quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

SONATA DA PAIXÃO - por helena sut


Meu primeiro colo foi um canteiro. Minha mãe tem nome de flor. O ventre solo acolheu-me semente e lançou-me ao mundo rebento rosa chá. Encontrei-me no sonho acolhido e flutuei no cerne da vida. Minha mãe dizia entre risos que o meu pai tinha cheiro de alecrim. Rosmaninho, orvalho do mar, folhas labiadas... O tempero e a cor da minha trama. Na concepção incorporei a maresia no oceano tranqüilo entranhado no corpo e percebi as marés e as luas na orla, protegida sobre as pedras do cais feminino.


Cresci com a dor do primeiro botão. A saliência despertou no caule das primaveris vivências e desprendeu o tronco com circunstâncias de ventos. Entornei o vinho dos virginais desejos e encontrei na carne as chagas do corpo em cruz. Das cicatrizes, espinhos... Espinhos? Dizem que resguardam os sonhos e debelam os medos, mas tem noites em que perco o sono, encolho-me, não percebo as alegorias e ainda sinto a aflição dos espinhos cravados na pele da lembrança.


Encontrei-me rubra com as pétalas revoltas. Os caminhos... Tantas opções e apenas uma posse de passos. Multiplicação de espinhos, ciclos de espera e renovação... Passei em procissão e ornei o templo com fantasias. Compreendi a sonata que repercutia e ritmava meus movimentos. Tantas vezes me rebelei em sons discordantes. Sangrei destinos e me cerzi em alguns acasos. Moldura de risos, superfície de falsos planos... Eu, o retrato enraizado no canteiro de um espelho; eu, o reflexo emoldurado em outras perspectivas...


Reconheci que paixão é um substantivo feminino como também a vida. Brinquei com palavras e me conjuguei amor, busquei complementos em corpos etéreos, encontrei-me entre estrelas e pousei orvalho da noite no colo sereno da percepção do próprio ventre. Pontuei orações com pétalas e espinhos sem finalizar as reticentes sementes manifestas no tempo.

Assumi a autoria de ser mulher.

PEQUENAS CONSTATAÇÕES na FALTA de MAIORES - por josé zokner

Constatação I (Teoria da Relatividade para principiantes)
É muito melhor ser de Barra Mansa, Estado do Rio, do que corno manso.

Constatação II (De uma dúvida crucial).
Anfitrião que se serve por primeiro é a visita de si mesmo?

Constatação III
Rico faz carícias; pobre, malcriadez.

Constatação IV (Teoria da Relatividade para principiantes).
Numa transação, em que a palavra juros é banida, é muito melhor ter um preço menor e um prazo maior, do que um preço maior e um prazo menor.

Constatação V (Conselho útil, passível de mal-entendido).
Não se deve cutucar a sogra com vara curta.

Constatação VI (Dúvida crucial).
Será que retórica vazia é o mesmo que empulhação enrolada, ou ainda embromação mexerufada?* Quem souber, por favor, cartas à redação. Obrigado.
*Mexerufada = “mistura confusa, desordenada, de seres ou coisas; confusão, misturada, mixórdia” (Houaiss).

Constatação VII
Rico tem estofo; pobre, inércia.

Constatação VIII
Rico é uma douta personalidade; pobre se dá ares de importante.

Constatação IX (De diálogos entre mãe e filha ou entre mulher e sogra).
-“Se eu soubesse que meu marido ia me fazer isso, eu não teria feito tudo que eu fiz para ele: comidinha gostosa, me esfalfar num emprego para ajudar nas despesas da casa, levar e pegar os filhos na escola, ser a amante perfeita, mesmo cansadíssima e por aí afora”.
-“Reciprocidade, minha filha, é só banco comercial e olha lá. Eles querem tudo e a gente ainda tem que gramar na fila porque eles não põem funcionários, por medida de economia as nossas custas. Marido é que nem banco. A diferença, ou talvez semelhança é que marido não te dá dinheiro e dá pra amante; banco, não te empresta e só empresta para quem não precisa”.

Constatação X
Deu na mídia: “Em Recife, José Dirceu passa por operação para implantar cabelos”. Taí uma notícia de transcendental importância para a Humanidade em geral e para o Brasil, em particular.

Constatação XI
Deu na mídia: “Panda ignora vídeo erótico e fêmea tem de ser inseminada”. Data vênia como diriam nossos juristas e de um ou outro panda macho, mas existem alguns filminhos, em vídeo ou DVD, ditos eróticos, seja pra panda ou para os assim chamados racionais que, ao invés de fazerem o efeito desejado, pela má qualidade, fazem o efeito contrário.

Constatação XII
Não se pode confundir vista com visita, muito embora a vista fique anuviada, nublada, carregada, toldada, sombria com a visita desagradável que chega de modo inopinado, inesperado, imprevisto. E, para não acusarem a coluna Rumorejando de facciosa, perseguidora, plena de má vontade não estamos fazendo menção à sogra, em particular, mas se referindo a pessoas desagradáveis, em geral. A recíproca não é verdadeira. Basta fazer ou receber uma visita de um grande amor para que a vista receba uma dose de um colírio, daquele que é um alivio inclusive para os olhos...

Constatação XIII
Deu na mídia: “Sarkozy diz que relacionamento com ex-modelo é sério” e “Confirmada a gravidez de Nicole Kidman”. Taí outras duas notícias de transcendental importância para o futuro da Humanidade. Apenas que, a primeira é, efetivamente, importante, pelo menos, para o povo francês. Afinal, ele terá a quem fo, digo ferrar.

Constatação XIV
Rico ri, não necessariamente à-toa; pobre é enferruscado. (O dicionário Houaiss apresenta como enfarruscado e que enferruscado não existe. Rumorejando usou a expressão popular).

BIOPIRATARIA - por flavio calazans


VOCÊ PRECISA SABER


O Século Vinte e Um é o século das biotecnologias, e o Brasil é o símbolo histórico da biopirataria.Piratas eram bandidos, ladrões saqueadores que atacavam as cidades portuárias como Santos. Hoje, os Biopiratas chegam disfarçados de turistas, ecoturistas , missionários religiosos e pesquisadores cientistas.Biopirataria é o roubo descarado de recursos naturais biológicos e processos ou técnicas de produção envolvendo formas de vida vegetal ou animal.O Brasil tem as maiores reservas de biodiversidade do mundo, plantas e animais que produzem uma infinidade de lucrativos remédios, alimentos, cosméticos, etc...cobiçados e roubados pelas indústrias biotecnológicas biopiratas.


A Biopirataria movimenta por ano no mundo cerca de US$ 60 bilhões, o que faz dela a terceira atividade ilegal mais lucrativa do planeta, atrás do tráfico de armas e de drogas. O Brasil possui a maior biodiversidade deste terceiro planeta da estrela Sol, perde cerca de US$ 1 bilhão por ano com o roubo de materiais genéticos, sobretudo na Amazônia (o Brasil abriga duas em cada cinco espécies de formas de vida deste planeta), conforme estimativa do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o IBAMA calcula que o Brasil sofreu um prejuízo financeiro na ordem de 16 milhões de dólares POR DIA com a biopirataria só no ano de 2003.


A biopirataria é cruel, um crime duplo que rouba as riquezas e ainda as revende para o legítimo proprietário, impedindo o desenvolvimento.Historicamente, o nome BRAZIL vem de uma árvore de tronco rubro de onde os índios extraiam tintura vermelha, o famoso PAU-BRASIL que dá o nome deste país lusófono desde os anos 1532 (“Fundação” de São Vicente e Itanhaém).Nosso Pau-Brasil (caesalpinia echinata lam) foi tão brutalmente saqueado que hoje, no século XXI, é uma planta raríssima no próprio país que recebeu seu nome, dizimada e quase extinta pela sanha desmedida de lucro de invasores portugueses, franceses, ingleses e europeus em geral.


Outro caso emblemático é da Amazônia, o ciclo econômico da borracha, seiva extraída da árvore seringueira (hevea brasiliensis), até que o inglês Henry Wickham furtou e contrabandeou mudas de seringueira em 1876 plantando-as nas colônias inglesas da Malásia, que torna-se o maior exportador arruinando o mercado internacional e falindo os produtores brasileiros...hoje o Brasil de onde nasceu esta árvore e foi criado o processo de goma, a seiva cozida da borracha, é IMPORTADOR de borracha da Malásia, compramos nosso produto de quem nos roubou.... (meu avô paterno Miguel Calazans trabalhou com extração desta seiva no período áureo, fomos prejudicados nas finanças familiares pela Biopirataria, este é um assunto muito doloroso em minha própria história familiar).


Também há o MOGNO (swietenia macrophylla), uma madeira que dura séculos sem deformar ou mudar de cor-ideal para mobília de escritório , em quarenta anos de cortes foi dizimada, de 1971 a 2001 foram extraídos 2,5 milhões de árvores, mais de 4 bilhões de dólares, dois terços contrabandeadosilegalmente para USA e Inglaterra (a Inglaterra batizou a famosa flor flutuante do rio Amazonas de Vitória Régia em homenagem a rainha deles, a repressora e puritana Rainha Vitória!!!) o mogno é a madeira nobre mais valiosa do mundo, batizada de “ouro verde” vendida a 1,4 mil dólares por tora, se não fosse contrabandeado para os Norte Americanos e Ingleses teria gerado 4 Bilhões de Dólares em divisas para o Brasil.


O caso mais debatido de Biopirataria em 2003 também veio da Amazônia, foi o escandaloso patenteamento da produção e do uso da gordura da semente do CUPUAÇU (theobroma grandiflorum) pela empresa multinacional japonesa Asahi Foods, a “Proprietária” do Cupuaçu e do Cupulate, o chocolate da castanha-semente do cupuaçu, a produção e o processamento de gordura de Cupuaçu não é uma técnica nova criada pela Asahi Foods que patenteou-a (já é usada há muitos tempo pelas comunidades da região amazônica) e o cupulate não é uma invenção da Asahi Foods, pois foi desenvolvido pela Embrapa, mas a “dona” do cupuaçu e do Cupulate no Japão, na União Européia e nos Estados Unidos além de em todos os países-membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) é a japonesa Asahi Foods...empresa que impede a comercialização de produtos brasileiros como bombons e doces de cupulate, prejudicando toda a comunidade da Amazônia e as empresas familiares dedicadas a plantar e colher a fruta cupuaçu e produzir o cupulate, suco de cupuaçu, óleos e bombons recheados com geléia de cupuaçu.


Esta biopirata empresa multinacional japonesa Asahi Foods, a “Proprietária” do Cupuaçu e do Cupulate, detém o monopólio do nome e da marca Cupulate, fez os pedidos de patentes sobre extração do óleo e produção do cupulate e derivados, uma multinacional do Japão, dona de um fruto que só nasce na floresta amazônica do Brasil, um absurdo jurídico que ilustra os perigos do século da biotecnologia.


A Asahi Foods, esperta, também já está patenteando uma outra fruta brasileira rica em vitamina C, a ACEROLA (malpigia glabra linn) ....e já estuda patentear outra, uma fruta vermelha de sabor azedo, com muito mais vitamina C, a CAMU-CAMU.Porém, como ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão, em 2003 a empresa inglesa THE BODY SHOP já patenteou o extrato da polpa da fruta cupuaçu para produção de cosméticos e produtos de beleza ou perfumes, cremes, shampoos e óleos. Também há o caso da semente de Bibiri, usada desde tempos imemoriais, desde sempre pelas índias uapixanas de Rondônia como anticoncepcional, patrimônio cultural indígena que hoje pertence ao laboratório canadense Biolink, que o patenteou como “descoberta” canadense!!!


