A mulher vai passando silenciosa pelo homem que toca violino junto aos mendigos da Estação República.
Peter Pan encontra a pedra de crack no bolso da calça jeans e se põe a sonhar... Wendy, ao seu lado, também se põe a sonhar...
O olhar do homem que entra no Franz e aguarda o café expresso, não se parece com um céu em chamas. Enquanto toma o café, apenas vê os brancos garçons suspensos por seus fios invisíveis.
O céu baixíssimo protege a velha biblioteca com seus ratos de outros tempos.
O palhaço com imensas pernas de pau atravessa o Viaduto do Chá, anunciando... Você só fala, fala, mas não faz nada, diz a balconista, que jamais leu o papagaio de Queneau.
Fernando Pessoa cumprimenta timidamente a mulher, que continua a passar silenciosa. Ele lhe faz um gesto como quem diz: Isso também passará. O poeta atravessa a Rua Direita com o chapéu em uma das mãos e na outra o gatinho que acabou de recolher da calçada.
O homem que toca o violino vem, cercado pelo séquito de mendigos. O homem que toma café no Franz se cose à parede. Não há como duvidar que os brancos garçons continuem, ad infinitum, a servirem cafés. O palhaço chega à Praça da Sé. Um rato pardo, que acabou de sair do bueiro, tem nos olhos a certeza de que o mundo perfeito não precisa, absolutamente, de queijos. Tento surpreender nele algum ar de mártir cristão ou de monge zen, mas já desapareceu.
Fernando Pessoa solta o gatinho, despe o casaco e se põe a dançar, frenético. Ele grita Ofélia vem dançar vem dançar vem dançar e a multidão que se dirige à missa também grita Ofélia vem dançar vem dançar vem dançar.
Ofélia dança e vai soltando, um por um, todos os seus véus e nua, continua a dançar.
Fernando Pessoa pára, veste o casaco, pega o chapéu do chão com o gato dentro e se despede: Até mais, Ofélia.
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Um comentário:
intiresno muito, obrigado
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