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enquanto construíamos o novo site, sem divulgação direta, apenas aparecendo nos sites de busca, ultrapassamos em 66 dias (hoje 7/02/08) mais de 7.000 acessos! como podem comprovar no contador "VISITANTES ATÉ AGORA" (iniciamos a página em 1/12/2007). este sucesso é de todos os PALAVREIROS DA HORA pelo conteúdo substantivo de seus trabalhos.
aos nossos leitores que nos prestigiaram, até aqui, neste espaço, nossos agradecimentos e o convite para que continuem conosco; e, por vocês, somente por vocês, este esfôrço da EQUIPE em oferecer melhores condições de navegabilidade no site.
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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
COLORIDOS no SUBURBIO CURITIBANO - poema de tonicato miranda
Este poema é dedicado ao Gerson Maciel e
à sua paixão pelo Boqueirão, bairro de nascimento e vida.
Parafraseando João Cabral de Mello Neto,
Caso houvesse uma guerra entre o Brasil e o Paraná,
Gerson lutaria pelo Paraná.
Mas se ela fosse entre o Paraná e Curitiba
Gerson lutaria por Curitiba.
E se ela fosse ainda entre Curitiba e o Boqueirão,
Gerson não exitaria, lutaria pelo Boqueirão.
à sua paixão pelo Boqueirão, bairro de nascimento e vida.
Parafraseando João Cabral de Mello Neto,
Caso houvesse uma guerra entre o Brasil e o Paraná,
Gerson lutaria pelo Paraná.
Mas se ela fosse entre o Paraná e Curitiba
Gerson lutaria por Curitiba.
E se ela fosse ainda entre Curitiba e o Boqueirão,
Gerson não exitaria, lutaria pelo Boqueirão.
Orgulha-te dos meninos do Boqueirão
Te cuida menino, com o banho no Rio Belém
Cuidado com as cavas do Iguaçu, amém
E o expresso é vermelho, é vermelho
Lá vem rodando na canaleta, o vermelhão
Orgulha-te dos meninos do Boqueirão
Saboreia as goiabas que trazem pra casa, aos bocados
Roubadas dos terrenos vizinhos e dos descuidados
E a fruta é branca, é branca, é vermelha
Por dentro ela é viva, é vermelhão
Orgulha-te dos piás do Boqueirão
Veja o olhar deles para baixo, nas pernas das meninas
Os olhos saltam mais que palavras, as línguas traquinas
E a íris é verde, é verde, é vermelha
Dentro do olho o tesão é forte, é vermelhão
Orgulha-te dos pássaros do Boqueirão
Fugitivos do bodoque, da atiradeira, do estilingue dos meninos
Fuçando de galho em galho, caça gafanhotos pequeninos
E o inseto é marrom, é marrom, é laranja
O sangue dos iletrados é marrão
Orgulha-te dos cultos e incultos do Boqueirão
Glória a Deus nos lodaçais e nas encostas do Uberaba
Machuca o prego na madeira, constrói o brinquedo, por ele baba
Entrega a cor dele à felicidade, e ela é rosa, é rosada
É vermelho o carrinho de mão, ele é vermelhão
Não te orgulha dos gorgulhos das poças d'água do Boqueirão
A chuva engole as madeiras e os lixos nas valetas
O barquinho de papel vai reto na sarjeta, depois em piruetas
Onde não há meio-fio, calçada, e a rua é preta, ela é preta
No fundo é vermelha, a vergonha é um vermelhão
Mas te orgulha dos meninos do Boqueirão
Eles são como eu, como você, pés no chão e no caminho
Camisa para quê basta um solado forte contra o espinho
E o espinho é amarelo, é pontudo, é cicatriz
E o nosso sangue e o deles é e sempre será um vermelhão.
Te cuida menino, com o banho no Rio Belém
Cuidado com as cavas do Iguaçu, amém
E o expresso é vermelho, é vermelho
Lá vem rodando na canaleta, o vermelhão
Orgulha-te dos meninos do Boqueirão
Saboreia as goiabas que trazem pra casa, aos bocados
Roubadas dos terrenos vizinhos e dos descuidados
E a fruta é branca, é branca, é vermelha
Por dentro ela é viva, é vermelhão
Orgulha-te dos piás do Boqueirão
Veja o olhar deles para baixo, nas pernas das meninas
Os olhos saltam mais que palavras, as línguas traquinas
E a íris é verde, é verde, é vermelha
Dentro do olho o tesão é forte, é vermelhão
Orgulha-te dos pássaros do Boqueirão
Fugitivos do bodoque, da atiradeira, do estilingue dos meninos
Fuçando de galho em galho, caça gafanhotos pequeninos
E o inseto é marrom, é marrom, é laranja
O sangue dos iletrados é marrão
Orgulha-te dos cultos e incultos do Boqueirão
Glória a Deus nos lodaçais e nas encostas do Uberaba
Machuca o prego na madeira, constrói o brinquedo, por ele baba
Entrega a cor dele à felicidade, e ela é rosa, é rosada
É vermelho o carrinho de mão, ele é vermelhão
Não te orgulha dos gorgulhos das poças d'água do Boqueirão
A chuva engole as madeiras e os lixos nas valetas
O barquinho de papel vai reto na sarjeta, depois em piruetas
Onde não há meio-fio, calçada, e a rua é preta, ela é preta
No fundo é vermelha, a vergonha é um vermelhão
Mas te orgulha dos meninos do Boqueirão
Eles são como eu, como você, pés no chão e no caminho
Camisa para quê basta um solado forte contra o espinho
E o espinho é amarelo, é pontudo, é cicatriz
E o nosso sangue e o deles é e sempre será um vermelhão.
POEMA (1) de sergio bitencourt
BORBULHAM INDIVIDUALIDADES
NAS LIBERDADES MANIFESTAS
CONSCIENTES,INCONSCIENTES
NUMA DANÇA INTEGRADA
COM O SILÊNCIO EXPRESSIVO
DA CONSCIÊNCIA NÃO MANIFESTADA
POEMA (3) - de carolina correa
Refletindo ás cegas
Conclusões meramente concluídas.
Na palma da mão
Ao excessivo Deus dará,
Seguindo os passos de um ilusionista
Te supro.
Frases viajadas
Os pensamentos é que são reais.
Me consomem
Me inibem
Preguiçosas palavras contidas.
Visto a máscara
Alucinação pura
O físico prensado
A mente solta
Uma conversa á quatro
Me supro.
Nos bastamos.
a autora, 17 anos, faz parte do grupo de jovens poetas do site.
Conclusões meramente concluídas.
Na palma da mão
Ao excessivo Deus dará,
Seguindo os passos de um ilusionista
Te supro.
Frases viajadas
Os pensamentos é que são reais.
Me consomem
Me inibem
Preguiçosas palavras contidas.
Visto a máscara
Alucinação pura
O físico prensado
A mente solta
Uma conversa á quatro
Me supro.
Nos bastamos.
a autora, 17 anos, faz parte do grupo de jovens poetas do site.
terça-feira, 5 de fevereiro de 2008
BÁBARA LIA, A POETA, AGORA É PALAVREIRA DA HORA!
o site está em festa! a poeta bárbara lia aceitou o convite para ser mais um ÂNCORA da página, ou seja, será uma colaboradora permanente com suas obras. compreendeu o espírito público com que todos os demais palavreiros servem a arte neste espaço. bárbara é, como ela mesma se define "poeta, escritora, professora (história), mãe e mulher brasileira" e nós acrescentamos que é poeta de "pegada" que obedece as regras da sua criação do lírico ao visceral. além de editar seu blog desde 2005, bárbara lançou seu livro O SAL DAS ROSAS em 2007, com promessas de outro para breve. foi uma das nossas amigas a prestar homenagens à bia de luna, mesmo sem ter convivido com a poeta desaparecida. os poetas são assim. é autora de uma das frases que mais emocionou o ambiente da homenagem "...um braseiro santo irá brilhar nos corações a quem ela tocou quando soprar o vento da saudade..." o site editou trabalhos da bábara há poucos dias, mas hoje é dia especial para nós. sintam o balanço:
Lá vai o trem com o menino
Lá vai a vida a rodar
Lá vai ciranda e destino
Cidade e noite a girar
Lá vai o trem sem destino
Pro dia novo encontrar
(Ferreira Gullar)
(Ferreira Gullar)
A VIAGEM
Pensamos - Viagem!
Ele abre o baú de partituras
e delineia em minhas costas,
ventre e coxas, as partituras:-
sinfonias fados e tangos -
A que mais amei?
- o trem -
de Villa-Lobos.
O trenzinho caipira que corta
minhas ondulações, matas,
declives...
Sente o vento?
O perfume da serra?
Rasca de nuvens vão de carona
nos lábios dele
pelas notas
pelos trilhos
pelos pêlos
pela pele
e tudo termina
em suor do amor evaporado
borra minha virilha
borra minha virilha
rasura um Lá extraviado
e ele queda dentro
do Sol.
A vida palpita
aquém além da cortina
da cabine perfumada
- fim da viagem -
NA BIENAL DE VENEZA "NGOLA BAR" de kiluanji kia henda
Kiluanji Kia Henda (1979) nasceu em Luanda, onde vive e trabalha. Viajou pelas várias províncias de Angola e dessas viagens resultou o trabalho "4.ª Dimensão", no âmbito da I Trienal de Luanda. Colaborou com vários grupos de acção teatral e artística em Luanda e expôs em feiras de arte e museus na Europa ("Art InVisible", Arco, Madrid, 2006; "Observatory SD", IVAM, Valência, 2006). Recentemente, o seu trabalho foi selecionado para o projeto de curadoria "Check List Luanda Pop", do Pavilhão Africano da 52.ª Bienal de Veneza (2007), a par de nomes consagrados da arte contemporânea como Ghada Amer, Miquel Barcelò, Jean Michel Basquiat, Marlène Dumas, Viteix, etc. Sob o título de 'Ngola Bar', a exposição que Kia Henda traz ao FMM apresenta trabalhos recentes que partem do local - a paisagem urbana e a natureza angolanas – para a esfera global: a produção de sentidos universais, a evocação da mobilidade sobre a paisagem, a cultura contemporânea das imagens.
enviado por antonio perseu. angola.
O ALAMBIQUE - conto de léo meimes
Como se do chão viessem ondas que o desequilibrassem a cada toque, o Alambique tentava fazer seu caminho pelo beco. Suas pernas trançavam inúmeros tropeços, enquanto sentia o pequeno peso da carga nas costas o puxando para trás e em seguida o empurrando para frente. Assim ia ele, carregando apenas um saco preto, com cobertor, jornais para colocar no corpo enquanto dorme e uma garrafa de pinga. Com seu andar de camaleão, chegou à frente de um bar, tentou parar de brusco quando encontrou uma poça de água e acabou caindo de lado no chão, por sorte em cima do grande saco preto. Ali, deitado como quem está sofrendo de algum ataque, sentiu os pingos da chuva voltarem a cair em seu rosto. Demorou a se levantar e quando conseguiu dirigiu-se para o bar, precisamente para o canto esquerdo, onde se colocou a baixo da mesa em que os músicos tocavam imprecisamente algum samba.
O bar era local de juventude, podia se dizer que os mais velhos eram os que cantavam e tocavam, com a ajuda de duas moças mais novas. Nas mesas ali fora, o povo começou a adentrar devido à chuva fazendo o minúsculo local ficar cheio em segundos. O Alambique estava ali, mesmo que ninguém o considerasse. Olhava para os rostos jovens, que impregnados de saúde desviavam de seu olhar, evitavam, fingiam que ali não havia ninguém. Porém é fato e qualquer um que pudesse estar lá na hora comigo veria que aquele homem sentado no chão, em cima de trapos e vestido com trapos existia. A música não parou nenhum segundo, meninas desenvolveram uma dança atraente, rapazes olhavam descrentes, Alambique só procurava um olhar recíproco... Um garçom jovem como todos os outros, passou e deixou sobre uma mesa uma garrafa de cerveja. A espuma adentrou fundo nos desejos do Alambique. O homem barbudo e despenteado fez no movimento lesmático dos bêbados um sinal com os dedos apontando para cima e riu, imaginando platéia que acompanhasse seu trunfo, em seguida retirou da grande bagagem sua garrafa transparente e plástica de pinga. Mostrou, ofereceu e até gracejou uma cheirada no gargalo à sua platéia antes de beber o gole alcoólico com gosto. Ficou por momentos curtindo a música, ouvindo a melodia, o som não era em nada bom, os músicos com instrumentos desafinados, pandeiros fora do ritmo, mulheres cantando fora do tempo, porém era ópera para os ouvidos do Alambique. Parou a música e Alambique gritou “Madalena, Madalena”, um dos músicos ouve e atende o pedido, “Você é meu bem querer!” e assim continuaram. Alambique entra em um frenesi, dançando somente com os braços, batendo palmas, repetindo o refrão incessantemente, ali mesmo sentado. Mesmo quando já era outra música que tocava ele continuava a insistir “Madalena, Madalena!” Uma moça diz com ar reprovador para o Alambique “Não é mais Madalena homem, presta atenção!”. Ele em um crescente de euforia, talvez por ter sido visto, notado e ouvido, se levanta com dificuldade joga os braços para o alto e, como se pedisse que alguma Madalena se jogasse em seu colo, grita a pulmões de pneumonia “Madalena, Madalena!” O garçom do bar finalmente o vê ali, se dirige a Alambique e pede para que este se retire. Um rapaz que estava próximo diz ao garçom que deixe de ser implicante, pois o homem estava ali à tanto tempo e não estava atrapalhando ninguém. “Se deixar um entrar, daqui a pouco só tem fulero nesse bar”, diz o garçom já apontando a rua para Alambique. O barbudo olha para os lados e senta-se, fingindo não ver o homem que tentava colocá-lo para fora do lugar, pensa: “So fulero que nem todo mundo aqui”. O dono do bar em seguida aparece e o manda pegar as coisas e sair rapidamente. Com a ajuda do rapaz que o defendeu Alambique levanta, pega as coisas, arranca das mãos do garçom sua garrafa de pinga, a qual lhe fora tomada, e sai porta a fora.
Lá já não chove mais e como não podem o mandar embora da rua, fica parado em frente ao bar olhando e cantando seu verso preferido. Nas costas ainda está o saco com seus pertences. Próximo a ele uma mesa com vários jovens, incluindo o que o havia ajudado. Alambique se aproxima e tenta puxar assunto “Bom o samba?” e é respondido com um simples “Sai fora, se toca, já encheu o saco já”. É o que ele faz, vira de costas e começa de novo o seu navegar inconstante pelo beco, com tropeços e sustos. Não anda nem meia quadra e algo o surpreende. Formas lindas eram feitas no ar por malabaristas que jogavam claves, bolas, outros se equilibravam em monociclos enquanto faziam truques com bolas de toque. Alambique se apaixona pelos movimentos, pelas claves que saiam das mãos de um para a do outro sem cessar. Deixa-se cair de novo em cima do grande saco, desta vez não é a chuva que o agracia e sim a visão única de estar exatamente a baixo dos malabaristas. O circo, nunca por ele visitado, o rodeava agora e em seu sonho Alambique se imaginava um equilibrista, andando pelos paralelepípedos da cidade, contornando as esquinas esguias dos becos, passeando pelas marquises e pulando sobre toldos como se tudo isso realmente estivesse acontecendo. Naquele lugar mesmo Alambique dormiu.
