quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

PALAVRAS, TODAS PALAVRAS MUDA DE ENDEREÇO

ESTAMOS MUDANDO DE ENDEREÇO PARA MELHOR RECEBER NOSSOS LEITORES.

CLIQUE NO LINK ABAIXO:


http://palavrastodaspalavras.wordpress.com/


enquanto construíamos o novo site, sem divulgação direta, apenas aparecendo nos sites de busca, ultrapassamos em 66 dias (hoje 7/02/08) mais de 7.000 acessos! como podem comprovar no contador "VISITANTES ATÉ AGORA" (iniciamos a página em 1/12/2007). este sucesso é de todos os PALAVREIROS DA HORA pelo conteúdo substantivo de seus trabalhos.
aos nossos leitores que nos prestigiaram, até aqui, neste espaço, nossos agradecimentos e o convite para que continuem conosco; e, por vocês, somente por vocês, este esfôrço da EQUIPE em oferecer melhores condições de navegabilidade no site.

EQUIPE PALAVREIROS DA HORA.






esta é a figura (avatar) que identifica o novo endereço e matérias nos sites de busca.










ESTE ESPAÇO, AQUI, CONTINUA ATÉ QUE TODOS OS LEITORES SAIBAM DO NOVO CAMINHO.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

COLORIDOS no SUBURBIO CURITIBANO - poema de tonicato miranda

Este poema é dedicado ao Gerson Maciel e
à sua paixão pelo Boqueirão, bairro de nascimento e vida.

Parafraseando João Cabral de Mello Neto,
Caso houvesse uma guerra entre o Brasil e o Paraná,
Gerson lutaria pelo Paraná.
Mas se ela fosse entre o Paraná e Curitiba
Gerson lutaria por Curitiba.
E se ela fosse ainda entre Curitiba e o Boqueirão,
Gerson não exitaria, lutaria pelo Boqueirão.


Orgulha-te dos meninos do Boqueirão
Te cuida menino, com o banho no Rio Belém
Cuidado com as cavas do Iguaçu, amém
E o expresso é vermelho, é vermelho
Lá vem rodando na canaleta, o vermelhão

Orgulha-te dos meninos do Boqueirão
Saboreia as goiabas que trazem pra casa, aos bocados
Roubadas dos terrenos vizinhos e dos descuidados
E a fruta é branca, é branca, é vermelha
Por dentro ela é viva, é vermelhão

Orgulha-te dos piás do Boqueirão
Veja o olhar deles para baixo, nas pernas das meninas
Os olhos saltam mais que palavras, as línguas traquinas
E a íris é verde, é verde, é vermelha
Dentro do olho o tesão é forte, é vermelhão

Orgulha-te dos pássaros do Boqueirão
Fugitivos do bodoque, da atiradeira, do estilingue dos meninos
Fuçando de galho em galho, caça gafanhotos pequeninos
E o inseto é marrom, é marrom, é laranja
O sangue dos iletrados é marrão

Orgulha-te dos cultos e incultos do Boqueirão
Glória a Deus nos lodaçais e nas encostas do Uberaba
Machuca o prego na madeira, constrói o brinquedo, por ele baba
Entrega a cor dele à felicidade, e ela é rosa, é rosada
É vermelho o carrinho de mão, ele é vermelhão

Não te orgulha dos gorgulhos das poças d'água do Boqueirão
A chuva engole as madeiras e os lixos nas valetas
O barquinho de papel vai reto na sarjeta, depois em piruetas
Onde não há meio-fio, calçada, e a rua é preta, ela é preta
No fundo é vermelha, a vergonha é um vermelhão

Mas te orgulha dos meninos do Boqueirão
Eles são como eu, como você, pés no chão e no caminho
Camisa para quê basta um solado forte contra o espinho
E o espinho é amarelo, é pontudo, é cicatriz
E o nosso sangue e o deles é e sempre será um vermelhão.

POEMA (1) de sergio bitencourt

BORBULHAM INDIVIDUALIDADES
NAS LIBERDADES MANIFESTAS
CONSCIENTES,INCONSCIENTES
NUMA DANÇA INTEGRADA
COM O SILÊNCIO EXPRESSIVO
DA CONSCIÊNCIA NÃO MANIFESTADA

POEMA (3) - de carolina correa

Refletindo ás cegas
Conclusões meramente concluídas.
Na palma da mão
Ao excessivo Deus dará,
Seguindo os passos de um ilusionista
Te supro.
Frases viajadas
Os pensamentos é que são reais.
Me consomem
Me inibem
Preguiçosas palavras contidas.
Visto a máscara
Alucinação pura
O físico prensado
A mente solta
Uma conversa á quatro
Me supro.
Nos bastamos.


a autora, 17 anos, faz parte do grupo de jovens poetas do site.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

BÁBARA LIA, A POETA, AGORA É PALAVREIRA DA HORA!


o site está em festa! a poeta bárbara lia aceitou o convite para ser mais um ÂNCORA da página, ou seja, será uma colaboradora permanente com suas obras. compreendeu o espírito público com que todos os demais palavreiros servem a arte neste espaço. bárbara é, como ela mesma se define "poeta, escritora, professora (história), mãe e mulher brasileira" e nós acrescentamos que é poeta de "pegada" que obedece as regras da sua criação do lírico ao visceral. além de editar seu blog desde 2005, bárbara lançou seu livro O SAL DAS ROSAS em 2007, com promessas de outro para breve. foi uma das nossas amigas a prestar homenagens à bia de luna, mesmo sem ter convivido com a poeta desaparecida. os poetas são assim. é autora de uma das frases que mais emocionou o ambiente da homenagem "...um braseiro santo irá brilhar nos corações a quem ela tocou quando soprar o vento da saudade..." o site editou trabalhos da bábara há poucos dias, mas hoje é dia especial para nós. sintam o balanço:




Lá vai o trem com o menino

Lá vai a vida a rodar

Lá vai ciranda e destino

Cidade e noite a girar

Lá vai o trem sem destino

Pro dia novo encontrar
(Ferreira Gullar)




A VIAGEM



Pensamos - Viagem!

