quarta-feira, 31 de outubro de 2007

ODE A SÃO LUIS / maranhão/ poema de joão batista do lago

Ó tu, leito-mãe dos Tupinambás
Reina dos mares do Sul, sois vós
Vitoriosa, oh! amada Upaon-açu
Carregas nome e cetro de realeza
N’alma saber e virtude de Atenas
No peito o brasão de viva Natureza

Ó tu, São Luís – Ilha dos Amores!
Amada de francos, lusos e neerlandeses
Sois vós o encanto de Arúspice
Profeta da vossa eterna glória e pureza:
- Vosso destino é conservar em si toda beleza
serás deste teu Orfeu a eterna Eurídice

Ó tu, São Luís – Jamaica brasileira
Sou-vos grato pela vida inteira pois
Sabei-vos de muitos ser uma só pessoa
Jamais vos deixaste vencer. Sois guerreira!
Ainda que vos queira estuprar o monstro da modernice
Haverá sempre um filho teu que não fugirá a luta

Ó tu, São Luís – Cidade dos Azulejos
Perdoai o jugo da desgraçada sorte (e)
Tomai por exemplo o Cristo da hora da morte
Perdoai os filhos que vos sangra em realejos
Todos serão defenestrados, enfim, para que
Possamos amar-vos entre ruas e curvas de azulejos

ESSÊNCIAS VERDES MASTURBADAS - poema de benny franklin

Frasco n° 1




Parábolas do mormaço hibernal;
Não mais que o algebrar de longes tráfegos
Crucifixando seivas fluidificadas de Allen Ginsberg
Que, engendradas a este quase-ereto-poema,
Atam-se a fiação da escrita
Para melhor divisar
As Essências Verdes Masturbadas.
Ai! Em pequenos frascos jaza a poesia...
Lágrimas Fêmeas despojadas
Ora desnudas, ora de olhares vagos,
Sobretudo quando estão acuadas
Em oito deprimidas leiras.
Sob viés pontiagudo
As verborragias Junguianas
Enchem sádicos bacios com ardidos remorsos,
Como as faces inominadas de nós
(Tristes sementes pêcas)
Que as trevas matariam
Num frouxo instante

A ÉTICA É A ESTÉTICA DO FUTURO - por celso lungaretti

Os personagens desumanizados de "Pilatos", obra de Carlos Heitor Cony, lembram – até demais! – os arautos dessa nova direita emergente no Brasil, que faz do rancor e do retrocesso sua bandeira. O que parecia exagero literário virou triste realidade.
Quem colocou esta frase em circulação, atribuindo-a a Lênin, foi o genial cineasta Jean-Luc Godard, na década de 1960. Dado aos chistes e ao non sense, Godard pode ter sido ele próprio o autor. Pouco importa. O fato é que sintetiza bem a visão de mundo da juventude mais idealista do século passado. Em 1968 e nos anos seguintes, tivemos as primaveras de Paris e de Praga, o repúdio universal à intervenção dos EUA no Vietnã, a resistência às ditaduras em todos os quadrantes, movimentos os mais diversos em defesa da justiça social e dos direitos das minorias, bem como a revolução de costumes conhecida como contracultura. Ventos de mudança varreram o planeta. Foi um impulso generoso, solidário, irmanando os melhores seres humanos na busca de um futuro digno para a humanidade.Houve, portanto, um tempo em que muitos acreditaram piamente na iminência de uma sociedade na qual os relacionamentos entre os seres humanos, de tão éticos e gratificantes, iriam se tornar a realização da estética no cotidiano. Não precisaríamos mais da arte para sonhar acordados com uma beleza inexistente na vida real. O paraíso seria agora.Depois, claro, veio a reação. E as flores foram sendo, uma a uma, arrancadas. O capitalismo triunfante moldou o planeta à sua imagem e semelhança: competitividade, ganância, desigualdade, parasitismo, guerras inúteis, agressões insensatas ao meio ambiente, consumismo exacerbado, condenação de vastos contingentes humanos ao desemprego crônico e à miséria aviltante, degradação do pensamento, da arte e dos padrões morais.Carlos Heitor Cony, que busca afoitamente outros privilégios mas foi privilegiado com dotes de grande escritor, escreveu em 1974 um romance profético, Pilatos. Mostra como seria um mundo em que os homens não tivessem nenhuma motivação idealista, sentimento nobre ou limites morais. Todas as suas ações visariam apenas à satisfação de apetites e de necessidades primárias. Era um inferno mais assustador que o descrito nas religiões. E tinha tudo a ver com aquele Brasil dos yuppies enriquecidos pelo milagre econômico e das massas anestesiadas pelo tricampeonato de futebol.Os personagens desumanizados de Pilatos lembram – até demais! – os arautos dessa nova direita emergente no Brasil, que faz do rancor e do retrocesso sua bandeira. O que parecia exagero literário virou triste realidade. Há indivíduos que conspiram dia e noite para arrastar o Brasil a uma nova ditadura. Há indivíduos capazes de escrever entusiasticamente em defesa de filmes que fazem apologia da truculência e da tortura. Há indivíduos que se regozijam quando cidadãos exemplares são flagrados em situações equívocas, como se a grandeza do rabino Henry Sobel pudesse ser empanada pela cleptomania e a do padre Júlio Lancelotti, por distúrbios da sexualidade. Demonstram ódio homicida pelos rivais ideológicos, a ponto de se aproveitarem de suas debilidades humanas – quem não as tem? – para instigarem seu linchamento moral. Como Átila e Gengis Khan, só vêem os inimigos como obstáculos a serem suprimidos. Seus textos são um deserto de ideais. Não contêm nenhum sonho, nenhuma esperança, nada que sinalize um mundo melhor. Apenas a defesa encarniçada do status quo capitalista e o combate encarniçado aos que, bem ou mal, propõem alternativas. São contra governos, partidos e pessoas. Abominam a Declaração Universal dos Direitos Humanos. E não têm, sequer, a honestidade de seus congêneres da Espanha, adeptos de Franco, que assumiam abertamente os valores obscurantistas que professavam, ao urrarem “Abaixo a inteligência, viva a morte!”.