No outro dia já havia passado da hora do almoço e ele como criança mimada dormia e não obedecia aos passos apresados dos gentios que tentavam o acordar. Um colega seu de rua, bebedeira e tudo mais, passa e se atreve a chamá-lo. “Alambique, Alambique, acorda que se tá no meio do beco, daqui apouco chamam a pulicia pra ti enxota daqui. Anda homem, que parece até que gosta de dormi no chão frio!” A voz de seu colega adentrou os sonhos de Alambique e o trouxe a realidade, acordou então. Desfez-se das remelas, arrumou o cabelo e enfim levantou.
— Rico, se num sabe tudo que me aconteceu onti rapais! Se eu ti conta, se acredita?
— Ave, que que foi?
— Eu onti, fui pro samba, dancei com a mulherada bonita, cantei junto cos cantor, puxei “Madalena”, bebi cerveja geladinha e sabe o que me aconteceu ainda?
— Que que foi?
— Dei sorte e peguei um circo de passage, até na corda bamba eu andei! To tão cansado, que merecia mais uma hora de sono, sabia?
O bar era local de juventude, podia se dizer que os mais velhos eram os que cantavam e tocavam, com a ajuda de duas moças mais novas. Nas mesas ali fora, o povo começou a adentrar devido à chuva fazendo o minúsculo local ficar cheio em segundos. O Alambique estava ali, mesmo que ninguém o considerasse. Olhava para os rostos jovens, que impregnados de saúde desviavam de seu olhar, evitavam, fingiam que ali não havia ninguém. Porém é fato e qualquer um que pudesse estar lá na hora comigo veria que aquele homem sentado no chão, em cima de trapos e vestido com trapos existia. A música não parou nenhum segundo, meninas desenvolveram uma dança atraente, rapazes olhavam descrentes, Alambique só procurava um olhar recíproco... Um garçom jovem como todos os outros, passou e deixou sobre uma mesa uma garrafa de cerveja. A espuma adentrou fundo nos desejos do Alambique. O homem barbudo e despenteado fez no movimento lesmático dos bêbados um sinal com os dedos apontando para cima e riu, imaginando platéia que acompanhasse seu trunfo, em seguida retirou da grande bagagem sua garrafa transparente e plástica de pinga. Mostrou, ofereceu e até gracejou uma cheirada no gargalo à sua platéia antes de beber o gole alcoólico com gosto. Ficou por momentos curtindo a música, ouvindo a melodia, o som não era em nada bom, os músicos com instrumentos desafinados, pandeiros fora do ritmo, mulheres cantando fora do tempo, porém era ópera para os ouvidos do Alambique. Parou a música e Alambique gritou “Madalena, Madalena”, um dos músicos ouve e atende o pedido, “Você é meu bem querer!” e assim continuaram. Alambique entra em um frenesi, dançando somente com os braços, batendo palmas, repetindo o refrão incessantemente, ali mesmo sentado. Mesmo quando já era outra música que tocava ele continuava a insistir “Madalena, Madalena!” Uma moça diz com ar reprovador para o Alambique “Não é mais Madalena homem, presta atenção!”. Ele em um crescente de euforia, talvez por ter sido visto, notado e ouvido, se levanta com dificuldade joga os braços para o alto e, como se pedisse que alguma Madalena se jogasse em seu colo, grita a pulmões de pneumonia “Madalena, Madalena!” O garçom do bar finalmente o vê ali, se dirige a Alambique e pede para que este se retire. Um rapaz que estava próximo diz ao garçom que deixe de ser implicante, pois o homem estava ali à tanto tempo e não estava atrapalhando ninguém. “Se deixar um entrar, daqui a pouco só tem fulero nesse bar”, diz o garçom já apontando a rua para Alambique. O barbudo olha para os lados e senta-se, fingindo não ver o homem que tentava colocá-lo para fora do lugar, pensa: “So fulero que nem todo mundo aqui”. O dono do bar em seguida aparece e o manda pegar as coisas e sair rapidamente. Com a ajuda do rapaz que o defendeu Alambique levanta, pega as coisas, arranca das mãos do garçom sua garrafa de pinga, a qual lhe fora tomada, e sai porta a fora.
Lá já não chove mais e como não podem o mandar embora da rua, fica parado em frente ao bar olhando e cantando seu verso preferido. Nas costas ainda está o saco com seus pertences. Próximo a ele uma mesa com vários jovens, incluindo o que o havia ajudado. Alambique se aproxima e tenta puxar assunto “Bom o samba?” e é respondido com um simples “Sai fora, se toca, já encheu o saco já”. É o que ele faz, vira de costas e começa de novo o seu navegar inconstante pelo beco, com tropeços e sustos. Não anda nem meia quadra e algo o surpreende. Formas lindas eram feitas no ar por malabaristas que jogavam claves, bolas, outros se equilibravam em monociclos enquanto faziam truques com bolas de toque. Alambique se apaixona pelos movimentos, pelas claves que saiam das mãos de um para a do outro sem cessar. Deixa-se cair de novo em cima do grande saco, desta vez não é a chuva que o agracia e sim a visão única de estar exatamente a baixo dos malabaristas. O circo, nunca por ele visitado, o rodeava agora e em seu sonho Alambique se imaginava um equilibrista, andando pelos paralelepípedos da cidade, contornando as esquinas esguias dos becos, passeando pelas marquises e pulando sobre toldos como se tudo isso realmente estivesse acontecendo. Naquele lugar mesmo Alambique dormiu.
No outro dia já havia passado da hora do almoço e ele como criança mimada dormia e não obedecia aos passos apresados dos gentios que tentavam o acordar. Um colega seu de rua, bebedeira e tudo mais, passa e se atreve a chamá-lo. “Alambique, Alambique, acorda que se tá no meio do beco, daqui apouco chamam a pulicia pra ti enxota daqui. Anda homem, que parece até que gosta de dormi no chão frio!” A voz de seu colega adentrou os sonhos de Alambique e o trouxe a realidade, acordou então. Desfez-se das remelas, arrumou o cabelo e enfim levantou.
— Rico, se num sabe tudo que me aconteceu onti rapais! Se eu ti conta, se acredita?
— Ave, que que foi?
— Eu onti, fui pro samba, dancei com a mulherada bonita, cantei junto cos cantor, puxei “Madalena”, bebi cerveja geladinha e sabe o que me aconteceu ainda?
— Que que foi?
— Dei sorte e peguei um circo de passage, até na corda bamba eu andei! To tão cansado, que merecia mais uma hora de sono, sabia?
CHEGOU O VERÃO - por luis fernando veríssimo
Verão também é sinônimo de pouca roupa e muito chifre, pouca cintura e
muita gordura, pouco trabalho e muita micose.
Verão é picolé de Kisuco no palito reciclado, é milho cozido na água da
torneira, é coco verde aberto pra comer a gosminha branca.
Verão é prisão de ventre de uma semana e pé inchado que não entra no
tênis.
muita gordura, pouco trabalho e muita micose.
Verão é picolé de Kisuco no palito reciclado, é milho cozido na água da
torneira, é coco verde aberto pra comer a gosminha branca.
Verão é prisão de ventre de uma semana e pé inchado que não entra no
tênis.
Mas o principal ponto do verão é.... a praia!
Ah, como é bela a praia.
Os cachorros fazem cocô e as crianças pegam pra fazer coleção.
Os casais jogam frescobol e acertam a bolinha na cabeça das véias.
Os jovens de jet ski atropelam os surfistas, que por sua vez, miram a
prancha pra abrir a cabeça dos banhistas.
O melhor programa pra quem vai à praia é chegar bem cedo, antes do
sorveteiro, quando o sol ainda está fraco e as famílias estão chegando.
Muito bonito ver aquelas pessoas carregando vinte cadeiras, três
geladeiras de isopor, cinco guarda-sóis, raquete, frango, farofa,
toalha, bola, balde, chapéu e prancha, acreditando que estão de férias.
Em menos de cinqüenta minutos, todos já estão instalados, besuntados e
prontos pra enterrar a avó na areia.
E as crianças? Ah, que gracinhas!
Os bebês chorando de desidratação, as crianças pequenas se socando por
uma conchinha do mar, os adolescentes ouvindo walkman enquanto dormem.
As mulheres também têm muita diversão na praia, como buscar o filho
afogado e caminhar vinte quilômetros pra encontrar o outro pé do
chinelo.
Já os homens ficam com as tarefas mais chatas, como perfurar o poço pra
fincar o cabo do guarda-sol.
É mais fácil achar petróleo do que conseguir fazer o guarda-sol ficar em pé.
Mas tudo isso não conta, diante da alegria, da felicidade, da maravilha
que é entrar no mar!
Aquela água tão cristalina, que dá pra ver os cardumes de latinha de cerveja
no fundo.
Aquela sensação de boiar na salmoura como um pepino em conserva.
Depois de um belo banho de mar, com o rego cheio de sal e a periquita
cheia de areia, vem aquela vontade de fritar na chapa.
A gente abre a esteira velha, com o cheiro de velório de bode, bota o
chapéu, os óculos escuros e puxa um ronco bacaninha.
Isso é paz, isso é amor, isso é o absurdo do calor!!!!!
Mas, claro, tudo tem seu lado bom.
E à noite o sol vai embora.
Todo mundo volta pra casa tostado e vermelho como mortadela, toma banho
e deixa o sabonete cheio de areia pro próximo.
O Shampoo acaba e a gente acaba lavando a cabeça com qualquer coisa,
desde creme de barbear até desinfetante de privada.
As toalhas, com aquele cheirinho de mofo que só a casa da praia oferece.
Aí, uma bela macarronada pra entupir o bucho e uma dormidinha na rede
pra adquirir um bom torcicolo e ralar as costas queimadas.
O dia termina com uma boa rodada de tranca e uma briga em família.
Todo mundo vai dormir bêbado e emburrado, babando na fronha e torcendo,pra
que na manhã seguinte, faça aquele sol e todo mundo possa se encontrar no
mesmo inferno tropical...
Qualquer semelhança com a vida real, é uma mera coincidência.
Ah, como é bela a praia.
Os cachorros fazem cocô e as crianças pegam pra fazer coleção.
Os casais jogam frescobol e acertam a bolinha na cabeça das véias.
Os jovens de jet ski atropelam os surfistas, que por sua vez, miram a
prancha pra abrir a cabeça dos banhistas.
O melhor programa pra quem vai à praia é chegar bem cedo, antes do
sorveteiro, quando o sol ainda está fraco e as famílias estão chegando.
Muito bonito ver aquelas pessoas carregando vinte cadeiras, três
geladeiras de isopor, cinco guarda-sóis, raquete, frango, farofa,
toalha, bola, balde, chapéu e prancha, acreditando que estão de férias.
Em menos de cinqüenta minutos, todos já estão instalados, besuntados e
prontos pra enterrar a avó na areia.
E as crianças? Ah, que gracinhas!
Os bebês chorando de desidratação, as crianças pequenas se socando por
uma conchinha do mar, os adolescentes ouvindo walkman enquanto dormem.
As mulheres também têm muita diversão na praia, como buscar o filho
afogado e caminhar vinte quilômetros pra encontrar o outro pé do
chinelo.
Já os homens ficam com as tarefas mais chatas, como perfurar o poço pra
fincar o cabo do guarda-sol.
É mais fácil achar petróleo do que conseguir fazer o guarda-sol ficar em pé.
Mas tudo isso não conta, diante da alegria, da felicidade, da maravilha
que é entrar no mar!
Aquela água tão cristalina, que dá pra ver os cardumes de latinha de cerveja
no fundo.
Aquela sensação de boiar na salmoura como um pepino em conserva.
Depois de um belo banho de mar, com o rego cheio de sal e a periquita
cheia de areia, vem aquela vontade de fritar na chapa.
A gente abre a esteira velha, com o cheiro de velório de bode, bota o
chapéu, os óculos escuros e puxa um ronco bacaninha.
Isso é paz, isso é amor, isso é o absurdo do calor!!!!!
Mas, claro, tudo tem seu lado bom.
E à noite o sol vai embora.
Todo mundo volta pra casa tostado e vermelho como mortadela, toma banho
e deixa o sabonete cheio de areia pro próximo.
O Shampoo acaba e a gente acaba lavando a cabeça com qualquer coisa,
desde creme de barbear até desinfetante de privada.
As toalhas, com aquele cheirinho de mofo que só a casa da praia oferece.
Aí, uma bela macarronada pra entupir o bucho e uma dormidinha na rede
pra adquirir um bom torcicolo e ralar as costas queimadas.
O dia termina com uma boa rodada de tranca e uma briga em família.
Todo mundo vai dormir bêbado e emburrado, babando na fronha e torcendo,pra
que na manhã seguinte, faça aquele sol e todo mundo possa se encontrar no
mesmo inferno tropical...
Qualquer semelhança com a vida real, é uma mera coincidência.
OLHA A CACHAÇA AÍ, GENTE! - por edu hoffmann
Abrideira
Cada país têm sua bebida popular. Em Cuba é o rum, nos esteites é o uísque, na Rússia é a vodka,
Cada país têm sua bebida popular. Em Cuba é o rum, nos esteites é o uísque, na Rússia é a vodka,
na Itália, tuto buona gente, adoram a graspa, no México bebem teqüila, e aí vai...
No Brasil, claro, é a cachaça!
“Cachaça é a denominação típica e exclusiva da aguardente de cana produzida no Brasil, com graduação alcoólica de trinta e oito a quarenta e oito por cento em volume, a vinte graus Celsius, obtida pela destilação do mosto fermentado de cana-de-açúcar com características sensoriais peculiares, podendo ser adicionada de açúcares até seis gramas por litro, expresso em sacarose”.
Foi assim, que, em outubro de 2003, por meio do Decreto 4.851, o governo brasileiro oficializou a cachaça como produto tipicamente brasileiro.
Luis da Câmara Cascudo, em Prelúdio da Cachaça; etnografia, história e sociologia da aguardente no Brasil, informa:
A aguardente da terra, elaborada no Brasil, podia atender ao apetite dos fregueses humildes, escravos, mestiços, trabalhadores de eito a jornal, todo um povo de reduzida pecúnia. O Tráfico da escravaria impôs a valorização incessante da aguardente na terra, a futura cachaça, era indispensável para a compra do negro africano e, ao lado do tabaco em rolo, uma verdadeira moeda em circulação.
