teu pau Sheila sussurrava... a segunda trepada da noite da noite da primeira trepada, lentamente... de novo o que fazíamos era amorzinho gostoso... um exercício de maratonistas que não pretendessem cruzar a linha de chegada... punheta... chupeta... sem que haja precipitação, e Sheila era um precipício... chegar ao fundo sem me espatifar lá dentro... meus pentelhos nos pentelhos dela... estou duro, ela encharcada... somos gosma e cheiros fortes... penetrar uma mulher é recuar até o lugar no tempo em que o tempo esqueceu de si... recuar aonde nos alcança o susto, o baque que nos pegasse desprevenidos... sempre o despreparo, surpresa e júbilo mais maldição, catarse e dor... continue é a palavra pendurada nos lábios de Sheila... não, não é uma palavra, é uma ordem... encaixe e simultaneidade... a mais reveladora das intimidades é-nos a menos familiar... as polaridades mais incomuns entre os dois provocam as mais esquisitas identificações... estamos conectados igual a fios que ligássemos nas tomadas as máquinas... grudados feito cão e cadela na sarjeta... e temos harmonia... ela abraça minha perna, a que pensei ter-me amputado... aperta as unhas roídas em meus ombros, alguém que acabasse de ser salva... ela age, é assim que me executa... lógica não há... quando muito a tudo a lógica esfacela... manchas nos lençóis, os lençóis não nos interessam... e a lógica é um acontecimento com o qual não nos preocupamos... somos da raça das feras... dominamos o ofício de sermos animais... é um trabalho, ambos nos dedicamos... baixo os lábios feito fossem insetos suicidas abandonando-se no suco de pólen entre coxas... é a terceira trepada da noite... Sheila de algum modo se infiltra por baixo da minha pele... subcutânea bóia na maré convulsa de meu sangue... faz-me cócegas à epiderme... e pau, pau e buceta, gozamos e não tiro de dentro... estou agasalhado por seus sons guturais de fêmea ferida... o fundo de Sheila é agradável e convincente feito uma prece... ela perde o controle da respiração, na falta de ar se perdem seus xingamentos... ela treme, evapora em meu hálito, depois é osso, também nossas cartilagens dobram... mordidas, nós nos latimos, rimos, mastigamos, não somos vampiros, ou vampiros tenham dentes afiados no corpo todo... meus joelhos têm dentes, o abdômen dela abre a mandíbula e destroça minhas orelhas... nacos de gemidos, farelos não de lábios que sangram, porém os glóbulos do sufoco... agora é outra noite... preliminares, os movimentos dos corpos se abandonam à humildade de ser migalhas desde o princípio... isso, migalhas de paixão, restos, isso, restos de sopa de saliva... não se pertencem quanto a se pertencem... é mais... estão sem controle e ainda não enlouqueceram, porém se afinaram com insanos e insones... debruçaram-se fora da cama, joelhos ralados, de quatro, pêndulos flamejantes... Sheila levanta o quadril à procura de minha fuça... a palma da minha língua, os dedos dos meus lábios... e é a boca de Sheila maior do que Sheila inteira é a boca de Sheila... engole nós dois juntos, escorrego no tobogã da garganta, a goela, muita porra, ela lambe... sobe por meu umbigo, barriga, peito, pescoço, queixo, boca, de novo as bocas... é um beijo de quem sabe amar também de olhos abertos... de tanto nos olharmos fizemos uma transfusão de olhos, Sheila me vê com os meus, eu tenho os olhos de Sheila e não sei se suporto o vislumbre de tanta dor em suas paisagens... a agonia dos recantos depredados de Sheila... fingimos, nem sei se é incesto... queremos o mesmo sangue em nosso sistema venal... enganamos tão bem até chegarmos à essência de uma verdade, e então somos fragilizados por ela, penalizados... o prêmio esconde algo de demoníaco... recantos, o que são subterrâneos... Sheila é o diabo que me carregue... devo ser algum cristo em suas chagas... o meu é um coração de búfalo... a ciranda dos quadris de Sheila giram rápido demais, e pude me acostumar com ânsias de vômito... sei que meus beijos funcionam às vezes feito moedores e gritos... ela é minha garota, e está de bruços... suas costas parecem uma aziaga fenda cicatrizando...
(Augusto Silva)
Atinha-se à cabeça, depois à base, meus pentelhos, engolia-me, a boca mais aberta, movimentos lentos... masturbação oral... látex não, não conhecíamos camisinha... ela bate uma siririca, eu olho... ela lambe meus mamilos... calmo ziguezague de línguas... ela é uma cientista da minha anatomia... começa a me cortar, aos poucos... volta para o saco... lambidela no cu... fujo... ela não é uma dominatrix... eu não sou um cara com uniforme de bombeiro... opto por carinho e cuidado... como nomear aquilo...? posição ginecológica...? as pernas em ângulo de quase 180 graus... pornô, mas com amor... não são exatamente besteirinhas o que falo nos ouvidos dela... opto em ser atencioso... nem ela me parece adepta do sadomasoquismo... não tinha roupa de enfermeira nos cabides... não havia escolhido sexy-langeries... não vestia espartilhos... sabia me segurar pelo cabelo, a parte de trás de minha cabeça enquanto eu a chupava... sabia prender com seus dez dedos o redor do meu punho, melhor que algemas sua pressão... sabia agarrar os pêlos do meu peito e quase arrancá-los feito rasgasse uma camiseta... ela sabe ir por minhas artérias... alcançar meu sistema nervoso... me hipnotizar... ir me sarrando... permitindo-me provar canapés de sua polpa... o que chamo xana... chamo xota... chama... chamo enxame... chamo Sheila... ela me beija sobre a cueca... tiro a cueca... chupa as bolas... tenta aproximação anal... fujo... ela monta em mim... rebola, não feito puta, senão uma bailarina... depois, sim, é puta e não deixa de bailar, nem seu carinho diminui... nem são posições de kamasutra aquelas, são uma técnica de desde sempre, e muito nossa... nenhuma semelhança com frango assado... que idiota sussurraria tesuda no ouvido de sua garota sem resultar no enrubescimento do próprio pau...? esperma... é o meu esperma... são as carnes pudendas dela... lavou, tá novo... mas não nos lavávamos, prosseguíamos, às vezes sem tirar o pau de dentro... era esperma lavando esperma... camadas de gosma seca debaixo de gosma nova... e o odor... chame fetiche quem queira... duvido, mas talvez Sheila guardasse vibradores na gaveta do banheiro... não fui conferir, não me interessam aquelas coisas com formato de pepino, avestruz, capitão gancho... ela me cavalgando interessa, minhas pernas fadigadas... panturrilhas suadas... a nuca querendo se esticar e lá no alto, pescoço de girava feroz, alcançar a jugular de Sheila... sugar sua pureza e doença de ser mulher... o colchão me engolia... eu sou o causador de uma voracidade traiçoeira... estamos nos metendo pelo corpo um do outro, sozinhos mas não separados... sozinhos feito aleijões um do outro... sem Sheila estou inteiro mas aleijado de Sheila, uma parte de mim, uma perna, talvez mais do que isso, não existisse... um lado meu, moral, metafísico, interior, fundo, houvesse removido Sheila em mim, por ela e à revelia dela... e o grelo está ali em minha frente... a mulher ao redor de uma buceta... o grelo um bichinho sem escrúpulos... qualquer movimento e é imprescindível que criemos garras... a matéria do que Sheila é feita treme, quase uma inconsciência sísmica... agora manobra sobre mim, 69, estou embaixo, calcanhar de um no lóbulo da orelha do outro... saco, virilhas, o cu de Sheila, ela vai no meu, não tenho aonde fugir... somos bife sobre a chapa borbulhante, as fibras endurecem, células se contorcem, mangue branco, as pálpebras querem virar do avesso e levantar vôo para dentro de um céu que é o interior do globo ocular... acreditamos ser pássaros libertos, morcegos frutíferos... há lugares em que só chegamos apostando na incerteza... abismos podem ter rede de proteção ou não...essa a primeira trepada... Sheila não era capaz de conter seus gemidos... o busto se empinava como que por conta própria, em alavanca, a lombar em ângulo convexo... a minha boca, os meus dentes... a língua dela, saliva dela... nossas línguas duas lesmas dando nó... dedos, palmas das mãos... as barrigas, umbigos... o ventre de Sheila, os pentelhos sem depilação... calado, concentrado me dedico à foda, a função de fazê-la gozar... deslizo nela, ela às vezes diz mais, às vezes pede sim... os seios, bicos rosáceos, ora marrons... um par de tetas não é o melhor amigo das melodias, só se você for capaz de assobiar e chupar cana ao mesmo tempo, não que eu não seja, eu sou, mas éramos um tácito acordo entre silêncios... silêncios que se traíssem em sussurros, dengos, pedidos, ordens, súplicas... meu pua bombava, teu pau Sheila sussurrava... a segunda trepada da noite da noite da primeira trepada, lentamente... de novo o que fazíamos era amorzinho gostoso... um exercício de maratonistas que não pretendessem cruzar a linha de chegada... punheta... chupeta... sem que haja precipitação, e Sheila era um precipício... chegar ao fundo sem me espatifar lá dentro... meus pentelhos nos pentelhos dela... estou duro, ela encharcada... somos gosma e cheiros fortes... penetrar uma mulher é recuar até o lugar no tempo em que o tempo esqueceu de si... recuar aonde nos alcança o susto, o baque que nos pegasse desprevenidos... sempre o despreparo, surpresa e júbilo mais maldição, catarse e dor... continue é a palavra pendurada nos lábios de Sheila... não, não é uma palavra, é uma ordem... encaixe e simultaneidade... a mais reveladora das intimidades é-nos a menos familiar... as polaridades mais incomuns entre os dois provocam as mais esquisitas identificações... estamos conectados igual a fios que ligássemos nas tomadas as máquinas... grudados feito cão e cadela na sarjeta... e temos harmonia... ela abraça minha perna, a que pensei ter-me amputado... aperta as unhas roídas em meus ombros, alguém que acabasse de ser salva... ela age, é assim que me executa... lógica não há... quando muito a tudo a lógica esfacela... manchas nos lençóis, os lençóis não nos interessam... e a lógica é um acontecimento com o qual não nos preocupamos... somos da raça das feras... dominamos o ofício de sermos animais... é um trabalho, ambos nos dedicamos... baixo os lábios feito fossem insetos suicidas abandonando-se no suco de pólen entre coxas... é a terceira trepada da noite... Sheila de algum modo se infiltra por baixo da minha pele... subcutânea