Ele abre o baú de partituras

e delineia em minhas costas,

ventre e coxas, as partituras:-

sinfonias fados e tangos -

A que mais amei?

- o trem -

de Villa-Lobos.

O trenzinho caipira que corta

minhas ondulações, matas,

declives...

Sente o vento?

O perfume da serra?

Rasca de nuvens vão de carona

nos lábios dele

pelas notas

pelos trilhos

pelos pêlos

pela pele

e tudo termina

em suor do amor evaporado
borra minha virilha

rasura um Lá extraviado

e ele queda dentro

do Sol.

A vida palpita

aquém além da cortina

da cabine perfumada
- fim da viagem -


NA BIENAL DE VENEZA "NGOLA BAR" de kiluanji kia henda

Kiluanji Kia Henda (1979) nasceu em Luanda, onde vive e trabalha. Viajou pelas várias províncias de Angola e dessas viagens resultou o trabalho "4.ª Dimensão", no âmbito da I Trienal de Luanda. Colaborou com vários grupos de acção teatral e artística em Luanda e expôs em feiras de arte e museus na Europa ("Art InVisible", Arco, Madrid, 2006; "Observatory SD", IVAM, Valência, 2006). Recentemente, o seu trabalho foi selecionado para o projeto de curadoria "Check List Luanda Pop", do Pavilhão Africano da 52.ª Bienal de Veneza (2007), a par de nomes consagrados da arte contemporânea como Ghada Amer, Miquel Barcelò, Jean Michel Basquiat, Marlène Dumas, Viteix, etc. Sob o título de 'Ngola Bar', a exposição que Kia Henda traz ao FMM apresenta trabalhos recentes que partem do local - a paisagem urbana e a natureza angolanas – para a esfera global: a produção de sentidos universais, a evocação da mobilidade sobre a paisagem, a cultura contemporânea das imagens.
enviado por antonio perseu. angola.