A Andiroba (carapa guianensis aubl) usada como repelente de insetos, cicatrizante e contra a febre pelos indígenas da Amazônia teve sua patente registrada pela Rocher Yves Vegetable , dona da andiroba nos USA, Europa e Japão, seu extrato só pode ser usado em medicamentos ou cosméticos se pagando a ela, tal qual a Asahi Foods e o cupuaçu.


O Curare, veneno paralisante feito de mistura de ervas, usado nas flechas e setas de zarabatana pelos índios jivago da Amazônia, foi patenteado nos USA na década de 40 e é usado até hoje na industrialização de relaxantes musculares e anestésicos para cirurgias em todo o mundo. A AYAHUASCA (banisteriopsis caapi), folha caapi ou chacrona, que misturada ao cipó mariri faz a beberragem, o vinho dos deuses, popular entre mais de 300 etnias ou tribos indígenas amazônicas que o passaram aos seringueiros, alucinógeno de práticas religiosas como o Santo Daime, foi patenteado como descoberta da empresa americana International Plant Medicine Corp, USA.E o PAU-ROSA (aniba roseadora) é usado como fixador de aroma na indústria química de perfumarias, livremente usado nos USA, Bélgica, Inglaterra, Alemanha e França, seu óleo é a base do famoso perfume “CHANEL Numero 5”, o que resultou na extração abusiva, e como foi com o Pau-Brasil, o Pau-Rosa também corre risco de extinção pelo corte desmedido e predatório.Copaíba (copaifera sp) é uma planta antibiótico natural, desinfetante, estimulante e espectorante, a empresa Technico-flor s/a registrou patente mundial sobre cosméticos ou alimentos que futuramente empreguem a planta.


A lista de vegetais brasileiros biopirateados seria interminável, enciclopédica.Contudo, além da Botânica, a Zoologia também é vítima da biopirataria dos países ricos.Há um sapo (epipedobetes tricolor) que vive nas árvores da amazônia e produz uma toxina analgésica 200 vezes mais poderosa e eficiente do que a morfina, o laboratório Abbott dos USA sintetizou a substância e vende a droga com monopólio mundial.


A serpente Jararaca (bothrops jararaca) foi estudada pelo pesquisador brasileiro Sérgio Ferreira , professor da faculdade de medicina de Ribeirão Preto, descobriu na peçonha da jararaca uma substância química capaz de controlar a pressão arterial, sem recursos financeiros para desenvolver a pesquisa, teve de aceitar parceria com o laboratório Bristol-Myers Squibb USA, que acabou registrando a patente do princípio ativo Captopril em um mercado que rende 2,5 milhões de dólares ao ano só em royalties, Brasil também paga pelo uso do produto daqui que cura a pressão alta.


Desde 1993 uma indústria suíça controla totalmente a Pentapharm, um dos mais importantes serpentários do Brasil, em Uberlândia, Minas Gerais, onde criam-se as cobras jararacuçu, toda a produção da peçonha é exportada para a Suíça que o processa e produz medicamentos anticoagulantes revendidos muito caros para nós e exportados para o resto do mundo.


A Jararaca Ilhôa (bothrops insularis) só existe na ilha de Queimada Grande no litoral sul de São Paulo, perto de Peruíbe (frente às ruínas da igreja do abarebebe-o “padre voador”, boticário que classificava remédios dos pagés índios tupinambás e tupiniquins antes dos padres Nóbrega e Anchieta chegarem) sua peçonha é mais letal que qualquer víbora, em 2001 foram encontradas algumas vivas sendo vendidas em um mercado de animais de Amsterdan, Holanda, Europa, contrabandeadas da Ilha Queimada Grande, único lugar do mundo onde existem.


A rede de ongs GTA –Grupo de Trabalho Amazônico e a AMAZONLINK recolheram donativos chegando a 20 mil dólares para dar entrada nos custos iniciais do processo judicial e moveram processos internacionais de 2002 a 2004, obteve-se o primeiro resultado, uma sentença da qual corre recurso com a anulação judicial que cassa o registro do nome cupuaçu no Japão, impedindo a Asahi foods de continuar tentando cobrar multa de 10 mil dólares por produto exportado com o nome cupuaçu.


Conforme a GTA, plantas como a andiroba, ayhuasca, curare, açaí e infinitas outras já tem patentes em paises estrangeiros.


A Empresa norte-americana ZymoGenetics detem a patente de dois princípios ativos, um analgésico e um vasodilatador roubados de um sapo da amazônia, mas há uma dificuldade na justiça dos USA, pois Tio Sam nunca ratificou o tratado internacional “Convenção da Diversidade Biológica” e assim nunca paga pelo conhecimento ancestral dos povos que suas empresas recolhem na calada da noite e furtivamente patenteiam para comercializar e lucrar, típicos PIRATAS saqueando o patrimônio acumulado por gerações por povos de todo o mundo, Eugênio Pantoja, da Amazonlink explicou na revista Pesquisa Fapesp de abril de 2004, número 98, página 25: “procuramos um escritório de advocacia americano que nos pediu US$ 150 mil só para iniciar a ação, está fora das nossas possibilidades”, também denuncia patentes de cunani –substancia analgésica usada em ferramentas de pesca dos indígenas e do jambu, erva que serve de matéria prima para creme dental.


Um grupo de trabalho do IBAMA visitando o povo indígena Karitiana , que secularmente usa o sapo Campu (Phyllomedusa) espécie que só existe em seu território na floresta amazônica, e laboratórios dos Estados Unidos da América (USA), Inglaterra e França patentearam a vacina do sapo baseadas no suor neste espécime , como medicamento de tratamento contra tumor cancerígeno ou mesmo uma possível vacina contra o câncer.E um funcionário do correio de Goiânia em uma inspeção de rotina encontrou doze cobras espremidas em uma caixa de sedex, as cobras raras eram remetidas de São José do Rio Preto (451 kilometros a noroeste da capital São Paulo) para Goiânia e de lá redistribuídas para a Holanda, onde eram revendidas pela Europa e USA, répteis raros como jiboia-papagaio (periquitamboia) que vivem na mata atlântica e na amazônia .


Estes são somente alguns exemplos dentre os milhares de incontáveis casos de biopirataria que vem sendo perpetrados contra todos nós brasileios.Cabe a você que leu estas linhas saber disso, estar conciente e tomar sua posição a favor ou contra tais abusos, eu tomei minha atitude, escrevendo este texto e divulgando, passe adiante e vamos fazer uma corrente de opinião pública esclarecida e cobrar de nossos políticos profissionais leis de defesa, e cada um de nós vai fazer a diferença boicotando tais empresas e países biopiratas.


A BIOMIDIOLOGIA é um neologismo de propriedade intelectual de Flávio Mário de Alcântara Calazans ; BIOMIDIOLOGIA foi registrada na Biblioteca Nacional do Ministério da Cultura aos 16 de janeiro de 2002, registro 249.607, livro 444, folha 267 como descoberta científica de Flávio Mário de Alcântara Calazans.Bibliografia de Biomidiologia.


CALAZANS, Flávio Mário de Alcântara.

ECOLOGIA E BIOMIDIOMOLOGIA. São Paulo:Editora Plêiade, 2002. ISBN 85-85795-59___.“Biomediology: Communication and environment” ha sido aceptada para ser presentada en XI Encuentro de Faculdades Americanas de Comunicación Social FELAFACS: en la mesa de trabajo: Las causas globales; martes 7 de octubre de 2003 a las 14:30 HRS en el salón Flamingo B. Puerto Rico USA.___.“Biomidiologia do arrastão e Linchamento; a mente coletiva da multidão” ; III Congresso Brasileiro de Pesquisas Ambientais e Saúde –CBPAS 2003, Santos, São Paulo, 21 a 23 de julho de 2003, apresentado 23 de julho de 2003, às 11 horas, publicado na página 15 do programa, e resumo publicado na página 40 e 41 do programa, paper publicado integralmente no CDROOM EXPOSITOR.___.

“BIOMIDIOLOGIA: Um paradigma interdisciplinar do Século XXI”, Flávio Calazans, apresentado na seção número nove de Temas Livres do XXV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – INTERCOM´2002, em Salvador, Bahia, dia 3 de setembro das 14 às 18 horas, com resumo publicado na página 88 do programa e com o texto integral do “paper” também publicado no CDRom do evento. EXPOSITOR. ___.“ Da Televisão ao Carnaval: uma Biomidiologia do Arrastão” XXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – INTERCOM´2003 Belo Horizonte, resumo publicado na página 34 dos anais,___.“BIOMIDIOLOGIA DOS DNARTISTAS : EDUARDO KAC” paper aprovado pelo comitê científico internacional para ser apresentado no “FIRST BRAZIL-US COLLOQUIUM ON COMMUNICATION STUDIES” this event is the first of its kind in the United States, JAN. 30 - FEB. 1, 2004 AUSTIN, TEXAS USA foi selecionado para a sessão temática de Comunicação Internacional e Intercultural publicado nos anais e cdrom do congresso e na internet em http://www.utexas.edu/coc/rtf/brazil_us/brasilprogram.htm ___.“"Biomidiologia: Nova Teoria da Comunicação unindo "Communication" e "Environment" [Naturwissensaften (Bio) e Gemienenwissensaften (Midiologia)]."” paper aprovado pelo comitê científico internacional para ser apresentado no “World Congress on Engineering and Technology Education –WCETE” sob número 529 publicado nos programas , anais e cdrom do congresso http://www.copec.org.br/wcete2004,___. “Biomidiologia aplicada ao Pokemón” .In: Encontros culturais Portugal-Japão-Brasil, editora Manole, São Paulo, 2002, ISBN 85-204-1759-0, páginas 69 a 122).

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

FIM de SEMANA na PRAIA - por antonio brás constante


Eis que aí está você. Bermudão e chinelos. Um sol maravilhoso. Curtindo a brisa marinha. Veio com a esposa e os filhos para um fim de semana em família. A casa você comprou no inverno, quando os preços eram menores.

O primeiro ritual ao chegar à praia é ir molhar os pés na beira do mar, não que dê sorte ou azar, é mais para a pessoa entrar no clima do lugar. Sentir-se como sendo batizado, para poder aproveitar as delícias de um feriado regido pelo sol, areia e um mar azul e límpido.

Após a cerimônia de “lava-pés”, você volta ao carro e descarrega todas as suas tralhas, abrindo a casa para arejá-la. A manhã já está na metade, o momento certo para colocar a churrasqueira para funcionar.

Neste momento você se sente um verdadeiro Rei. O pau de mexer o carvão é seu cetro real. O banquinho de madeira, seu trono. A carne crua e temperada a sua frente e a latinha de cerveja são suas riquezas e as moscas à sua volta os ladrões que atacam todos os reinos e devem ser repudiados com sua toalha de limpar as mãos.

Mas mesmo onde reina a paz mais intensa, acabam surgindo os piores dissabores e eles chegam buzinando e fazendo alarde. Você ainda não sabe quem são? Os seus parentes! Apareceram de surpresa para te fazer companhia na praia. Afinal para eles, praia sem parentes não é praia.