bóia na maré convulsa de meu sangue... faz-me cócegas à epiderme... e pau, pau e buceta, gozamos e não tiro de dentro... estou agasalhado por seus sons guturais de fêmea ferida... o fundo de Sheila é agradável e convincente feito uma prece... ela perde o controle da respiração, na falta de ar se perdem seus xingamentos... ela treme, evapora em meu hálito, depois é osso, também nossas cartilagens dobram... mordidas, nós nos latimos, rimos, mastigamos, não somos vampiros, ou vampiros tenham dentes afiados no corpo todo... meus joelhos têm dentes, o abdômen dela abre a mandíbula e destroça minhas orelhas... nacos de gemidos, farelos não de lábios que sangram, porém os glóbulos do sufoco... agora é outra noite... preliminares, os movimentos dos corpos se abandonam à humildade de ser migalhas desde o princípio... isso, migalhas de paixão, restos, isso, restos de sopa de saliva... não se pertencem quanto a se pertencem... é mais... estão sem controle e ainda não enlouqueceram, porém se afinaram com insanos e insones... debruçaram-se fora da cama, joelhos ralados, de quatro, pêndulos flamejantes... Sheila levanta o quadril à procura de minha fuça... a palma da minha língua, os dedos dos meus lábios... e é a boca de Sheila maior do que Sheila inteira é a boca de Sheila... engole nós dois juntos, escorrego no tobogã da garganta, a goela, muita porra, ela lambe... sobe por meu umbigo, barriga, peito, pescoço, queixo, boca, de novo as bocas... é um beijo de quem sabe amar também de olhos abertos... de tanto nos olharmos fizemos uma transfusão de olhos, Sheila me vê com os meus, eu tenho os olhos de Sheila e não sei se suporto o vislumbre de tanta dor em suas paisagens... a agonia dos recantos depredados de Sheila... fingimos, nem sei se é incesto... queremos o mesmo sangue em nosso sistema venal... enganamos tão bem até chegarmos à essência de uma verdade, e então somos fragilizados por ela, penalizados... o prêmio esconde algo de demoníaco... recantos, o que são subterrâneos... Sheila é o diabo que me carregue... devo ser algum cristo em suas chagas... o meu é um coração de búfalo... a ciranda dos quadris de Sheila giram rápido demais, e pude me acostumar com ânsias de vômito... sei que meus beijos funcionam às vezes feito moedores e gritos... ela é minha garota, e está de bruços... suas costas parecem uma aziaga fenda cicatrizando...
OLHO e a GRANDE NOITE ESTELAR - poema de jairo pereira
saltos cegos do gênio no desconhecido
destreza de mágico os toques com as mãos
na argila da beira desse rio erigi transmundos
vias artérias labirintos de espelhos no vivido
criar e ser criado o meu vão ofício
linhas de pensar o impensado como flor-matriz
prodestras as guias acidentais no investido
tresandos crispagens espocos de fogos de artifício
fogos focos de luz concêntrica o olho mira
a grande noite estelar no dia
o olho a arma nuclear do fito atira
setas nos corpos dos astros de ditos
ou na flor-matriz ideológica recém-nascida
:vertente plúrima dos contraditos:
destreza de mágico os toques com as mãos
na argila da beira desse rio erigi transmundos
vias artérias labirintos de espelhos no vivido
criar e ser criado o meu vão ofício
linhas de pensar o impensado como flor-matriz
prodestras as guias acidentais no investido
tresandos crispagens espocos de fogos de artifício
fogos focos de luz concêntrica o olho mira
a grande noite estelar no dia
o olho a arma nuclear do fito atira
setas nos corpos dos astros de ditos
ou na flor-matriz ideológica recém-nascida
:vertente plúrima dos contraditos:
EMBRIAGAI-VOS! - poema de charles beaudelaire
É necessário estar sempre bêbado.
Tudo se reduz a isso; eis o único problema. Para não sentirdes o fardo horrível do Tempo, que vos abate e vos faz pender para a terra, é preciso que vos embriagueis sem tréguas.
Mas – de quê ? De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor. Contanto que vos embriagueis.E, se algumas vezes, sobre os degraus de um palácio, sobre a verde relva de um fosso, na desolada solidão do vosso quarto, despertardes, com a embriaguez já atenuada ou desaparecida, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai-lhes que horas são; e o vento, e a vaga, e a estrela, e o pássaro, e o relógio, hão de vos responder:
- É a hora da embriaguez ! Para não serdes os martirizados escravos do Tempo, embriagai-vos; embriagai-vos sem cessar !
De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor.
Tudo se reduz a isso; eis o único problema. Para não sentirdes o fardo horrível do Tempo, que vos abate e vos faz pender para a terra, é preciso que vos embriagueis sem tréguas.
Mas – de quê ? De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor. Contanto que vos embriagueis.E, se algumas vezes, sobre os degraus de um palácio, sobre a verde relva de um fosso, na desolada solidão do vosso quarto, despertardes, com a embriaguez já atenuada ou desaparecida, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai-lhes que horas são; e o vento, e a vaga, e a estrela, e o pássaro, e o relógio, hão de vos responder:
- É a hora da embriaguez ! Para não serdes os martirizados escravos do Tempo, embriagai-vos; embriagai-vos sem cessar !
De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor.
quarta-feira, 19 de dezembro de 2007
SE É QUE TENHO COMPETÊNCIA - por walmor marcellino
Todavia, existe uma guerra político-ideológica adversa que se desvela na tradição do consentimento; pela persuasão no ensino conformista, pelos acompanhamentos “politicamente corretos” e pela interesseira simplificação sociológica. Sob essa névoa, as pessoas escolhem o que parece conveniente e a intelectualidade se põe a serviço, secundando “olhaís” e vendendo criatividades.Como já foi toga arrogar-se vanguarda social -- moral, política e estética -- passou para a moda ser à “parte”; até nalguma parceria tecnocientífica, como “acompanhante” político ou como “isento observador sem favor nem causa”.Assim a comunicação social especialmente e até a ensaística -- da qual se esperam senão epistemes pelo menos atitude e disposição ético-políticas -- têm assumido a parcialidade estentórea do “seu” ponto de vista “democrático” como respeitável e justificável decisão existencial. Ad valorem.Em nome da positividade capitalista, escriba a soldo, pena a prêmio, caráter em leilão no requisitório de mercado vai de Assis Chateuabriand a Júlio Mesquita, de Carlos Lacerda a Paulo Francis, de Vitor Civita a Francis The Beautifull, da TV-Globo à RCTV, de Arnaldo Jabur a Diogo Mainardi et alii.Reconheça-se que esse clube de serviço não demanda salvaguardas, porém tenta justificar-se cotejando-se à indigência apologética “de esquerda” e ao fideísmo “socialista” desnorteado. Mas à sabujice ou ao “compromisso” não se deve objetar, senão escusar.Quanto a mim, tenho a humildade de que de que minha arte e seu engenho não há que esperar demais: algum arrazoado sistêmico ou fundamentada contradita científica ou filosófica; mas acredito que a práxis é ou deve ser a política, sua ética e o compromisso, que podem construir justiça como primeira virtude das instituições sociais. E, se ela não se dá por interesse ou privilégio, resulta do direito à vida, à sobrevivência dignificante e à retribuição social aos frutos do trabalho. Ademais, o capitalismo não nasceu ético, não cresceu ético nem ora se deteriora ético, pois nasceu do confisco da propriedade social e na produção da alienação humana. À falta de convencimento epistemológico (a perspectiva histórico-social voltou a ser predominantemente essa, a não ser que o positivismo instrumental nos exija uma ciência empírica como ponto circular de partida), não devo me engalanar com propedêuticas artificiosas. No terreno comum da práxis espero aprender com sabedoria ou saber no aprendizado o que são nossos valores nesta produção constitutiva da condição humana. Assim, posso continuar esse discurso, nesse diapasão, sem ofender manoplas, artelhos ou pentelhos de alguém?Sem a “má-fé” de contrafazer as postulações políticas de pessoas como Adorno, Habermas, Foucault, Deleuze e outros notáveis críticos dos sistemas sociais e do pensamento, porém, ao invés, seguindo-lhes as pegadas, socorro-me da vontade de ação na resolução das pendências sociais (estariam “extintas” as lutas de classe na sociedade contemporânea e seu espólio se encontraria em translação cultural a acompanhar os meandros das ciências naturais... do que resultaria... nossa perplexidade para obter respostas na prática política, social, econômica e científica? -- nessa ordem de prioridades). E, à guisa de esclarecimento, devo confessar que a centralidade de Marx ainda hoje, pari passu o crescimento, a decadência e a agonia nuclear do capitalismo, me parece Prometeu ante a Esfinge, profligando, desmitificando-a sem que esta reconheça a verdade da sua decadência e continue a lhe recusar passagem.Daí que o renascimento dos estudos sobre Marx e da crítica marxista aos doutrinarismos socialistas teoricistas e dogmáticos (até “ortodoxos” mas sem a dinâmica ortodoxia teórico-prática de que o pensamento de Karl Marx e as reflexões prático-teóricas de Lênin constituem o cerne) estariam a nos re-dizer que as expectativas sociais de uma solução política para as crises econômico-sociais acabam gerando a filosofia social de sua superação (ou, ao reverso dialético, a conservação “a-histórica” de que Hegel nos falava). E, esperamos, também a sua prática. Não minha nem de grupelhos, tribos ou hordas, mas de uma inteligência social. Qualquer tempo é tempo de combate; e se as classes sociais implodiram sob certa “contemporaneidade” ou “pós-modernidade”, sua divisão e multiplicação continua sendo “o social” resultante da base produtiva e das relações sociais. Sua tensão dinâmica teria passado do estado sólido (em que “tudo que é sólido desmancha no ar”) para o estado gasoso, que é “ainda” força da matéria em expansão. E suas tensões ora ampliadas ora dissimuladas ou esmaecidas não infirmam que as contradições sociais vão ocupando os “vazios” (enquanto parecem dissolver-se) modificando o meio. Na atração e espera da corrente ou torrente condutora.E como a violência social é sudação da sociedade oprimida, podemos até mesmo contemporizar, sem extinguir-lhe os antagonismos. Entretanto, ou proclamar “a certeza do futuro” ou bater pratos e fazer uma “marche aux flambeaux”.