AINDA SOBRE MATSUO BASHÔ

enviado por léo meimes:


velho tanque
uma rã salta
barulho d'água

terça-feira, 30 de outubro de 2007

EM MANUTENÇÃO

deveríamos retirar o aviso, já que acabou o que estávamos fazendo, entretanto, alguém postou um comentário aqui. por respeito aos nossos leitores que fazem comentários, o que é muito bom, vamos deixar o "EM MANUTENÇÃO" como matéria. solicitamos, caso queira, que quem postou o comentário envie seu email para o PALAVRAS, TODAS PALAVRAS.

domingo, 28 de outubro de 2007

POEMA - de matsuo bashô

original em japonês:



Furu ike ya
kawazu tobikomu
mizu no oto


tradução de jaques brand:

Há um velho tanque.
Nele um sapo salta.
Ouve-se o barulho disso.



tradução de estrela leminski:


chuá, chuá
coach, coach
tchibum!

CONSILÊNCIA - por janos biro

Resenha crítica do livro "Consilência" de Edward O. Wilson





Consilência é o termo usado por Edward O. Wilson para se referir a uma suposta unidade do conhecimento. Tal unidade do conhecimento, que é a conexão de todas as ciências, seria a única forma de continuar o progresso da ciência. Wilson é uma pessoa que acredita fielmente na ciência, e que não se considera reducionista. Sua proposta, segundo ele mesmo, não é reduzir as ciências a uma unidade comum, mas fazer uma síntese. Essa síntese partiria da matemática, passando pela física, química, biologia e finalmente chegando à sociologia e demais ciências humanas. Elas seriam como degraus numa escada, uma completando a outra, com novas disciplinas servindo de pontes. Não quer dizer que o cientista precisa saber tudo, mas que ele precisará saber como encaixar seu conhecimento dentro da síntese do conhecimento. A filosofia deverá se aproximar da ciência se quiser sobreviver à "nova ordem mundial" do conhecimento humano.O que Wilson faz é usar uma abordagem holista para justificar sua visão de mundo, uma visão onde a raiz de todo conhecimento é a matemática, e todas as ciências deveriam se submeter à análise lógica e objetiva. Ele faz isso com a desculpa de salvar a educação liberal e o meio-ambiente. Os problemas sociais e ecológicos têm ficado piores desde que começamos a ver o mundo como uma máquina, e o que Wilson propõe é uma nova alternativa para salvar a visão mecanicista, mostrando que a visão holista nem sempre vai de encontro ao paradigma cartesiano, mas ao contrário. Wilson é um defensor do iluminismo e do positivismo lógico. Para ele nunca deveríamos desistir de encontrar a estrutura lógica que explique todas as coisas do mundo. As fronteiras das disciplinas seriam por fim derrubadas, porque são convenções. Sem essas fronteiras, expandiríamos nosso conhecimento ao infinito. Mas essa união não pode ocorrer sem critério algum. Ou iremos usar um único padrão explicativo, cognitivo e epistemológico, ou iremos apenas aumentar canais de diálogo entre as disciplinas. É fácil concordar com a segunda opção, porém a idéia da interdisciplinaridade não depende do conceito de consilência, e se a proposta de Wilson é apenas essa então não há nada de surpreendente nela. Mas em alguns momentos Wilson parece comprometido com a primeira opção, com uma espécie de modelo definitivo para o conhecimento. Se levarmos em conta que a consilência não pode prever os resultados da cooperação entre as disciplinas, então a consilência é antes uma sugestão que uma teoria. Ela não pode dizer como as ciências irão se unir, pode apenas sugerir que a ciência pode avançar se essa cooperação ocorrer. Seria preciso um meta-conhecimento absoluto para saber como as disciplinas deveriam