A cachaça a Deus do céu
tem o poder de empatar
porque se Deus dá juízo
cachaça pode tirar
mulato não larga a faca
nem branco a “sabedoria”
cabra não deixa a cachaça
nem negro a feitiçaria
(poesia anônima popular)
A nossa querida cachaça já foi tratada como bebida de segunda categoria, hoje, no entanto, ela já atingiu o status de boa bebida, graças ao trabalho, principalmente dos mineiros.
Lá em Minas Gerais, formaram cooperativas, com um controle rígido quanto à qualidade da nossa boa cachacinha. Por conta disso, em qualquer bar e restaurante do Brasil, encontramos uma “mineirinha” de primeira, motivo do aumento das exportações das branquinhas e amarelinhas.
Sabia que no Brasil já têm até cachacier? Pois é. Cachacier é variação da palavra francesa sommelier, que designa o expert em vinhos. O nosso especialista chama-se Carlos Gonzáles, dono da Cacharia Pompéia, em São Paulo. Entre as dicas do Carlos, está a escolha do copo: “não muito alto com gargalo mais estreito e bojudo” – para sentir o aroma e apreciar a coloração.
Cana -caiana
A cana-caiana é a única saccharum officinarum a denominar aguardente, ingressando na rica sinonímia da cachaça. Batizou um livro de poemas de Ascenso Ferreira (“Cana-caiana”, Recife,1939) onde reaparece um ditirambo popular:
Suco de cana-caiana
Passado no alambique,
Pode sê qui prejudique
Mas bebo toda sumana
Existem muitas estórias, brincadeiras e folclores envolvendo a cachaça. Consegui uma que vinha impressa na etiqueta da Caninha Brumado Velho:
Fui a Minhas gerais e tomei uma cachaça da boa,
mas tão boa, que resolvi levar dez garrafas pra casa.
Mas dona patroa me obrigou a jogar tudo fora.
Peguei a 1ª garrafa, bebi um copo e joguei o resto na pia.
Peguei a 2ª garrafa, bebi outro copo e joguei o resto na pia.
Peguei a 3ª garrafa, bebi o resto e joguei o copo na pia.
Peguei a 4ª garrafa, bebi na pia e joguei o resto no copo.
Peguei o 5º copo, joguei a rolha na pia e bebi a garrafa.
Peguei a 6ª pia, bebi a garrafa e joguei o copo no resto.
A 7ª garrafa, eu peguei no resto e bebi a pia.
Peguei o copo, bebi no resto e joguei a pia na 8ª.
Joguei a 9ª pia no copo, peguei a garrafa e bebi o resto.
O 10º copo, eu peguei a garrafa no resto e me joguei na pia.
-Não me lembro o que fiz com a patroa
No Brasil, claro, é a cachaça!
“Cachaça é a denominação típica e exclusiva da aguardente de cana produzida no Brasil, com graduação alcoólica de trinta e oito a quarenta e oito por cento em volume, a vinte graus Celsius, obtida pela destilação do mosto fermentado de cana-de-açúcar com características sensoriais peculiares, podendo ser adicionada de açúcares até seis gramas por litro, expresso em sacarose”.
Foi assim, que, em outubro de 2003, por meio do Decreto 4.851, o governo brasileiro oficializou a cachaça como produto tipicamente brasileiro.
Luis da Câmara Cascudo, em Prelúdio da Cachaça; etnografia, história e sociologia da aguardente no Brasil, informa:
A aguardente da terra, elaborada no Brasil, podia atender ao apetite dos fregueses humildes, escravos, mestiços, trabalhadores de eito a jornal, todo um povo de reduzida pecúnia. O Tráfico da escravaria impôs a valorização incessante da aguardente na terra, a futura cachaça, era indispensável para a compra do negro africano e, ao lado do tabaco em rolo, uma verdadeira moeda em circulação.
A cachaça a Deus do céu
tem o poder de empatar
porque se Deus dá juízo
cachaça pode tirar
mulato não larga a faca
nem branco a “sabedoria”
cabra não deixa a cachaça
nem negro a feitiçaria
(poesia anônima popular)
A nossa querida cachaça já foi tratada como bebida de segunda categoria, hoje, no entanto, ela já atingiu o status de boa bebida, graças ao trabalho, principalmente dos mineiros.
Lá em Minas Gerais, formaram cooperativas, com um controle rígido quanto à qualidade da nossa boa cachacinha. Por conta disso, em qualquer bar e restaurante do Brasil, encontramos uma “mineirinha” de primeira, motivo do aumento das exportações das branquinhas e amarelinhas.
Sabia que no Brasil já têm até cachacier? Pois é. Cachacier é variação da palavra francesa sommelier, que designa o expert em vinhos. O nosso especialista chama-se Carlos Gonzáles, dono da Cacharia Pompéia, em São Paulo. Entre as dicas do Carlos, está a escolha do copo: “não muito alto com gargalo mais estreito e bojudo” – para sentir o aroma e apreciar a coloração.
Cana -caiana
A cana-caiana é a única saccharum officinarum a denominar aguardente, ingressando na rica sinonímia da cachaça. Batizou um livro de poemas de Ascenso Ferreira (“Cana-caiana”, Recife,1939) onde reaparece um ditirambo popular:
Suco de cana-caiana
Passado no alambique,
Pode sê qui prejudique
Mas bebo toda sumana
Existem muitas estórias, brincadeiras e folclores envolvendo a cachaça. Consegui uma que vinha impressa na etiqueta da Caninha Brumado Velho:
Fui a Minhas gerais e tomei uma cachaça da boa,
mas tão boa, que resolvi levar dez garrafas pra casa.
Mas dona patroa me obrigou a jogar tudo fora.
Peguei a 1ª garrafa, bebi um copo e joguei o resto na pia.
Peguei a 2ª garrafa, bebi outro copo e joguei o resto na pia.
Peguei a 3ª garrafa, bebi o resto e joguei o copo na pia.
Peguei a 4ª garrafa, bebi na pia e joguei o resto no copo.
Peguei o 5º copo, joguei a rolha na pia e bebi a garrafa.
Peguei a 6ª pia, bebi a garrafa e joguei o copo no resto.
A 7ª garrafa, eu peguei no resto e bebi a pia.
Peguei o copo, bebi no resto e joguei a pia na 8ª.
Joguei a 9ª pia no copo, peguei a garrafa e bebi o resto.
O 10º copo, eu peguei a garrafa no resto e me joguei na pia.
-Não me lembro o que fiz com a patroa
Saideira
Musicalmente, foram feitas trocentas músicas, com letras falando da cachaça e respectivos bebuns. Apontarei três, que considero ótimas:
Camisa listrada, de Assis Valente
Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí
Em vez de tomar chá com torrada ele bebeu parati
Levava um canivete no cinto e um pandeiro na mão
E sorria quando o povo dizia: sossega leão, sossega leão...
Cachaça Não é Água Não,de Mirabeau Pinheiro, L de Castro e H Lobato
Se você pensa que cachaça é água
Cachaça não é água não
Cachaça vêm do alambique
E água vêm do ribeirão
Pode me faltar tudo na vida
arroz, feijão e pão
Pode me faltar manteiga,
E tudo mais não faz falta não
Pode me faltar amor
Disto até acho graça
Só não quero que me falte
A danada da cachaça
Moda da Pinga, de Ochelsis Laureano e Raul Torres
C’oa marvada pinga é que eu me atrapaio
Eu entro na venda e já dô meu taio
Pego no copo e dali não saio
Ali mesmo eu bebo, ali mesmo eu caio
Só pra carregá é que eu dô trabaio, oi lá !
Venho da cidade, já venho cantando
Trago um garrafão que venho chupando
Venho pros caminho, venho trupicando
Chifrando os barranco, venho cambeteando
E no lugar que eu caio, já fico roncando, oi lá !
O marido me disse, ele me falô
Largue de bebê, peço pro favor
Prosa de homem nunca dei valor
bebo com o sor quente pra esfriar o calô
E bebo de noite pra fazê suadô, oi lá !
Cada vez que eu caio, caio diferente
Me arco pra trás e caio pra frente
Caio devagar, caio de repente
Vou de currupio, vou deretamente
Mas sendo de pinga eu caio contente, oi lá !
Pego o garrafão e já balanceio
Que é pra mor de ver se tá mesmo cheio
Num bebo de vez porque acho feio
No primeiro gorpe chego inté no meio
No segundo trago é que eu desvazeio, oi lá !
Eu bebo da pinga porque gosto dela
Eu bebo da branca, bebo da amarela
Bebo no copo, bebo na tigela
Bebo temperado com cravo e canela
Seja quarqué tempo vai pinga na goela, oi lá !
Eu fui numa festa no rio Tietê
Eu lá fui chegando no amanhecê
Já me dera, pinga pra mim bebê
Já me deram pinga pra mim bebê, tava sem fervê
Eu bebi demais e fiquei mamada
Eu caí no chão e fiquei deitada
Aí eu fui pra casa de braço dado
Ai de braço dado com dois sordado
Ai, muito obrigado !
Camisa listrada, de Assis Valente
Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí
Em vez de tomar chá com torrada ele bebeu parati
Levava um canivete no cinto e um pandeiro na mão
E sorria quando o povo dizia: sossega leão, sossega leão...
Cachaça Não é Água Não,de Mirabeau Pinheiro, L de Castro e H Lobato
Se você pensa que cachaça é água
Cachaça não é água não
Cachaça vêm do alambique
E água vêm do ribeirão
Pode me faltar tudo na vida
arroz, feijão e pão
Pode me faltar manteiga,
E tudo mais não faz falta não
Pode me faltar amor
Disto até acho graça
Só não quero que me falte
A danada da cachaça
Moda da Pinga, de Ochelsis Laureano e Raul Torres
C’oa marvada pinga é que eu me atrapaio
Eu entro na venda e já dô meu taio
Pego no copo e dali não saio
Ali mesmo eu bebo, ali mesmo eu caio
Só pra carregá é que eu dô trabaio, oi lá !
Venho da cidade, já venho cantando
Trago um garrafão que venho chupando
Venho pros caminho, venho trupicando
Chifrando os barranco, venho cambeteando
E no lugar que eu caio, já fico roncando, oi lá !
O marido me disse, ele me falô
Largue de bebê, peço pro favor
Prosa de homem nunca dei valor
bebo com o sor quente pra esfriar o calô
E bebo de noite pra fazê suadô, oi lá !
Cada vez que eu caio, caio diferente
Me arco pra trás e caio pra frente
Caio devagar, caio de repente
Vou de currupio, vou deretamente
Mas sendo de pinga eu caio contente, oi lá !
Pego o garrafão e já balanceio
Que é pra mor de ver se tá mesmo cheio
Num bebo de vez porque acho feio
No primeiro gorpe chego inté no meio
No segundo trago é que eu desvazeio, oi lá !
Eu bebo da pinga porque gosto dela
Eu bebo da branca, bebo da amarela
Bebo no copo, bebo na tigela
Bebo temperado com cravo e canela
Seja quarqué tempo vai pinga na goela, oi lá !
Eu fui numa festa no rio Tietê
Eu lá fui chegando no amanhecê
Já me dera, pinga pra mim bebê
Já me deram pinga pra mim bebê, tava sem fervê
Eu bebi demais e fiquei mamada
Eu caí no chão e fiquei deitada
Aí eu fui pra casa de braço dado
Ai de braço dado com dois sordado
Ai, muito obrigado !
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008
CARNAVAL? E O NOSSO? - env. por loureane castro
carro alegórico com eusébio, no corso de Loule.
Quando se fala de Carnaval, os brasileiros acham-se donos da ciência. Pensam que só no Brasil é que há Carnaval? Nanay. Não se esqueçam do Carnaval veneziano…
Espanha também tem tradições próprias e muito antigas. Se, por um lado, temos o mediático Carnaval de Tenerife (mais do mesmo, na linha do Carnaval madeirense, como se pode ver em http://www.carnavaltenerife.es/), o norte da Espanha tem tradições que se assemelham muito às do interior/norte de Portugal e que remontam aos jograis e às sátiras sociais em tom jocoso e por trás de um careto ou de uma máscara.
A sul, mantêm-se as sátiras, mas juntam-se às chirigotas, em agrupamentos de gente que se une para satirizar a actualidade ao ritmo de pasodoble, tanguillo e outros da tradição musical andaluza. Há um concurso central, que é o de Cádiz, mas todas as terras têm o seu concurso local para os melhores chirigoteros. O site oficial é http://www.carnavaldecadiz.com/. O concurso pode também ser visto em directo na tv (ou numa selecção em diferido) no site do CanalSur: http://www.radiotelevisionandalucia.es/
Nós, os saloios dos ibéricos, também temos tradições para tudo. E, sinceramente, eu cá dispenso as mulatas despidas e as escolas de samba e vou-me ficar por ver o concurso de chirigotas em directo na terça-feira. É uma pena que não se incentivem os Entrudos lusitanos assim e que se deixem cair em desuso tradições seculares para adoptar referências culturais que, entre o Halloween dos EUA e o sambódromo do Brasil, não são nossas.
Espanha também tem tradições próprias e muito antigas. Se, por um lado, temos o mediático Carnaval de Tenerife (mais do mesmo, na linha do Carnaval madeirense, como se pode ver em http://www.carnavaltenerife.es/), o norte da Espanha tem tradições que se assemelham muito às do interior/norte de Portugal e que remontam aos jograis e às sátiras sociais em tom jocoso e por trás de um careto ou de uma máscara.
A sul, mantêm-se as sátiras, mas juntam-se às chirigotas, em agrupamentos de gente que se une para satirizar a actualidade ao ritmo de pasodoble, tanguillo e outros da tradição musical andaluza. Há um concurso central, que é o de Cádiz, mas todas as terras têm o seu concurso local para os melhores chirigoteros. O site oficial é http://www.carnavaldecadiz.com/. O concurso pode também ser visto em directo na tv (ou numa selecção em diferido) no site do CanalSur: http://www.radiotelevisionandalucia.es/
Nós, os saloios dos ibéricos, também temos tradições para tudo. E, sinceramente, eu cá dispenso as mulatas despidas e as escolas de samba e vou-me ficar por ver o concurso de chirigotas em directo na terça-feira. É uma pena que não se incentivem os Entrudos lusitanos assim e que se deixem cair em desuso tradições seculares para adoptar referências culturais que, entre o Halloween dos EUA e o sambódromo do Brasil, não são nossas.
Eles têm o rei Momo, nós temos a Queima e o Enterro do Judas.
E qualquer provinciano ibérico como eu, que oscilo entre o jamón Pata Negra e as tripas à moda do Porto, sabe do que falo.
E qualquer provinciano ibérico como eu, que oscilo entre o jamón Pata Negra e as tripas à moda do Porto, sabe do que falo.
loureane afirma, em seu email, que retirou de uma página da internet, sem assinatura, e que achou interessante. como estamos no carnaval e o servidor está cheio de confetes e serpentinas, publicamos. se o autor do texto se apresentar, com provas, citaremo-lo. ops! confete no olho.