PEQUENAS CONSTATAÇÕES - por josé zokner (juca)
Constatação I
E como diz o meu grande amigo Wilson Caron, atleticano de quatro costados: “O cara jogou tão mal, é tão ruim que perdia a bola pra ele mesmo”. Não sei se foi alguma alusão aos times do meu Paraná e o do meu Corinthians. Coitados!
Constatação II
Não se deve confundir cizânia, que o dicionário Houaiss define como “falta de harmonia; desavença, rixa, discórdia” com zizânia, que o mesmo dicionário define como “coisa ruim, de má qualidade”, muito embora quando se recebe um trabalho e/ou produto com a característica de zizânia o fato pode provocar uma cizânia que pode levar litigantes até conseqüências extremadas. A recíproca é verdadeira. Só não é se entrar fatores corretivos, a turma do deixa disso e outros aspectos assaz pacificadores.
Constatação III
E não se pode confundir indiciado com indicado, muito embora tenha muito indiciado que foi indicado por algum dedo-duro, ou não, de haver, ou não, cometido algum deslize. A recíproca é verdadeira. Basta ver o que a mídia divulga todos os dias e a toda hora o que vem acontecendo em nosso país com relação à corrupção.
Constatação IV
O septuagenário, evidentemente ex-sexagenário, ex-qüinquagenário, etc. elucubra, sobre a possibilidade em conseguir arrumar um emprego de provador de vinho ou cerveja. De vinho, durante o inverno e de cerveja durante o verão. São várias as razões para tal: 1º Unir o útil ao agradável ou desagradável. Afinal, o vinho ou a cerveja podem vir a ser de má qualidade; 2º Outro emprego nessa faixa de idade não é fácil; 3º O septuagenário tem conhecimento, por experiência própria, no assunto. Acumulado estóica e sacrificadamente ao longo de todos esses anos. Ou como diriam os entendidos que gostam de usar expressões sofisticadas dos nossos irmãos do norte, principalmente em economia, tem know-how.
Constatação V
Sugestão aos nossos filólogos: Blablasil = O eterno blablablá dos políticos do nosso país.
Constatação VI
E como dizia o obcecado cada vez que adentrava, evidentemente acompanhado, na suíte de um motel e, evidentemente também, pago pela gata, querendo mostrar erudição na língua de Shakespeare: “Home ‘suíte’ home”.
Constatação VII (Quadrinha com sujeito indeterminado).
Preparou com preceito um chimarrão
Quando sorveu a bomba entupiu
Teve que chupar com tanta disposição
Que até a dentadura engoliu.
Constatação VIII (Quadrinha catártica).
Desci a ladeira na banguela
O carro pegou velocidade
Pisei no freio com vontade
A sogra voou pela janela.
Constatação IX (Quadrinha sem adjetivo).
Tomou uma birita
E passou a desmesurar.
Achou-se um cosmopolita,
Até o porre passar.
Constatação X
Achou risível
O que é terrível.
Também pudera
O rastaqüera
Do deputado
Teve um aumento,
Uma bonificação,
Um incremento
Do seu “ordenado”,
No tal do mensalão.
E mesmo sendo omisso
No comparecimento
De muita sessão,
Tudo ficou por isso.
Constatação XI
Em certos países não se deve usar expressões como “ela tem um coração de ouro” ou “ele é um estudante c. de ferro”, ou, ainda, “eles têm cabelos de prata”, pois poderiam causar transtornos às pessoas referidas que poderiam vir a ser assaltadas...
Constatação XII
Favoravelmente, a opinião de rico repercute; a de pobre é chute.
E como diz o meu grande amigo Wilson Caron, atleticano de quatro costados: “O cara jogou tão mal, é tão ruim que perdia a bola pra ele mesmo”. Não sei se foi alguma alusão aos times do meu Paraná e o do meu Corinthians. Coitados!
Constatação II
Não se deve confundir cizânia, que o dicionário Houaiss define como “falta de harmonia; desavença, rixa, discórdia” com zizânia, que o mesmo dicionário define como “coisa ruim, de má qualidade”, muito embora quando se recebe um trabalho e/ou produto com a característica de zizânia o fato pode provocar uma cizânia que pode levar litigantes até conseqüências extremadas. A recíproca é verdadeira. Só não é se entrar fatores corretivos, a turma do deixa disso e outros aspectos assaz pacificadores.
Constatação III
E não se pode confundir indiciado com indicado, muito embora tenha muito indiciado que foi indicado por algum dedo-duro, ou não, de haver, ou não, cometido algum deslize. A recíproca é verdadeira. Basta ver o que a mídia divulga todos os dias e a toda hora o que vem acontecendo em nosso país com relação à corrupção.
Constatação IV
O septuagenário, evidentemente ex-sexagenário, ex-qüinquagenário, etc. elucubra, sobre a possibilidade em conseguir arrumar um emprego de provador de vinho ou cerveja. De vinho, durante o inverno e de cerveja durante o verão. São várias as razões para tal: 1º Unir o útil ao agradável ou desagradável. Afinal, o vinho ou a cerveja podem vir a ser de má qualidade; 2º Outro emprego nessa faixa de idade não é fácil; 3º O septuagenário tem conhecimento, por experiência própria, no assunto. Acumulado estóica e sacrificadamente ao longo de todos esses anos. Ou como diriam os entendidos que gostam de usar expressões sofisticadas dos nossos irmãos do norte, principalmente em economia, tem know-how.
Constatação V
Sugestão aos nossos filólogos: Blablasil = O eterno blablablá dos políticos do nosso país.
Constatação VI
E como dizia o obcecado cada vez que adentrava, evidentemente acompanhado, na suíte de um motel e, evidentemente também, pago pela gata, querendo mostrar erudição na língua de Shakespeare: “Home ‘suíte’ home”.
Constatação VII (Quadrinha com sujeito indeterminado).
Preparou com preceito um chimarrão
Quando sorveu a bomba entupiu
Teve que chupar com tanta disposição
Que até a dentadura engoliu.
Constatação VIII (Quadrinha catártica).
Desci a ladeira na banguela
O carro pegou velocidade
Pisei no freio com vontade
A sogra voou pela janela.
Constatação IX (Quadrinha sem adjetivo).
Tomou uma birita
E passou a desmesurar.
Achou-se um cosmopolita,
Até o porre passar.
Constatação X
Achou risível
O que é terrível.
Também pudera
O rastaqüera
Do deputado
Teve um aumento,
Uma bonificação,
Um incremento
Do seu “ordenado”,
No tal do mensalão.
E mesmo sendo omisso
No comparecimento
De muita sessão,
Tudo ficou por isso.
Constatação XI
Em certos países não se deve usar expressões como “ela tem um coração de ouro” ou “ele é um estudante c. de ferro”, ou, ainda, “eles têm cabelos de prata”, pois poderiam causar transtornos às pessoas referidas que poderiam vir a ser assaltadas...
Constatação XII
Favoravelmente, a opinião de rico repercute; a de pobre é chute.