O ALAMBIQUE - conto de léo meimes

Como se do chão viessem ondas que o desequilibrassem a cada toque, o Alambique tentava fazer seu caminho pelo beco. Suas pernas trançavam inúmeros tropeços, enquanto sentia o pequeno peso da carga nas costas o puxando para trás e em seguida o empurrando para frente. Assim ia ele, carregando apenas um saco preto, com cobertor, jornais para colocar no corpo enquanto dorme e uma garrafa de pinga. Com seu andar de camaleão, chegou à frente de um bar, tentou parar de brusco quando encontrou uma poça de água e acabou caindo de lado no chão, por sorte em cima do grande saco preto. Ali, deitado como quem está sofrendo de algum ataque, sentiu os pingos da chuva voltarem a cair em seu rosto. Demorou a se levantar e quando conseguiu dirigiu-se para o bar, precisamente para o canto esquerdo, onde se colocou a baixo da mesa em que os músicos tocavam imprecisamente algum samba.
O bar era local de juventude, podia se dizer que os mais velhos eram os que cantavam e tocavam, com a ajuda de duas moças mais novas. Nas mesas ali fora, o povo começou a adentrar devido à chuva fazendo o minúsculo local ficar cheio em segundos. O Alambique estava ali, mesmo que ninguém o considerasse. Olhava para os rostos jovens, que impregnados de saúde desviavam de seu olhar, evitavam, fingiam que ali não havia ninguém. Porém é fato e qualquer um que pudesse estar lá na hora comigo veria que aquele homem sentado no chão, em cima de trapos e vestido com trapos existia. A música não parou nenhum segundo, meninas desenvolveram uma dança atraente, rapazes olhavam descrentes, Alambique só procurava um olhar recíproco... Um garçom jovem como todos os outros, passou e deixou sobre uma mesa uma garrafa de cerveja. A espuma adentrou fundo nos desejos do Alambique. O homem barbudo e despenteado fez no movimento lesmático dos bêbados um sinal com os dedos apontando para cima e riu, imaginando platéia que acompanhasse seu trunfo, em seguida retirou da grande bagagem sua garrafa transparente e plástica de pinga. Mostrou, ofereceu e até gracejou uma cheirada no gargalo à sua platéia antes de beber o gole alcoólico com gosto. Ficou por momentos curtindo a música, ouvindo a melodia, o som não era em nada bom, os músicos com instrumentos desafinados, pandeiros fora do ritmo, mulheres cantando fora do tempo, porém era ópera para os ouvidos do Alambique. Parou a música e Alambique gritou “Madalena, Madalena”, um dos músicos ouve e atende o pedido, “Você é meu bem querer!” e assim continuaram. Alambique entra em um frenesi, dançando somente com os braços, batendo palmas, repetindo o refrão incessantemente, ali mesmo sentado. Mesmo quando já era outra música que tocava ele continuava a insistir “Madalena, Madalena!” Uma moça diz com ar reprovador para o Alambique “Não é mais Madalena homem, presta atenção!”. Ele em um crescente de euforia, talvez por ter sido visto, notado e ouvido, se levanta com dificuldade joga os braços para o alto e, como se pedisse que alguma Madalena se jogasse em seu colo, grita a pulmões de pneumonia “Madalena, Madalena!” O garçom do bar finalmente o vê ali, se dirige a Alambique e pede para que este se retire. Um rapaz que estava próximo diz ao garçom que deixe de ser implicante, pois o homem estava ali à tanto tempo e não estava atrapalhando ninguém. “Se deixar um entrar, daqui a pouco só tem fulero nesse bar”, diz o garçom já apontando a rua para Alambique. O barbudo olha para os lados e senta-se, fingindo não ver o homem que tentava colocá-lo para fora do lugar, pensa: “So fulero que nem todo mundo aqui”. O dono do bar em seguida aparece e o manda pegar as coisas e sair rapidamente. Com a ajuda do rapaz que o defendeu Alambique levanta, pega as coisas, arranca das mãos do garçom sua garrafa de pinga, a qual lhe fora tomada, e sai porta a fora.
Lá já não chove mais e como não podem o mandar embora da rua, fica parado em frente ao bar olhando e cantando seu verso preferido. Nas costas ainda está o saco com seus pertences. Próximo a ele uma mesa com vários jovens, incluindo o que o havia ajudado. Alambique se aproxima e tenta puxar assunto “Bom o samba?” e é respondido com um simples “Sai fora, se toca, já encheu o saco já”. É o que ele faz, vira de costas e começa de novo o seu navegar inconstante pelo beco, com tropeços e sustos. Não anda nem meia quadra e algo o surpreende. Formas lindas eram feitas no ar por malabaristas que jogavam claves, bolas, outros se equilibravam em monociclos enquanto faziam truques com bolas de toque. Alambique se apaixona pelos movimentos, pelas claves que saiam das mãos de um para a do outro sem cessar. Deixa-se cair de novo em cima do grande saco, desta vez não é a chuva que o agracia e sim a visão única de estar exatamente a baixo dos malabaristas. O circo, nunca por ele visitado, o rodeava agora e em seu sonho Alambique se imaginava um equilibrista, andando pelos paralelepípedos da cidade, contornando as esquinas esguias dos becos, passeando pelas marquises e pulando sobre toldos como se tudo isso realmente estivesse acontecendo. Naquele lugar mesmo Alambique dormiu.
No outro dia já havia passado da hora do almoço e ele como criança mimada dormia e não obedecia aos passos apresados dos gentios que tentavam o acordar. Um colega seu de rua, bebedeira e tudo mais, passa e se atreve a chamá-lo. “Alambique, Alambique, acorda que se tá no meio do beco, daqui apouco chamam a pulicia pra ti enxota daqui. Anda homem, que parece até que gosta de dormi no chão frio!” A voz de seu colega adentrou os sonhos de Alambique e o trouxe a realidade, acordou então. Desfez-se das remelas, arrumou o cabelo e enfim levantou.
— Rico, se num sabe tudo que me aconteceu onti rapais! Se eu ti conta, se acredita?
— Ave, que que foi?
— Eu onti, fui pro samba, dancei com a mulherada bonita, cantei junto cos cantor, puxei “Madalena”, bebi cerveja geladinha e sabe o que me aconteceu ainda?
— Que que foi?
— Dei sorte e peguei um circo de passage, até na corda bamba eu andei! To tão cansado, que merecia mais uma hora de sono, sabia?

CHEGOU O VERÃO - por luis fernando veríssimo


Verão também é sinônimo de pouca roupa e muito chifre, pouca cintura e
muita gordura, pouco trabalho e muita micose.

Verão é picolé de Kisuco no palito reciclado, é milho cozido na água da
torneira, é coco verde aberto pra comer a gosminha branca.

Verão é prisão de ventre de uma semana e pé inchado que não entra no
tênis.
Mas o principal ponto do verão é.... a praia!
Ah, como é bela a praia.

Os cachorros fazem cocô e as crianças pegam pra fazer coleção.
Os casais jogam frescobol e acertam a bolinha na cabeça das véias.
Os jovens de jet ski atropelam os surfistas, que por sua vez, miram a
prancha pra abrir a cabeça dos banhistas.

O melhor programa pra quem vai à praia é chegar bem cedo, antes do
sorveteiro, quando o sol ainda está fraco e as famílias estão chegando.
Muito bonito ver aquelas pessoas carregando vinte cadeiras, três
geladeiras de isopor, cinco guarda-sóis, raquete, frango, farofa,
toalha, bola, balde, chapéu e prancha, acreditando que estão de férias.

Em menos de cinqüenta minutos, todos já estão instalados, besuntados e
prontos pra enterrar a avó na areia.

E as crianças? Ah, que gracinhas!
Os bebês chorando de desidratação, as crianças pequenas se socando por
uma conchinha do mar, os adolescentes ouvindo walkman enquanto dormem.

As mulheres também têm muita diversão na praia, como buscar o filho
afogado e caminhar vinte quilômetros pra encontrar o outro pé do
chinelo.

Já os homens ficam com as tarefas mais chatas, como perfurar o poço pra
fincar o cabo do guarda-sol.
É mais fácil achar petróleo do que conseguir fazer o guarda-sol ficar em pé.

Mas tudo isso não conta, diante da alegria, da felicidade, da maravilha
que é entrar no mar!
Aquela água tão cristalina, que dá pra ver os cardumes de latinha de cerveja
no fundo.
Aquela sensação de boiar na salmoura como um pepino em conserva.