Costumam vir aos bandos, de forma predatória. Chegam, comem e bebem tudo que encontram e se mandam sem ajudar a pagar a conta. Os parentes são a maldição de qualquer homem casado. Ou que tenha algum irmão ou irmã casada. Pode ocorrer também em famílias com muitos tios, ou seja, todos nós, seres humanos, estamos sujeitos a sermos vítimas dessa situação.

Até o momento, nenhum dos parentes homens foi até onde você se encontra. Alguns abanaram de longe. Eles sentiram o cheiro do serviço e irão esperar até que a carne esteja quase assada, para então se aproximar e comer os aperitivos com farofa.

Neste meio-tempo irão se saciar com as cervejas que você estocou na geladeira. Alguns já se adonaram das redes e outros colocaram as mochilas no seu quarto, perguntando de forma descarada se podem usar a cama para descansar.

Você tenta conhecer todos que estão ali presentes, mas alguns são estranhos, pois são convidados dos seus parentes. Isto mesmo, uma mania de parente é convidar amigos deles para passar o fim-de-semana na sua casa de praia.

O almoço corre como o esperado, ou seja, você servindo a carne e todo resto comendo. A cerveja acaba e sua esposa lhe pede para ir comprar mais, você se nega e acontece a primeira briga do casal. Toda a parentada fica do lado de sua esposa. Afinal o insensível é você que não quer atender ao pedido dela.

Depois de muita discussão, finalmente vai buscar a cerveja (vários parentes vão junto, porém sem levar as carteiras de dinheiro). Note que eles não vão com você por serem bonzinhos, mas sim para impedir que compre alguma marca de cerveja vagabunda.

Chega a tarde, você pede para sua esposa lhe passar o bronzeador, mas ela lhe vira o rosto. Ainda está chateada com a história da cerveja. Principalmente depois de a parentada ter enchido a cabeça dela. Agora percebe que está sozinho, sua esposa passou para o lado do inimigo.

Quando resolve ir a praia, descobre que o seu bronzeador foi totalmente utilizado, que pegaram seus calções de banho e sumiram com suas toalhas. Até seus óculos de sol desapareceram.

Acaba indo de bermudão mesmo, sem nenhum protetor no corpo e sentindo o brilho do sol machucar seus olhos.

O tormento dura todo feriado. No último dia, ao final da tarde todos vão embora, deixando a casa toda suja e bagunçada para você ajeitar. Afinal a casa é sua e não eles. Você fica parado na frente do mar, todo queimado de sol, endividado, cansado, chateado, de mal com a patroa e o que é pior nesta situação toda, sem ter como dar o troco neles.

O melhor a fazer é vender a casa de praia e usar o dinheiro para viajar para outro estado, bem longe e de avião. Assim você finalmente terá férias de verdade e quem sabe até traga umas lembrancinhas, para que seus entes queridos morram de inveja.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

era o tempo - por jb vidal


era o tempo em que eu voava, de folha para árvore, sobre oceanos, rochedos, e os rochedos eram moles, era gelatina os mares, as árvores, eram de papel e o papel não se deixava escrever, a tinta só no mundo, na pata não, meus irmãos corriam, de uma sombra para outra, no solo, e o solo era de nuvens, brancas, e não faziam sombras, as sombras brincavam entre elas, e elas me assustavam quando caiam no precipício, de brincadeira, que susto, e o susto era bom e eu assustava também, e o também, também se repetia, e a repetição era voar no mesmo lugar, brincar na mesma nuvem, e as nuvens subiam e desciam, e descer era subir, subir no mais baixo possível, quando subiam, era descer no mais alto possível, e os que viviam nos mares andavam sobre fogo, e o fogo era bom, bom e frio, e o frio, bem não sei, nunca estive na gelatina, mas não era ruim, segundo sei, e saber era sentir, sentir era mudar de rumo, e o rumo voltava, e eu ia e voltava, quando voltava era outra paisagem, e a paisagem mudava e voltava, e eu ia só para a que mudava, e não era mais, mas não voltava, voltava voando para a frente, e para frente era atrás, e atrás não existia, existia o vento, e o vento era meu, e meu era de ninguém, mas era meu, e eu voava nele, e ele deixava, e eu dominava ele, ele sorria, e sorrir era também chorar, e chorava de alegria, e alegria era tristeza, e a tristeza era boa, porque era boa agente sofria, e sofrer era ruim, mas o ruim pode ser bom, e o bom pode ser mau, e o mau, não sei nunca fui mau, mas eu voava sobre o mau e o mal, e o mal não existia, como o bem também não, e o não era perfume, e o perfume, bem...o perfume...era eu, e eu era o próximo, e o próximo era todos, e todos brincavam, e brincar era trabalhar, e trabalhar era fazer, e fazer era destruir, e destruir era preto, e preto era verde, e verde não tinha cor, porque a cor era o nada, e o nada era branco e tudo, como esta folha de papel.

EWALDO SCHLEDER nos conta:




No dia 9 de janeiro, numa mesa do Kapelle, Bia nos disse, alto e bom som,
essa frase, um poema-síntese, o último que ouvi dela, depois
de comentar que alguma ginástica lhe faria bem:
- Não sou atleta, sou poeta.






NÃO SOU ATLETA,

SOU POETA.


(Bia de Luna)


provalvemente tenha sido este o último poema de Bia, pois ela entregou as moedas para o barqueiro no dia 13 de janeiro de 2008.

ULTRAPASSAGEM (para Bia de Luna- in memorian) - poema de walmor marcellino


“A janela com sua vista
pra fora é para dentro,
sem uma ida e uma volta
bastando o olhar atento.”
(Ehud Emin)
Inerme, à máscara definitiva
que fulgor agora alimenta?
]Bia, no escuro protegia
essa ânsia que alenta
o sopro, palavra-poesia.

Se estava viva, se ia morta
ela escondia, nos sinalizava
várias vidas atrás da porta
numa só máscara que engendrava.
Bia, em sua máscara dobradiça.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

MARILÚ, a penetradora - por frederico fullgraf



Vestiu uma blusa de fino algodão, decotada, mal domando seus dois frutos rijos, aprisionados, introduziu-se num tailleur justo, que lhe esculpiu as curvas saradas e – cúmulo da luxúria anunciada - carregou nos lábios aquele batom com a tonalidade da carne, concupiscente. E foi à luta, digo: ao quartel, oferecer os seus serviços. As preliminares remetem àquele filme peruano, cujo protagonista, o valente capitão, arrinconado nas profundezas da Amazônia, bota ordem na pornéia, profissionalizando a fornicação. É verdade que a floresta é a mesma, a soldadesca aquartelada ama zona, mas a Marilú que foi à guerra é colombiana. Compareceu como especialista em relações públicas e, arrebatados, os camaradas dispensaram o aborrecível currículo e as mentirosas referências escritas, convenceu-os sua... “apresentação de armas”.

Patente coruscante – olhar lúbrico, peito e bunda triunfantes –, “sus encantos hicieron que rapidamente se ganara la confianza de la superioridad”, resigna-se, nostálgico, um recruta, e logo a morena pousaria na foto de graduados coronéis e generais como a loura do pirata. Desaforada (cara-de-...pau aplica-se também à fêmea impudente?), infiltrou-se num curso de Inteligência da Escola de Guerra e a partir daí ascendeu até o cargo de vice-diretora de La Dorada, prisão de segurança máxima para narcotraficantes, paramilitares e “insurgentes” (Hugo Chávez), tropeçando em seus corredores com sumidades como Rodrigo Granda, o liberado “chanceler” das FARC. E jamais levantaram suspeitas, nem mesmo quando explodiu aquela bomba no estacionamento da Escola, cobrindo de estilhaços e terror o dia 19 de novembro de 2006. E sobreveio então aquele inusitado revide do exército, em meados de 2007: durante o enfrentamento, o azarão Carlos Antonio Lozada, chefe de uma coluna Brancaleone, perde sua agenda eletrônica e lá estava Marilú; com nome, endereço e telefone... Don Álvaro em pessoa anunciou o indiciamento de Marilú (sobrenome de paz Ramírez) por “terrorismo, rebelião e formação de quadrilha”. Matreiro, fê-lo apenas em novembro, quando já se armava a lona para o grande circo midiático de Villavizenzio, ponte aérea do resgate dos reféns das FARC, em cuja aritmética 1 + 1 = 3, pois Emmanuel, o filho bastardo da Colômbia, já estava sob a custódia do Estado desde 2005.

E enquanto do fundo da mata a choldra rebelde continuava atirando pedras em Lozada, o Estulto (cretino, mané, molongó, pacóvio!), os homens de Don Álvaro Uribe, o Durão, rastrearam sua agenda e ¡joder!: não é que reconheceram mais quatro atrevidas penetradoras? Obedeciam todas ao mesmo figurino: mulheres jovens e bonitas aproximam-se de uma guarnição militar. E da sentinela fraquejante, pelos tenentes baba-ovos aos coronéis mulherengos, a hierarquia implode e a penetração se consuma... É quando elas abrem o jogo, mas não o zíper, oferecendo aos repulsivos milicos serviços profissionais que não os horizontais, como relações públicas, jornalistas ou assistentes sociais; sem nunca esquecer no olhar lânguido, resvaladiço, uma janelinha sempre aberta para just in case...

Foi o caso da descolada, que durante vários meses chefiou a assessoria de imprensa de uma importante unidade militar em Bogotá. Por razões óbvias os militares mantêm sua identidade em sigilo: inverteu-se o jogo, agora é ela a penetrada, bombardeada por perfurantes interrogatórios... Outra burlou os controles de segurança do aparatoso exército de Uribe, movido a US-Aid, e credenciou-se em cinco eventos de alto nível da Escola de Guerra em 2006. Num deles chegou a trocar olhares – “y quizás algo más” - com Don Álvaro, ninguém menos que o odioso presidente da República. “Odioso”: adjetivação apaixonada, pronunciada com ideológica convicção, mas como pensamento sob severa proibição – e se as traísse um imperdoável ato falho? Alarmadas e mais sortudas que a compañera Marilú, as quatro espiãs que vieram de cafarnaú escaparam para a noite fresca, antes que o fogo amigo lhes chamuscasse as serpejantes cadeiras. Já Marilú, dizem, trocou sua bandeira. Tudo agora é espera pelo trovador de uma salsa brejeira - a da potranca de Tróia, “que se fue con un milico”, a lendária Mata Hari guerrilheira...

Mas enganam-se, o ansioso leitor e a vexada leitora, ao presumirem segundas intenções do autor, já no título desta crônica sobre a farsesca e próspera guerrilha-mercante: “penetração” é linguagem politicamente incorreta e ordem superior do Capitão-Gancho Marulanda, o “Tiro Fijo” da farândola revisionista, hoje reles extorsionista: responder ao poder de fogo do inimigo com a arma milenar de mulheres fogosas, eis a tática. Porque a carne (de desafetos e afeiçoados também) é fraca e – intercursos à parte, “consentidos” por reféns – o campo de batalha não é convento de clarissas! Leitor tardio de Greene e Le Carré, baixou dez mandamentos para as aspirantes à missão: as introduzidas devem ser “chamativas, melosas e dicharacheras” (enfeitiçadoras) e usar, principalmente nos primeiros encontros, “roupa atrevida”. Uma última conferida diante do espelho e...¡penetración o muerte, venceremos!