FREI LUÍS PRECISA VIVER! - por césar benjamin*
Procuro um livro na estante de casa. Na folha de rosto, a dedicatória: “Para o César, que também caminha nas mesmas margens do mesmo rio. Gentio do Ouro, outubro de 2001.” De dentro do livro cai um cartão que já estava esquecido: “César, grato por sua inesperada suavidade, por sua lúcida e firme presença. Grato por você existir. Te abraço. Adriano.” Não consigo conter a emoção.Entre de 1992 e 1993, durante um ano, Adriano e mais três pessoas realizaram uma caminhada de 2.700 quilômetros, das nascentes à foz do rio São Francisco. O livro que ganhei de presente quando os visitei no sertão – Da foz à nascente, o recado do rio, de Nancy Mangabeira Unger – narra poeticamente a empreitada desse grupo de heróis, cujas vidas se confundem com a luta pela vida do rio e das populações sertanejas que dele dependem.O líder dos peregrinos era um frei franciscano, o mais franciscano de todos franciscanos que conheci, Luís Cappio. Não lembro em que localidade o encontrei – acho que foi em Pintada –, mas nunca o esqueci. É um homem raro. Vive visceralmente o cristianismo, a sua missão. Hoje, é bispo da Diocese da Barra. Continuou o mesmo simples peregrino, um irmão da humanidade, um pobre vivendo entre os pobres. Está em greve de fome há mais de vinte dias e pode morrer. Adriano continua ao seu lado.Aboletado em Brasília, o presidente Lula acusa frei Luís e seus companheiros, contrários à transposição das águas do rio São Francisco, de não se importarem com a sede dos nordestinos. Para quem conhece os dois personagens, é patético. Um abismo moral os separa. Desse abismo nascem as suas diferentes propostas.O Semi-Árido brasileiro é imenso: 912 mil km2. É populoso: 22 milhões de pessoas no meio rural. É o mais chuvoso do planeta: 750 mm/ano, em média, o que corresponde a 760 bilhões de metros cúbicos de chuvas por ano. Não é verdade, pois, que falte água ali. A natureza a fornece, mas ela é desperdiçada: as águas evaporam rapidamente, sob o Sol forte, ou vão logo embora, escorrendo ligeiras sobre o solo cristalino impermeável.Há décadas o Estado investe em obras grandes e caras, que concentram água e, com ela, concentram poder. O presidente Lula quer fazer mais do mesmo. No mundo das promessas e do espetáculo, onde vive, a transposição matará a sede do sertanejo. No mundo real, apenas 4% da água transposta serão destinados ao consumo humano, em uma área equivalente a 6% da região semi-árida. “É a última grande obra da indústria da seca e a primeira grande obra do hidronegócio. Uma falsa solução para um falso problema”, diz Roberto Malvezzi, da Comissão Pastoral da Terra. Graças a gente como Cappio, Adriano e Malvezzi, o Semi-Árido nordestino experimenta uma lenta revolução cultural. Centenas de organizações sociais, apoiadas pela Igreja Católica e por outras igrejas, adotaram o conceito de convivência com a natureza e desenvolveram in loco cerca de quarenta técnicas inteligentes, baratas e eficientes para armazenar a água da chuva. Ela é suficiente – corresponde a quase 800 vezes o volume d’água da transposição –, mas cai concentrada em um curto período do ano. Eles lutam por duas metas principais: “um milhão de cisternas” e “uma terra e duas águas”. Combinados, os dois projetos visam a proporcionar a cada família do Semi-Árido uma área de terra suficiente para viver com dignidade, uma fonte permanente de água para abastecimento humano e uma segunda fonte para a produção agropecuária, conforme a vocação de cada microrregião. As experiências já realizadas deram resultados magníficos. Para oferecer isso à população sertaneja, é preciso realizar a reforma agrária e construir uma malha de aproximadamente 6,6 milhões de pequenas obras: duas cisternas no pé das casas, para consumo humano, uma usual e outra de segurança; mais 2,2 milhões de recipientes para reter água de uso agropecuário. No conjunto, é uma obra gigantesca, mas desconcentrada. A captação de água realizada assim, no pé da casa e na roça, já é também a distribuição dessa mesma água, o que desmonta uma das bases mais importantes do poder das oligarquias locais. Armazenada em locais fechados, ela não evapora. Impulsionado por milhares de pessoas, este poderia ser um projeto mobilizador das energias da sociedade, emancipador das populações sertanejas, se tivesse um apoio decidido do governo federal.A proposta tem respaldo técnico da Agência Nacional de Águas (ANA), que realizou um minucioso diagnóstico hídrico de 1.356 municípios nordestinos, um brilhante trabalho. O foco é a região semi-árida, mas o diagnóstico inclui grandes centros urbanos, como Salvador, Recife e Fortaleza, abrangendo um universo de 44 milhões de pessoas. As obras propostas pela ANA, as igrejas e as entidades da sociedade civil resolvem a questão da segurança hídrica das populações. Estão orçadas em R$ 3,6 bilhões, a metade do custo inicial da transposição do São Francisco.Isso não interessa ao agronegócio, um devorador de grandes volumes de água em monoculturas irrigadas, produtoras de frutas para exportação e de cana para fabricar etanol. É para ele e para alguns grupos industriais – grandes financiadores de campanhas eleitorais – que a transposição se destina, pois esses precisam de água concentrada. Ao sertanejo, cada vez mais, restará a opção de migrar ou se tornar bóia-fria.Para deter a marcha da insensatez, frei Luís entrega a vida, o único bem que possui. Não lhe restou outra opção, pois o governo se esquivou do debate que prometeu. Preferiu apostar na política do fato consumado. Agora, a farsa só poderá prosseguir sobre o cadáver do bispo. O presidente Lula deixou claro que considera essa alternativa aceitável. Porém, antes desse desenlace terrível, o presidente deve meditar sobre as palavras de Paulo Maldos, do Conselho Indigenista Missionário, seu tradicional aliado: “Ao redor do gesto radical do bispo está se formando uma corrente de solidariedade, de apoios, de alianças, de identificação ética, política, social, ideológica, cujos contornos são facilmente identificáveis: trata-se dos movimentos sociais, políticos, pelos direitos humanos, pastorais sociais, personalidades da Igreja Católica, da política, da cultura, que, desde os anos 80, constituíram Lula como liderança de massa em nosso país. (...) Se dom Cappio vier a falecer, será o final dessa história. Não será dom Cappio apenas que morrerá. Morrerá a referência política de Lula e do Partido dos Trabalhadores na história dos movimentos sociais do Brasil. (...) A história da liderança popular de Lula será a história de um fracasso. A morte física de dom Cappio sinalizará a morte política de Lula.”Suplico que o presidente abra o diálogo com rapidez, por generosidade ou por cálculo: frei Luís precisa viver.
*publicado a pedido de frederico füllgraf, e, pela urgência, o editor antecipou o post.
*publicado a pedido de frederico füllgraf, e, pela urgência, o editor antecipou o post.
terça-feira, 18 de dezembro de 2007
O CANTO - terceto de léo meimes
Que canto em dó pode
Ser acalanto ao sonho da
Mãe de um filho morto?
ASAS CHAMANDO OS CACHORROS - poema de darlan cunha
Um homem que voa é um antípoda (mais que um
mísero milagre, um pífio entender de medos)
da fé, ou seria mesmo natural em nós
a esquecida e real capacidade
de voar, de
nos transladarmos para além-lá do princípio
do prazer, além-lá do bem
e do mal, prontos a
azeitar montanhas com a nossa saliva
e a nossa urina, de lá de cima
dar bom-dia ao capinzal e às vacas doidas lá em baixo, no cio
ou não.
mísero milagre, um pífio entender de medos)
da fé, ou seria mesmo natural em nós
a esquecida e real capacidade
de voar, de
nos transladarmos para além-lá do princípio
do prazer, além-lá do bem
e do mal, prontos a
azeitar montanhas com a nossa saliva
e a nossa urina, de lá de cima
dar bom-dia ao capinzal e às vacas doidas lá em baixo, no cio
ou não.
POEMA - de carolina correa
(.....)
Os lhos azuis são doces
Os negros verdadeiros
Os castanhos calmos e tristes
E os verdes feiticeiros.
Dos azuis quero fogo
Dos pretos eu quero viver
Achar consolo nos castanhos
Mas nos verdes morrer.
Nos azuis o céu se encontra
Nos negros vulcões de amor
Há muita paixão nos castanhos
Nos verdes mágoas e dor.
Os lhos azuis são doces
Os negros verdadeiros
Os castanhos calmos e tristes
E os verdes feiticeiros.
Dos azuis quero fogo
Dos pretos eu quero viver
Achar consolo nos castanhos
Mas nos verdes morrer.
Nos azuis o céu se encontra
Nos negros vulcões de amor
Há muita paixão nos castanhos
Nos verdes mágoas e dor.
segunda-feira, 17 de dezembro de 2007
CONFLITO: JUDEU X JUDEU - por fausto wolff
Outro dia recebi a visita rápida de meu velho amigo e colega Mário Augusto Jakobskind. Acabamos falando em Hugo Chávez, porque não há nada no mundo - desde as nevascas em Oklahoma até o preço do pão no Rio de Janeiro - pelo qual este inca não seja responsável. Mário estava irritado, porque uma das maiores autoridades sionistas do Brasil, Mário Gomlewsky, assinara na revista Menorah algo que Bush subscreveria.
E respondeu: "Esta é uma pequena crítica ao pensamento único e à mesmice em relação à Venezuela. Vocês seguem o senso comum e o pensamento único de criminalização de um processo revolucionário. Na verdade, se orientam pelas mentiras e meias verdades da mídia conservadora. Por que nunca se pronunciaram contra as torturas em Guantánamo e a ocupação do Iraque? Por que apóiam incondicionalmente as atrocidades que sucessivos governos de Israel têm cometido na Palestina? Por favor, não usem o argumento de que o autor destas críticas é anti-semita, como fazem habitualmente contra quem não aceita o jogo do pensamento único que vocês costumam jogar. Saibam também que nem todos os judeus são sionistas, como vocês, e fazem críticas ao procedimento dos sucessivos governos de Israel não por anti-semitismo".