ARRANCADO DE MIM - poema de paulo matos
Arrancado de mim
Como flor que fosse arrancada
Por uma criança ao passar
E antes que a flor percebesse
Já tivesse sido despetalada
Pela criança que soprava
Suas pétalas ao vento
Para acompanhar-lhes o vôo
No encanto mágico de voar
Como essa flor sem pétalas
Estou despido de mim
Perdido ao lembrar como era
E não saber como sou
Sinto medo
Há silencio em mim
Como se não ter respostas
Fosse a resposta
E tudo se tranqüilizasse
Como um mar em súbita calmaria
E o medo fosse embora
E outro medo então
Se apossasse de mim
O medo de não ter coragem
Para encontrar as respostas
Que provavelmente estão aqui
Dentro de mim
Como flor que fosse arrancada
Por uma criança ao passar
E antes que a flor percebesse
Já tivesse sido despetalada
Pela criança que soprava
Suas pétalas ao vento
Para acompanhar-lhes o vôo
No encanto mágico de voar
Como essa flor sem pétalas
Estou despido de mim
Perdido ao lembrar como era
E não saber como sou
Sinto medo
Há silencio em mim
Como se não ter respostas
Fosse a resposta
E tudo se tranqüilizasse
Como um mar em súbita calmaria
E o medo fosse embora
E outro medo então
Se apossasse de mim
O medo de não ter coragem
Para encontrar as respostas
Que provavelmente estão aqui
Dentro de mim
A RARA ARARA ( palíndromos) de edu hoffmann
oh, nossas luvas avulsas, sonho
a base do teto desaba
marujos só juram
a sacada da casa
soa como caos
seco de raiva, coloco no colo caviar e doces
rir, o breve verbo rir
Ana me rola, calor emana
a rara arara
amora me tem aroma
a base do teto desaba
marujos só juram
a sacada da casa
soa como caos
seco de raiva, coloco no colo caviar e doces
rir, o breve verbo rir
Ana me rola, calor emana
a rara arara
amora me tem aroma
CHIAR(O)SCURO - poema de bárbara lia
Hora suspensa. Horizonte de sangue.
Despediu-se o sol, não brilha a lua.
Barcas estremecem em marés de fogo.
Barcas estremecem em marés de fogo.
Sinos dobram a Ave-Maria.
O Bem chora a evaporação do dia.
Lágrimas de anjos pela humanidade crua.
O Bem chora a evaporação do dia.
Lágrimas de anjos pela humanidade crua.
Encontro e fuga de almas no ocaso,
Bebendo o sangue solar – poção
De luz para os dias de aço.
Bebendo o sangue solar – poção
De luz para os dias de aço.
Crepúsculo incendiado.
Átimo de esperança: Um Serafim alado,
Flauta de estrelas flana acima de algas e corais.
Átimo de esperança: Um Serafim alado,
Flauta de estrelas flana acima de algas e corais.
Toca a música divina estremecendo cristais.
(Jazz, blues, salsa cubana, sinfonia?)
(Jazz, blues, salsa cubana, sinfonia?)
Som azul unindo sangue celeste e marinho.
Serafim, flauta e sol
Evaporam em silêncio de prece.
A branda noite abraça o arrebol.
Evaporam em silêncio de prece.
A branda noite abraça o arrebol.
O eco da flauta aos puros adormece
ATÉ MAIS, OFÉLIA - por zuleika dos reis
A mulher vai passando silenciosa pelo homem que toca violino junto aos mendigos da Estação República.
Peter Pan encontra a pedra de crack no bolso da calça jeans e se põe a sonhar... Wendy, ao seu lado, também se põe a sonhar...
O olhar do homem que entra no Franz e aguarda o café expresso, não se parece com um céu em chamas. Enquanto toma o café, apenas vê os brancos garçons suspensos por seus fios invisíveis.
O céu baixíssimo protege a velha biblioteca com seus ratos de outros tempos.
O palhaço com imensas pernas de pau atravessa o Viaduto do Chá, anunciando... Você só fala, fala, mas não faz nada, diz a balconista, que jamais leu o papagaio de Queneau.
Fernando Pessoa cumprimenta timidamente a mulher, que continua a passar silenciosa. Ele lhe faz um gesto como quem diz: Isso também passará. O poeta atravessa a Rua Direita com o chapéu em uma das mãos e na outra o gatinho que acabou de recolher da calçada.
O homem que toca o violino vem, cercado pelo séquito de mendigos. O homem que toma café no Franz se cose à parede. Não há como duvidar que os brancos garçons continuem, ad infinitum, a servirem cafés. O palhaço chega à Praça da Sé. Um rato pardo, que acabou de sair do bueiro, tem nos olhos a certeza de que o mundo perfeito não precisa, absolutamente, de queijos. Tento surpreender nele algum ar de mártir cristão ou de monge zen, mas já desapareceu.
Fernando Pessoa solta o gatinho, despe o casaco e se põe a dançar, frenético. Ele grita Ofélia vem dançar vem dançar vem dançar e a multidão que se dirige à missa também grita Ofélia vem dançar vem dançar vem dançar.
Ofélia dança e vai soltando, um por um, todos os seus véus e nua, continua a dançar.
Fernando Pessoa pára, veste o casaco, pega o chapéu do chão com o gato dentro e se despede: Até mais, Ofélia.
Peter Pan encontra a pedra de crack no bolso da calça jeans e se põe a sonhar... Wendy, ao seu lado, também se põe a sonhar...
O olhar do homem que entra no Franz e aguarda o café expresso, não se parece com um céu em chamas. Enquanto toma o café, apenas vê os brancos garçons suspensos por seus fios invisíveis.
O céu baixíssimo protege a velha biblioteca com seus ratos de outros tempos.
O palhaço com imensas pernas de pau atravessa o Viaduto do Chá, anunciando... Você só fala, fala, mas não faz nada, diz a balconista, que jamais leu o papagaio de Queneau.
Fernando Pessoa cumprimenta timidamente a mulher, que continua a passar silenciosa. Ele lhe faz um gesto como quem diz: Isso também passará. O poeta atravessa a Rua Direita com o chapéu em uma das mãos e na outra o gatinho que acabou de recolher da calçada.
O homem que toca o violino vem, cercado pelo séquito de mendigos. O homem que toma café no Franz se cose à parede. Não há como duvidar que os brancos garçons continuem, ad infinitum, a servirem cafés. O palhaço chega à Praça da Sé. Um rato pardo, que acabou de sair do bueiro, tem nos olhos a certeza de que o mundo perfeito não precisa, absolutamente, de queijos. Tento surpreender nele algum ar de mártir cristão ou de monge zen, mas já desapareceu.
Fernando Pessoa solta o gatinho, despe o casaco e se põe a dançar, frenético. Ele grita Ofélia vem dançar vem dançar vem dançar e a multidão que se dirige à missa também grita Ofélia vem dançar vem dançar vem dançar.
Ofélia dança e vai soltando, um por um, todos os seus véus e nua, continua a dançar.
Fernando Pessoa pára, veste o casaco, pega o chapéu do chão com o gato dentro e se despede: Até mais, Ofélia.
CRIME e CASTIGO - por walmor marcellino
Após o anúncio da progressão assustadora do desmatamento na Amazônia, e da reunião de emergência do governo Lula da Selva, surge a inevitável pergunta: O presidente da República não teria sido avisado por sua delegacia de ordem política e social, isto é, a ABIn, por sua ministra do Ambiente do Meio(?) Marina Selva, pelo Ministério da Reforma Agrária, pelo Ministério da Defesa, pelo Ministério da Justiça e até pelo Ministério da Pesca e pela direção nacional do PT de que estão depredando a Amazônia? E que os empresários que a borracheira e castanheira Marina e o protelário Lulu estão querendo incumbir de proteger esse patrimônio nacional são assaltantes dos bens públicos?
Afinal, é o começo da PP/P (que os pariu!).
Os governadores, prefeitos, senadores e deputados da região amazônica são sócios do festim nacional do neoliberalismo de esquerda; como o eram no de Fernando-Henrique, ou seja, qualquer “predatório”. Toda vez que eu vi e ouvi os Artur Virgílios discursarem foi para atacar esse “governinho de esquerda” e defender a predação nacional, de direita. Essa escumalha de políticos se revelam a cada momento através de desastres e tragédias que são anunciadas para quem vê o que passa, sob a batuta de Lula-Meirelles-Mântega.
“Política é isso, fazer o quê?” dirão o Berzoini, o Palocci, o Mântega, o Paulo Bernardo, o Meirelles, o Mangabeira, o Luiz Inácio e as bancadas do PT e seus cúmplices no Congresso Nacional. A propósito, a governadora petista do Pará faz o quê, além de administrar o espólio?
O que vai acontecer agora, e depois?
Se alguém souber, me diga.
Afinal, é o começo da PP/P (que os pariu!).
Os governadores, prefeitos, senadores e deputados da região amazônica são sócios do festim nacional do neoliberalismo de esquerda; como o eram no de Fernando-Henrique, ou seja, qualquer “predatório”. Toda vez que eu vi e ouvi os Artur Virgílios discursarem foi para atacar esse “governinho de esquerda” e defender a predação nacional, de direita. Essa escumalha de políticos se revelam a cada momento através de desastres e tragédias que são anunciadas para quem vê o que passa, sob a batuta de Lula-Meirelles-Mântega.
“Política é isso, fazer o quê?” dirão o Berzoini, o Palocci, o Mântega, o Paulo Bernardo, o Meirelles, o Mangabeira, o Luiz Inácio e as bancadas do PT e seus cúmplices no Congresso Nacional. A propósito, a governadora petista do Pará faz o quê, além de administrar o espólio?
O que vai acontecer agora, e depois?
Se alguém souber, me diga.
sábado, 2 de fevereiro de 2008
JOÃO GOULART, as provas e a história - por gison caroni filho
O Novo Dicionário Aurélio define "prova" como "aquilo que atesta veracidade ou autenticidade de uma coisa; demonstração evidente". Nas reportagens ditas investigativas, é algo a ser obtido durante a fase de apuração das informações que vão ser publicadas. Peça tão importante que deve ser checada criteriosamente.
Na entrevista concedida à Folha de S.Paulo (27/1), o ex-agente de inteligência do governo uruguaio Mário Neira Barreira afirma que João Goulart, deposto em 1964 e morto em 1976, foi assassinado por envenenamento a pedido do governo brasileiro.
A rigor, não estamos diante de um furo jornalístico. Há duas semanas, após entrevista de Barreira com João Vicente Goulart, filho de Jango, a família entrou com uma ação na Procuradoria Geral da República na qual pede que se investiguem as circunstâncias que cercaram a morte do ex-presidente em seu exílio, na Argentina.
O que o diário paulista conseguiu foi um material rico em detalhes, algo que pede para ser reconstituído como acontecimento histórico relevante, podendo tanto confirmar a versão oficial (ataque cardíaco fulminante) como refutá-la.
O que está em questão é a disposição e/ou capacidade de se fazer jornalismo investigativo ou deixar que matéria morra na opinião sobre os "especialistas do tema".
Ouvindo o que Jango falava
Ao escrever que Mário Neira "não exibiu provas e disse que o caso era discutido pessoalmente", a jornalista Simone Iglesias, involuntariamente, suscita questões interessantes: o que pode ser considerado prova em um episódio como esse? Uma autorização por escrito do então presidente general Ernesto Geisel ou do delegado do Dops Sérgio Paranhos Fleury? Algum comprimido envenenado com frasco mostrando a validade vencida?
Se considerarmos que o relato do uruguaio guarda inconteste coerência interna – e é verossímil com o contexto político da época – a entrevista pode ser o primeiro passo na concepção de um instigante trabalho de investigação.
Uma história que pede para ser revisitada.
Se, tal como definida no dicionário, "prova circunstancial" é aquela que se baseia em indícios, as palavras do entrevistado não podem ser descartadas por falta de relevância. Como prova testemunhal, conhecida nos meios jurídicos como "prostituta das provas", a posição funcional de Neira é um dado que não deve ser ignorado. O que deve ser apurado não é de pouca monta.
Senão, vejamos:
"Estive na fazenda de Maldonado para colocar uma estação repetidora que captava sinais dos microfones de dentro da casa e retransmitia para nós. Esta estação repetidora foi colocada numa caixa de força que havia na fazenda. Aproveitamos essa fonte de energia para alimentar os aparelhos eletrônicos e para ampliar as escutas. Isso possibilitava que ouvíssemos as conversas a 10, 12 km de distância. Ficávamos no hipódromo de Maldonado ouvindo o que Jango falava."
Uma rara oportunidade
Não há como confirmar junto à família ou ex-trabalhadores a existência dessa caixa e a plausibilidade operacional de escuta no hipódromo? Ou disso cuidam os biógrafos?
"Foi morto como resultado de uma troca proposital de medicamentos. Ele tomava Isordil, Adelfan e Nifodin, que eram para o coração. Havia um médico-legista que se chamava Carlos Milles. Ele era médico e capitão do serviço secreto. O primeiro ingrediente químico veio da CIA e foi testado com cachorros e doentes terminais. O doutor deu os remédios e eles morreram. Ele desidratava os compostos, tinha cloreto de potássio. Não posso dizer a fórmula química porque não sei. Ele colocava dentro de um comprimido."
Certamente, há como se comprovar ou não a existência do médico e seu papel no aparato repressivo. A medicação citada deve ser de conhecimento dos familiares ou de algum clínico com quem o ex-presidente tenha se consultado. Quem sabe não há prontuários no Brasil, Argentina ou Uruguai? Estamos falando do estudo de viabilidades, um procedimento bastante familiar a experientes jornalistas.
Se, conforme é descrito na matéria, "o Exército brasileiro informou que não há hoje ninguém na ativa com condição de responder ou até rejeitar acusações. O mesmo foi dito pela embaixada dos Estados Unidos no Brasil, questionada se houve participação da CIA na suposta operação para matar o presidente João Goulart, em 1976", é hora de a Folha de S.Paulo estabelecer um plano de ação e pôr em campo uma equipe familiarizada com o tema e que a ele se dedique com afinco. Estamos falando da Operação Condor e de uma rara oportunidade: aquela em que a história, sorrateiramente, adentra uma redação como esfinge.
A opção é por demais conhecida para ser repetida como desfecho de artigo.
Ou será que a proverbial preguiça, advinda do exercício constante do denuncismo vazio, levou nossa imprensa a criar um novo preceito jurídico? Algo do gênero: a quem se acusa cabe o ônus da prova?
Na entrevista concedida à Folha de S.Paulo (27/1), o ex-agente de inteligência do governo uruguaio Mário Neira Barreira afirma que João Goulart, deposto em 1964 e morto em 1976, foi assassinado por envenenamento a pedido do governo brasileiro.