Depois de um belo banho de mar, com o rego cheio de sal e a periquita
cheia de areia, vem aquela vontade de fritar na chapa.
A gente abre a esteira velha, com o cheiro de velório de bode, bota o
chapéu, os óculos escuros e puxa um ronco bacaninha.

Isso é paz, isso é amor, isso é o absurdo do calor!!!!!
Mas, claro, tudo tem seu lado bom.
E à noite o sol vai embora.
Todo mundo volta pra casa tostado e vermelho como mortadela, toma banho
e deixa o sabonete cheio de areia pro próximo.
O Shampoo acaba e a gente acaba lavando a cabeça com qualquer coisa,
desde creme de barbear até desinfetante de privada.
As toalhas, com aquele cheirinho de mofo que só a casa da praia oferece.
Aí, uma bela macarronada pra entupir o bucho e uma dormidinha na rede
pra adquirir um bom torcicolo e ralar as costas queimadas.

O dia termina com uma boa rodada de tranca e uma briga em família.
Todo mundo vai dormir bêbado e emburrado, babando na fronha e torcendo,pra
que na manhã seguinte, faça aquele sol e todo mundo possa se encontrar no
mesmo inferno tropical...
Qualquer semelhança com a vida real, é uma mera coincidência.

OLHA A CACHAÇA AÍ, GENTE! - por edu hoffmann









Abrideira

Cada país têm sua bebida popular. Em Cuba é o rum, nos esteites é o uísque, na Rússia é a vodka,
na Itália, tuto buona gente, adoram a graspa, no México bebem teqüila, e aí vai...
No Brasil, claro, é a cachaça!

“Cachaça é a denominação típica e exclusiva da aguardente de cana produzida no Brasil, com graduação alcoólica de trinta e oito a quarenta e oito por cento em volume, a vinte graus Celsius, obtida pela destilação do mosto fermentado de cana-de-açúcar com características sensoriais peculiares, podendo ser adicionada de açúcares até seis gramas por litro, expresso em sacarose”.
Foi assim, que, em outubro de 2003, por meio do Decreto 4.851, o governo brasileiro oficializou a cachaça como produto tipicamente brasileiro.

Luis da Câmara Cascudo, em Prelúdio da Cachaça; etnografia, história e sociologia da aguardente no Brasil, informa:
A aguardente da terra, elaborada no Brasil, podia atender ao apetite dos fregueses humildes, escravos, mestiços, trabalhadores de eito a jornal, todo um povo de reduzida pecúnia. O Tráfico da escravaria impôs a valorização incessante da aguardente na terra, a futura cachaça, era indispensável para a compra do negro africano e, ao lado do tabaco em rolo, uma verdadeira moeda em circulação.

A cachaça a Deus do céu
tem o poder de empatar
porque se Deus dá juízo
cachaça pode tirar

mulato não larga a faca
nem branco a “sabedoria”
cabra não deixa a cachaça
nem negro a feitiçaria

(poesia anônima popular)


A nossa querida cachaça já foi tratada como bebida de segunda categoria, hoje, no entanto, ela já atingiu o status de boa bebida, graças ao trabalho, principalmente dos mineiros.
Lá em Minas Gerais, formaram cooperativas, com um controle rígido quanto à qualidade da nossa boa cachacinha. Por conta disso, em qualquer bar e restaurante do Brasil, encontramos uma “mineirinha” de primeira, motivo do aumento das exportações das branquinhas e amarelinhas.

Sabia que no Brasil já têm até cachacier? Pois é. Cachacier é variação da palavra francesa sommelier, que designa o expert em vinhos. O nosso especialista chama-se Carlos Gonzáles, dono da Cacharia Pompéia, em São Paulo. Entre as dicas do Carlos, está a escolha do copo: “não muito alto com gargalo mais estreito e bojudo” – para sentir o aroma e apreciar a coloração.

Cana -caiana
A cana-caiana é a única saccharum officinarum a denominar aguardente, ingressando na rica sinonímia da cachaça. Batizou um livro de poemas de Ascenso Ferreira (“Cana-caiana”, Recife,1939) onde reaparece um ditirambo popular:
Suco de cana-caiana
Passado no alambique,
Pode sê qui prejudique
Mas bebo toda sumana

Existem muitas estórias, brincadeiras e folclores envolvendo a cachaça. Consegui uma que vinha impressa na etiqueta da Caninha Brumado Velho:

Fui a Minhas gerais e tomei uma cachaça da boa,
mas tão boa, que resolvi levar dez garrafas pra casa.
Mas dona patroa me obrigou a jogar tudo fora.
Peguei a 1ª garrafa, bebi um copo e joguei o resto na pia.
Peguei a 2ª garrafa, bebi outro copo e joguei o resto na pia.
Peguei a 3ª garrafa, bebi o resto e joguei o copo na pia.
Peguei a 4ª garrafa, bebi na pia e joguei o resto no copo.
Peguei o 5º copo, joguei a rolha na pia e bebi a garrafa.
Peguei a 6ª pia, bebi a garrafa e joguei o copo no resto.
A 7ª garrafa, eu peguei no resto e bebi a pia.
Peguei o copo, bebi no resto e joguei a pia na 8ª.
Joguei a 9ª pia no copo, peguei a garrafa e bebi o resto.
O 10º copo, eu peguei a garrafa no resto e me joguei na pia.
-Não me lembro o que fiz com a patroa



Saideira

Musicalmente, foram feitas trocentas músicas, com letras falando da cachaça e respectivos bebuns. Apontarei três, que considero ótimas:

Camisa listrada, de Assis Valente

Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí
Em vez de tomar chá com torrada ele bebeu parati
Levava um canivete no cinto e um pandeiro na mão
E sorria quando o povo dizia: sossega leão, sossega leão...