Publicado pelo jornal El Tiempo, transcrito pela imprensa hispânica de todo o continente e, como sempre, hilariante estória ignorada pela ignávia e borrega “mídchia” brasileña, a impudica ordem do dia não deixa dúvidas: “Ali, em meio ao recrutamento de civis e das tentativas dos militares em mostrar sua melhor cara, pode então efetivar-se a intrusão”... – acorrentado Marx, vendado Freud, sorri a metáfora de guerrilha-pornô.

ALGUMAS HISTÓRIAS QUE "O CAÇADOR DE PIPAS" NÃO CONTA - por aurélio weissheimer



"O filme “Caçador de Pipas” apresenta um painel sobre a história recente do Afeganistão, a partir do relato sobre a amizade de dois meninos afegãos. Flutuando entre a imaginação e a história, o filme denuncia monstruosidades mas silencia sobre o papel de alguns dos pais dos monstros que devastaram o país".

O filme “O Caçador de Pipas”, dirigido por Marc Foster, tem o mérito de apresentar um painel sobre a cultura, as tradições e a vida no Afeganistão, a partir do relato sobre a amizade de dois meninos afegãos. É uma obra de ficção mesclada com uma tentativa de painel histórico sobre um período da história do país que compreende a queda da monarquia nos anos 70, a invasão dos soviéticos e a ascensão dos talibãs ao poder. É aí, em seu pano de fundo histórico, que os méritos definham e os problemas florescem. O filme é uma adaptação do best-seller do médico Khaled Hosseini, nascido em 1965 em Cabul e que vive nos Estados Unidos desde 1980. O livro foi escrito inteiramente na Califórnia. Hosseini só voltou ao Afeganistão depois do livro ter sido lançado, 27 anos após ter deixado o país. Essa distância espacial e temporal ajuda a entender as omissões históricas e a visão generosa do autor com o papel dos EUA na destruição de sua terra natal.Quando visitou o país, após a publicação de seu livro, Hosseini ficou chocado. “Infelizmente, o que vi por lá era pior do que aquilo que imaginei e narrei. A destruição do país é impressionante, muito triste”, declarou em entrevista à revista Época. No livro (e no filme), o escritor é grato pela acolhida que teve nos EUA. Ao imaginar como poderia ter sido a vida do personagem Hassan, caso tivesse conseguido fugir para a América, escreve que o amigo estaria vivendo em um país “onde ninguém se importa com o fato de ele ser um hazara”. Essa visão, escancarada em todo o filme, mostra os soviéticos e os talibãs como seres monstruosos e pervertidos sexualmente, mas omite alguns “detalhes” históricos relacionados ao papel que os EUA tiveram no fortalecimento dos talibãs e na sua chegada ao poder. Assim como ocorreu com Saddam Hussein no Iraque (contra o Irã), os talibãs também foram aliados dos EUA (na luta contra os soviéticos). O civilizado e laico Ocidente foi cúmplice direto dos terríveis crimes cometidos pelos talibãs.
Guerra pela civilização?
Se Hosseini não tivesse escrito o livro inteiramente na Califórnia, baseado apenas em sua memória e imaginação, talvez tivesse produzido um relato um pouco mais equilibrado historicamente. Ao final do filme, o que fica, do ponto de vista histórico, é o seguinte: a selvageria soviética e talibã, de um lado, e o papel salvador e civilizatório do Ocidente, do outro. Nenhuma referência sobre como países como EUA e Inglaterra – e seus aliados na região, como Paquistão e Arábia Saudita - contribuíram decisivamente para tornar o país um monte de ruínas. Alguém poderá objetar que não se pode cobrar do autor o relato sobre fatos que não presenciou. Objeção discutível. Mas, mesmo que a tomemos como razoável, isso não elimina o problema de que o pano de fundo histórico que caracteriza o filme é repleto de omissões, buracos e deformidades. Mesmo quem tenha gostado do livro e do filme, portanto, não sairá perdendo com algumas informações.Em seu filme “Fahrenheit 9/11”, Michael Moore expôs as ligações entre a família Bush, empresas petrolíferas do Texas, a Halliburton, a Enron e os talibãs para a construção de um gasoduto que partiria do Turcomenistão, seguindo através do Afeganistão e chegando ao Paquistão. Mostrou também que, quando era governador do Texas, Bush chegou a receber uma visita de autoridades afegãs do Talibã para tratar de negócios. Depois da guerra contra o Afeganistão, após os atentados de 11 de setembro, o projeto do gasoduto foi entregue a Halliburton, empresa que tem entre seus executivos o atual vice-presidente dos EUA, Dick Cheney. Todos esses fatos já são bem conhecidos. Mas a obra de Moore não é o melhor relato sobre como os EUA ajudaram os talibãs chegar ao poder e sobre como, durante um bom tempo, silenciaram sobre as atrocidades que estavam sendo cometidos no país. Silêncio e cumplicidade justificados pela geopolítica e por interesses econômicos.
Um pedido de moderação aos talibãs
Na página da embaixada dos EUA do Brasil, há um interessante material na seção “Resposta ao Terrorismo – Programas Internacionais de Informação”, sobre a situação das mulheres no Afeganistão durante o regime talibã. Lá, podemos ler o seguinte: “Antes dos acontecimentos de 11 de setembro de 2001, oficiais dos EUA opunham-se à subjugação das mulheres pelo Talibã através de reuniões com talibãs para pedir moderação, além de trabalhar com outros países, tanto bilateralmente quanto multilateralmente, para refrear os excessos do Talibã”. Não há porém nenhuma referência sobre como foi asfaltado o caminho para que os excessos do Talibã chocassem o mundo.Uma boa fonte para preencher essa lacuna é o livro “A grande guerra pela civilização – A conquista do Oriente Médio”, do jornalista inglês Robert Fisk, que passou os últimos 29 anos cobrindo as guerras no Oriente Médio.Em seu livro de quase 1.500 páginas, publicado no Brasil pela Editora Planeta, Fisk conta algumas histórias que o caçador de pipas não conta. Vejamos algumas delas:“Os sauditas e os paquistaneses ajudaram, por encargo dos EUA, a armar as milícias do Afeganistão contra a União Soviética, e depois – enojados pelas disputas entre os vencedores – apoiaram o exército de clérigos camponeses iluminados do mula Omar Wahhabi o Talibã. A Arábia Saudita havia investido milhões de dólares nas madraçais - escolas religiosas – do Paquistão ao longo de todo o conflito afegão soviético, e o Talibã era um produto genuíno do wahabismo, a fé estatal muçulmana, estrita e pseudo-reformista da Arábia Saudita.
“E o Paquistão? Ao juntar-se à “guerra contra o terror” promovida pelos Estados Unidos, o general Musharra conseguira de fato a aceitação internacional do golpe de Estado que perpetrou em 1999. De repente, tudo o que havia desejado – a suspensão das sanções, grandes investimentos para a cambaleante indústria paquistanesa, empréstimos do FMI, uma renegociação da dívida de 375 milhões de dólares e ajuda humanitária – foi concedido. Evidentemente, tivemos que esquecer também que foram unidades dos Interserviços de Inteligência do Paquistão – o escalão mais alto das agências de segurança do país – que ergueram o talibã, fizeram entrar armas no Afeganistão e ficaram ricas com o tráfico de drogas. Desde a invasão soviética do Afeganistão em 1979, o ISI havia trabalhado junto com a CIA, financiando os mulas do talibã, mais tarde condenados como arquitetos do terror mundial”.“Depois do 11 de setembro os EUA, incapazes de conseguir a rendição do Talibã por meio de bombardeios, tentaram ficar bem com os assassinos e estupradores da Aliança do Norte, responsável por mais de 80% da exportação de drogas (heroína, principalmente) do país, após a proibição talibã do cultivo. De 1992 a 1996, a Aliança do Norte foi um símbolo de carnificinas, estupros sistemáticos e pilhagem. Por esse motivo, nós – e incluo o Departamento do Estado dos EUA – demos boas vindas ao talibã quando chegou a Kabul”.“Após o 11 de setembro bombardeamos povoados afegãos até transformá-los em um monte de ruínas, junto com seus habitantes e culpamos o Talibã e Bin Laden pela carnificina.. Depois permitimos que nossa desapiedada milícia aliada executasse seus prisioneiros.
O presidente George W Bush assinou uma lei que aprovou a criação de uma série de tribunais militares seretos para julgar e depois eliminar todo aquele que fosse um “assassino terrorista” aos olhos dos serviços de inteligência”.Há muitos outros relatos sobre esses temas. A fonte de Fisk não é a imaginação, mas a experiência direta. Ele viu e presenciou in loco o que relata. A obra de Hosseini é uma ficção, é certo, devendo ser avaliada com outros critérios. No entanto, tem pretensões históricas que acabam produzindo um cenário esburacado. Não seria tão grave se, ao sair do cinema, não ouvíssemos frases do tipo: “não dá para defender esses muçulmanos, que povo bárbaro”.
Aí a imaginação do Caçador de Pipas presta um desserviço à verdade e à justiça.

GÊNESIS e outras histórias - por artur de carvalho



- A verdade é que a humanidade não tem jeito mesmo, deve ser um defeito genético!
- É verdade, é verdade...
- Veja só esse negócio do Abel.
- Abel? Que Abel?
- O Abel, aquele que matou Caim.
- Ah, sei... mas não foi o Caim que matou o Abel?
- Hum, pode ser, mas isso não importa. O que eu estou querendo dizer é o seguinte. Veja bem. Naquele tempo do Caim e do Abel tinha só quatro pessoas no mundo, certo?
- Quatro?
- É, ué. O Abel, o Caim e os pais deles, o Adão e a Eva.
- Ah é, o Adão e a Eva, eu tinha esquecido deles.
- Pois então. Quatro pessoas no mundo. E o que é que acontece? Um deles mata o outro. O que quer dizer que naquele tempo, um quarto da humanidade era composto de assassinos.
- Um terço.
- Como assim, um terço?
- Um terço, ué. Um deles não morreu? Ficaram só três.
- Puxa vida. É mesmo! Um terço! O que só vem reforçar ainda mais a minha tese. Como é que uma espécie pode dar certo se ela já começou com um terço de assassinos fratricidas e...
- Frati o quê?
- Fratricida. O cara que mata o próprio irmão.
- Ah.
- Pois então, se a humanidade já começou com um terço de fratricidas, como é que podia dar certo? Não podia. A coisa vem da genética mesmo. Pra você ter uma idéia, é a mesma coisa de, hoje em dia, dos seis bilhões de habitantes que a Terra tem, dois bilhões deles serem assassinos! Já pensou numa coisa dessas? Dois bilhões de assassinos andando por aí, prontos para matar até o próprio irmão?
- Já imaginou só que coisa horrível?
- Pois não precisa imaginar nada. Olha só aí em volta e vê a porcaria que está. E é tudo por causa desse negócio do Caim matar o Abel. O ser humano já nasceu estragado. Todos nós temos no sangue o DNA de um assassino!
- E isso sem contar outras coisas.
- Que coisas?
- O Caim, ele teve filho com quem?
- O Caim? Bem, sei lá, com uma mulher, evidentemente.
- E qual era a única mulher que estava ali, disponível no momento?
- Minha nossa senhora! A Eva! Rapaz, a coisa é ainda pior do que eu imaginei!
- É verdade, é verdade...
desenho do autor.