A rigor, não estamos diante de um furo jornalístico. Há duas semanas, após entrevista de Barreira com João Vicente Goulart, filho de Jango, a família entrou com uma ação na Procuradoria Geral da República na qual pede que se investiguem as circunstâncias que cercaram a morte do ex-presidente em seu exílio, na Argentina.
O que o diário paulista conseguiu foi um material rico em detalhes, algo que pede para ser reconstituído como acontecimento histórico relevante, podendo tanto confirmar a versão oficial (ataque cardíaco fulminante) como refutá-la.
O que está em questão é a disposição e/ou capacidade de se fazer jornalismo investigativo ou deixar que matéria morra na opinião sobre os "especialistas do tema".
Ouvindo o que Jango falava
Ao escrever que Mário Neira "não exibiu provas e disse que o caso era discutido pessoalmente", a jornalista Simone Iglesias, involuntariamente, suscita questões interessantes: o que pode ser considerado prova em um episódio como esse? Uma autorização por escrito do então presidente general Ernesto Geisel ou do delegado do Dops Sérgio Paranhos Fleury? Algum comprimido envenenado com frasco mostrando a validade vencida?
Se considerarmos que o relato do uruguaio guarda inconteste coerência interna – e é verossímil com o contexto político da época – a entrevista pode ser o primeiro passo na concepção de um instigante trabalho de investigação.
Uma história que pede para ser revisitada.
Se, tal como definida no dicionário, "prova circunstancial" é aquela que se baseia em indícios, as palavras do entrevistado não podem ser descartadas por falta de relevância. Como prova testemunhal, conhecida nos meios jurídicos como "prostituta das provas", a posição funcional de Neira é um dado que não deve ser ignorado. O que deve ser apurado não é de pouca monta.
Senão, vejamos:
"Estive na fazenda de Maldonado para colocar uma estação repetidora que captava sinais dos microfones de dentro da casa e retransmitia para nós. Esta estação repetidora foi colocada numa caixa de força que havia na fazenda. Aproveitamos essa fonte de energia para alimentar os aparelhos eletrônicos e para ampliar as escutas. Isso possibilitava que ouvíssemos as conversas a 10, 12 km de distância. Ficávamos no hipódromo de Maldonado ouvindo o que Jango falava."
Uma rara oportunidade
Não há como confirmar junto à família ou ex-trabalhadores a existência dessa caixa e a plausibilidade operacional de escuta no hipódromo? Ou disso cuidam os biógrafos?
"Foi morto como resultado de uma troca proposital de medicamentos. Ele tomava Isordil, Adelfan e Nifodin, que eram para o coração. Havia um médico-legista que se chamava Carlos Milles. Ele era médico e capitão do serviço secreto. O primeiro ingrediente químico veio da CIA e foi testado com cachorros e doentes terminais. O doutor deu os remédios e eles morreram. Ele desidratava os compostos, tinha cloreto de potássio. Não posso dizer a fórmula química porque não sei. Ele colocava dentro de um comprimido."
Certamente, há como se comprovar ou não a existência do médico e seu papel no aparato repressivo. A medicação citada deve ser de conhecimento dos familiares ou de algum clínico com quem o ex-presidente tenha se consultado. Quem sabe não há prontuários no Brasil, Argentina ou Uruguai? Estamos falando do estudo de viabilidades, um procedimento bastante familiar a experientes jornalistas.
Se, conforme é descrito na matéria, "o Exército brasileiro informou que não há hoje ninguém na ativa com condição de responder ou até rejeitar acusações. O mesmo foi dito pela embaixada dos Estados Unidos no Brasil, questionada se houve participação da CIA na suposta operação para matar o presidente João Goulart, em 1976", é hora de a Folha de S.Paulo estabelecer um plano de ação e pôr em campo uma equipe familiarizada com o tema e que a ele se dedique com afinco. Estamos falando da Operação Condor e de uma rara oportunidade: aquela em que a história, sorrateiramente, adentra uma redação como esfinge.
A opção é por demais conhecida para ser repetida como desfecho de artigo.
Ou será que a proverbial preguiça, advinda do exercício constante do denuncismo vazio, levou nossa imprensa a criar um novo preceito jurídico? Algo do gênero: a quem se acusa cabe o ônus da prova?
ENTRE O CARNAVAL e os CARNAVAIS por márcio salgues
Raíssa Oliveira -(2008) A mais nova de todas, com apenas 17 anos, Raissa mostrará todo seu charme e samba-no-pé como rainha de bateria da atual campeã, a Beija-Flor de Nilópolis.
foto sem crédito.
foto sem crédito.
No carnaval a vida muda. O país muda. As pessoas mudam.
Tantos pudores cotidianos são esquecidos. Os desejos mais íntimos afloram à pele nos carnavais das ruas e dos bailes.
Não há Josés, Marias, Franciscos, nem outras pessoas que sejam. Há, sim, foliões lançados ao transe coletivo, à catarse coletiva dos desejos oprimidos no dia-a-dia em nome de uma suposta vida normal.
Não há a necessidade de dissimulação para consigo mesmo. Os foliões se entregam aos folguedos e à libertinagem.O carnaval é a festa que melhor representa a cultura brasileira em todos os seus aspectos. Num misto de tradições populares e antigas tradições pagãs.
É a união de inúmeros personagens míticos e folclóricos: Baco, Momo, Pierrôs, Colombinas, Baianas das enormes saias que rodopiam nos desfiles, corpos lânguidos que saracoteiam pelas ruas exalando sensualidade, luxúria e o cheiro do cio que enche a atmosfera libertando os pudores; os carros que fazem suas alegorias à temas diversos, o gigante Galo da Madrugada... O mundo pára.
A vida pára.
Durante quatro dias, ninguém mais se preocupa com as oscilações do mercado, com a cotação do dólar, com os baixos salários, com os escândalos de todos os dias, com a corrupção, com a pobreza, a miséria, a fome... Tudo é festa. Festeja-se a própria insensatez.
Todos se entregam à ilusão temporária a que chamam alegria, até que chegue a quinta-feira e todos retomem suas velhas e rotineiras vidas. Carnaval é a festa de todos.
Não há distinção de classes. Não há luta de classes.
Ainda que as diferenças se façam perceber na magnitude dos bailes nababescos e dos camarotes VIP dos endinheirados, celebridades descartáveis e candidatos à celebridade descartáveis; onde os “colunistas sociais” se esfalfam nos regalos e bajulações.
Título curioso, aliás, para uma categoria que não se vê no meio do povão, nas arquibancadas dos desfiles das escolas de samba, nas ruas, onde os corpos suados pululam ao som dos trios-elétricos, dos blocos de rua, das orquestras de frevo, Caboclinhos, Maracatus, Bois-Bumbás e todas as manifestações populares pelo Brasil adentro, onde está o verdadeiro carnaval.
Os carnavais dos versos de Nelson Ferreira, Chiquinha Gonzaga, Braguinha, Edgard Moraes e tantos outros grandes nomes da nossa cultura se perdem aos poucos, salvo iniciativas de grupos isolados...
Saudosismo dos blocos líricos e antigos carnavais? Não sei... Não vivi esses tempos. Apenas conheço as canções dos carnavais poéticos...
EVOCAÇÃO Nº 1(Nelson Ferreira, 1956)
"Felinto, Pedro Salgado, Guilherme, Fenelon
Cadê teus blocos famosos
Bloco das Flores, Andaluzas, Pirilampos, Apôs-Fum
Dos carnavais saudosos
Na alta madrugada
O coro entoava
Do bloco a marcha-regresso
E era o sucesso dos tempos ideais
Do velho Raul Moraes
Adeus, adeus minha gente
Que já cantamos bastante
E Recife adormecia
Ficava a sonhar
Ao som da triste melodia..."
... Apenas sinto a estranha sensação de que a nossa cultura aos poucos vai sendo canibalizada. A poesia, o lirismo, as tradições folclóricas vão sumindo.
Os carnavais da grande massa popular aos poucos vão se tornando em imensas feiras livres, cujo único objetivo é a venda de pretensas musiquinhas irritantes, abadás e cervejas de todas as marcas. E que, como fonte de lucro abundante, se prolifera nos chamados “carnavais fora de época”, onde se despejam, como que num grande buraco negro, todas as mazelas que açoitam nossa sociedade.
Esconde-se o lixo debaixo do tapete.
E assim, embriagados nos delírios desses dias de folia, a vida segue seu rumo. Despercebida e com poucos ideais e ambições. A sociedade vai sendo ludibriada e a cultura histórica se transforma numa cultura descartável, como tudo mais na sociedade moderna.
Assim fazemos a distinção entre o carnaval do engodo e da ignorância e o carnaval da cultura e da diversidade histórica que precisa ser massificado.
E esse carnaval verdadeiro, enquanto houver iniciativas por parte daqueles que cultuam as nossas tradições, será sempre a maior manifestação cultural e popular brasileira.
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008
CONTRA-CANALHAS - poema de joão batista do lago
Quanto tempo ainda restará
Para conviver com os canalhas?
Vive-se um tempo de batalha: a
Virtude é pura moeda rara!
Perdeu-se a vergonha da cara;
Falta coragem de usar a navalha.
Ó, República da vagabundalha,
República de miserável sorte,
Rasgaram-te as vestes da Ética (e)
Curvaram-te ante essa estética
Sangram-te, ó mãe, os canalhas!
Arrancar-te o Direito do peito é
Tudo que deseja a vagabundalha:
Nação inerte; prostrada ao leito.
Sangram-te, ó mãe, os canalhas!
Mas haverá dia que todo malfeito
Restará findo… restará morto…
A nação cativa se levantará do jugo
Então aí – o povo –, plebe ignara,
Tomará as rédeas do desatino e
Fará da nação cativa seu destino:
República de Virtude, Ética e Direito.
Para conviver com os canalhas?
Vive-se um tempo de batalha: a
Virtude é pura moeda rara!
Perdeu-se a vergonha da cara;
Falta coragem de usar a navalha.
Ó, República da vagabundalha,
República de miserável sorte,
Rasgaram-te as vestes da Ética (e)
Curvaram-te ante essa estética
Sangram-te, ó mãe, os canalhas!
Arrancar-te o Direito do peito é
Tudo que deseja a vagabundalha:
Nação inerte; prostrada ao leito.
Sangram-te, ó mãe, os canalhas!
Mas haverá dia que todo malfeito
Restará findo… restará morto…
A nação cativa se levantará do jugo
Então aí – o povo –, plebe ignara,
Tomará as rédeas do desatino e
Fará da nação cativa seu destino:
República de Virtude, Ética e Direito.
MEIO de TARDE - poema de joanna andrade
Meio de tarde
No balanço de um blues
Pra lá e pra cá
O cenário de hotel
A cadeira e o guarda sol
A fumaça do cigarro e o cinzeiro lotado
A água da piscina
O gim e a tônica da solidão.
No balanço de um blues
Pra lá e pra cá
O cenário de hotel
A cadeira e o guarda sol
A fumaça do cigarro e o cinzeiro lotado
A água da piscina
O gim e a tônica da solidão.
O RETORNO DE DARIO - poema de jairo pereira
Dario em seu retorno de quinta ou sexta vez
está mais velho e lívido os grisalhos nevados
a tez feliz de quem já viu-viveu quase-tudo
Dario o das palavras: estar ficar nada-fazer
as unhas bem feitas os óculos finos a testa alta
Dario o aristocrata descido de brancas nuvens
o andar preciso o sorriso aberto no ouro do dente
Dario o da mulher ausente os filhos por re-conhecer
no sétimo retorno de Dario a voz consente
da razão escolher assento nas Quedas do Iguaçu
onde o Dr. Jairo é o louco bom q. chuta postes
e a maneira dos gaúchos de culotes
fere a noite no tropel de seu cavalo monet
oferecido a vida e a morte por mero deleite.
quinta-feira, 31 de janeiro de 2008
SONATA DA PAIXÃO - por helena sut
Meu primeiro colo foi um canteiro. Minha mãe tem nome de flor. O ventre solo acolheu-me semente e lançou-me ao mundo rebento rosa chá. Encontrei-me no sonho acolhido e flutuei no cerne da vida. Minha mãe dizia entre risos que o meu pai tinha cheiro de alecrim. Rosmaninho, orvalho do mar, folhas labiadas... O tempero e a cor da minha trama. Na concepção incorporei a maresia no oceano tranqüilo entranhado no corpo e percebi as marés e as luas na orla, protegida sobre as pedras do cais feminino.
Cresci com a dor do primeiro botão. A saliência despertou no caule das primaveris vivências e desprendeu o tronco com circunstâncias de ventos. Entornei o vinho dos virginais desejos e encontrei na carne as chagas do corpo em cruz. Das cicatrizes, espinhos... Espinhos? Dizem que resguardam os sonhos e debelam os medos, mas tem noites em que perco o sono, encolho-me, não percebo as alegorias e ainda sinto a aflição dos espinhos cravados na pele da lembrança.
Encontrei-me rubra com as pétalas revoltas. Os caminhos... Tantas opções e apenas uma posse de passos. Multiplicação de espinhos, ciclos de espera e renovação... Passei em procissão e ornei o templo com fantasias. Compreendi a sonata que repercutia e ritmava meus movimentos. Tantas vezes me rebelei em sons discordantes. Sangrei destinos e me cerzi em alguns acasos. Moldura de risos, superfície de falsos planos... Eu, o retrato enraizado no canteiro de um espelho; eu, o reflexo emoldurado em outras perspectivas...
Reconheci que paixão é um substantivo feminino como também a vida. Brinquei com palavras e me conjuguei amor, busquei complementos em corpos etéreos, encontrei-me entre estrelas e pousei orvalho da noite no colo sereno da percepção do próprio ventre. Pontuei orações com pétalas e espinhos sem finalizar as reticentes sementes manifestas no tempo.
Assumi a autoria de ser mulher.
Assumi a autoria de ser mulher.
PEQUENAS CONSTATAÇÕES na FALTA de MAIORES - por josé zokner
Constatação I (Teoria da Relatividade para principiantes)
É muito melhor ser de Barra Mansa, Estado do Rio, do que corno manso.
Constatação II (De uma dúvida crucial).
Anfitrião que se serve por primeiro é a visita de si mesmo?
Constatação III
Rico faz carícias; pobre, malcriadez.
Constatação IV (Teoria da Relatividade para principiantes).
Numa transação, em que a palavra juros é banida, é muito melhor ter um preço menor e um prazo maior, do que um preço maior e um prazo menor.
Constatação V (Conselho útil, passível de mal-entendido).
Não se deve cutucar a sogra com vara curta.
Constatação VI (Dúvida crucial).
Será que retórica vazia é o mesmo que empulhação enrolada, ou ainda embromação mexerufada?* Quem souber, por favor, cartas à redação. Obrigado.