Gomlewky respondeu a Mário: "Diga você se alguma vez se pronunciou a favor do Estado de Israel. Mesmo quando foi ameaçado por Nasser de ser arrastado com todos os habitantes para o mar. E quanto ao que diz o presidente do Irã sobre o Holocausto? Vá pregar na Venezuela essa ladainha velha, surrada, que já virou pó na história, e tomar porrada dos estudantes de lá. Eles sabem quem é o Hugão melhor do que você. Será que você tem vergonha da história do seu povo? Eu sou sionista. Você, como se define? Cego, surdo político? Ou verdadeiramente mal intencionado? Não tenha vergonha de ser judeu. Nós dois iremos para a mesma câmara de gás, se depender de gente como o Chávez. Você certamente irá, alegremente, cantando o hino da Internacional. Você rotulou no seu pronunciamento. Faz parte da prática de gente que pensa torto como você. Fazer e acusar os outros de terem feito. Leia o que você escreveu e veja quantos rótulos escrotos você dedicou a nós".E eis o último round.
É a vez de Mário Augusto:"Sua resposta confirma exatamente o que escrevi. Seu sionismo só contribui para o incremento do anti-semitismo. Meu sobrenome não esconde minha origem. Nunca neguei, como o senhor idiota e sectariamente tenta induzir. O resto é elocubração de um autoritário de direita, vinculado a sei lá o quê. O senhor não polemiza, não tem argumentos. É um colonizado mental, como tantos neste seu mundo globalizado. A agressão verbal é a marca da mediocridade. Continue sintonizado na mídia conservadora e de direita, pois lá é seu mundo. Não vou polemizar com quem se comporta dessa forma colonizada mental. Mais uma vez, não use seu sionismo de direita para chantagear. Aliás, o senhor não entende o que é isso. Antes de defender ou atacar os governos de direita de Israel, que o senhor defende incondicionalmente, minha opção é ficar ao lado das classes populares brasileiras, latino-americanas, palestinas, israelenses e do mundo inteiro. Este, claro, não é o seu mundo sionista de direita. O senhor está do outro lado da história. Está com Bush e com os fundamentalistas, sejam eles judeus, cristãos, muçulmanos e o diabo a quatro que pululam no mundo globalizado, onde a pensamento único, que também é um dogma, predomina. Quanto ao holocausto, não use essa tragédia histórica também para chantagear tal qual Bush e seus sionistas. Mais respeito pelos que morreram, que muitas vezes eram de esquerda e das classes populares. O senhor nunca ouviu falar de judeus de direita que transacionaram com o fascismo italiano? A maioria deles seguia o seu ideário dogmático. Quanto ao Irã, não baseio meus posicionamentos em informações de agências internacionais comprometidas com o esquema fundamentalista cristão-sionista que ocupa fraudulentamente a Casa Branca. Minhas fontes do Irã não são oficiais, e sim da colônia judaica, não-sionista, que vive há mais de três mil anos nesse país e se nega a emigrar para Israel, a 'terra prometida'. Será que eles negam a sua origem? Será porque a mídia conservadora omite essa informação? Não seja um analfabeto político. Não confunda o Estado de Israel com os governos de direita de Israel, que o senhor defende".
E respondeu: "Esta é uma pequena crítica ao pensamento único e à mesmice em relação à Venezuela. Vocês seguem o senso comum e o pensamento único de criminalização de um processo revolucionário. Na verdade, se orientam pelas mentiras e meias verdades da mídia conservadora. Por que nunca se pronunciaram contra as torturas em Guantánamo e a ocupação do Iraque? Por que apóiam incondicionalmente as atrocidades que sucessivos governos de Israel têm cometido na Palestina? Por favor, não usem o argumento de que o autor destas críticas é anti-semita, como fazem habitualmente contra quem não aceita o jogo do pensamento único que vocês costumam jogar. Saibam também que nem todos os judeus são sionistas, como vocês, e fazem críticas ao procedimento dos sucessivos governos de Israel não por anti-semitismo".
Gomlewky respondeu a Mário: "Diga você se alguma vez se pronunciou a favor do Estado de Israel. Mesmo quando foi ameaçado por Nasser de ser arrastado com todos os habitantes para o mar. E quanto ao que diz o presidente do Irã sobre o Holocausto? Vá pregar na Venezuela essa ladainha velha, surrada, que já virou pó na história, e tomar porrada dos estudantes de lá. Eles sabem quem é o Hugão melhor do que você. Será que você tem vergonha da história do seu povo? Eu sou sionista. Você, como se define? Cego, surdo político? Ou verdadeiramente mal intencionado? Não tenha vergonha de ser judeu. Nós dois iremos para a mesma câmara de gás, se depender de gente como o Chávez. Você certamente irá, alegremente, cantando o hino da Internacional. Você rotulou no seu pronunciamento. Faz parte da prática de gente que pensa torto como você. Fazer e acusar os outros de terem feito. Leia o que você escreveu e veja quantos rótulos escrotos você dedicou a nós".E eis o último round.
É a vez de Mário Augusto:"Sua resposta confirma exatamente o que escrevi. Seu sionismo só contribui para o incremento do anti-semitismo. Meu sobrenome não esconde minha origem. Nunca neguei, como o senhor idiota e sectariamente tenta induzir. O resto é elocubração de um autoritário de direita, vinculado a sei lá o quê. O senhor não polemiza, não tem argumentos. É um colonizado mental, como tantos neste seu mundo globalizado. A agressão verbal é a marca da mediocridade. Continue sintonizado na mídia conservadora e de direita, pois lá é seu mundo. Não vou polemizar com quem se comporta dessa forma colonizada mental. Mais uma vez, não use seu sionismo de direita para chantagear. Aliás, o senhor não entende o que é isso. Antes de defender ou atacar os governos de direita de Israel, que o senhor defende incondicionalmente, minha opção é ficar ao lado das classes populares brasileiras, latino-americanas, palestinas, israelenses e do mundo inteiro. Este, claro, não é o seu mundo sionista de direita. O senhor está do outro lado da história. Está com Bush e com os fundamentalistas, sejam eles judeus, cristãos, muçulmanos e o diabo a quatro que pululam no mundo globalizado, onde a pensamento único, que também é um dogma, predomina. Quanto ao holocausto, não use essa tragédia histórica também para chantagear tal qual Bush e seus sionistas. Mais respeito pelos que morreram, que muitas vezes eram de esquerda e das classes populares. O senhor nunca ouviu falar de judeus de direita que transacionaram com o fascismo italiano? A maioria deles seguia o seu ideário dogmático. Quanto ao Irã, não baseio meus posicionamentos em informações de agências internacionais comprometidas com o esquema fundamentalista cristão-sionista que ocupa fraudulentamente a Casa Branca. Minhas fontes do Irã não são oficiais, e sim da colônia judaica, não-sionista, que vive há mais de três mil anos nesse país e se nega a emigrar para Israel, a 'terra prometida'. Será que eles negam a sua origem? Será porque a mídia conservadora omite essa informação? Não seja um analfabeto político. Não confunda o Estado de Israel com os governos de direita de Israel, que o senhor defende".
O DESEJÁVEL VELHO MUNDO - por marcio markendorf
a distopia em Aldous Huxley
A etimologia da palavra utopia, em grego, significa o não-lugar, e é o termo pelo qual podemos conceber o plano desejável de uma sociedade extremamente harmônica, estável e funcional, comprometida com o bem-estar da coletividade. Plano e desejo que se fundem com o sonho e a fantasia, por isso as sociedades utópicas sempre estão circunscritas em ilhas imaginárias. A ilha sendo tomada tanto como metáfora do isolamento, para um local geograficamente afastado, cercado, protegido, quanto como um fragmento do imaginário coletivo, do mito do paraíso e do eterno da felicidade. A literatura utópica descreve um equilíbrio geral das coisas sem qualquer explicação histórica ou demonstrativa de como a progressão dos valores sociais criou uma sociedade perfeita. No entanto essa impropriedade cronológica de desenvolvimento parece ser justificada pela própria escolha da localização geográfica: na representação mítica de várias culturas, a ilha é um mundo em miniatura, completo e perfeito porque possui um valor concentrado, além de ser tomada, também, como a representação do paraíso terreno. A sociedade utópica, portanto, por estar fundamentada no ideal, não escapa de permanecer situada num para-lugar e na descontinuidade histórica, como o é a cidade de Platão ou as ilhas de Thomas More e de Francis Bacon.
O que parece ficar explícito nas utopias é uma aura de profilaxia, como se fosse possível expurgar destes mundos imaginados todo o tipo de prática social que fosse nociva, proibida ou indesejável à sociedade. O projeto inalcançável da utopia está nessa fragilidade um tanto paradoxal, de homogeneização de princípios e valores, de fazer ausência definitiva do que antes era presença, de conceber um Jardim do Éden sem serpente. Com qualidades pouco objetivas e quebráveis, o projeto estaria ameaçado pela subjetividade do sujeito, que não se (con)funde com a comunidade porque é singular, e pelo convívio social, no qual a própria natureza política do homem é responsável pelo aflorar de vícios e excessos. Afinal era assim que Jean-Jacques Rousseau compreendia a sociedade: como um jogo de poderes corruptos. Para ele o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe, o que quer dizer que, na dinâmica dos interesses individuais, a comunidade fica comprometida. E este não é um conceito anacrônico, reduzido apenas ao contexto iluminista, porque mesmo antes ou depois de Rousseau teorizar a esse respeito, as estruturas sociais revelaram modos de dominação, subversão e opressão político-social. Por isso o sonho de equilíbrio das utopias só poderia funcionar de um modo localizado, restrito e mínimo. Não há lugar para um projeto utópico fora da ilha, porque seria insustentável se aplicado a sociedades continentais e globalizadas, profundamente dependentes umas das outras, e em constante crise política. No entanto, o mais assustador é que o inverso desse caráter localista, irrealizável e abstrato da utopia, parece ser mais provável de ser atingido: as distopias operam dentro do presumível e assumem contornos mais concretos, executáveis em longo prazo, com impacto de amplitude mundial.