NOS QUINTAIS DE SOL DA MINHA VIDA - poema de nelson padrella

Nos quintais de sol da minha vida
existem frutas e pássaros. Sobre flores
voam borboletas e besouros.
As pessoas estão além da cerca
e nenhuma ameaça me ameaça.
No rio de trás da minha casa
- que nem rio é, mais um regato -
crianças como eu brincam na água.
Sei que a tarde levará embora o sol
as aves se aquietarão nas árvores
o silêncio dará a mão ao véu da noite.
Nesse momento eu rio porque estou vivo
nos quintais de sol da minha vida

POEMA - de joanna andrade

A musica, os ouvidos e EU,
Sutil passadas de veludo,
Corre repentina, sem sentido,
Desenterra VOCE.
Imagem intocável, virtual,
Minha vida nesse momento,
Infindável, iluminada.
Musica não pare,
Se parar,
Quero voltar a sonhar de novo,
Eu quero, eu quero.
Fazer o que puder até,
Não agüentar mais, até,
Esgotar.
O sorriso, o choro, as brincadeiras, as noites e os dias, as viagens, a beira da estrada, os limites, as diferenças,
Eu e Você e
O sapato perdido no telhado, a garagem, a escada, o terraço, a chuva, a dança toda, as roupas rasgadas, os gritos.....
Blank! Blank! Blank!

O PASMO NA CASCA DE UMA PEDRA - poema de darlan m. cunha

Se algum legista quebra as pernas
de um acordo tácito, e a mulher combina
um novo par
de brincos com um sutiã

de seda
chinesa, ou cetim paraguaio, novinho
igual a tudo o que a vida leva de tanta gente ainda

no berço, não te desesperes
tanto, não,
que a vida vive com poemas duros feito peroba
ou aroeira, de dentro deles saltam
ariranhas e araras, dunas

foram pedras, e com quebras
de linha é que o artista quebra as curvas
do modelo, tentando aplacar as ondas do mar que dentro dele se quebram

e o quebra.

DOIS MONOLÓGOS E UM QUEBRA PAU de luis felipe leprevost

onde: CASA do DAMACENO na rua 13 de maio em frente ao colégio anjo da guarda.

domingo, 27 de janeiro de 2008

FÚRIA (1)

só se deve ler livros escritos há mais de cem anos.


jorge luis borges

RETTA no SESC da ÁGUA VERDE (Curitiba)



de 28 a 31 de janeiro das 13:00 as 17:00, no SESC água verde ao lado do angeloni.

REVISTA "O CRUZEIRO" de 10 DE NOVEMBRO DE 1928 - A ERA das FORÇAS HYDRAULICAS - reportagem

Anno 2000.


A população do Brasil attingiu 200 milhões de pessoas a precisarem de energia para as suas multiplas actividades: compreende-se como essa necessidade levou ao aproveitamento das forças hydraulicas. Lentamente, medrosamente, a principio, essa utilização de energia se foi, depois, aos poucos accelerando. No anno 2000 já estão longe os tempos em que ainda se importavam carvão e petroleo! Esses recursos primitivos, condemnados pelo progresso da technica, foram desapparecendo, passando a constituir apenas uma recordação historica.
Os 50 milhões de cavallos-vapor de energia hydro-electrica, utilizados no Brasil, no anno 2000, equivalendo ao trabalho mecanico de 600 milhões de homens, a população brasileira, do ponto de vista energetico, é então computavel em 800 milhões.

Nessas condições, não admira que sejam enfrentados e convenientemente resolvidos os problemas da producção. As questões nacionaes são, então, estudadas por gente competente, tendo acabado, ha muito, a influencia dos politicos profissionaes. A Natureza, dia a dia dominada, é cada vez mais perfeitamente aproveitada. A luta do homem para o progresso passou a ser travada especialmente nos laboratorios de pesquisa. Ahi é que perscrutam, pacientemente, os segredos da Natureza, e dahi é que saem os processos, cada vez mais aperfeiçoados, de dominio da energia cosmica. Como estamos longe dos tempos em que nem havia Universidade no Brasil, a nao ser umas instituições de fachada, formadas por escolas exclusivamente para ensino profissional, e onde a pesquisa scientifica não se podia fazer!

Todas as actividades industriaes foram avassaladas pela energia electrica. São as industrias electro-chimicas, num desdobramento maravilhoso; é a electro-metallurgia; é, ainda, a energia para tudo. As distancias desappareceram, por assim dizer, desde que se resolveu o problema de irradiação da energia.
Lembram-se todos como começou a ser resolvida essa questão. Foi, a principio, a radio-telephonia, logo seguida da radio-photographia. Pouco depois, irradiava-se energia pra fins industriaes, e os motores electricos com energia irradiada se installaram em todos os vehiculos: bondes, trens, automoveis, aeroplanos, navios; e em todas as fabricas; e em todos os logares onde a energia se faz precisa. O problema da distribuição da energia passou, desde então, a ser uma questão definitivamente resolvida.


Transformara-se, com isso, a vida, que Nietzsche affirmou ser, essencialmente, uma aspiração á maior somma de poder, numa vontade que permanece, intima e profunda, em todo ser vivo. A luta pela existencia, pelo poder, pela preponderancia, com a nova forma de distribuição de energia passara a ser uma luta pela posse da energia electrica.

A importancia dos povos se alterara, sendo regida a sua classificação pelo valor das reservas em forças hydraulicas.
É assim que o 1° lugar passara a ser da Africa, com os seus 190 milhões de cavallos-vapor hydro-electricos. Em 2° logar vinha a Asia, com 71 milhões. A America do Norte, com 62 milhões, ficara em 3° logar, e a America do Sul em 4° logar, com 60 milhoes de cavallos-vapor hydro-electricos, dos quase 50 cabendo ao Brasil.

A Europa, com 45 milhões de cavallos, ficara tendo atrás de si unicamente a Oceania, com 17 milhões.
Cabia agora o dominio aos povos que dispunham de maior somma de energia hydro-electrica. Passara o tempo do imperialismo do carvão e do petroleo, e chegara a era da energia electrica. Os 445 milhões de cavallos-vapor, em que se orçara a energia total das forças hydraulicas da Terra, passaram a regular decisivamente a importancia relativa das 5 partes do mundo.
Ainda ha, no anno 2000, philosophos a indagarem se o progresso existe, affirmando que o que interessa não é poder ser enviado o pensamento á volta da terra, em alguns segundos, mas sim saber se esse pensamento é melhor, mais profundamente humano, mais justo. A vida, em todo caso, mudou completamente.

Melhor? Peor? - É difficil sabe-lo. Mas, seguramente, é differente.

É a era da electricidade.


A differença entre a vida de então e a dos anteriores é alguma coisa como a differença hoje existente entre a vida dss grandes cidades e a do campo. O ambiente é outro. Outra é a organização da vida. Cada vez o homem se afasta mais da Natureza. Primeiro, liberta-se do dia e da noite. A luz artifical permitte-lhe a vida nocturna absolutamente igual á do dia; a luz solar não é mais reguladora dos habitos quotidianos. A vida em grandes aglomerações vae, aos poucos, deixando em todos os habitos a sua marca. As facilidades augmentam para tudo e os multiplos actos da vida se vão, lentamente mas constantemente, adaptando á nova ordem das coisas. O tempo se distribue de outro modo, e os affazeres são outros. Outros são, tambem, os divertimentos. Insensivelmente, as differenças se vão accentuando.

s viagens e os proprios passeios diminuiram muito, desde que, sem sair de casa, pode-se ver o que ha em qualquer parte da Terra: a televisão, juntada á telephonia, modificou radicalmente os habitos. Não ha necessidade de sair para fazer compras: vê-se, escolhe-se, encommenda-se tupo pelo telephone-televisor automatico. Não ha mais necessidade de viajar, para ver terras longinquas: é só ligar o receptor, e visita-se, commodamente, qualquer museu, ou qualquer paiz. Sómente os objectos devem ser transportados.

Na era da electricidade o rei dos metaes é o aluminio, retirado das argilas pela energia electrica.
O aluminio supplantou, com as suas ligas, o ferro, pesado demais e facilmente oxydavel, e ainda substitui o papel, tão facilmente deterioravel. De aluminio são os livros. É em folhas de aluminio que se escreve.

A era da electricidade se caracteriza, essencialmente, pelo emprego da electricidade em todas as formas de energia. Energia luminosa: tudo se iluminna electricamente. Energia chimica: tudo deriva da electricidade. Energia thermica: tudo se aquece ou se resfria pela electricidade. Energia mecanica: tudo se movimenta pela electricidade.


Servindo para tudo, a energia electrica passa a ser a nova moeda. O ouro e as suas representações são formas obsoletas de medir valores. A moeda, no anno 2000, é, tambem, a energia electrica. Pagam-se as compras em kilowatts. Paga-se o trabalho en kilowatts.
A revolução trazida é principalmente nos habitos. Continúa a haver desigualdades sociaes. Ha ricos, possuidores de milhões de killowatts-horas, remediados, que têm alguns milhares de unidades de energia; e pobres, que dispõem apenas de algumas unidades. É verdade que não ha mais fome, desde a adopção do trabalho obrigatorio minimo, nas usinas distribuidoras de energia.

Mas as questões sociaes continuam.

Muitos pretendem estender o dominio da actividade industrial do Estado. Parece-lhes insufficiente o monopolio governamental das usinas geradoras e distribuidoras de energia. Começou a questão a proposito da regularização do clima. Uma vez reservada para o Estado a faculdade de provocar as chuvas pela energia irradiada ás nuvens, determinando-lhes a condensação, pareceu a muitos que se deveriam ampliar ainda mais as horas de trabalho obrigatorio minimo, servir-se-ia melhor a colectividade minima do trabalho. Só haveria vantagens nisso.

Objectam, porém, alguns ser o caso das usinas de energia, evidentemente, especial. Da mesma forma, o da distribuição das chuvas, vantajosamente affecto ás autoridades, para beneficio geral.

A Repartição das Chuvas, dispondo de todo o serviço official de estatistica, e em connexão com os demais repartições do Ministerio da Agricultura, é uma organização que se resolveu dever ser do Estado.
Ampliar, porém, ainda mais os serviços governamentaes, numa socialização progressiva de todas as actividades, não merece as sympathias de um grupo numeroso. Já todos os homens e todas as mulheres, maiores de 18 annos, são obrigados a um serviço diario de 2 horas. Breve serão 3 horas.

Onde se irá para nesse caminho? Invocam-se contra as idéias de socialização os velhos principios da liberdade individual. A questão está, assim, longe de ser resolvida
. . . . .
Sonho? - Sim. Mas o sonho de hoje poderá ser, amanhã, realidade. Sabe-se lá até onde nos levará a evolução que hoje se processa tão acceleradamente? Como será a vida no anno 2000?

colaboração de mari frança . fonte: memória viva.

DIÁRIO DO PARAGUAI por emir sader

ELEIÇÕES no PARAGUAI


Aprendemos que na Guerra do Paraguai o Brasil se uniu à Argentina e ao Uruguai para tirar do poder um tirano. Mas Eduardo Galeano se pergunta: Que lição o Brasil, monárquico e escravista, tinha a dar ao Paraguai, republicano e sem escravidão?” O certo é que foram mortos na guerra 70% dos adultos do Paraguai, um país que, mediterrâneo, tinha um modelo econômico voltado para o mercado interno, fora dos circuitos de dominação da Inglaterra.