*Mexerufada = “mistura confusa, desordenada, de seres ou coisas; confusão, misturada, mixórdia” (Houaiss).
Constatação VII
Rico tem estofo; pobre, inércia.
Constatação VIII
Rico é uma douta personalidade; pobre se dá ares de importante.
Constatação IX (De diálogos entre mãe e filha ou entre mulher e sogra).
-“Se eu soubesse que meu marido ia me fazer isso, eu não teria feito tudo que eu fiz para ele: comidinha gostosa, me esfalfar num emprego para ajudar nas despesas da casa, levar e pegar os filhos na escola, ser a amante perfeita, mesmo cansadíssima e por aí afora”.
-“Reciprocidade, minha filha, é só banco comercial e olha lá. Eles querem tudo e a gente ainda tem que gramar na fila porque eles não põem funcionários, por medida de economia as nossas custas. Marido é que nem banco. A diferença, ou talvez semelhança é que marido não te dá dinheiro e dá pra amante; banco, não te empresta e só empresta para quem não precisa”.
Constatação X
Deu na mídia: “Em Recife, José Dirceu passa por operação para implantar cabelos”. Taí uma notícia de transcendental importância para a Humanidade em geral e para o Brasil, em particular.
Constatação XI
Deu na mídia: “Panda ignora vídeo erótico e fêmea tem de ser inseminada”. Data vênia como diriam nossos juristas e de um ou outro panda macho, mas existem alguns filminhos, em vídeo ou DVD, ditos eróticos, seja pra panda ou para os assim chamados racionais que, ao invés de fazerem o efeito desejado, pela má qualidade, fazem o efeito contrário.
Constatação XII
Não se pode confundir vista com visita, muito embora a vista fique anuviada, nublada, carregada, toldada, sombria com a visita desagradável que chega de modo inopinado, inesperado, imprevisto. E, para não acusarem a coluna Rumorejando de facciosa, perseguidora, plena de má vontade não estamos fazendo menção à sogra, em particular, mas se referindo a pessoas desagradáveis, em geral. A recíproca não é verdadeira. Basta fazer ou receber uma visita de um grande amor para que a vista receba uma dose de um colírio, daquele que é um alivio inclusive para os olhos...
Constatação XIII
Deu na mídia: “Sarkozy diz que relacionamento com ex-modelo é sério” e “Confirmada a gravidez de Nicole Kidman”. Taí outras duas notícias de transcendental importância para o futuro da Humanidade. Apenas que, a primeira é, efetivamente, importante, pelo menos, para o povo francês. Afinal, ele terá a quem fo, digo ferrar.
Constatação XIV
Rico ri, não necessariamente à-toa; pobre é enferruscado. (O dicionário Houaiss apresenta como enfarruscado e que enferruscado não existe. Rumorejando usou a expressão popular).
É muito melhor ser de Barra Mansa, Estado do Rio, do que corno manso.
Constatação II (De uma dúvida crucial).
Anfitrião que se serve por primeiro é a visita de si mesmo?
Constatação III
Rico faz carícias; pobre, malcriadez.
Constatação IV (Teoria da Relatividade para principiantes).
Numa transação, em que a palavra juros é banida, é muito melhor ter um preço menor e um prazo maior, do que um preço maior e um prazo menor.
Constatação V (Conselho útil, passível de mal-entendido).
Não se deve cutucar a sogra com vara curta.
Constatação VI (Dúvida crucial).
Será que retórica vazia é o mesmo que empulhação enrolada, ou ainda embromação mexerufada?* Quem souber, por favor, cartas à redação. Obrigado.
*Mexerufada = “mistura confusa, desordenada, de seres ou coisas; confusão, misturada, mixórdia” (Houaiss).
Constatação VII
Rico tem estofo; pobre, inércia.
Constatação VIII
Rico é uma douta personalidade; pobre se dá ares de importante.
Constatação IX (De diálogos entre mãe e filha ou entre mulher e sogra).
-“Se eu soubesse que meu marido ia me fazer isso, eu não teria feito tudo que eu fiz para ele: comidinha gostosa, me esfalfar num emprego para ajudar nas despesas da casa, levar e pegar os filhos na escola, ser a amante perfeita, mesmo cansadíssima e por aí afora”.
-“Reciprocidade, minha filha, é só banco comercial e olha lá. Eles querem tudo e a gente ainda tem que gramar na fila porque eles não põem funcionários, por medida de economia as nossas custas. Marido é que nem banco. A diferença, ou talvez semelhança é que marido não te dá dinheiro e dá pra amante; banco, não te empresta e só empresta para quem não precisa”.
Constatação X
Deu na mídia: “Em Recife, José Dirceu passa por operação para implantar cabelos”. Taí uma notícia de transcendental importância para a Humanidade em geral e para o Brasil, em particular.
Constatação XI
Deu na mídia: “Panda ignora vídeo erótico e fêmea tem de ser inseminada”. Data vênia como diriam nossos juristas e de um ou outro panda macho, mas existem alguns filminhos, em vídeo ou DVD, ditos eróticos, seja pra panda ou para os assim chamados racionais que, ao invés de fazerem o efeito desejado, pela má qualidade, fazem o efeito contrário.
Constatação XII
Não se pode confundir vista com visita, muito embora a vista fique anuviada, nublada, carregada, toldada, sombria com a visita desagradável que chega de modo inopinado, inesperado, imprevisto. E, para não acusarem a coluna Rumorejando de facciosa, perseguidora, plena de má vontade não estamos fazendo menção à sogra, em particular, mas se referindo a pessoas desagradáveis, em geral. A recíproca não é verdadeira. Basta fazer ou receber uma visita de um grande amor para que a vista receba uma dose de um colírio, daquele que é um alivio inclusive para os olhos...
Constatação XIII
Deu na mídia: “Sarkozy diz que relacionamento com ex-modelo é sério” e “Confirmada a gravidez de Nicole Kidman”. Taí outras duas notícias de transcendental importância para o futuro da Humanidade. Apenas que, a primeira é, efetivamente, importante, pelo menos, para o povo francês. Afinal, ele terá a quem fo, digo ferrar.
Constatação XIV
Rico ri, não necessariamente à-toa; pobre é enferruscado. (O dicionário Houaiss apresenta como enfarruscado e que enferruscado não existe. Rumorejando usou a expressão popular).
BIOPIRATARIA - por flavio calazans
VOCÊ PRECISA SABER
O Século Vinte e Um é o século das biotecnologias, e o Brasil é o símbolo histórico da biopirataria.Piratas eram bandidos, ladrões saqueadores que atacavam as cidades portuárias como Santos. Hoje, os Biopiratas chegam disfarçados de turistas, ecoturistas , missionários religiosos e pesquisadores cientistas.Biopirataria é o roubo descarado de recursos naturais biológicos e processos ou técnicas de produção envolvendo formas de vida vegetal ou animal.O Brasil tem as maiores reservas de biodiversidade do mundo, plantas e animais que produzem uma infinidade de lucrativos remédios, alimentos, cosméticos, etc...cobiçados e roubados pelas indústrias biotecnológicas biopiratas.
O Século Vinte e Um é o século das biotecnologias, e o Brasil é o símbolo histórico da biopirataria.Piratas eram bandidos, ladrões saqueadores que atacavam as cidades portuárias como Santos. Hoje, os Biopiratas chegam disfarçados de turistas, ecoturistas , missionários religiosos e pesquisadores cientistas.Biopirataria é o roubo descarado de recursos naturais biológicos e processos ou técnicas de produção envolvendo formas de vida vegetal ou animal.O Brasil tem as maiores reservas de biodiversidade do mundo, plantas e animais que produzem uma infinidade de lucrativos remédios, alimentos, cosméticos, etc...cobiçados e roubados pelas indústrias biotecnológicas biopiratas.
A Biopirataria movimenta por ano no mundo cerca de US$ 60 bilhões, o que faz dela a terceira atividade ilegal mais lucrativa do planeta, atrás do tráfico de armas e de drogas. O Brasil possui a maior biodiversidade deste terceiro planeta da estrela Sol, perde cerca de US$ 1 bilhão por ano com o roubo de materiais genéticos, sobretudo na Amazônia (o Brasil abriga duas em cada cinco espécies de formas de vida deste planeta), conforme estimativa do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o IBAMA calcula que o Brasil sofreu um prejuízo financeiro na ordem de 16 milhões de dólares POR DIA com a biopirataria só no ano de 2003.
A biopirataria é cruel, um crime duplo que rouba as riquezas e ainda as revende para o legítimo proprietário, impedindo o desenvolvimento.Historicamente, o nome BRAZIL vem de uma árvore de tronco rubro de onde os índios extraiam tintura vermelha, o famoso PAU-BRASIL que dá o nome deste país lusófono desde os anos 1532 (“Fundação” de São Vicente e Itanhaém).Nosso Pau-Brasil (caesalpinia echinata lam) foi tão brutalmente saqueado que hoje, no século XXI, é uma planta raríssima no próprio país que recebeu seu nome, dizimada e quase extinta pela sanha desmedida de lucro de invasores portugueses, franceses, ingleses e europeus em geral.
Outro caso emblemático é da Amazônia, o ciclo econômico da borracha, seiva extraída da árvore seringueira (hevea brasiliensis), até que o inglês Henry Wickham furtou e contrabandeou mudas de seringueira em 1876 plantando-as nas colônias inglesas da Malásia, que torna-se o maior exportador arruinando o mercado internacional e falindo os produtores brasileiros...hoje o Brasil de onde nasceu esta árvore e foi criado o processo de goma, a seiva cozida da borracha, é IMPORTADOR de borracha da Malásia, compramos nosso produto de quem nos roubou.... (meu avô paterno Miguel Calazans trabalhou com extração desta seiva no período áureo, fomos prejudicados nas finanças familiares pela Biopirataria, este é um assunto muito doloroso em minha própria história familiar).
Também há o MOGNO (swietenia macrophylla), uma madeira que dura séculos sem deformar ou mudar de cor-ideal para mobília de escritório , em quarenta anos de cortes foi dizimada, de 1971 a 2001 foram extraídos 2,5 milhões de árvores, mais de 4 bilhões de dólares, dois terços contrabandeadosilegalmente para USA e Inglaterra (a Inglaterra batizou a famosa flor flutuante do rio Amazonas de Vitória Régia em homenagem a rainha deles, a repressora e puritana Rainha Vitória!!!) o mogno é a madeira nobre mais valiosa do mundo, batizada de “ouro verde” vendida a 1,4 mil dólares por tora, se não fosse contrabandeado para os Norte Americanos e Ingleses teria gerado 4 Bilhões de Dólares em divisas para o Brasil.
O caso mais debatido de Biopirataria em 2003 também veio da Amazônia, foi o escandaloso patenteamento da produção e do uso da gordura da semente do CUPUAÇU (theobroma grandiflorum) pela empresa multinacional japonesa Asahi Foods, a “Proprietária” do Cupuaçu e do Cupulate, o chocolate da castanha-semente do cupuaçu, a produção e o processamento de gordura de Cupuaçu não é uma técnica nova criada pela Asahi Foods que patenteou-a (já é usada há muitos tempo pelas comunidades da região amazônica) e o cupulate não é uma invenção da Asahi Foods, pois foi desenvolvido pela Embrapa, mas a “dona” do cupuaçu e do Cupulate no Japão, na União Européia e nos Estados Unidos além de em todos os países-membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) é a japonesa Asahi Foods...empresa que impede a comercialização de produtos brasileiros como bombons e doces de cupulate, prejudicando toda a comunidade da Amazônia e as empresas familiares dedicadas a plantar e colher a fruta cupuaçu e produzir o cupulate, suco de cupuaçu, óleos e bombons recheados com geléia de cupuaçu.
Esta biopirata empresa multinacional japonesa Asahi Foods, a “Proprietária” do Cupuaçu e do Cupulate, detém o monopólio do nome e da marca Cupulate, fez os pedidos de patentes sobre extração do óleo e produção do cupulate e derivados, uma multinacional do Japão, dona de um fruto que só nasce na floresta amazônica do Brasil, um absurdo jurídico que ilustra os perigos do século da biotecnologia.
A Asahi Foods, esperta, também já está patenteando uma outra fruta brasileira rica em vitamina C, a ACEROLA (malpigia glabra linn) ....e já estuda patentear outra, uma fruta vermelha de sabor azedo, com muito mais vitamina C, a CAMU-CAMU.Porém, como ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão, em 2003 a empresa inglesa THE BODY SHOP já patenteou o extrato da polpa da fruta cupuaçu para produção de cosméticos e produtos de beleza ou perfumes, cremes, shampoos e óleos. Também há o caso da semente de Bibiri, usada desde tempos imemoriais, desde sempre pelas índias uapixanas de Rondônia como anticoncepcional, patrimônio cultural indígena que hoje pertence ao laboratório canadense Biolink, que o patenteou como “descoberta” canadense!!!
A Andiroba (carapa guianensis aubl) usada como repelente de insetos, cicatrizante e contra a febre pelos indígenas da Amazônia teve sua patente registrada pela Rocher Yves Vegetable , dona da andiroba nos USA, Europa e Japão, seu extrato só pode ser usado em medicamentos ou cosméticos se pagando a ela, tal qual a Asahi Foods e o cupuaçu.
O Curare, veneno paralisante feito de mistura de ervas, usado nas flechas e setas de zarabatana pelos índios jivago da Amazônia, foi patenteado nos USA na década de 40 e é usado até hoje na industrialização de relaxantes musculares e anestésicos para cirurgias em todo o mundo. A AYAHUASCA (banisteriopsis caapi), folha caapi ou chacrona, que misturada ao cipó mariri faz a beberragem, o vinho dos deuses, popular entre mais de 300 etnias ou tribos indígenas amazônicas que o passaram aos seringueiros, alucinógeno de práticas religiosas como o Santo Daime, foi patenteado como descoberta da empresa americana International Plant Medicine Corp, USA.E o PAU-ROSA (aniba roseadora) é usado como fixador de aroma na indústria química de perfumarias, livremente usado nos USA, Bélgica, Inglaterra, Alemanha e França, seu óleo é a base do famoso perfume “CHANEL Numero 5”, o que resultou na extração abusiva, e como foi com o Pau-Brasil, o Pau-Rosa também corre risco de extinção pelo corte desmedido e predatório.Copaíba (copaifera sp) é uma planta antibiótico natural, desinfetante, estimulante e espectorante, a empresa Technico-flor s/a registrou patente mundial sobre cosméticos ou alimentos que futuramente empreguem a planta.
A lista de vegetais brasileiros biopirateados seria interminável, enciclopédica.Contudo, além da Botânica, a Zoologia também é vítima da biopirataria dos países ricos.Há um sapo (epipedobetes tricolor) que vive nas árvores da amazônia e produz uma toxina analgésica 200 vezes mais poderosa e eficiente do que a morfina, o laboratório Abbott dos USA sintetizou a substância e vende a droga com monopólio mundial.