O sentido distópico para sociedade, ao invés de operar com a exclusão de componentes negativos para o funcionamento de uma sociedade, isola algumas dessas categorias e exagera sua negatividade. O plano da distopia parece ser realizável se esses mesmos componentes foram tomados pelo excesso, num tipo de previsão sombria do futuro. Enquanto a utopia concebe uma sociedade extemporânea, sem existência física no tempo e no espaço, a distopia fica ancorada na contemporaneidade, em espaços geográficos reconhecíveis e num tempo prospectivo. Se a utopia descreve como tudo deveria vir a ser, o sentido da distopia, por natureza, reside num pessimismo histórico, por conta das conjecturas de como o rumo desordenado da realidade pode comprometer a vida mundial.
É nesse viés que podemos ler o romance Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, como o engendrar do imaginário numa sombria prospectiva histórica. Publicado em 1932, no período entre-guerras, o romance faz uma suposição do que em longo prazo poderia acontecer com a sociedade através do crescimento desumanizado do progresso científico e material. De certa forma o sentimento de aniquilação, a deliberada exploração científica e tecnológica, a depressão econômica dos anos 30 contribuíram para a criação dessa sociedade fictícia no qual as convenções sociais são reordenadas por um estado aparentemente utópico. Sensação contraída apenas por quem faz parte do sistema, pois qualquer olhar estrangeiro poderia perceber o quanto de ilusão e alienação está por trás do que parecer ser uma sociedade perfeita. Perfeito disfarce para um regime totalitário que eliminou para sempre o passado, a subjetividade e a liberdade dos indivíduos.
O apagamento da subjetividade é o princípio norteador de todo Estado Mundial criado por Huxley, no qual comunidade, estabilidade e identidade determinam o funcionamento de um sistema rígido de estruturação social. Mas ao contrário do caráter extemporâneo das utopias, a distopia deste romance é localizada num tempo determinado, o ano de 635 depois de Ford, o que no nosso calendário oficial corresponderia ao ano de 2545. Para demonstrar como o impacto da ciência alterou o mundo e seus valores, até o tempo é reorganizado, o nascimento de Jesus Cristo como marco inicial do calendário cristão é substituído pelo ano de implantação da linha de montagem na indústria, por Henry Ford. Nesse futuro não apenas Deus não existe mais, o que se louva é a ciência e sua capacidade de trazer benfeitorias à civilização. Ford ocupa, ao mesmo tempo, o lugar sagrado de Deus e Jesus nesse soturno futuro previsto por Huxley, no qual o impacto profundo da ciência sobre o indivíduo inverte uma série de valores e o torna elemento facilmente substituível de uma sociedade tecnocrata.
Nesse sentido podemos perceber a importância de Henry Ford para o sistema, porque a combinação da linha de montagens e da engenharia genética permitiu a extinção completa da família, do indivíduo, dos valores afetivos e pessoais. Em 2545 as pessoas são inteiramente geradas em laboratórios, predeterminadas geneticamente, produzidas em série, padronizadas, uniformizadas e predestinadas socialmente antes mesmo de nascerem. Esse princípio de produção em série aplicado à biologia não somente produz um grande número de seres de modo completamente artificial, como o faz por um a técnica de clonagem que gera quase uma centena de pessoas idênticas. Nesse sentido o homem está para a reprodução artificial tanto quanto a obra de arte está para reprodutibilidade técnica: perde-se a aura e o caráter único do indivíduo, propriedades que seriam parte de uma qualidade humana inalienável e indestrutível.
Por isso o sentido de identidade perde seu significado enquanto caracteres próprios de um indivíduo que o distinguem de outro para adquirir um permanente sentido de indiferenciação, de igualdade e conformidade assumidas como naturais. O que permite que conceitos como comunidade e identidade acabem sustentando a estabilidade social. Não somente as classes sociais a que o indivíduo deve pertencer são predestinadas nos centros de incubação, mas a conformidade às funções e aos valores sociais é condicionada por técnicas hipnopédicas. Na fase de crescimento, durante o sono, as pessoas ouvem frases axiomáticas que substituirão o superego e a própria consciência do indivíduo. Num mundo de pessoas massificadas intelectualmente, a estabilidade torna-se uma constante porque garante a manutenção de um governo que lida com pessoas sem opinião própria.
O sentido de comunidade acaba contaminando de forma viral todos os outros valores. Família, amor e monogamia, por exemplo, tornam-se obscenidades, a liberdade sexual é incentivada, cada um é de todos. E para não afetar esse equilíbrio artificial da comunidade, mesmo com a predestinação genética e a hipnopedia, o Estado controla possíveis oscilações de humor por meio de uma poderosa droga psicoativa: o soma. Equivalente ao ecstasy ou prozac de hoje, o soma era uma droga lícita fornecida como ração diária. Por meio desse aparato conformador, manifestado em duas instâncias — genética e psicológica —, a comunidade parecia viver uma utopia na qual todos eram felizes. No entanto essa felicidade apenas pode ser garantida por meio da redução do indivíduo a um objeto humano profundamente alienado.
De certa forma a alienação e a supressão de liberdades individuais parece ser uma constante tanto nas utopias quanto nas distopias. O conhecimento é um direito reservado apenas aos detentores do poder o que significa dizer que pertence a poucos. Em livros como A República, de Platão, 1984, de George Orwell, e em Admirável Mundo Novo, a literatura fora banida ou despersonalizada por ser considerada um perigoso veículo de expressão, de pensamento e de conhecimento. Mas se n’ A República permanecem os filósofos, que dão conta do poder e das generalidades do conhecimento, em Admirável Mundo Novo esse tipo de saber é localizado. Os cidadãos não têm capacidade para responder nada do que esteja fora de sua especialidade. A combinação de conhecimentos pode ser nociva ao equilíbrio e ao progresso. Do mesmo modo, o passado também o é, só existindo um tempo presente, instantâneo, e o futuro, no máximo, pertence a uma conjugação do presente ou do pretérito: a história e a memória são extintas do novo mundo. Não existem museus, monumentos históricos ou livros, o passado está destruído e condenado.
Tanto as cidades utópicas de Callipolis, Amaurota ou Bensalém, quanto as duas distopias mundiais narradas na perspectiva londrina concordam que para o equilíbrio de um sistema é necessária a profilaxia dos elementos que o afetam. Nas cidades utópicas, o homem parece retornar a um estado de integração com a natureza, recuperando o sentido do bom selvagem e de nação virgem e estável. No entanto, não significa que esse retorno à natureza seja de todo positivo, porque tolhe liberdades, cria uma moral pouco flexível e gera o conformismo para uma sociedade em estagnação. Por outro lado, nas distopias a estabilidade social parece ser apenas garantida pela estabilidade individual. Por isso a necessidade do apagamento da memória e dos valores emocionais ligados à recordação, da supressão dos pais para a cura das neuroses identificadas pela psicanálise, da felicidade monitorada pelas drogas psicoativas ou da educação moral hipnopédica que torna a inteligência irracional e instintiva. O homem da distopia rejeita a natureza e volta-se para a tecnologia, a modernidade, o consumo e o progresso. Não existe tensão entre o real e o ideal porque a individualidade foi dissolvida no corpo social e proscrita de sua qualidade humana. Por trás da aparente felicidade do sistema, existe o futuro lúgubre da artificialidade do homem, da imortalidade patológica dos clones, da assepsia geral das coisas, do minimalismo do pensamento.
O irônico em distopias como Admirável Mundo Novo ou 1984 e, é desenvolver uma história a partir do ponto de vista de alguém que desliza para margem e moderadamente questiona as impropriedades do sistema. Bernard Marx, o protagonista da primeira, é torturado com o isolamento de tudo aquilo que seu condicionamento moral o fazia amar enquanto Winston Smith, o protagonista da segunda, acaba sendo exemplo de como o aparato estatal de controle conforma e reforma o indivíduo. Duas histórias que mostram o quanto a consciência crítica, o desejo e os valores afetivos podem provocar distúrbios numa ordem estabelecida. Talvez ainda mais se pensarmos que foi por amor que nossos protagonistas estranharam a ordem do mundo, e em meio ao caos do coração, intuíram que algo estava perdido para sempre. Mesmo que o passado já não exista mais, o tempo seja uma subtração, o espaço seja tão transitório e a vida tão sem sentido. A literatura das distopias parece apenas dizer que o amor a si e ao outro é o mais importante da vida E perdê-lo na tecnocracia e na virtualidade do mundo é esperar por essa solidão tão fria, essa sensação tão gasta de estar em todos os lugares e não estar em ninguém, mesmo sem poder perceber o quão admirável era o velho mundo e o antigo coração.