se encaixar. Mas não é qualquer síntese que Wilson está sugerindo, ele está tentando provar que encontrou a fórmula mágica para resolver o quebra-cabeça do conhecimento humano. Para Wilson o positivismo lógico só falhou porque não havia conhecimento do funcionamento do cérebro. O projeto teria sido bem sucedido se esses dados estivessem lá. Isso quer dizer, agora que temos esses dados, tudo que precisamos é fechar o vão: os genes criam o cérebro, que cria a consciência, que cria a cultura. É como se ele tivesse encontrado o elo-perdido que nos permite unir todas as coisas e seguir para uma nova era de razão e avanço científico. Empolgado com seu projeto, Wilson ignora alguns problemas filosóficos, superestima os resultados e subestima as dificuldades de tal pretensão. Wilson diz aceitar a potencialidade no lugar do determinismo, mas acredita que é possível prever regularidades com uma precisão cada vez maior, o que lhe dá esperança de um progresso científico rumo à inefabilidade. Ele nunca se pergunta se precisamos realmente disso, nem se questiona se não iremos repetir os erros do passado, criando ainda mais e piores problemas para tentar solucionar os atuais. Para ele, tudo que interessa é a síntese, ele não pensa nem por um momento nas implicações de um sistema de unificado do conhecimento. Wilson apresenta um holismo exagerado, unindo coisas que tem uma conexão muito tênue como se o poder de explicação delas continuasse significativo. É verdade que existem muitos problemas que podem ser resolvidos dessa forma, mas problemas simples podem se tornar complexos demais. A conexão entre biologia e sociologia, por exemplo, pode variar muito. Muitos detalhes de biologia que estão relacionados a assuntos da sociologia não precisam ser levados em consideração para se resolver um problema. Há uma a distinção entre a interação dos objetos de estudo e a interações das teorias. Uma coisa é subsumir a molécula aos átomos, e outra coisa é subsumir a química à física. Também não podemos esquecer que cada área, ainda que não tenha um objeto único, tem um ponto de vista único. Os conhecimentos de uma área, como a ecologia, podem ser usados economistas para justificar certa visão economicista. Enquanto a economia pode ser usada por ecólogos justificar o oposto. Não há como controlar isso. Há uma falsa aceitação da subjetividade. Wilson não aceita realmente a subjetividade nas ciências humanas. Ele só a aceita na medida em que ela possa ser explicada objetivamente. Ele aceita a consciência como uma questão científica apenas porque acredita que podemos descobrir seu funcionamento através da neurociência. Mas talvez a consciência não seja um mecanismo capaz de mapear a si mesmo. Quando tentamos fazer isso, inevitavelmente estaremos usando uma predefinição do que nós mesmos queremos descobrir. Wilson ignora esses problemas de circularidade, ele simplesmente considera que basta um pouco mais de avanço e vamos poder preencher todos os vãos. Isto faz da consilência, quando levada nesse sentido, nada mais que uma proposta metafísica ao estilo de Platão.

HOMOSSEXUALISMO - carta aberta a um fundamentalista.

E-mail enviado por um estudante de teologia de Boston para Laura Schlessinger, uma personalidade do rádio americano que distribui conselhos para pessoas que ligam para seu show.
Recentemente ela disse que a homossexualidade é uma abominação de acordo com Levíticos 18:22 e não pode ser perdoada em qualquer circunstância.
O texto abaixo é uma carta aberta para Dra. Laura, escrita por um cidadão americano.