Cachaça Não é Água Não,de Mirabeau Pinheiro, L de Castro e H Lobato

Se você pensa que cachaça é água
Cachaça não é água não
Cachaça vêm do alambique
E água vêm do ribeirão

Pode me faltar tudo na vida
arroz, feijão e pão
Pode me faltar manteiga,
E tudo mais não faz falta não

Pode me faltar amor
Disto até acho graça
Só não quero que me falte
A danada da cachaça


Moda da Pinga, de Ochelsis Laureano e Raul Torres

C’oa marvada pinga é que eu me atrapaio
Eu entro na venda e já dô meu taio
Pego no copo e dali não saio
Ali mesmo eu bebo, ali mesmo eu caio
Só pra carregá é que eu dô trabaio, oi lá !

Venho da cidade, já venho cantando
Trago um garrafão que venho chupando
Venho pros caminho, venho trupicando
Chifrando os barranco, venho cambeteando
E no lugar que eu caio, já fico roncando, oi lá !

O marido me disse, ele me falô
Largue de bebê, peço pro favor
Prosa de homem nunca dei valor
bebo com o sor quente pra esfriar o calô
E bebo de noite pra fazê suadô, oi lá !

Cada vez que eu caio, caio diferente
Me arco pra trás e caio pra frente
Caio devagar, caio de repente
Vou de currupio, vou deretamente
Mas sendo de pinga eu caio contente, oi lá !

Pego o garrafão e já balanceio
Que é pra mor de ver se tá mesmo cheio
Num bebo de vez porque acho feio
No primeiro gorpe chego inté no meio
No segundo trago é que eu desvazeio, oi lá !

Eu bebo da pinga porque gosto dela
Eu bebo da branca, bebo da amarela
Bebo no copo, bebo na tigela
Bebo temperado com cravo e canela
Seja quarqué tempo vai pinga na goela, oi lá !

Eu fui numa festa no rio Tietê
Eu lá fui chegando no amanhecê
Já me dera, pinga pra mim bebê
Já me deram pinga pra mim bebê, tava sem fervê

Eu bebi demais e fiquei mamada
Eu caí no chão e fiquei deitada
Aí eu fui pra casa de braço dado
Ai de braço dado com dois sordado
Ai, muito obrigado !

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

CARNAVAL? E O NOSSO? - env. por loureane castro

carro alegórico com eusébio, no corso de Loule.


Quando se fala de Carnaval, os brasileiros acham-se donos da ciência. Pensam que só no Brasil é que há Carnaval? Nanay. Não se esqueçam do Carnaval veneziano…
Espanha também tem tradições próprias e muito antigas. Se, por um lado, temos o mediático Carnaval de Tenerife (mais do mesmo, na linha do Carnaval madeirense, como se pode ver em http://www.carnavaltenerife.es/), o norte da Espanha tem tradições que se assemelham muito às do interior/norte de Portugal e que remontam aos jograis e às sátiras sociais em tom jocoso e por trás de um careto ou de uma máscara.
A sul, mantêm-se as sátiras, mas juntam-se às chirigotas, em agrupamentos de gente que se une para satirizar a actualidade ao ritmo de pasodoble, tanguillo e outros da tradição musical andaluza. Há um concurso central, que é o de Cádiz, mas todas as terras têm o seu concurso local para os melhores chirigoteros. O site oficial é http://www.carnavaldecadiz.com/. O concurso pode também ser visto em directo na tv (ou numa selecção em diferido) no site do CanalSur: http://www.radiotelevisionandalucia.es/
Nós, os saloios dos ibéricos, também temos tradições para tudo. E, sinceramente, eu cá dispenso as mulatas despidas e as escolas de samba e vou-me ficar por ver o concurso de chirigotas em directo na terça-feira. É uma pena que não se incentivem os Entrudos lusitanos assim e que se deixem cair em desuso tradições seculares para adoptar referências culturais que, entre o Halloween dos EUA e o sambódromo do Brasil, não são nossas.
Eles têm o rei Momo, nós temos a Queima e o Enterro do Judas.
E qualquer provinciano ibérico como eu, que oscilo entre o jamón Pata Negra e as tripas à moda do Porto, sabe do que falo.
loureane afirma, em seu email, que retirou de uma página da internet, sem assinatura, e que achou interessante. como estamos no carnaval e o servidor está cheio de confetes e serpentinas, publicamos. se o autor do texto se apresentar, com provas, citaremo-lo. ops! confete no olho.

POEMA de bia de luna


A borboleta branca
É a letra que falta
na palavra que não sai.