A etimologia da palavra utopia, em grego, significa o não-lugar, e é o termo pelo qual podemos conceber o plano desejável de uma sociedade extremamente harmônica, estável e funcional, comprometida com o bem-estar da coletividade. Plano e desejo que se fundem com o sonho e a fantasia, por isso as sociedades utópicas sempre estão circunscritas em ilhas imaginárias. A ilha sendo tomada tanto como metáfora do isolamento, para um local geograficamente afastado, cercado, protegido, quanto como um fragmento do imaginário coletivo, do mito do paraíso e do eterno da felicidade. A literatura utópica descreve um equilíbrio geral das coisas sem qualquer explicação histórica ou demonstrativa de como a progressão dos valores sociais criou uma sociedade perfeita. No entanto essa impropriedade cronológica de desenvolvimento parece ser justificada pela própria escolha da localização geográfica: na representação mítica de várias culturas, a ilha é um mundo em miniatura, completo e perfeito porque possui um valor concentrado, além de ser tomada, também, como a representação do paraíso terreno. A sociedade utópica, portanto, por estar fundamentada no ideal, não escapa de permanecer situada num para-lugar e na descontinuidade histórica, como o é a cidade de Platão ou as ilhas de Thomas More e de Francis Bacon.
O que parece ficar explícito nas utopias é uma aura de profilaxia, como se fosse possível expurgar destes mundos imaginados todo o tipo de prática social que fosse nociva, proibida ou indesejável à sociedade. O projeto inalcançável da utopia está nessa fragilidade um tanto paradoxal, de homogeneização de princípios e valores, de fazer ausência definitiva do que antes era presença, de conceber um Jardim do Éden sem serpente. Com qualidades pouco objetivas e quebráveis, o projeto estaria ameaçado pela subjetividade do sujeito, que não se (con)funde com a comunidade porque é singular, e pelo convívio social, no qual a própria natureza política do homem é responsável pelo aflorar de vícios e excessos. Afinal era assim que Jean-Jacques Rousseau compreendia a sociedade: como um jogo de poderes corruptos. Para ele o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe, o que quer dizer que, na dinâmica dos interesses individuais, a comunidade fica comprometida. E este não é um conceito anacrônico, reduzido apenas ao contexto iluminista, porque mesmo antes ou depois de Rousseau teorizar a esse respeito, as estruturas sociais revelaram modos de dominação, subversão e opressão político-social. Por isso o sonho de equilíbrio das utopias só poderia funcionar de um modo localizado, restrito e mínimo. Não há lugar para um projeto utópico fora da ilha, porque seria insustentável se aplicado a sociedades continentais e globalizadas, profundamente dependentes umas das outras, e em constante crise política. No entanto, o mais assustador é que o inverso desse caráter localista, irrealizável e abstrato da utopia, parece ser mais provável de ser atingido: as distopias operam dentro do presumível e assumem contornos mais concretos, executáveis em longo prazo, com impacto de amplitude mundial.
O sentido distópico para sociedade, ao invés de operar com a exclusão de componentes negativos para o funcionamento de uma sociedade, isola algumas dessas categorias e exagera sua negatividade. O plano da distopia parece ser realizável se esses mesmos componentes foram tomados pelo excesso, num tipo de previsão sombria do futuro. Enquanto a utopia concebe uma sociedade extemporânea, sem existência física no tempo e no espaço, a distopia fica ancorada na contemporaneidade, em espaços geográficos reconhecíveis e num tempo prospectivo. Se a utopia descreve como tudo deveria vir a ser, o sentido da distopia, por natureza, reside num pessimismo histórico, por conta das conjecturas de como o rumo desordenado da realidade pode comprometer a vida mundial.
É nesse viés que podemos ler o romance Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, como o engendrar do imaginário numa sombria prospectiva histórica. Publicado em 1932, no período entre-guerras, o romance faz uma suposição do que em longo prazo poderia acontecer com a sociedade através do crescimento desumanizado do progresso científico e material. De certa forma o sentimento de aniquilação, a deliberada exploração científica e tecnológica, a depressão econômica dos anos 30 contribuíram para a criação dessa sociedade fictícia no qual as convenções sociais são reordenadas por um estado aparentemente utópico. Sensação contraída apenas por quem faz parte do sistema, pois qualquer olhar estrangeiro poderia perceber o quanto de ilusão e alienação está por trás do que parecer ser uma sociedade perfeita. Perfeito disfarce para um regime totalitário que eliminou para sempre o passado, a subjetividade e a liberdade dos indivíduos.
O apagamento da subjetividade é o princípio norteador de todo Estado Mundial criado por Huxley, no qual comunidade, estabilidade e identidade determinam o funcionamento de um sistema rígido de estruturação social. Mas ao contrário do caráter extemporâneo das utopias, a distopia deste romance é localizada num tempo determinado, o ano de 635 depois de Ford, o que no nosso calendário oficial corresponderia ao ano de 2545. Para demonstrar como o impacto da ciência alterou o mundo e seus valores, até o tempo é reorganizado, o nascimento de Jesus Cristo como marco inicial do calendário cristão é substituído pelo ano de implantação da linha de montagem na indústria, por Henry Ford. Nesse futuro não apenas Deus não existe mais, o que se louva é a ciência e sua capacidade de trazer benfeitorias à civilização. Ford ocupa, ao mesmo tempo, o lugar sagrado de Deus e Jesus nesse soturno futuro previsto por Huxley, no qual o impacto profundo da ciência sobre o indivíduo inverte uma série de valores e o torna elemento facilmente substituível de uma sociedade tecnocrata.
Nesse sentido podemos perceber a importância de Henry Ford para o sistema, porque a combinação da linha de montagens e da engenharia genética permitiu a extinção completa da família, do indivíduo, dos valores afetivos e pessoais. Em 2545 as pessoas são inteiramente geradas em laboratórios, predeterminadas geneticamente, produzidas em série, padronizadas, uniformizadas e predestinadas socialmente antes mesmo de nascerem. Esse princípio de produção em série aplicado à biologia não somente produz um grande número de seres de modo completamente artificial, como o faz por um a técnica de clonagem que gera quase uma centena de pessoas idênticas. Nesse sentido o homem está para a reprodução artificial tanto quanto a obra de arte está para reprodutibilidade técnica: perde-se a aura e o caráter único do indivíduo, propriedades que seriam parte de uma qualidade humana inalienável e indestrutível.
Por isso o sentido de identidade perde seu significado enquanto caracteres próprios de um indivíduo que o distinguem de outro para adquirir um permanente sentido de indiferenciação, de igualdade e conformidade assumidas como naturais. O que permite que conceitos como comunidade e identidade acabem sustentando a estabilidade social. Não somente as classes sociais a que o indivíduo deve pertencer são predestinadas nos centros de incubação, mas a conformidade às funções e aos valores sociais é condicionada por técnicas hipnopédicas. Na fase de crescimento, durante o sono, as pessoas ouvem frases axiomáticas que substituirão o superego e a própria consciência do indivíduo. Num mundo de pessoas massificadas intelectualmente, a estabilidade torna-se uma constante porque garante a manutenção de um governo que lida com pessoas sem opinião própria.
O sentido de comunidade acaba contaminando de forma viral todos os outros valores. Família, amor e monogamia, por exemplo, tornam-se obscenidades, a liberdade sexual é incentivada, cada um é de todos. E para não afetar esse equilíbrio artificial da comunidade, mesmo com a predestinação genética e a hipnopedia, o Estado controla possíveis oscilações de humor por meio de uma poderosa droga psicoativa: o soma. Equivalente ao ecstasy ou prozac de hoje, o soma era uma droga lícita fornecida como ração diária. Por meio desse aparato conformador, manifestado em duas instâncias — genética e psicológica —, a comunidade parecia viver uma utopia na qual todos eram felizes. No entanto essa felicidade apenas pode ser garantida por meio da redução do indivíduo a um objeto humano profundamente alienado.
De certa forma a alienação e a supressão de liberdades individuais parece ser uma constante tanto nas utopias quanto nas distopias. O conhecimento é um direito reservado apenas aos detentores do poder o que significa dizer que pertence a poucos. Em livros como A República, de Platão, 1984, de George Orwell, e em Admirável Mundo Novo, a literatura fora banida ou despersonalizada por ser considerada um perigoso veículo de expressão, de pensamento e de conhecimento. Mas se n’ A República permanecem os filósofos, que dão conta do poder e das generalidades do conhecimento, em Admirável Mundo Novo esse tipo de saber é localizado. Os cidadãos não têm capacidade para responder nada do que esteja fora de sua especialidade. A combinação de conhecimentos pode ser nociva ao equilíbrio e ao progresso. Do mesmo modo, o passado também o é, só existindo um tempo presente, instantâneo, e o futuro, no máximo, pertence a uma conjugação do presente ou do pretérito: a história e a memória são extintas do novo mundo. Não existem museus, monumentos históricos ou livros, o passado está destruído e condenado.
Tanto as cidades utópicas de Callipolis, Amaurota ou Bensalém, quanto as duas distopias mundiais narradas na perspectiva londrina concordam que para o equilíbrio de um sistema é necessária a profilaxia dos elementos que o afetam. Nas cidades utópicas, o homem parece retornar a um estado de integração com a natureza, recuperando o sentido do bom selvagem e de nação virgem e estável. No entanto, não significa que esse retorno à natureza seja de todo positivo, porque tolhe liberdades, cria uma moral pouco flexível e gera o conformismo para uma sociedade em estagnação. Por outro lado, nas distopias a estabilidade social parece ser apenas garantida pela estabilidade individual. Por isso a necessidade do apagamento da memória e dos valores emocionais ligados à recordação, da supressão dos pais para a cura das neuroses identificadas pela psicanálise, da felicidade monitorada pelas drogas psicoativas ou da educação moral hipnopédica que torna a inteligência irracional e instintiva. O homem da distopia rejeita a natureza e volta-se para a tecnologia, a modernidade, o consumo e o progresso. Não existe tensão entre o real e o ideal porque a individualidade foi dissolvida no corpo social e proscrita de sua qualidade humana. Por trás da aparente felicidade do sistema, existe o futuro lúgubre da artificialidade do homem, da imortalidade patológica dos clones, da assepsia geral das coisas, do minimalismo do pensamento.