Cara Dra. Laura

Obrigado por ter feito tanto para educar as pessoas no que diz respeito à Lei de Deus. Eu tenho aprendido muito com seu show, e tento compartilhar o conhecimento com tantas pessoas quantas posso.
Quando alguém tenta defender o homossexualismo, por exemplo, eu simplesmente o lembro que Levítico 18:22 claramente afirma que isso é uma abominação. Fim do debate.
Mas eu preciso de sua ajuda, entretanto, no que diz respeito a algumas leis específicas e como seguí-las:
a) Quando eu queimo um touro no altar como sacrifício, eu sei que isso cria um odor agradável para o Senhor (Levítico 1:9). O problema são os meus vizinhos. Eles reclamam que o odor não é agradável para eles. Devo matá-los por heresia?
b) Eu gostaria de vender minha filha como escrava, como é permitido em Êxodo 21:7. Na época atual, qual você acha que seria um preço justo por ela?
c) Eu sei que não é permitido ter contato com uma mulher enquanto ela está em seu período de impureza menstrual (Levítico 15:19-24). O problema é: como eu digo isso a ela ? Eu tenho tentado, mas a maioria das mulheres toma isso como ofensa.
d) Levíticos 25:44 afirma que eu posso possuir escravos, tanto homens quanto mulheres, se eles forem comprados de nações vizinhas. Um amigo meu diz que isso se aplica a mexicanos, mas não a canadenses. Você pode esclarecer isso?Por que eu não posso possuir canadenses?
e) Eu tenho um vizinho que insiste em trabalhar aos sábados. Êxodo 35:2 claramente afirma que ele deve ser morto. Eu sou moralmente obrigado a matá-lo eu mesmo?
f) Um amigo meu acha que mesmo que comer moluscos seja uma abominação (Levítico 11:10), é uma abominação menor que a homossexualidade.Eu não concordo. Você pode esclarecer esse ponto?
g) Levíticos 21:20 afirma que eu não posso me aproximar do altar de Deus se eu tiver algum defeito na visão. Eu admito que uso óculos para ler. A minha visão tem mesmo que ser 100%, ou pode-se dar um jeitinho?
h) A maioria dos meus amigos homens apara a barba, inclusive o cabelo das têmporas, mesmo que isso seja expressamente proibido em Levíticos 19:27. Como eles devem morrer?
i) Eu sei que tocar a pele de um porco morto me faz impuro (Levítico 11:6-8), mas eu posso jogar futebol americano se usar luvas? (as bolas de futebol americano são feitas com pele de porco)
j) Meu tio tem uma fazenda. Ele viola Levítico 19:19 plantando dois tipos diferentes de vegetais no mesmo campo. Sua esposa também viola Levítico 19:19, porque usa roupas feitas de dois tipos diferentes de tecido (algodão e poliester). Ele também tende a xingar e blasfemar muito. É realmente necessário que eu chame toda a cidade para apedrejá-los (Levítico 24:10-16)?
Nós não poderíamos simplesmente queimá-los em uma cerimônia privada, como deve ser feito com as pessoas que mantêm relações sexuais com seus sogros (Levítico 20:14)?
Eu sei que você estudou essas coisas a fundo, então estou confiante que possa ajudar.
Obrigado novamente por nos lembrar que a palavra de Deus é eterna e imutável.
Seu discípulo e fã ardoroso.