ARRANCADO DE MIM - poema de paulo matos

Arrancado de mim
Como flor que fosse arrancada
Por uma criança ao passar
E antes que a flor percebesse
Já tivesse sido despetalada
Pela criança que soprava
Suas pétalas ao vento
Para acompanhar-lhes o vôo
No encanto mágico de voar
Como essa flor sem pétalas
Estou despido de mim
Perdido ao lembrar como era
E não saber como sou
Sinto medo
Há silencio em mim
Como se não ter respostas
Fosse a resposta
E tudo se tranqüilizasse
Como um mar em súbita calmaria
E o medo fosse embora
E outro medo então
Se apossasse de mim
O medo de não ter coragem
Para encontrar as respostas
Que provavelmente estão aqui
Dentro de mim

A RARA ARARA ( palíndromos) de edu hoffmann

oh, nossas luvas avulsas, sonho
a base do teto desaba
marujos só juram

a sacada da casa
soa como caos
seco de raiva, coloco no colo caviar e doces

rir, o breve verbo rir

Ana me rola, calor emana
a rara arara
amora me tem aroma

CHIAR(O)SCURO - poema de bárbara lia

Hora suspensa. Horizonte de sangue.
Despediu-se o sol, não brilha a lua.
Barcas estremecem em marés de fogo.
Sinos dobram a Ave-Maria.
O Bem chora a evaporação do dia.
Lágrimas de anjos pela humanidade crua.
Encontro e fuga de almas no ocaso,
Bebendo o sangue solar – poção
De luz para os dias de aço.
Crepúsculo incendiado.
Átimo de esperança: Um Serafim alado,
Flauta de estrelas flana acima de algas e corais.
Toca a música divina estremecendo cristais.
(Jazz, blues, salsa cubana, sinfonia?)
Som azul unindo sangue celeste e marinho.
Serafim, flauta e sol
Evaporam em silêncio de prece.
A branda noite abraça o arrebol.
O eco da flauta aos puros adormece

ATÉ MAIS, OFÉLIA - por zuleika dos reis

A mulher vai passando silenciosa pelo homem que toca violino junto aos mendigos da Estação República.
Peter Pan encontra a pedra de crack no bolso da calça jeans e se põe a sonhar... Wendy, ao seu lado, também se põe a sonhar...
O olhar do homem que entra no Franz e aguarda o café expresso, não se parece com um céu em chamas. Enquanto toma o café, apenas vê os brancos garçons suspensos por seus fios invisíveis.
O céu baixíssimo protege a velha biblioteca com seus ratos de outros tempos.
O palhaço com imensas pernas de pau atravessa o Viaduto do Chá, anunciando... Você só fala, fala, mas não faz nada, diz a balconista, que jamais leu o papagaio de Queneau.
Fernando Pessoa cumprimenta timidamente a mulher, que continua a passar silenciosa. Ele lhe faz um gesto como quem diz: Isso também passará. O poeta atravessa a Rua Direita com o chapéu em uma das mãos e na outra o gatinho que acabou de recolher da calçada.
O homem que toca o violino vem, cercado pelo séquito de mendigos. O homem que toma café no Franz se cose à parede. Não há como duvidar que os brancos garçons continuem, ad infinitum, a servirem cafés. O palhaço chega à Praça da Sé. Um rato pardo, que acabou de sair do bueiro, tem nos olhos a certeza de que o mundo perfeito não precisa, absolutamente, de queijos. Tento surpreender nele algum ar de mártir cristão ou de monge zen, mas já desapareceu.
Fernando Pessoa solta o gatinho, despe o casaco e se põe a dançar, frenético. Ele grita Ofélia vem dançar vem dançar vem dançar e a multidão que se dirige à missa também grita Ofélia vem dançar vem dançar vem dançar.
Ofélia dança e vai soltando, um por um, todos os seus véus e nua, continua a dançar.
Fernando Pessoa pára, veste o casaco, pega o chapéu do chão com o gato dentro e se despede: Até mais, Ofélia.

PARA REFLETIR - de artur amieiro

CRIME e CASTIGO - por walmor marcellino

Após o anúncio da progressão assustadora do desmatamento na Amazônia, e da reunião de emergência do governo Lula da Selva, surge a inevitável pergunta: O presidente da República não teria sido avisado por sua delegacia de ordem política e social, isto é, a ABIn, por sua ministra do Ambiente do Meio(?) Marina Selva, pelo Ministério da Reforma Agrária, pelo Ministério da Defesa, pelo Ministério da Justiça e até pelo Ministério da Pesca e pela direção nacional do PT de que estão depredando a Amazônia? E que os empresários que a borracheira e castanheira Marina e o protelário Lulu estão querendo incumbir de proteger esse patrimônio nacional são assaltantes dos bens públicos?
Afinal, é o começo da PP/P (que os pariu!).

Os governadores, prefeitos, senadores e deputados da região amazônica são sócios do festim nacional do neoliberalismo de esquerda; como o eram no de Fernando-Henrique, ou seja, qualquer “predatório”. Toda vez que eu vi e ouvi os Artur Virgílios discursarem foi para atacar esse “governinho de esquerda” e defender a predação nacional, de direita. Essa escumalha de políticos se revelam a cada momento através de desastres e tragédias que são anunciadas para quem vê o que passa, sob a batuta de Lula-Meirelles-Mântega.

“Política é isso, fazer o quê?” dirão o Berzoini, o Palocci, o Mântega, o Paulo Bernardo, o Meirelles, o Mangabeira, o Luiz Inácio e as bancadas do PT e seus cúmplices no Congresso Nacional. A propósito, a governadora petista do Pará faz o quê, além de administrar o espólio?
O que vai acontecer agora, e depois?
Se alguém souber, me diga.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

JOÃO GOULART, as provas e a história - por gison caroni filho

O Novo Dicionário Aurélio define "prova" como "aquilo que atesta veracidade ou autenticidade de uma coisa; demonstração evidente". Nas reportagens ditas investigativas, é algo a ser obtido durante a fase de apuração das informações que vão ser publicadas. Peça tão importante que deve ser checada criteriosamente.

Na entrevista concedida à Folha de S.Paulo (27/1), o ex-agente de inteligência do governo uruguaio Mário Neira Barreira afirma que João Goulart, deposto em 1964 e morto em 1976, foi assassinado por envenenamento a pedido do governo brasileiro.