O irônico em distopias como Admirável Mundo Novo ou 1984 e, é desenvolver uma história a partir do ponto de vista de alguém que desliza para margem e moderadamente questiona as impropriedades do sistema. Bernard Marx, o protagonista da primeira, é torturado com o isolamento de tudo aquilo que seu condicionamento moral o fazia amar enquanto Winston Smith, o protagonista da segunda, acaba sendo exemplo de como o aparato estatal de controle conforma e reforma o indivíduo. Duas histórias que mostram o quanto a consciência crítica, o desejo e os valores afetivos podem provocar distúrbios numa ordem estabelecida. Talvez ainda mais se pensarmos que foi por amor que nossos protagonistas estranharam a ordem do mundo, e em meio ao caos do coração, intuíram que algo estava perdido para sempre. Mesmo que o passado já não exista mais, o tempo seja uma subtração, o espaço seja tão transitório e a vida tão sem sentido. A literatura das distopias parece apenas dizer que o amor a si e ao outro é o mais importante da vida E perdê-lo na tecnocracia e na virtualidade do mundo é esperar por essa solidão tão fria, essa sensação tão gasta de estar em todos os lugares e não estar em ninguém, mesmo sem poder perceber o quão admirável era o velho mundo e o antigo coração.
sábado, 15 de dezembro de 2007
A CRIAÇÃO da XOXOTA - poema de mario quintana
Sete bons homens de fino saber
Criaram a xoxota, como pode se ver:
Chegando na frente, veio um açougueiro
Com faca afiada deu talho certeiro.
Um bom marceneiro, com dedicação
Fez furo no centro com malho e formão.
Em terceiro o alfaiate, capaz e moderno
Forrou com veludo o lado interno.
Um bom caçador, chegando na hora
Forrou com raposa, a parte de fora.
Em quinto chegou, sagaz pescador
Esfregando um peixe, deu-lhe o odor.
Em sexto, o bom padre da igreja daqui.
Benzeu-a dizendo: “É só pra xixi!”
Por fim o marujo, zarolho e perneta
Chupou-a, fodeu-a e chamou-a…
Buceta!
Criaram a xoxota, como pode se ver:
Chegando na frente, veio um açougueiro
Com faca afiada deu talho certeiro.
Um bom marceneiro, com dedicação
Fez furo no centro com malho e formão.
Em terceiro o alfaiate, capaz e moderno
Forrou com veludo o lado interno.
Um bom caçador, chegando na hora
Forrou com raposa, a parte de fora.
Em quinto chegou, sagaz pescador
Esfregando um peixe, deu-lhe o odor.
Em sexto, o bom padre da igreja daqui.
Benzeu-a dizendo: “É só pra xixi!”
Por fim o marujo, zarolho e perneta
Chupou-a, fodeu-a e chamou-a…
Buceta!
ESSÊNCIAS VERDES MASTURBADAS - de benny franklin
Frasco n° 7
Por mais Que as parábolas do mormaço
Gozem flâmulas em porções metafísicas,
Ou em medidas poucas se enervem;
Ou se dêem repartidas
Como etílicas boulevards belemitas;
Ou se dêem esqueléticas às madrepérolas despedaçadas
Embrenhadas de ponta cabeça
Em grande-profundas gretas,
É nelas que o pingar desbotado
De São Paulo se dá —,
Onde as flôres surrealistas do poeta
Prostituem-se em bando
(E sem tempo definido),
Copulam-se em prédios e praças,
Como as libélulas bissexuais
De São Petersburgo
Que veneram a gula sem desdizer das broxas enervadas,
Já que, entre si, todas,
Não se suportam,
Nem temem a fomedez
Do ovário.
Por mais Que as parábolas do mormaço
Gozem flâmulas em porções metafísicas,
Ou em medidas poucas se enervem;
Ou se dêem repartidas
Como etílicas boulevards belemitas;
Ou se dêem esqueléticas às madrepérolas despedaçadas
Embrenhadas de ponta cabeça
Em grande-profundas gretas,
É nelas que o pingar desbotado
De São Paulo se dá —,
Onde as flôres surrealistas do poeta
Prostituem-se em bando
(E sem tempo definido),
Copulam-se em prédios e praças,
Como as libélulas bissexuais
De São Petersburgo
Que veneram a gula sem desdizer das broxas enervadas,
Já que, entre si, todas,
Não se suportam,
Nem temem a fomedez
Do ovário.
sexta-feira, 14 de dezembro de 2007
A NOSSA IMPRENSA o LOBO MAU e o CHAPÉUZINHO VERMELHO
Vejam como os diferentes jornais, revistas e TVs dariam a mesma notícia sobre o caso Chapeuzinho Vermelho:
JORNAL NACIONAL (William Bonner):
"Boa noite. Uma menina chegou a ser devorada por um lobo na noite de ontem...". (entra Fátima Bernardes): "... mas a atuação de um caçador evitou uma tragédia".
FANTÁSTICO: (Glória Maria):
" ... que gracinha, gente. Vocês não vão acreditar, mas essa menina linda aqui foi retirada viva da barriga de um lobo, não é mesmo?"
CIDADE ALERTA: (Datena):
"... onde é que a gente vai parar, cadê as autoridades? Cadê as autoridades? A menina ia para a casa da avozinha a pé! Não tem transporte público! Não tem transporte público! E foi devorada viva... Um lobo, um lobo safado. Põe na tela!!! Porque eu falo mesmo, não tenho medo de lobo, não tenho medo de lobo, não."
REVISTA VEJA:
Lula sabia das intenções do lobo.
REVISTA CLÁUDIA:
Como chegar à casa da vovozinha sem se deixar enganar pelos lobos no caminho .
REVISTA NOVA:
Dez maneiras de levar um lobo à loucura na cama.
REVISTA MARIE-CLAIRE:
Na cama com o lobo e a vovó.
FOLHA DE S. PAULO:
Legenda da foto: "Chapeuzinho, à direita, aperta a mão de seu salvador". Na matéria, box com um zoólogo explicando os hábitos alimentares dos lobos e um imenso infográfico mostrando como Chapeuzinho foi devorada e depois salva pelo lenhador.
O ESTADO DE S. PAULO:
Lobo que devorou Chapeuzinho seria filiado ao PT..
O GLOBO:
Petrobrás apóia ONG do lenhador do PT que matou um lobo pra salvar menor de idade carente.
ZERO HORA:
Avó de Chapeuzinho nasceu em Camacuã, RS.
AQUI:
Sangue e tragédia na casa da vovó
REVISTA CARAS:
(Ensaio fotográfico com Chapeuzinho na semana seguinte): Na banheira de hidromassagem, Chapeuzinho fala a CARAS: "Até quase ser devorada, eu não dava valor para muitas coisas da vida. Hoje sou outra pessoa.
PLAYBOY:
(Ensaio fotográfico no mês seguinte): Veja o que só o lobo viu.
REVISTA ISTO É:
Gravações revelam que lobo foi assessor de político influente.
REVISTA G MAGAZINE:
Lenhador mostra O MACHADO.
JORNAL NACIONAL (William Bonner):
"Boa noite. Uma menina chegou a ser devorada por um lobo na noite de ontem...". (entra Fátima Bernardes): "... mas a atuação de um caçador evitou uma tragédia".
FANTÁSTICO: (Glória Maria):
" ... que gracinha, gente. Vocês não vão acreditar, mas essa menina linda aqui foi retirada viva da barriga de um lobo, não é mesmo?"
CIDADE ALERTA: (Datena):
"... onde é que a gente vai parar, cadê as autoridades? Cadê as autoridades? A menina ia para a casa da avozinha a pé! Não tem transporte público! Não tem transporte público! E foi devorada viva... Um lobo, um lobo safado. Põe na tela!!! Porque eu falo mesmo, não tenho medo de lobo, não tenho medo de lobo, não."
REVISTA VEJA:
Lula sabia das intenções do lobo.
REVISTA CLÁUDIA:
Como chegar à casa da vovozinha sem se deixar enganar pelos lobos no caminho .
REVISTA NOVA:
Dez maneiras de levar um lobo à loucura na cama.
REVISTA MARIE-CLAIRE:
Na cama com o lobo e a vovó.
FOLHA DE S. PAULO:
Legenda da foto: "Chapeuzinho, à direita, aperta a mão de seu salvador". Na matéria, box com um zoólogo explicando os hábitos alimentares dos lobos e um imenso infográfico mostrando como Chapeuzinho foi devorada e depois salva pelo lenhador.
O ESTADO DE S. PAULO:
Lobo que devorou Chapeuzinho seria filiado ao PT..
O GLOBO:
Petrobrás apóia ONG do lenhador do PT que matou um lobo pra salvar menor de idade carente.
ZERO HORA:
Avó de Chapeuzinho nasceu em Camacuã, RS.
AQUI:
Sangue e tragédia na casa da vovó
REVISTA CARAS:
(Ensaio fotográfico com Chapeuzinho na semana seguinte): Na banheira de hidromassagem, Chapeuzinho fala a CARAS: "Até quase ser devorada, eu não dava valor para muitas coisas da vida. Hoje sou outra pessoa.
PLAYBOY:
(Ensaio fotográfico no mês seguinte): Veja o que só o lobo viu.
REVISTA ISTO É:
Gravações revelam que lobo foi assessor de político influente.
REVISTA G MAGAZINE:
Lenhador mostra O MACHADO.
Assinar:
Postagens (Atom)