sábado, 27 de outubro de 2007

MANOEL de ANDRADE lança livro de poemas

No dia 15 de outubro o poeta Manoel de Andrade lançou na Livraria Curitiba/Shopping Estação o livro de poesia CANTARES editado por Editora Escrituras. O lançamento registrou um público que levou o jornalista João Alécio Mem, assessor de imprensa da livraria, a declarar: "...foi o melhor e mais concorrido lançamento de poesia dos últimos tempos na Livraria Curitiba."
Cantares reúne poemas, todos frutos do venturoso reencontro de Manoel de Andrade com a poesia depois de trinta anos de abstinência literária. Apenas três deles — “Temporada de amigos”, “Marítimo” e “Um homem no cais” — foram escritos na década de 1960 e engavetados por não refletirem as prioridades políticas de sua poesia naquele “Tempo Sujo”.
Manoel de Andrade apresenta algumas janelas pelas quais ele vê o mundo: sua infância litorânea, a nostálgica ansiedade do marinheiro que não foi, o olhar crítico da indignação política, social e, sobretudo, a inquietude com a sobrevivência ambiental do planeta.
Com esses poemas, entrega a expressão mais bela e honesta da sua condição humana sem nada esperar em troca, a não ser a anônima emoção que alguém possa ter em sua leitura. E Manoel de Andrade diz a seu leitor, na apresentação da obra: “E, se este alguém fores tu..., é exatamente para ti que eu escrevo. E se tu fores capaz de abrir tuas velas e navegar comigo, de te indignar perante a injustiça ou de sentir, como eu, esse profundo respeito por tudo o que respira, valeu a pena buscar-te nos meus versos. É com essa única intenção que minha lírica paternidade envia, despojada e comovida, estes meus filhos ao mundo. Para que cumpram alguma missão de beleza, para a qual foram escritos”.

A seguir um poema do autor de CANTARES:


“POR QUE CANTAMOS”

Curitiba, maio de 2003
para Mario Benedetti(*)




Se tantas balas perdidas cruzam nosso espaço
e já são tantos os caídos nesta guerra...
Se há uma possível emboscada em cada esquina
e temos que caminhar num chão minado...

“você perguntará por que cantamos”

Se a violência sitia os nossos atos
e a corrupção gargalha da justiça...
Se respiramos esse ar abominável
impotentes diante do deboche...

“você perguntará por que cantamos”

Se o medo está tatuado em nossa agenda
e a perplexidade estampada em nosso olhar...
Se há um mantra entoado no silêncio
e as lágrimas repetem: até quando, até quando, até quando...

“você perguntará por que cantamos”

Cantamos porque uma lei maior sustenta a vida
e porque um olhar ampara os nossos passos.
Cantamos porque há uma partícula de luz no túnel da maldade
e porque nesse embate só o amor é invencível.



Cantamos porque é imprescindível dar as mãos
e recompor, em cada dia, a condição humana.
Cantamos porque a paz é uma bandeira solitária
a espera de um punho inumerável.

Cantamos porque o pânico não retardará a primavera
e porque em cada amanhecer as sombras batem em retirada.
Cantamos porque a luz se redesenha em cada aurora
e porque as estrelas e porque as rosas .

Cantamos porque nos riachos e lá na fonte as águas cantam
e porque toda essa dor desaguará um dia.
Cantamos porque no trigal o grão amadurece
e porque a seiva cumprirá o seu destino.

Cantamos porque os pássaros estão piando
e ninguém poderá silenciar seu canto.
Cantamos para saudar o Criador e a criatura
e porque alguém está parindo neste instante.

Pelo encanto de cantar e pela esperança nós cantamos
e porque a utopia persiste a despeito da descrença.
Cantamos porque nessa trincheira global, nessa ribalta,
nossa canção viverá para dizer por que cantamos.

Cantamos porque somos os trovadores desse impasse
e porque a poesia tem um pacto com a beleza.
E porque nesse verso ou nalgum lugar deste universo
o nosso sonho floresce deslumbrante.




(*) Escrevi estes versos motivado pelo belíssimo poema “POR QUE CANTAMOS” do poeta uruguaio MARIO BENEDETTI. Num tempo em que todos caminhamos sobre o “fio da navalha” me senti, como poeta, implicitamente convocado a também testemunhar por que cantamos.


Nesta foto feita na noite de autógrafos aparecem o autor com os amigos, da esquerda para a direita: o escritor José Zokner (Juca), o poeta e escritor Walmor Marcellino, o poeta JB Vidal, o poeta (anfitrião) Manoel de Andrade, o cartunista Solda, o escritor Ewaldo Schleder e o artista plástico João Osório Brzezinki.
Foto de Angélica.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

FÚRIA

Sobre o Homem


Só exijo tres coisas de um homem: que ele seja bonito, insensível e burro.


dorothy parker

CONVITE - banda laiki kompania / música grega. clique aqui veja e ouça

Uma típica banda grega criada no Brasil.
A Laiki Kompania foi criada em Curitiba/PR, em 2000. Em pouco tempo, além de instrumentos típicos (o buzuki), compassos compostos e escalas helênicas, o conjunto passou a possuir a riqueza da língua grega em seu repertório. Hoje a Laiki Kompania é formada por 8 componentes e interpreta músicas de todas as regiões da Grécia: da Macedônia à Creta, de Ípiros ao Mar Egeu.