A rigor, não estamos diante de um furo jornalístico. Há duas semanas, após entrevista de Barreira com João Vicente Goulart, filho de Jango, a família entrou com uma ação na Procuradoria Geral da República na qual pede que se investiguem as circunstâncias que cercaram a morte do ex-presidente em seu exílio, na Argentina.
O que o diário paulista conseguiu foi um material rico em detalhes, algo que pede para ser reconstituído como acontecimento histórico relevante, podendo tanto confirmar a versão oficial (ataque cardíaco fulminante) como refutá-la.
O que está em questão é a disposição e/ou capacidade de se fazer jornalismo investigativo ou deixar que matéria morra na opinião sobre os "especialistas do tema".

Ouvindo o que Jango falava

Ao escrever que Mário Neira "não exibiu provas e disse que o caso era discutido pessoalmente", a jornalista Simone Iglesias, involuntariamente, suscita questões interessantes: o que pode ser considerado prova em um episódio como esse? Uma autorização por escrito do então presidente general Ernesto Geisel ou do delegado do Dops Sérgio Paranhos Fleury? Algum comprimido envenenado com frasco mostrando a validade vencida?
Se considerarmos que o relato do uruguaio guarda inconteste coerência interna – e é verossímil com o contexto político da época – a entrevista pode ser o primeiro passo na concepção de um instigante trabalho de investigação.
Uma história que pede para ser revisitada.
Se, tal como definida no dicionário, "prova circunstancial" é aquela que se baseia em indícios, as palavras do entrevistado não podem ser descartadas por falta de relevância. Como prova testemunhal, conhecida nos meios jurídicos como "prostituta das provas", a posição funcional de Neira é um dado que não deve ser ignorado. O que deve ser apurado não é de pouca monta.

Senão, vejamos:

"Estive na fazenda de Maldonado para colocar uma estação repetidora que captava sinais dos microfones de dentro da casa e retransmitia para nós. Esta estação repetidora foi colocada numa caixa de força que havia na fazenda. Aproveitamos essa fonte de energia para alimentar os aparelhos eletrônicos e para ampliar as escutas. Isso possibilitava que ouvíssemos as conversas a 10, 12 km de distância. Ficávamos no hipódromo de Maldonado ouvindo o que Jango falava."
Uma rara oportunidade
Não há como confirmar junto à família ou ex-trabalhadores a existência dessa caixa e a plausibilidade operacional de escuta no hipódromo? Ou disso cuidam os biógrafos?

"Foi morto como resultado de uma troca proposital de medicamentos. Ele tomava Isordil, Adelfan e Nifodin, que eram para o coração. Havia um médico-legista que se chamava Carlos Milles. Ele era médico e capitão do serviço secreto. O primeiro ingrediente químico veio da CIA e foi testado com cachorros e doentes terminais. O doutor deu os remédios e eles morreram. Ele desidratava os compostos, tinha cloreto de potássio. Não posso dizer a fórmula química porque não sei. Ele colocava dentro de um comprimido."

Certamente, há como se comprovar ou não a existência do médico e seu papel no aparato repressivo. A medicação citada deve ser de conhecimento dos familiares ou de algum clínico com quem o ex-presidente tenha se consultado. Quem sabe não há prontuários no Brasil, Argentina ou Uruguai? Estamos falando do estudo de viabilidades, um procedimento bastante familiar a experientes jornalistas.

Se, conforme é descrito na matéria, "o Exército brasileiro informou que não há hoje ninguém na ativa com condição de responder ou até rejeitar acusações. O mesmo foi dito pela embaixada dos Estados Unidos no Brasil, questionada se houve participação da CIA na suposta operação para matar o presidente João Goulart, em 1976", é hora de a Folha de S.Paulo estabelecer um plano de ação e pôr em campo uma equipe familiarizada com o tema e que a ele se dedique com afinco. Estamos falando da Operação Condor e de uma rara oportunidade: aquela em que a história, sorrateiramente, adentra uma redação como esfinge.
A opção é por demais conhecida para ser repetida como desfecho de artigo.

Ou será que a proverbial preguiça, advinda do exercício constante do denuncismo vazio, levou nossa imprensa a criar um novo preceito jurídico? Algo do gênero: a quem se acusa cabe o ônus da prova?

ENTRE O CARNAVAL e os CARNAVAIS por márcio salgues

Raíssa Oliveira -(2008) A mais nova de todas, com apenas 17 anos, Raissa mostrará todo seu charme e samba-no-pé como rainha de bateria da atual campeã, a Beija-Flor de Nilópolis.
foto sem crédito.


No carnaval a vida muda. O país muda. As pessoas mudam.

Tantos pudores cotidianos são esquecidos. Os desejos mais íntimos afloram à pele nos carnavais das ruas e dos bailes.

Não há Josés, Marias, Franciscos, nem outras pessoas que sejam. Há, sim, foliões lançados ao transe coletivo, à catarse coletiva dos desejos oprimidos no dia-a-dia em nome de uma suposta vida normal.

Não há a necessidade de dissimulação para consigo mesmo. Os foliões se entregam aos folguedos e à libertinagem.O carnaval é a festa que melhor representa a cultura brasileira em todos os seus aspectos. Num misto de tradições populares e antigas tradições pagãs.