Hoje o Paraguai pode se somar à lista de governos progressistas da América Latina, elegendo ao ex-bispo Fernando Lugo como presidente. Terminada a longa ditadura de Stroessner – que viveu folgadamente seu exílio no Brasil, - em 1989, o Partido Colorado, que governa o Paraguai desde a década de 1940, tornando-se um verdadeiro partido-Estado, prolongou seu reinado, até que grandes mobilizações populares questionando seus métodos autocráticos de governo, erigiram a Lugo como lider oposicionista favorito a triunfar nas proximas eleições, de abril de 2008.

Tudo parece favorecê-lo: o apoio popular, o prestígio que possui, a crise do governo e do Partido Colorado dividido, o entorno regional. Lugo constituiu uma ampla aliança partidária, o que fez com que alguns movimentos sociais tomem distância em relação a ele, temendo que fique preso a compromissos com forças tradicionais, entre elas o maior partido opositor, o Partido Liberal.

O Partido Colorado está por decidir seu candidato. Pode ser uma ministra de Nicanor Duarte, atual presidente, ou o vice-presidente, Luis Alberto Castiglioni, o favorito, que renunciou recentemente, para poder se candidatar. Este é o mais significativo representante do neoliberalismo, com vínculos estreitos com o governo dos EUA.

Temeroso do favoritismo de Lugo, o governo introduziu uma nova manobra, libertando a Lino Oviedo, político tradicional, com prática conhecida de violência contra os movimentos populares, mas também implicado no assassinato do ex-vice presidente, Luis Argaña. Este é um dos três processos pelos quais Oviedo está condenado – um outro é por tentativa de golpe de Estado -, mas apelando das sentenças, está em liberdade, para tentar tirar votos de Lugo.

Lugo no elaborou ainda sua plataforma, mas certamente terá como uma de suas prioridades as negociações de um novo contrato de Itaipú, em que reivindicará simplesmente que o Brasil pague a preço de mercado a produção, revisando o acordo assinado pela ditadura militar brasileira com a ditadura de Stroessner. Apenas isto permitiria ao Paraguai receber pelo menos o dobro ou mais do que recebe com os acordos atuais.

O tema da reforma agrária deve ser central num eventual governo de Lugo, quando este se compromete a acabar com o latifúndio e critica a Lula pela lentidão na reforma agrária no Brasil. Ainda mais se o candidato do Partido Colorado for Castriglioni, Lugo tenderá mais claramente a desenvolver um discurso anti-neoliberal, pelo qual afirma optar.

Os riscos não são poucos: risco de campanha pesada e suja do governo e do Partido Colorado, incluindo tentativa de fraude eleitoral; risco de Lugo depender muito dos partidos tradicionais e fazer um governo amarrado por excessivos compromissos, inclusive pelas excessivas reticências de setores dos movimentos sociais em apoiá-lo resolutamente. Mas os riscos fazem parte da possiblidade de terminar com a ditadura do Partido Colorado. Nunca as condições internas e externas foram tão favoráveis.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

HOMENAGEM A BIA DE LUNA REÚNE DEZENAS DE ARTISTAS

não existem palavras para exprimir o que ocorreu na noite de homenagens a poeta BIA DE LUNA. simplesmente magnífico. todos os amigos da BIA, que se fizeram presentes, participaram com forte emoção e respeito por sentirem que ali, naquele momento, é que estavam REALMENTE dando um até breve, que não foi possível antes pelas razões que conhecemos. os poetas, homens e mulheres, que não conviveram com ela mas a conheciam por seus livros, MORFEU GARGALHA e CLIVAGENS ou pelo tratamento dado pelo PALAVRAS, TODAS PALAVRAS, ao seu desaparecimento, emocionavam-se ao ouvir os demais e subiam ao palco com palavras firmes de admiração e respeito. difícil descrever. os celulares tocavam. eram os amigos que não puderam estar presentes, solidarizando-se com o evento. que turma. que gente maravilhosa, esses artistas amigos da BIA. pelo palco das homenagens passaram o multimídia RETTA, a poeta MARILDA CONFORTIN, o promotor cultural MAURO, o poeta ELTER, o poeta MANOEL DE ANDRADE, a poeta BÁRBARA LIA, o poeta e compositor ALEXANDRE FRANÇA, o fotógrafo PAULO ROBERTO PEREIRA (Pablito), a poeta e escritora HELENA SUT, a amiga pessoal ELAINE, o poeta ALTAIR DE OLIVEIRA, o artista plástico ÁTTILA WENSERSKI, o poeta e pesquizador EDU HOFFMANN, o poeta e compositor LUIS FELIPE LEPREVOST, o amigo pessoal LUIS ALCEU (lulo) e este editor. as falações poéticas ocupavam os intervalos do conjunto do músico GUEGO. dezenas e dezenas de amigos presentes aplaudiam com ênfase a cada orador. não tenho notícia de algo semelhante por aqui. sem oficialismo. ainda bem! encontro da ARTE sem molduras oficiais ou sociais. uma homenagem póstuma com tal qualidade de presença. fantástico, inacreditável. recado aos "cérebros" que cultuam a elitização da arte, vazia de conteúdo, de beleza e de técnica.
nossos agradecimentos,
jb vidal
EDITOR
p.s. vejam algumas fotos que já chegaram do nosso amigo e fotógrafo pablito no "sala de visitas"

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

NO HERMES BAR, POETAS E ARTISTAS HOMENAGEIAM BIA DE LUNA.

hoje, 24/01/08 a partir das 21:00, poetas e artistas irão homenagear a poeta BIA DE LUNA no hermes bar (av. iguaçu, curitiba). estão todos convidados para dizerem, lerem poemas da poeta ou seus. este ato irá marcar, também, o lançamento do projeto "sarau BIA DE LUNA poesias e performances poéticas" que deverá acontecer, bimestralmente, em teatros e locais apropriados da cidade. os bardos brasileiros ou não estão, desde já, convidados. os interessados em participar deverão entrar em contato, por email, com este site cujo endereço encontra-se na coluna da esquerda. por ora, todos lá no hermes.

jb vidal
EDITOR

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

O BRASIL é o MEU PÚBLICO: MAZZAROPI entrevistado por armando salem para revista veja em 28/01/1970




De Jeca a Djeca, um sucesso de 25 anos, com os cinemas sempre lotados






Esta semana, mais um de seus filmes está sendo lançado nos cinemas de São Paulo para depois correr o Brasil. "Uma Pistola para Djeca". Produtor, ator, criador do personagem, ele é capaz de jurar que Djeca não vem de Django, o pistoleiro italiano: "Djeca é um herói caboclo do Brasil do século XIX". Ele é Amácio Mazzaropi, sucesso garantido em bilheteria, um homem que dá risadas das histórias contadas a respeito de sua fortuna. Mora numa casa classe média - três quartos, sala, banheiro, cozinha - num bairro classe média de São Paulo. Na garagem, um automóvel Galaxie amarelo, que Mazzaropi mesmo dirige, desmente uma das histórias: a do bilionário caipira que - charuto na boca, terno de linho branco trocado pelo chapéu-coco, chofer na direção de um magnífico Rolls-Royce - de vez em quando passeia nas ruas da cidade. Parece ser um homem simples, como os personagens que viveu durante 25 anos (completa o jubileu este ano) nas telas dos cinemas nacionais. Tem um pouco do "Zé do Periquito", do "Padre", do "Corinthiano".
Solteirão nascido na capital de São Paulo em 9 de abril de 1912, filho de um casal classe média, Dona Clara e Bernardo - um próspero dono de mercearia - iria crescer sem problemas financeiros mas com muita preguiça: mal conseguiu terminar o ginásio. Do avô Amácio Mazzaropi (imigrante italiano que foi trabalhar nas terras do Paraná) não herdou só o nome, mas o gosto pela vida do campo que o levou um dia a pesquisar no interior o personagem de calças curtas, canela aparecendo, botinas, fala arrastada - o caipira Mazzaropi.




DO CIRCO AO CINEMA, SEMPRE O MESMO PERSONAGEM




Veja - Qual é o seu público?

Mazzaropi - Meu público é o Brasil, do Oiapoque ao Chuí. Eu loto casa em São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Acre, Rondônia, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, ilha do Bananal...


Veja - Sim, mas como você definiria esse público: gente simples, classe baixa, elite, velho, moço?
Mazzaropi - É público bom, fiel.
Veja - Você não gosta de falar?
Mazzaropi - Não.


Veja - Por quê?
Mazzaropi - Porque deturpam tudo o que eu falo.
Veja - Quem deturpa?

Mazzaropi - A crítica. A imprensa.
Veja - E como se faz para contar quem é Mazzaropi e o que ele pretende fazer daqui para a frente?
Mazzaropi - Conte minha verdadeira história, a história de um cara que sempre acreditou no cinema nacional e que, mas cedo do que todos pensam, pode construir a indústria do cinema no Brasil. A história de um ator bom ou mau que sempre manteve cheios os cinemas. Que nunca dependeu do INC - Instituto Nacional do Cinema - para fazer um filme. Que nunca recebeu uma crítica construtiva da crítica cinematográfica especializada - crítica que se diz intelectual. Crítica que aplaude um cinema cheio de símbolos, enrolado, complicado, pretensioso, mas sem público. A história de um cara que pensa em fazer cinema apenas para divertir o público, por acreditar que cinema é diversão, e seus filmes nunca pretenderam mais do que isso. Enfim, a história de um cara que nunca deixou a peteca cair.
veja - Conte então sua história.

Mazzaropi - Quando eu comecei minha vida artística, muito pouca gente que vai ler esta história existia. Nasci em 1912, e na época em que comecei tinha uns quinze anos. Naquele tempo, o gênero de peças que fazia sucesso no teatro era caipira. E, como todo mundo, eu gostava de assisti-las. Dois atores, em particular, me fascinavam. Genésio e Sebastião de Arruda. Sebastião mais que Genésio, que era um pouco caricato demais para meu gosto. Nem sei bem por que, de repente, lá tava eu trabalhando no teatro. Mas não como ator - eu pintava cenários. Aliás, eu amava a pintura, sempre amei a pintura. Pois bem, um belo dia "perdi" o pincel e resolvi seguir a carreira de ator. No começo procurei copiar a naturalidade do Sebastião, depois fui para o interior criar meu próprio tipo: caboclão bastante natural (na roupa, no andar, na fala). Um simples caboclo entre os milhões que vivem no interior brasileiro. Saí pro interior um pouco Sebastião, voltei Mazzaropi. Não mudei o nome (embora tivessem cansado de me aconselhar a mudá-lo) por acreditar não haver mal nenhum naquilo que eu ia fazer. Os amigos diziam que Mazzaropi não era nome de caipira, que era nome de italiano, mas eu respondia para eles que, se não era, iria virar. Que eu não tinha vergonha do que ia fazer e, por isso, ia fazer com meu nome. E o público gostou do meu nome, gostou do que eu fiz. Turnês em circos, teatros, recitando monólogos dramáticos, fazendo a platéia rir, chorar. Mas sempre com uma preocupação: conversar com o público como se fosse um deles. Ganhava 25 mil-réis por apresentação quando comecei, passei a ganhar bem mais quando montei a minha própria companhia (1). De nada adiantou a preocupação dos meus pais quando eu saí de casa: "quem faz teatro morre de fome em cima do palco". Eu fiz e não morri, pelo contrário, sempre tive sorte - sempre ganhei dinheiro. Mas eu era bom, era o que o público queria. Em 1946 assinava um contrato na Rádio Tupi - onde fiquei oito anos. Em 1950 ia para o Rio de Janeiro inaugurar o canal 6, e começava minha vida na televisão (2). Um dia, num bar que havia pegado ao Teatro Brasileiro de Comédia, entrou Abílio Pereira de Almeida. A televisão estava ligada, o programa era o meu. Ele me viu. Uma semana depois, uma série de testes me aprovava para fazer o meu primeiro filme: "Sai da Frente". Meu primeiro salário no cinema - 15 contos por mês. No segundo já ganhava 30, depois 300, hoje eu produzo meus próprios filmes. E o público, como no meu tempo de circo, vai ver um Mazzaropi que faz rir e chorar. Um Mazzaropi que não muda.