Componentes da Laiki Kompania:

Argyris Oikonomou – Vocais
Eliane Bastos - Vocais
Kostas Frantzezos - Buzuki
Guto Pereira - Buzuki, Guitarra e Violão
Nando C. Lemos - Percussão
Rubens Arnon - Baixo
Chico Maia – Violão e Teclado
Shirley Granato – Bateria

A banda se apresentará no Teatro SESC da Esquina na rua Visconde do Rio Branco, 969, Curitiba, dia 28/10. Informações: 41.3304.2222

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

VIVA O REI ! - poema de jb vidal/outono/2003

Viva o Rei! Vida longa ao Rei!

gritam todos como fosse o Rei a própria Vida,

gritam para si,
longa para si,
cuja trajetória é maior que si,

Vida longa ao Rei!

satisfeitos com seus trapos,
suas misérias,
suas dores,
seus crimes,

rastejam pela vida
como se a vivessem,
arrastam seus instintos como consciências,
louvam a tudo como dádivas do que não sabem,

Glória ao Rei!

glória a si,
glória à seus incestos!
glória à sua ação nociva!
glória à sua podridão!
ao seu viver de merda!

Viva o Rei!

ofídios é o que são! sem a beleza dos ofídios,
vermes! sem a nobre função dos vermes,
inúteis! ao desprezar o sofrimento do saber,
a dor da consciência,
idólatras! de sua própria nulidade!

Longa vida ao Rei! Glória ao Rei!

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

LEONARD COHEN - convite de f. koproski

No restaurante e bar SAL GROSSO, Largo da Ordem, 50, Curitiba, quinta-feira, 25 de outubro (daqui a pouco) a partir das 19:30, a editora 7 Letras estará lançando ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR, a 1ª antologia brasileira de poemas de LEONARD COHEN, com organização, tradução e apresentação de Fernando Koproski sendo a edição bilíngue. Utilizando como fonte poemas selecionados de 8 livros do autor, o volume apresenta pela primeira vez em edição brasileira poemas representativos dos temas mais freqüentes da obra poética de Cohen, permitindo uma avaliação da surpreendente poesia deste autor que no Brasil é conhecido como músico e compositor.

Leonard Cohen nasceu em Montreal, Canadá, em 1934. Estreou na poesia com Let us compare mythologies em 1956, ao que se seguiram mais nove livros de poemas e dois romances, que até hoje instigam e influenciam diferentes gerações de leitores no mundo inteiro.
Cohen foi traduzido para mais de 20 idiomas, tais como o francês, italiano, alemão, polonês, espanhol, hebraico, chinês, sueco, dinamarquês, russo, holandês, norueguês, finlandês, tcheco, turco, croata, sérvio, romeno, esloveno, bósnio, islandês e o persa. Estreou como músico e compositor em 1967, com o álbum Songs of Leonard Cohen. Depois disso, já gravou outros dezesseis discos. Sua obra musical recebeu homenagens, tributos e regravações por parte de artistas rock e pop, tais como R.E.M., Pixies, Nick Cave and the bad seeds, Ian McCulloch, James, Lloyd Cole, John Cale, Sting, Elton John, U2, Jennifer Warnes, Judy Collins e Madeleine Peyroux.




Fernando Koproski nasceu em Curitiba, em 1973. É escritor, tradutor e letrista. Publicou 8 livros de poemas, entre os quais: Manual de ver nuvens (1999), O livro de sonhos (1999), Tudo que não sei sobre o amor (2003), Como tornar-se azul em Curitiba (2004) e Pétalas, pálpebras e pressas (2004). Foi co-editor e idealizador da Kafka – edições baratas.
Como tradutor, organizou e traduziu a Antologia Poética de Charles Bukowski Essa loucura roubada que não desejo a ninguém a não ser a mim mesmo amém (7 Letras, 2005). Como letrista, tem parcerias musicais gravadas por Beijo AA Força, Alexandre França e Carlos Machado. É Bacharel em Letras Inglês e Mestre em Literatura de Língua Inglesa pela UFPR.