É a união de inúmeros personagens míticos e folclóricos: Baco, Momo, Pierrôs, Colombinas, Baianas das enormes saias que rodopiam nos desfiles, corpos lânguidos que saracoteiam pelas ruas exalando sensualidade, luxúria e o cheiro do cio que enche a atmosfera libertando os pudores; os carros que fazem suas alegorias à temas diversos, o gigante Galo da Madrugada... O mundo pára.

A vida pára.

Durante quatro dias, ninguém mais se preocupa com as oscilações do mercado, com a cotação do dólar, com os baixos salários, com os escândalos de todos os dias, com a corrupção, com a pobreza, a miséria, a fome... Tudo é festa. Festeja-se a própria insensatez.

Todos se entregam à ilusão temporária a que chamam alegria, até que chegue a quinta-feira e todos retomem suas velhas e rotineiras vidas. Carnaval é a festa de todos.

Não há distinção de classes. Não há luta de classes.

Ainda que as diferenças se façam perceber na magnitude dos bailes nababescos e dos camarotes VIP dos endinheirados, celebridades descartáveis e candidatos à celebridade descartáveis; onde os “colunistas sociais” se esfalfam nos regalos e bajulações.

Título curioso, aliás, para uma categoria que não se vê no meio do povão, nas arquibancadas dos desfiles das escolas de samba, nas ruas, onde os corpos suados pululam ao som dos trios-elétricos, dos blocos de rua, das orquestras de frevo, Caboclinhos, Maracatus, Bois-Bumbás e todas as manifestações populares pelo Brasil adentro, onde está o verdadeiro carnaval.

Os carnavais dos versos de Nelson Ferreira, Chiquinha Gonzaga, Braguinha, Edgard Moraes e tantos outros grandes nomes da nossa cultura se perdem aos poucos, salvo iniciativas de grupos isolados...

Saudosismo dos blocos líricos e antigos carnavais? Não sei... Não vivi esses tempos. Apenas conheço as canções dos carnavais poéticos...

EVOCAÇÃO Nº 1(Nelson Ferreira, 1956)

"Felinto, Pedro Salgado, Guilherme, Fenelon
Cadê teus blocos famosos
Bloco das Flores, Andaluzas, Pirilampos, Apôs-Fum
Dos carnavais saudosos
Na alta madrugada
O coro entoava
Do bloco a marcha-regresso
E era o sucesso dos tempos ideais
Do velho Raul Moraes
Adeus, adeus minha gente
Que já cantamos bastante
E Recife adormecia
Ficava a sonhar
Ao som da triste melodia..."

... Apenas sinto a estranha sensação de que a nossa cultura aos poucos vai sendo canibalizada. A poesia, o lirismo, as tradições folclóricas vão sumindo.

Os carnavais da grande massa popular aos poucos vão se tornando em imensas feiras livres, cujo único objetivo é a venda de pretensas musiquinhas irritantes, abadás e cervejas de todas as marcas. E que, como fonte de lucro abundante, se prolifera nos chamados “carnavais fora de época”, onde se despejam, como que num grande buraco negro, todas as mazelas que açoitam nossa sociedade.

Esconde-se o lixo debaixo do tapete.

E assim, embriagados nos delírios desses dias de folia, a vida segue seu rumo. Despercebida e com poucos ideais e ambições. A sociedade vai sendo ludibriada e a cultura histórica se transforma numa cultura descartável, como tudo mais na sociedade moderna.

Assim fazemos a distinção entre o carnaval do engodo e da ignorância e o carnaval da cultura e da diversidade histórica que precisa ser massificado.

E esse carnaval verdadeiro, enquanto houver iniciativas por parte daqueles que cultuam as nossas tradições, será sempre a maior manifestação cultural e popular brasileira.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

CONTRA-CANALHAS - poema de joão batista do lago

Quanto tempo ainda restará
Para conviver com os canalhas?

Vive-se um tempo de batalha: a
Virtude é pura moeda rara!
Perdeu-se a vergonha da cara;
Falta coragem de usar a navalha.

Ó, República da vagabundalha,
República de miserável sorte,
Rasgaram-te as vestes da Ética (e)
Curvaram-te ante essa estética

Sangram-te, ó mãe, os canalhas!
Arrancar-te o Direito do peito é
Tudo que deseja a vagabundalha:
Nação inerte; prostrada ao leito.

Sangram-te, ó mãe, os canalhas!
Mas haverá dia que todo malfeito
Restará findo… restará morto…
A nação cativa se levantará do jugo

Então aí – o povo –, plebe ignara,
Tomará as rédeas do desatino e
Fará da nação cativa seu destino:
República de Virtude, Ética e Direito.

MEIO de TARDE - poema de joanna andrade

Meio de tarde
No balanço de um blues
Pra lá e pra cá
O cenário de hotel
A cadeira e o guarda sol
A fumaça do cigarro e o cinzeiro lotado
A água da piscina
O gim e a tônica da solidão.

O RETORNO DE DARIO - poema de jairo pereira





Dario em seu retorno de quinta ou sexta vez
está mais velho e lívido os grisalhos nevados
a tez feliz de quem já viu-viveu quase-tudo
Dario o das palavras: estar ficar nada-fazer
as unhas bem feitas os óculos finos a testa alta
Dario o aristocrata descido de brancas nuvens
o andar preciso o sorriso aberto no ouro do dente
Dario o da mulher ausente os filhos por re-conhecer
no sétimo retorno de Dario a voz consente
da razão escolher assento nas Quedas do Iguaçu
onde o Dr. Jairo é o louco bom q. chuta postes
e a maneira dos gaúchos de culotes
fere a noite no tropel de seu cavalo monet
oferecido a vida e a morte por mero deleite.