A MÁGOA DE MAZZAROPI: UMA CRÍTICA QUE SÓ PENSA EM DINHEIRO




Veja - Sua história parece girar em torno de cifras. Você é louco por dinheiro?

Mazzaropi - Não, acho que dinheiro não traz felicidade na vida. Tá certo que ajuda, mas, em compensação, quem tem, além de viver intranquilo, passa a ter desconfiança em vários setores da vida. Quem tem dinheiro sempre duvida de quem se aproxima - não sabe se é um amigo ou se vem dar uma bicada.
Veja - Quanto você ganha?

Mazzaropi - Mas por que vocês se preocupam tanto com o que eu ganho? Vão perguntar pro Pelé, que marcou mil gols. Ele é muito mais rico que eu. Tudo que tenho em meu nome é a casa onde moro. O resto está tudo em nome da Pam-Filmes.
Veja - Tem sócio?

Mazzaropi - Não, não tenho. Tenho o necessário para pensar em fazer amanhã ou depois a indústria cinematográfica de que falei. Tenho câmeras de filmar, holofotes, lâmpadas, cavalos, cenários, agências em São Paulo, Rio, Norte do país, e uma fazenda de 184 alqueires no Vale do Paraíba - Taubaté - que serve perfeitamente de estúdio para os filmes que rodo. Como vê, tudo que ganho é aplicado na Pam-Filmes, no cinema brasileiro. E depois vêm esses críticos de cinema metidos a intelectuais dizendo: "O Mazzaropi tá cheio de dinheiro. Ele tá podre de rico. Não sabe onde pôr o dinheiro". Não são capazes de entender que eu faço cinema como indústria. E o cinema é uma indústria como qualquer outra. Eu faço o cinema-indústria e vou fazer a indústria brasileira de cinema.
Veja - Acredita mesmo nisso?

Mazzaropi - Acredito e não estou longe dela. Não uma indústria exportadora. Não sou visionário. Uma indústria que seja capaz de suprir o mercado interno de filmes é o suficiente. Não podemos pensar em conquistar o mercado externo - nós não temos nem lâmpadas aqui. Tudo que temos vem de lá. Mas, se nós pudermos ter uma indústria produzindo fitas nacionais, se nossas salas ficassem ocupadas por fitas nacionais, quanto dinheiro nós estaríamos evitando de mandar para fora!
Veja - É um sonho muito bonito. Mas há público no Brasil para fitas nacionais? Ou seria a falência dos exibidores?

Mazzaropi - Não posso falar pelos outros porque não conheço os resultados dos números daquilo que eles fazem. Tenho muita vaidade em dizer que eu não tenho nenhum problema de exibição de meus filmes. Os exibidores fazem fila na porta da Pam-Filmes. O público vai ver minhas fitas e sai satisfeito. Eu já consegui colocar 13000 pessoas num dia, nas várias sessões do Art Palácio, em São Paulo. Com isso, ando de cabeça erguida. Agora, pelo outro tipo de filme feito no Brasil, não respondo. Não sei se ele pode ajudar a indústria cinematográfica nacional.
Veja - Que outro tipo de filme?

Mazzaropi - Esse tal de Cinema Novo.
Veja - Você é contra o Cinema Novo?

Mazzaropi - Não, eu não tenho nada contra ele. Só acho que a gente tem que se decidir: ou faz fita para agradar os intelectuais (uma minoria que não lota uma fileira de poltronas de cinema) ou faz para o público que vai ao cinema em busca de emoções diferentes. O público é simples, ele quer rir, chorar, viver minutos de suspense. Não adianta tentar dar a ele um punhado de absurdos: no lugar da boca põe o olho, no lugar do olho põe a boca. Isso é para agradar intelectual.
Veja - Você parece ter muito raiva dos intelectuais.

Mazzaropi - E tenho mesmo. É fácil um fulano sentar numa máquina e escrever: "Hoje estréia mais um filme de Mazzaropi. Não precisam ir ver, é mais uma bela porcaria". Mas não explicam por quê. Talvez com raiva pelo fato de eu ganhar dinheiro, talvez por acreditarem que faço as fitas só para ganhar dinheiro. Mas não é verdade, porque o maior de todos os juízes fugiria dos cinemas se isso fosse verdade - o público.
Veja - O que você acredita oferecer para o seu público?

Mazzaropi - Distração em forma de otimismo. Eu represento os personagens da vida real. Não importa se um motorista de praça, um torcedor de futebol ou um padre. É tudo gente que vive o dia-a-dia ao lado da minha platéia. Eu documento muito mais a realidade do que construo. Quando eu falo tanto na parte comercial, não quer dizer que é só com isso que eu me preocupo. Se um crítico viesse a mim fazer uma crítica construtiva, mostrar uma forma melhor de eu ajudar o público - eu aceitaria e o receberia de braços abertos. Mas em momento nenhum aceitaria que ele tentasse mudar minha forma de fazer fitas. Elas continuariam as mesmas, pois é assim que o público gosta e é assim que eu ganho dinheiro para amanhã ou depois aplicar mais na indústria brasileira do cinema. E se os críticos se preocupassem menos com o que eu ganho e mais com as salas vazias do Cinema Novo entenderiam que cinema sem dinheiro não adianta. Que não adianta a gente começar pondo o carro adiante dos bois.
Veja - Quanto rendem seus filmes

Mazzaropi - A resposta só pode ser dada pela contabilidade do escritório da Pam. É lá que eu confiro os balanços. De cabeça só tenho as cifras da renda total do filme que exibi no ano passado: "O Paraíso das Solteironas". Do dia da estréia, 24 de janeiro de 1969, até 19 de janeiro de 1970, o filme rendeu 2 bilhões e 650 milhões de cruzeiros velhos.
Veja - Quanto custou a produção?

Mazzaropi - Não me lembro.
Veja - E a do último?

Mazzaropi - "Uma Pistola para Djeca" ficou entre 500 e 600 milhões de cruzeiros velhos. É o meu filme mais caro e mais bem cuidado. Colorido especial, guarda-roupa especialmente feito para o filme, que está, realmente, muito bonito. Procuro sempre melhorar a qualidade técnica dos filmes que produzo. É este o algo mais que eu procuro dar ao público. Infelizmente, o que falta no Brasil é gente inteligente, que entenda de cinema. Faltam diretores, roteiristas, cinegrafistas, falta tudo.
veja - Dos papéis que já representou, qual o mais importante?

Mazzaropi - Gostei de todos os filmes que fiz, por isso é difícil dizer qual o papel que mais me realizou.


Veja - Não teria sido "Nadando em Dinheiro"?

Mazzaropi - Quem sabe! Não é verdade, é brincadeira. Gostei do Candinho, do Motorista, do Corintiano, gostei mesmo de todos. Mas talvez eu fique com a opinião do presidente da Academia Brasileira de Letras, que, no dia 17 de janeiro de 1968, escrevia e assinava um bilhete dirigido a mim (eu o guardo até hoje num quadro sobre a lareira de minha sala): "Astraugesilo de Ataide considera que, com "Jeca Tatu e a Freira" Mazzaropi alcançou no cinema o mais alto nível de sua arte. É hoje, sem nenhum favor, um artista de categoria mundial".




A FAVOR DO PALAVRÃO MAS CONTRA OS EXAGEROS DO SEXO

Veja - Você contou ter entrado no teatro através da pintura. Até hoje você pinta?

Mazzaropi - Não, apenas gosto.
Veja - Que gênero prefere?

Mazzaropi - Sou um conservador, prefiro a pintura clássica. Principalmente dos quadros que têm paisagem, talvez por me fazerem lembrar o campo, o contato com a natureza.
Veja - E quanto a leitura?

Mazzaropi - Só leio "Tio Patinhas".
Veja - Sente saudade do teatro?

Mazzaropi - Oh, se sinto. Mas de vez em quando dá pra matá-la. Faço alguns shows beneficentes em circos e teatros do interior.
Veja - Representando coisa séria? Ou vivendo o caipira Mazzaropi?

Mazzaropi - É muito difícil separar um do outro. Eu já fiz teatro sério: interpretei "Deus lhe Pague" e "Anastácio", de Juracy Camargo; "Era uma vez um Vagabundo", do Wanderlei, e várias peças do Oduvaldo Viana. Em todas elas eu sempre fui Mazzaropi. Não interessa se fazia o público rir ou chorar. Ele sempre estava vendo o Mazzaropi, pois eu não posso mudar meu jeito de rir, falar, olhar.
Veja - Você vai muito ao teatro?

Mazzaropi - Sim, bastante.
Veja - O que pensa do novo teatro, do palavrão, do nu?

Mazzaropi - Não tenho nada contra ele. Pelo contrário, até gosto das peças que têm nu, palavrão, mas quando eles vêm por necessidade, por decorrência da própria história. Não do palavrão, do nu forçados. De um punhado de gente pelada se esfregando maliciosamente pelas paredes do teatro; do sensacionalismo para ganhar público. No início, eles vão conseguir encher os teatros - é certo. Mas e depois, este público volta? Não, claro que não volta. Nem a minoria que vai ao teatro consegue agüentar ficar vendo gente pelada e ouvindo palavrões o tempo inteiro. Calculem a população de São Paulo e façam uma relação do número de teatros que nós temos e vejam quantos estão cheios. Vejam quantos lugares têm esses teatros - e verão que a freqüência é mínima. O grande público fica em casa. Aceita Chacrinha, Sílvio Santos, Hebe Camargo, vê televisão. Vai ao cinema ver os meus filmes e depois eu passeio pelas ruas e ouço um pai de família: "Mazzaropi, seus filmes são ótimos. A gente pode levar a família para assisti-los". Já imaginaram se eu aparecesse pelado para esse público? Ele nunca mais iria me assistir no cinema.
Veja - Você falou na aceitação da televisão. Por que não volta a fazer?

Mazzaropi - Já tenho muito trabalho com a Pam-Filmes. Faço um filme por ano - mas ele dá um trabalho! Cinco meses de preparação de roteiro, cenários, etc. Dois meses para filmar. O resto é problema de distribuição. Não dá para fazer mais nada. E não estou mais na idade de ter patrão. Tenho meu negócio, trabalho a hora que quero. Não dou satisfação a ninguém. Na TV eu iria ter patrão.
Veja - Mas você gosta de televisão?

Mazzaropi - Oh, se gosto. Assisto sempre. Tudo que consegue se comunicar com o público me fascina. Gosto do Sílvio Santos e da Hebe, principalmente. Eles vieram do nada como eu. Ganham dinheiro para divertir o público, e divertem. Não adianta nada a crítica chamar a Hebe de burra. Ela nunca disse para ninguém que era professora. Não adianta dizer que ela só fala bobagens - o público gosta do que ela fala. E quem manda é o público.
Veja - Tem planos para o futuro?