A serpente Jararaca (bothrops jararaca) foi estudada pelo pesquisador brasileiro Sérgio Ferreira , professor da faculdade de medicina de Ribeirão Preto, descobriu na peçonha da jararaca uma substância química capaz de controlar a pressão arterial, sem recursos financeiros para desenvolver a pesquisa, teve de aceitar parceria com o laboratório Bristol-Myers Squibb USA, que acabou registrando a patente do princípio ativo Captopril em um mercado que rende 2,5 milhões de dólares ao ano só em royalties, Brasil também paga pelo uso do produto daqui que cura a pressão alta.
Desde 1993 uma indústria suíça controla totalmente a Pentapharm, um dos mais importantes serpentários do Brasil, em Uberlândia, Minas Gerais, onde criam-se as cobras jararacuçu, toda a produção da peçonha é exportada para a Suíça que o processa e produz medicamentos anticoagulantes revendidos muito caros para nós e exportados para o resto do mundo.
A Jararaca Ilhôa (bothrops insularis) só existe na ilha de Queimada Grande no litoral sul de São Paulo, perto de Peruíbe (frente às ruínas da igreja do abarebebe-o “padre voador”, boticário que classificava remédios dos pagés índios tupinambás e tupiniquins antes dos padres Nóbrega e Anchieta chegarem) sua peçonha é mais letal que qualquer víbora, em 2001 foram encontradas algumas vivas sendo vendidas em um mercado de animais de Amsterdan, Holanda, Europa, contrabandeadas da Ilha Queimada Grande, único lugar do mundo onde existem.
A rede de ongs GTA –Grupo de Trabalho Amazônico e a AMAZONLINK recolheram donativos chegando a 20 mil dólares para dar entrada nos custos iniciais do processo judicial e moveram processos internacionais de 2002 a 2004, obteve-se o primeiro resultado, uma sentença da qual corre recurso com a anulação judicial que cassa o registro do nome cupuaçu no Japão, impedindo a Asahi foods de continuar tentando cobrar multa de 10 mil dólares por produto exportado com o nome cupuaçu.
Conforme a GTA, plantas como a andiroba, ayhuasca, curare, açaí e infinitas outras já tem patentes em paises estrangeiros.
A Empresa norte-americana ZymoGenetics detem a patente de dois princípios ativos, um analgésico e um vasodilatador roubados de um sapo da amazônia, mas há uma dificuldade na justiça dos USA, pois Tio Sam nunca ratificou o tratado internacional “Convenção da Diversidade Biológica” e assim nunca paga pelo conhecimento ancestral dos povos que suas empresas recolhem na calada da noite e furtivamente patenteiam para comercializar e lucrar, típicos PIRATAS saqueando o patrimônio acumulado por gerações por povos de todo o mundo, Eugênio Pantoja, da Amazonlink explicou na revista Pesquisa Fapesp de abril de 2004, número 98, página 25: “procuramos um escritório de advocacia americano que nos pediu US$ 150 mil só para iniciar a ação, está fora das nossas possibilidades”, também denuncia patentes de cunani –substancia analgésica usada em ferramentas de pesca dos indígenas e do jambu, erva que serve de matéria prima para creme dental.
Um grupo de trabalho do IBAMA visitando o povo indígena Karitiana , que secularmente usa o sapo Campu (Phyllomedusa) espécie que só existe em seu território na floresta amazônica, e laboratórios dos Estados Unidos da América (USA), Inglaterra e França patentearam a vacina do sapo baseadas no suor neste espécime , como medicamento de tratamento contra tumor cancerígeno ou mesmo uma possível vacina contra o câncer.E um funcionário do correio de Goiânia em uma inspeção de rotina encontrou doze cobras espremidas em uma caixa de sedex, as cobras raras eram remetidas de São José do Rio Preto (451 kilometros a noroeste da capital São Paulo) para Goiânia e de lá redistribuídas para a Holanda, onde eram revendidas pela Europa e USA, répteis raros como jiboia-papagaio (periquitamboia) que vivem na mata atlântica e na amazônia .
Estes são somente alguns exemplos dentre os milhares de incontáveis casos de biopirataria que vem sendo perpetrados contra todos nós brasileios.Cabe a você que leu estas linhas saber disso, estar conciente e tomar sua posição a favor ou contra tais abusos, eu tomei minha atitude, escrevendo este texto e divulgando, passe adiante e vamos fazer uma corrente de opinião pública esclarecida e cobrar de nossos políticos profissionais leis de defesa, e cada um de nós vai fazer a diferença boicotando tais empresas e países biopiratas.
A BIOMIDIOLOGIA é um neologismo de propriedade intelectual de Flávio Mário de Alcântara Calazans ; BIOMIDIOLOGIA foi registrada na Biblioteca Nacional do Ministério da Cultura aos 16 de janeiro de 2002, registro 249.607, livro 444, folha 267 como descoberta científica de Flávio Mário de Alcântara Calazans.Bibliografia de Biomidiologia.
CALAZANS, Flávio Mário de Alcântara.
ECOLOGIA E BIOMIDIOMOLOGIA. São Paulo:Editora Plêiade, 2002. ISBN 85-85795-59___.“Biomediology: Communication and environment” ha sido aceptada para ser presentada en XI Encuentro de Faculdades Americanas de Comunicación Social FELAFACS: en la mesa de trabajo: Las causas globales; martes 7 de octubre de 2003 a las 14:30 HRS en el salón Flamingo B. Puerto Rico USA.___.“Biomidiologia do arrastão e Linchamento; a mente coletiva da multidão” ; III Congresso Brasileiro de Pesquisas Ambientais e Saúde –CBPAS 2003, Santos, São Paulo, 21 a 23 de julho de 2003, apresentado 23 de julho de 2003, às 11 horas, publicado na página 15 do programa, e resumo publicado na página 40 e 41 do programa, paper publicado integralmente no CDROOM EXPOSITOR.___.
“BIOMIDIOLOGIA: Um paradigma interdisciplinar do Século XXI”, Flávio Calazans, apresentado na seção número nove de Temas Livres do XXV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – INTERCOM´2002, em Salvador, Bahia, dia 3 de setembro das 14 às 18 horas, com resumo publicado na página 88 do programa e com o texto integral do “paper” também publicado no CDRom do evento. EXPOSITOR. ___.“ Da Televisão ao Carnaval: uma Biomidiologia do Arrastão” XXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – INTERCOM´2003 Belo Horizonte, resumo publicado na página 34 dos anais,___.“BIOMIDIOLOGIA DOS DNARTISTAS : EDUARDO KAC” paper aprovado pelo comitê científico internacional para ser apresentado no “FIRST BRAZIL-US COLLOQUIUM ON COMMUNICATION STUDIES” this event is the first of its kind in the United States, JAN. 30 - FEB. 1, 2004 AUSTIN, TEXAS USA foi selecionado para a sessão temática de Comunicação Internacional e Intercultural publicado nos anais e cdrom do congresso e na internet em http://www.utexas.edu/coc/rtf/brazil_us/brasilprogram.htm ___.“"Biomidiologia: Nova Teoria da Comunicação unindo "Communication" e "Environment" [Naturwissensaften (Bio) e Gemienenwissensaften (Midiologia)]."” paper aprovado pelo comitê científico internacional para ser apresentado no “World Congress on Engineering and Technology Education –WCETE” sob número 529 publicado nos programas , anais e cdrom do congresso http://www.copec.org.br/wcete2004,___. “Biomidiologia aplicada ao Pokemón” .In: Encontros culturais Portugal-Japão-Brasil, editora Manole, São Paulo, 2002, ISBN 85-204-1759-0, páginas 69 a 122).
quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
FIM de SEMANA na PRAIA - por antonio brás constante
Eis que aí está você. Bermudão e chinelos. Um sol maravilhoso. Curtindo a brisa marinha. Veio com a esposa e os filhos para um fim de semana em família. A casa você comprou no inverno, quando os preços eram menores.
O primeiro ritual ao chegar à praia é ir molhar os pés na beira do mar, não que dê sorte ou azar, é mais para a pessoa entrar no clima do lugar. Sentir-se como sendo batizado, para poder aproveitar as delícias de um feriado regido pelo sol, areia e um mar azul e límpido.
Após a cerimônia de “lava-pés”, você volta ao carro e descarrega todas as suas tralhas, abrindo a casa para arejá-la. A manhã já está na metade, o momento certo para colocar a churrasqueira para funcionar.
Neste momento você se sente um verdadeiro Rei. O pau de mexer o carvão é seu cetro real. O banquinho de madeira, seu trono. A carne crua e temperada a sua frente e a latinha de cerveja são suas riquezas e as moscas à sua volta os ladrões que atacam todos os reinos e devem ser repudiados com sua toalha de limpar as mãos.
Mas mesmo onde reina a paz mais intensa, acabam surgindo os piores dissabores e eles chegam buzinando e fazendo alarde. Você ainda não sabe quem são? Os seus parentes! Apareceram de surpresa para te fazer companhia na praia. Afinal para eles, praia sem parentes não é praia.
Costumam vir aos bandos, de forma predatória. Chegam, comem e bebem tudo que encontram e se mandam sem ajudar a pagar a conta. Os parentes são a maldição de qualquer homem casado. Ou que tenha algum irmão ou irmã casada. Pode ocorrer também em famílias com muitos tios, ou seja, todos nós, seres humanos, estamos sujeitos a sermos vítimas dessa situação.
Até o momento, nenhum dos parentes homens foi até onde você se encontra. Alguns abanaram de longe. Eles sentiram o cheiro do serviço e irão esperar até que a carne esteja quase assada, para então se aproximar e comer os aperitivos com farofa.
Neste meio-tempo irão se saciar com as cervejas que você estocou na geladeira. Alguns já se adonaram das redes e outros colocaram as mochilas no seu quarto, perguntando de forma descarada se podem usar a cama para descansar.
Você tenta conhecer todos que estão ali presentes, mas alguns são estranhos, pois são convidados dos seus parentes. Isto mesmo, uma mania de parente é convidar amigos deles para passar o fim-de-semana na sua casa de praia.
O almoço corre como o esperado, ou seja, você servindo a carne e todo resto comendo. A cerveja acaba e sua esposa lhe pede para ir comprar mais, você se nega e acontece a primeira briga do casal. Toda a parentada fica do lado de sua esposa. Afinal o insensível é você que não quer atender ao pedido dela.
Depois de muita discussão, finalmente vai buscar a cerveja (vários parentes vão junto, porém sem levar as carteiras de dinheiro). Note que eles não vão com você por serem bonzinhos, mas sim para impedir que compre alguma marca de cerveja vagabunda.
Chega a tarde, você pede para sua esposa lhe passar o bronzeador, mas ela lhe vira o rosto. Ainda está chateada com a história da cerveja. Principalmente depois de a parentada ter enchido a cabeça dela. Agora percebe que está sozinho, sua esposa passou para o lado do inimigo.
Quando resolve ir a praia, descobre que o seu bronzeador foi totalmente utilizado, que pegaram seus calções de banho e sumiram com suas toalhas. Até seus óculos de sol desapareceram.
Acaba indo de bermudão mesmo, sem nenhum protetor no corpo e sentindo o brilho do sol machucar seus olhos.
O tormento dura todo feriado. No último dia, ao final da tarde todos vão embora, deixando a casa toda suja e bagunçada para você ajeitar. Afinal a casa é sua e não eles. Você fica parado na frente do mar, todo queimado de sol, endividado, cansado, chateado, de mal com a patroa e o que é pior nesta situação toda, sem ter como dar o troco neles.
O melhor a fazer é vender a casa de praia e usar o dinheiro para viajar para outro estado, bem longe e de avião. Assim você finalmente terá férias de verdade e quem sabe até traga umas lembrancinhas, para que seus entes queridos morram de inveja.
terça-feira, 29 de janeiro de 2008
era o tempo - por jb vidal
era o tempo em que eu voava, de folha para árvore, sobre oceanos, rochedos, e os rochedos eram moles, era gelatina os mares, as árvores, eram de papel e o papel não se deixava escrever, a tinta só no mundo, na pata não, meus irmãos corriam, de uma sombra para outra, no solo, e o solo era de nuvens, brancas, e não faziam sombras, as sombras brincavam entre elas, e elas me assustavam quando caiam no precipício, de brincadeira, que susto, e o susto era bom e eu assustava também, e o também, também se repetia, e a repetição era voar no mesmo lugar, brincar na mesma nuvem, e as nuvens subiam e desciam, e descer era subir, subir no mais baixo possível, quando subiam, era descer no mais alto possível, e os que viviam nos mares andavam sobre fogo, e o fogo era bom, bom e frio, e o frio, bem não sei, nunca estive na gelatina, mas não era ruim, segundo sei, e saber era sentir, sentir era mudar de rumo, e o rumo voltava, e eu ia e voltava, quando voltava era outra paisagem, e a paisagem mudava e voltava, e eu ia só para a que mudava, e não era mais, mas não voltava, voltava voando para a frente, e para frente era atrás, e atrás não existia, existia o vento, e o vento era meu, e meu era de ninguém, mas era meu, e eu voava nele, e ele deixava, e eu dominava ele, ele sorria, e sorrir era também chorar, e chorava de alegria, e alegria era tristeza, e a tristeza era boa, porque era boa agente sofria, e sofrer era ruim, mas o ruim pode ser bom, e o bom pode ser mau, e o mau, não sei nunca fui mau, mas eu voava sobre o mau e o mal, e o mal não existia, como o bem também não, e o não era perfume, e o perfume, bem...o perfume...era eu, e eu era o próximo, e o próximo era todos, e todos brincavam, e brincar era trabalhar, e trabalhar era fazer, e fazer era destruir, e destruir era preto, e preto era verde, e verde não tinha cor, porque a cor era o nada, e o nada era branco e tudo, como esta folha de papel.
EWALDO SCHLEDER nos conta:
No dia 9 de janeiro, numa mesa do Kapelle, Bia nos disse, alto e bom som,
essa frase, um poema-síntese, o último que ouvi dela, depois
de comentar que alguma ginástica lhe faria bem:
- Não sou atleta, sou poeta.
essa frase, um poema-síntese, o último que ouvi dela, depois
de comentar que alguma ginástica lhe faria bem:
- Não sou atleta, sou poeta.
NÃO SOU ATLETA,
SOU POETA.
(Bia de Luna)
provalvemente tenha sido este o último poema de Bia, pois ela entregou as moedas para o barqueiro no dia 13 de janeiro de 2008.
ULTRAPASSAGEM (para Bia de Luna- in memorian) - poema de walmor marcellino
“A janela com sua vista
pra fora é para dentro,
sem uma ida e uma volta
bastando o olhar atento.”
(Ehud Emin)
Inerme, à máscara definitiva
que fulgor agora alimenta?
]Bia, no escuro protegia
essa ânsia que alenta
o sopro, palavra-poesia.