Mazzaropi - Sim, continuar fazendo filmes até morrer - é a única coisa que sei fazer na vida. Quero morrer vendo uma porção de gente rindo em volta de mim.




Observações do Museu Mazzaropi




(1) Após realizar seu último filme pela Cinedistri, Chico Fumaça, de 1956, Mazzaropi já era famoso no cinema nacional e resolveu que estava na hora de investir em si mesmo. Isso porque via as grandes filas no cinema e eram, geralmente, os donos das produtoras que sempre ganhavam muito dinheiro.
O sucesso de Chico Fumaça fez com que Mazzaropi comentasse com sua mãe, Dona Clara, que o proprietário da companhia Cinedistri, sr. Massaini, ganhara muito dinheiro com o sucesso dos filmes em que ele participara e pediu para que ela o apoiasse num investimento que pretendia fazer.
Ele queria produzir um filme, mas para levar seu projeto adiante não hesitou em se desfazer dos seus bens: dois carros Chevrolet americanos, terrenos, economias bancárias e perguntou ao seu filho de criação, Péricles Moreira, se fosse necessário, se ele não se importaria em trocar o colégio particular por um colégio estadual. Mazzaropi ficou apenas com o terreno do Itaim Bibi.
Em 1958, consegue produzir seu primeiro filme, Chofer de Praça. Não foi fácil, no início teve que alugar os estúdios da Cia Vera Cruz para as gravações internas e as filmagens externas foram rodadas na cidade de São Paulo com os equipamentos alugados da Vera Cruz. Estava inaugurada a PAM Filmes - Produções Amácio Mazzaropi.

(2) Na verdade, em setembro de 1950, Mazzaropi, com 38 anos, estreava na TV Tupi de São Paulo o mesmo show que tinha sido sucesso durante muito tempo na Rádio Tupi: Rancho Alegre - o programa era ao vivo, todas as quartas, às 21 horas.
Quatro meses depois, janeiro de 1951, Mazzaropi é convidado para a inauguração da TV Tupi no Rio de Janeiro. No alto do Pão de Açúcar, onde se achava instalada a torre transmissora, acontece a grande festa com a presença do Presidente, General Eurico Gaspar Dutra.
A apresentação do show inaugural coube a Luis Jatobá, primeiro locutor da Tupi carioca.
Mazzaropi também passou pela TV Excelsior fazendo parte de um programa de sucesso na época, apresentado por Bibi Ferreira, Brasil 63.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

VERÃO com RELÂMPAGOS e MACACOS - conto de tonicato miranda

(Breve conto escrito num celular entre Joinville e Curitiba)


Quanto mais o ônibus se aproximava da morraria, mais intensos os clarões dos relâmpagos.
E eles pulsavam no breu da noite, sem aviso, sem ritmo ou compasso. Impossível adivinhar o intervalo entre o último e o próximo – este que já caiu. E eles continuaram riscando a anágua preta da noite, lá longe, no sopé da montanha.

De súbito, um estrondo. O raio rompeu a janela do ônibus deixando passar a chuva de granizo e uma pedra caída sobre a poltrona, felizmente vazia, ao lado do homem. Enrolada nela um papel amarfanhado e agora mais molhado ainda com a chuva que passava pelo buraco na vidraça. Mesmo assim era possível ler a grafia borrada, em azul:

__ Se não me amas, por que não me esqueces?

Ficou o homem pensando, curvas e curvas estrada afora, até que num impulso louco se atirou pelo buraco da janela, no exato momento em que o ônibus passava sobre uma ponte, vindo a cair no vazio.

Três macacos se assustaram com aquele turbilhão de estrondos, e muitos galhos crepitando como se fora um incêndio violento e não um aguaceiro que já caia há algum tempo. Depois de galhos e folhagens que primeiro chegaram ao solo, chegou o corpo do homem.

Depois de alguns segundos de desconfiança, os macacos se aproximaram e foram tentando cheirar o corpo, com seus focinhos compridos, mexendo nos braços do homem para se certificar se ainda estava vivo. Ao constatar estarem definitivamente diante de um morto, começaram com dentes ágeis a dilacerar o corpo do homem.

Não demorou cinco dentadas para que a macaca grunhisse para o macaco mais velho, afirmando: Gruuuhhhh!!!! Argruunnnnhh asfgrgrggr!!! (e que rapidamente pudemos traduzir em – "seres humanos apaixonados têm melhores gosto e fragrância").

BANHO de LÍNGUA, OPS! - por edu hoffmann

As palavras têm mistérios e são cheias de sutis complexidades. Todo homem é um animal etimologista, o que significa que as pessoas apresentam um interesse natural por conhecer a origem das palavras que usam no cotidiano. Carlos Drumond de Andrade: “lutar com palavras / é luta mais vã / entanto lutamos / mal rompe a manhã “.

Para melhor sabermos do significado das palavras da nossa língua, pincei alguns exemplos de três livros: De Onde Vêm as Palavras – Frases e Curiosidades da Língua Portuguesa, de Deonísio da Silva, Editora Mandarim; A Origem Curiosa das Palavras,de Márcio Bueno, Editora José Olympio , e finalmente A Casa da Mãe Joana – Curiosidades nas origens das palavras, frases e marcas, de Reinaldo Pimenta, Editora Campus.


Do livro De Onde Vêm as Palavras:

Assassino: do árabe ashohashin, bebedores de haxixe. Durante as cruzadas, integrantes de uma seita, embriagados dessa droga, matavam a quem seu chefe lhes indicasse. Por isso, passou a significar homicida.

Conchavo: do latim conclave, designando qualquer das dependências da casa que se fecham com uma só chave, como o quarto, a alcova, a sala. Passou a denominar acordos porque estes são feitos em recintos fechados, ainda que depois sejam discutidos também em lugares públicos, como acontece com as combinações políticas.

Faísca: do alemão antigo falaviska, em cruzamento com o latim favilla, ambos significando fogo pequeno. Por isso, alguns pesquisadores viram neste vocábulo a origem de favela: vistas de longe, as luzes dos barracos eram foguinhos. Entretanto, há controvérsias, pois o amontoado das toscas construções poderia ter esse nome devido à forma de favo, lembrando uma abelheira.

Ficção: Do latim fictione, declinação de fictio, de fingire, fingir, modelar, inventar. A ficção literária, em prosa ou poesia, é um faz-de-conta com a realidade, um fingimento que cria paradoxalmente, uma outra realidade, tal como aparecem nos famosos versos de Fernando Pessoa: “O poeta é um fingidor / finge tão completamente / que chega a fingir que é dor / a dor que deveras sente”.


Do livro A Origem Curiosa das Palavras:

Banguela: Desdentado, indivíduo cuja arcada dentária é falha na frente. A origem do nome é a cidade de Benguela, situada na baía de Santo Antonio, em Angola. A população negra dessa região tinha o costume de limar os dentes incisivos das crianças O estrago era grande, pois os incisivos são os oito dentes da frente, que ficam entre os caninos. O termo é usado também na expressão “na banguela”, com o significado de “com a marcha do veículo desengatada, ou desengrenada”. O mesmo que “em ponto morto”. A origem seria o fato de engatar, ou engrenar uma marcha, é o mesmo que “endentar”. Significa fazer com que as engrenagens da marcha se engatem com as do eixo do motor, ou que os dentes se encaixem, para que haja a tração. Quando está em ponto morto, geralmente em descida de ladeira, o carro se movimenta sem ajuda dos dentes, ou sem os dentes, o que teria gerado a expressão “na banguela”.

Baitola: Termo de uso mais freqüente no Nordeste do Brasil, denominando, com conotação pejorativa, homossexual masculino. A palavra, que se pronuncia Baitôla, teria surgido durante a construção de ferrovias na região por uma companhia inglesa. A mão-de-obra qualificada, como os engenheiros, eram ingleses, e os operários, brasileiros. Os ingleses, entre os quais havia alguns homossexuais, em vez de dizer `bitola` (distância entre os trilhos), pronunciavam `baitola`. Por isso, os operários passaram a brincar entre si com essa palavra arrevesada, chamando de `baitola` quem fazia algum gesto afetado.

Dizimar: Atualmente o termo é usado principalmente no sentido de exterminar ou destruir parte de um grupo ou população. O vocábulo tem relação com “dízima” ou “dízimo” que designa o imposto ou contribuição correspondente à décima parte do rendimento. A origem foi o costume de se punir uma tropa militar por indisciplina, sublevação ou outro crime militar, fazendo destacar um soldado em cada grupo de dez e executá-lo à frente de todos. Tratava-se, portanto, da execução da décima parte da tropa. Com o tempo, o termo passou a incorporar vários outros significados, como exterminar, aniquilar de uma maneira geral em relação a pessoas, animais, plantações etc.

Vinheta: Em rádio e televisão, vinheta é uma peça curta utilizada para abrir e fechar programas, ou blocos, e também para identificar a emissora, o programa ou o patrocinador. A origem é o francês vignette, que significa “pequena vinha” ou “pequena plantação de uvas”. Mas qual a relação de uma coisa com outra? Originalmente, era chamado de vignete, em francês, o desenho em forma de folhas e cachos de videiras que ornamentavam louças ou peças de mobiliário. Depois, passou a denominar ornamento do início e do alto da página de um livro ou capítulo – na imprensa escrita passou a designar letra ornamentada ou pequena ilustração para marcar, como um símbolo, diversas matérias que tratam do mesmo assunto. Daí, o termo foi adotado por outro veículo como rádio e a televisão, para designar peça que tem alguma relação com o símbolo utilizado pela imprensa escrita, mas que está a uma distância infinita do significado primitivo, de “pequena vinha”


Do Livro A Casa da Mãe Joana:

Bocó: A palavra francesa boucaut (um saco feito de pele de bode para transporte de líquidos) veio de bouc (bode) e deu no espanhol bocoy. Daí chegou ao brasileiro bocó para designar um saco feito de couro de tatu. Como o bocó não tem tampa, ficando sempre aberto, a palavra passou a se aplicar à pessoa palerma, tola, que vive de boca aberta, em pasmo permanente.

Camarada: Do francês camarade, que veio do espanhol camarada. Era como se tratavam os soldados espanhóis porque comiam e dormiam juntos na mesma câmara, no mesmo quarto.

Óculos: O latim oculu, olho, originou em português olho e óculo. Óculo é sinônimo de luneta ou qualquer instrumento com lentes para auxiliar ou aumentar a visão. Daí binóculo – formado de bi (dois) + óculo - duas lunetas. Óculos (no plural) é o resultado de duas lentes paralelas para auxiliar a visão. São dois óculos. Por isso deve-se dizer, no plural, “Onde estão meus óculos?”, e não “Onde está meu óculos?”, que é tão errado quanto “Onde está minha calças?”.


Saravá: É a interjeição umbandista equivalente a salve! Saravá era como os escravos africanos pronunciavam a palavra salvar, com influência da fonética do banto, sua língua nativa.

Trivial: Do latim triviale, comum, vulgar, derivado de trivium (tri + via), cruzamento de três caminhos, praça pública, um lugar em que as pessoas se encontravam para bater papo, fofocar, enfim para tratar de trivialidades.