Se estava viva, se ia morta
ela escondia, nos sinalizava
várias vidas atrás da porta
numa só máscara que engendrava.
Bia, em sua máscara dobradiça.
que fulgor agora alimenta?
]Bia, no escuro protegia
essa ânsia que alenta
o sopro, palavra-poesia.
Se estava viva, se ia morta
ela escondia, nos sinalizava
várias vidas atrás da porta
numa só máscara que engendrava.
Bia, em sua máscara dobradiça.
segunda-feira, 28 de janeiro de 2008
MARILÚ, a penetradora - por frederico fullgraf
Vestiu uma blusa de fino algodão, decotada, mal domando seus dois frutos rijos, aprisionados, introduziu-se num tailleur justo, que lhe esculpiu as curvas saradas e – cúmulo da luxúria anunciada - carregou nos lábios aquele batom com a tonalidade da carne, concupiscente. E foi à luta, digo: ao quartel, oferecer os seus serviços. As preliminares remetem àquele filme peruano, cujo protagonista, o valente capitão, arrinconado nas profundezas da Amazônia, bota ordem na pornéia, profissionalizando a fornicação. É verdade que a floresta é a mesma, a soldadesca aquartelada ama zona, mas a Marilú que foi à guerra é colombiana. Compareceu como especialista em relações públicas e, arrebatados, os camaradas dispensaram o aborrecível currículo e as mentirosas referências escritas, convenceu-os sua... “apresentação de armas”.
Patente coruscante – olhar lúbrico, peito e bunda triunfantes –, “sus encantos hicieron que rapidamente se ganara la confianza de la superioridad”, resigna-se, nostálgico, um recruta, e logo a morena pousaria na foto de graduados coronéis e generais como a loura do pirata. Desaforada (cara-de-...pau aplica-se também à fêmea impudente?), infiltrou-se num curso de Inteligência da Escola de Guerra e a partir daí ascendeu até o cargo de vice-diretora de La Dorada, prisão de segurança máxima para narcotraficantes, paramilitares e “insurgentes” (Hugo Chávez), tropeçando em seus corredores com sumidades como Rodrigo Granda, o liberado “chanceler” das FARC. E jamais levantaram suspeitas, nem mesmo quando explodiu aquela bomba no estacionamento da Escola, cobrindo de estilhaços e terror o dia 19 de novembro de 2006. E sobreveio então aquele inusitado revide do exército, em meados de 2007: durante o enfrentamento, o azarão Carlos Antonio Lozada, chefe de uma coluna Brancaleone, perde sua agenda eletrônica e lá estava Marilú; com nome, endereço e telefone... Don Álvaro em pessoa anunciou o indiciamento de Marilú (sobrenome de paz Ramírez) por “terrorismo, rebelião e formação de quadrilha”. Matreiro, fê-lo apenas em novembro, quando já se armava a lona para o grande circo midiático de Villavizenzio, ponte aérea do resgate dos reféns das FARC, em cuja aritmética 1 + 1 = 3, pois Emmanuel, o filho bastardo da Colômbia, já estava sob a custódia do Estado desde 2005.
E enquanto do fundo da mata a choldra rebelde continuava atirando pedras em Lozada, o Estulto (cretino, mané, molongó, pacóvio!), os homens de Don Álvaro Uribe, o Durão, rastrearam sua agenda e ¡joder!: não é que reconheceram mais quatro atrevidas penetradoras? Obedeciam todas ao mesmo figurino: mulheres jovens e bonitas aproximam-se de uma guarnição militar. E da sentinela fraquejante, pelos tenentes baba-ovos aos coronéis mulherengos, a hierarquia implode e a penetração se consuma... É quando elas abrem o jogo, mas não o zíper, oferecendo aos repulsivos milicos serviços profissionais que não os horizontais, como relações públicas, jornalistas ou assistentes sociais; sem nunca esquecer no olhar lânguido, resvaladiço, uma janelinha sempre aberta para just in case...
Foi o caso da descolada, que durante vários meses chefiou a assessoria de imprensa de uma importante unidade militar em Bogotá. Por razões óbvias os militares mantêm sua identidade em sigilo: inverteu-se o jogo, agora é ela a penetrada, bombardeada por perfurantes interrogatórios... Outra burlou os controles de segurança do aparatoso exército de Uribe, movido a US-Aid, e credenciou-se em cinco eventos de alto nível da Escola de Guerra em 2006. Num deles chegou a trocar olhares – “y quizás algo más” - com Don Álvaro, ninguém menos que o odioso presidente da República. “Odioso”: adjetivação apaixonada, pronunciada com ideológica convicção, mas como pensamento sob severa proibição – e se as traísse um imperdoável ato falho? Alarmadas e mais sortudas que a compañera Marilú, as quatro espiãs que vieram de cafarnaú escaparam para a noite fresca, antes que o fogo amigo lhes chamuscasse as serpejantes cadeiras. Já Marilú, dizem, trocou sua bandeira. Tudo agora é espera pelo trovador de uma salsa brejeira - a da potranca de Tróia, “que se fue con un milico”, a lendária Mata Hari guerrilheira...
Mas enganam-se, o ansioso leitor e a vexada leitora, ao presumirem segundas intenções do autor, já no título desta crônica sobre a farsesca e próspera guerrilha-mercante: “penetração” é linguagem politicamente incorreta e ordem superior do Capitão-Gancho Marulanda, o “Tiro Fijo” da farândola revisionista, hoje reles extorsionista: responder ao poder de fogo do inimigo com a arma milenar de mulheres fogosas, eis a tática. Porque a carne (de desafetos e afeiçoados também) é fraca e – intercursos à parte, “consentidos” por reféns – o campo de batalha não é convento de clarissas! Leitor tardio de Greene e Le Carré, baixou dez mandamentos para as aspirantes à missão: as introduzidas devem ser “chamativas, melosas e dicharacheras” (enfeitiçadoras) e usar, principalmente nos primeiros encontros, “roupa atrevida”. Uma última conferida diante do espelho e...¡penetración o muerte, venceremos!
Publicado pelo jornal El Tiempo, transcrito pela imprensa hispânica de todo o continente e, como sempre, hilariante estória ignorada pela ignávia e borrega “mídchia” brasileña, a impudica ordem do dia não deixa dúvidas: “Ali, em meio ao recrutamento de civis e das tentativas dos militares em mostrar sua melhor cara, pode então efetivar-se a intrusão”... – acorrentado Marx, vendado Freud, sorri a metáfora de guerrilha-pornô.
ALGUMAS HISTÓRIAS QUE "O CAÇADOR DE PIPAS" NÃO CONTA - por aurélio weissheimer
"O filme “Caçador de Pipas” apresenta um painel sobre a história recente do Afeganistão, a partir do relato sobre a amizade de dois meninos afegãos. Flutuando entre a imaginação e a história, o filme denuncia monstruosidades mas silencia sobre o papel de alguns dos pais dos monstros que devastaram o país".
O filme “O Caçador de Pipas”, dirigido por Marc Foster, tem o mérito de apresentar um painel sobre a cultura, as tradições e a vida no Afeganistão, a partir do relato sobre a amizade de dois meninos afegãos. É uma obra de ficção mesclada com uma tentativa de painel histórico sobre um período da história do país que compreende a queda da monarquia nos anos 70, a invasão dos soviéticos e a ascensão dos talibãs ao poder. É aí, em seu pano de fundo histórico, que os méritos definham e os problemas florescem. O filme é uma adaptação do best-seller do médico Khaled Hosseini, nascido em 1965 em Cabul e que vive nos Estados Unidos desde 1980. O livro foi escrito inteiramente na Califórnia. Hosseini só voltou ao Afeganistão depois do livro ter sido lançado, 27 anos após ter deixado o país. Essa distância espacial e temporal ajuda a entender as omissões históricas e a visão generosa do autor com o papel dos EUA na destruição de sua terra natal.Quando visitou o país, após a publicação de seu livro, Hosseini ficou chocado. “Infelizmente, o que vi por lá era pior do que aquilo que imaginei e narrei. A destruição do país é impressionante, muito triste”, declarou em entrevista à revista Época. No livro (e no filme), o escritor é grato pela acolhida que teve nos EUA. Ao imaginar como poderia ter sido a vida do personagem Hassan, caso tivesse conseguido fugir para a América, escreve que o amigo estaria vivendo em um país “onde ninguém se importa com o fato de ele ser um hazara”. Essa visão, escancarada em todo o filme, mostra os soviéticos e os talibãs como seres monstruosos e pervertidos sexualmente, mas omite alguns “detalhes” históricos relacionados ao papel que os EUA tiveram no fortalecimento dos talibãs e na sua chegada ao poder. Assim como ocorreu com Saddam Hussein no Iraque (contra o Irã), os talibãs também foram aliados dos EUA (na luta contra os soviéticos). O civilizado e laico Ocidente foi cúmplice direto dos terríveis crimes cometidos pelos talibãs.
Guerra pela civilização?
Se Hosseini não tivesse escrito o livro inteiramente na Califórnia, baseado apenas em sua memória e imaginação, talvez tivesse produzido um relato um pouco mais equilibrado historicamente. Ao final do filme, o que fica, do ponto de vista histórico, é o seguinte: a selvageria soviética e talibã, de um lado, e o papel salvador e civilizatório do Ocidente, do outro. Nenhuma referência sobre como países como EUA e Inglaterra – e seus aliados na região, como Paquistão e Arábia Saudita - contribuíram decisivamente para tornar o país um monte de ruínas. Alguém poderá objetar que não se pode cobrar do autor o relato sobre fatos que não presenciou. Objeção discutível. Mas, mesmo que a tomemos como razoável, isso não elimina o problema de que o pano de fundo histórico que caracteriza o filme é repleto de omissões, buracos e deformidades. Mesmo quem tenha gostado do livro e do filme, portanto, não sairá perdendo com algumas informações.Em seu filme “Fahrenheit 9/11”, Michael Moore expôs as ligações entre a família Bush, empresas petrolíferas do Texas, a Halliburton, a Enron e os talibãs para a construção de um gasoduto que partiria do Turcomenistão, seguindo através do Afeganistão e chegando ao Paquistão. Mostrou também que, quando era governador do Texas, Bush chegou a receber uma visita de autoridades afegãs do Talibã para tratar de negócios. Depois da guerra contra o Afeganistão, após os atentados de 11 de setembro, o projeto do gasoduto foi entregue a Halliburton, empresa que tem entre seus executivos o atual vice-presidente dos EUA, Dick Cheney. Todos esses fatos já são bem conhecidos. Mas a obra de Moore não é o melhor relato sobre como os EUA ajudaram os talibãs chegar ao poder e sobre como, durante um bom tempo, silenciaram sobre as atrocidades que estavam sendo cometidos no país. Silêncio e cumplicidade justificados pela geopolítica e por interesses econômicos.
Um pedido de moderação aos talibãs
Na página da embaixada dos EUA do Brasil, há um interessante material na seção “Resposta ao Terrorismo – Programas Internacionais de Informação”, sobre a situação das mulheres no Afeganistão durante o regime talibã. Lá, podemos ler o seguinte: “Antes dos acontecimentos de 11 de setembro de 2001, oficiais dos EUA opunham-se à subjugação das mulheres pelo Talibã através de reuniões com talibãs para pedir moderação, além de trabalhar com outros países, tanto bilateralmente quanto multilateralmente, para refrear os excessos do Talibã”. Não há porém nenhuma referência sobre como foi asfaltado o caminho para que os excessos do Talibã chocassem o mundo.Uma boa fonte para preencher essa lacuna é o livro “A grande guerra pela civilização – A conquista do Oriente Médio”, do jornalista inglês Robert Fisk, que passou os últimos 29 anos cobrindo as guerras no Oriente Médio.Em seu livro de quase 1.500 páginas, publicado no Brasil pela Editora Planeta, Fisk conta algumas histórias que o caçador de pipas não conta. Vejamos algumas delas:“Os sauditas e os paquistaneses ajudaram, por encargo dos EUA, a armar as milícias do Afeganistão contra a União Soviética, e depois – enojados pelas disputas entre os vencedores – apoiaram o exército de clérigos camponeses iluminados do mula Omar Wahhabi o Talibã. A Arábia Saudita havia investido milhões de dólares nas madraçais - escolas religiosas – do Paquistão ao longo de todo o conflito afegão soviético, e o Talibã era um produto genuíno do wahabismo, a fé estatal muçulmana, estrita e pseudo-reformista da Arábia Saudita.
“E o Paquistão? Ao juntar-se à “guerra contra o terror” promovida pelos Estados Unidos, o general Musharra conseguira de fato a aceitação internacional do golpe de Estado que perpetrou em 1999. De repente, tudo o que havia desejado – a suspensão das sanções, grandes investimentos para a cambaleante indústria paquistanesa, empréstimos do FMI, uma renegociação da dívida de 375 milhões de dólares e ajuda humanitária – foi concedido. Evidentemente, tivemos que esquecer também que foram unidades dos Interserviços de Inteligência do Paquistão – o escalão mais alto das agências de segurança do país – que ergueram o talibã, fizeram entrar armas no Afeganistão e ficaram ricas com o tráfico de drogas. Desde a invasão soviética do Afeganistão em 1979, o ISI havia trabalhado junto com a CIA, financiando os mulas do talibã, mais tarde condenados como arquitetos do terror mundial”.“Depois do 11 de setembro os EUA, incapazes de conseguir a rendição do Talibã por meio de bombardeios, tentaram ficar bem com os assassinos e estupradores da Aliança do Norte, responsável por mais de 80% da exportação de drogas (heroína, principalmente) do país, após a proibição talibã do cultivo. De 1992 a 1996, a Aliança do Norte foi um símbolo de carnificinas, estupros sistemáticos e pilhagem. Por esse motivo, nós – e incluo o Departamento do Estado dos EUA – demos boas vindas ao talibã quando chegou a Kabul”.“Após o 11 de setembro bombardeamos povoados afegãos até transformá-los em um monte de ruínas, junto com seus habitantes e culpamos o Talibã e Bin Laden pela carnificina.. Depois permitimos que nossa desapiedada milícia aliada executasse seus prisioneiros.
O presidente George W Bush assinou uma lei que aprovou a criação de uma série de tribunais militares seretos para julgar e depois eliminar todo aquele que fosse um “assassino terrorista” aos olhos dos serviços de inteligência”.Há muitos outros relatos sobre esses temas. A fonte de Fisk não é a imaginação, mas a experiência direta. Ele viu e presenciou in loco o que relata. A obra de Hosseini é uma ficção, é certo, devendo ser avaliada com outros critérios. No entanto, tem pretensões históricas que acabam produzindo um cenário esburacado. Não seria tão grave se, ao sair do cinema, não ouvíssemos frases do tipo: “não dá para defender esses muçulmanos, que povo bárbaro”.
Aí a imaginação do Caçador de Pipas presta um desserviço à verdade e à justiça.
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