UM POEMA DE LEONARD COHEN:

Não há traidores entre as mulheres
A própria mãe não conta ao filho
que elas não nos querem bem

Ela não será domada com conversas
A ausência é a única arma
contra o supremo arsenal de seu corpo

Ela guarda um desprezo especial
para os escravos da beleza
Ela permite que eles a vejam morrer

Perdoem-me, companheiros,
Eu canto isso apenas para aqueles
que não se importam com quem ganha a guerra

VOCÊ É O ALVO - utilidade pública

Você vai no GOOGLE e insere "o maior ladrão do Brasil" e clica em "estou com sorte" encontra quem? na wikipédia?

Bem, depois você pesquisa por "o maior canalha do Brasil" com a mesma forma de busca, e encontra quem? bem, aí é mais escrachado, tem blog e tudo o mais, mas é o primeiro da lista.

Conclusões suas.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

VIVAH - conto de raymundo rolim / livro cesto de pedras

Viva São João, viva São Pedro, viva a Nossa Senhora dos Pilares, viva o sétimo dia do sétimo selo, viva a mercadoria que não veio, viva a presença hospitaleira da lagarta da abóbora, viva a possibilidade de qualquer coisa, viva a porcaria que de vez em quando se instala, viva a parceria feliz entre homem e máquina, viva a sabotagem em nome da alegria de uns para a tristeza de outros, viva a idade de setecentos anos de alguma coisa, viva o mar, viva o ar, viva a baleia chamada de assassina só porque precisa comer um pouco! Viva a onipresença dos poetas, o Sérgio Natureza compositor e seus parceiros e a própria realeza; viva o vovô, viva a vovó, viva o netinho com o dentinho novo, viva o índio Caramuru que nem índio era, viva o pezinho que anda pela primeira vez, viva as sandálias do pescador e Hemingway, viva Érico Veríssimo, Chico Buarque de Hollanda e Machado de Assis, viva a Nossa Senhora da Conceição, viva o pai da Nossa Senhora, a mãe e a avó; viva o monstro da Lagoa Negra, viva o whisky da Escócia, (e aquele lavrado a mão pra matar o guarda), viva o papa que sem ele não podemos comungar com Deus – Será ? Um sonoro viva aos que beijam a mão do papa e se fodem do mesmo jeito. Viva o futebol, o Congresso Nacional e a Aracy de Almeida. Viva o tranco e o barranco, viva a casa da Maria Joana, viva o besouro do deserto que se vira por si, viva o Pedro, o João e o Mané, o Garrincha; (e o meu amigo e goleiro Remonatto de Curitiba que numa só partida em início de carreira há muitos anos tomou sete gols do rei Pelé). Viva a falta de assunto, outro viva aos bilhões de assuntos que se descolam nas bibliotecas, viva a televisão, a fina educação, a bossa nova, vai um viva especial para o samba e Chiquinha Gonzaga, viva os cantores do rádio. Viva os Estados Unidos da América do Norte e o Sudão, viva a melancia, a melancolia, a jaca e a laranja, viva a precariedade de certas situações, viva o bar, a feira e a comoção até às lágrimas. Viva a tarde do dia que amanhece azul e pleno, viva a chuva maravilhosa e o sol, viva o solo, viva a lagartixa, viva o Brasil, viva o povo brasileiro, viva Santo Antão (que não se sabe pra que é que serve), viva o patrono dos escoteiros mirins, viva a calda de pêssegos em lata, viva a bobagem, viva a ciência e as filosofias, viva a roça e a piscina, o espetinho de gato, de rato e de batráquio, viva o Maracanã, viva Alvarenga e Ranchinho, viva o Blues, a música árabe e a erudita, viva Brahms, Carl Gustav Yung e Picasso, viva a Polícia Civil, a Guarda Costeira e um viva absolutamente natural para o Corpo de Bombeiros. Viva a felicidade pura e simples, um viva à vida, e outro viva à morte, viva o choro primeiro e último, viva os amigos, viva os inimigos, viva a camaçada de pau, viva a cambalhota do palhaço, viva a tromba do elefante, viva o jacaré do pantanal, viva o carnaval e o futebol, viva as mulheres, viva os homens , viva o Sultão de Bagdá, viva quem não sabe fazer nada, viva quem aprendeu fazer qualquer coisa nova. Viva a língua portuguesa do Brasil, viva o Barão do Rio Branco, viva a palhoça, viva o Baião e claro, a Bossa; viva Zé Pereira, viva o Frevo e o Maracatu, viva Guimarães Rosa e Hermann Hesse, viva Carlos Castañeda, viva Penélope, viva Luis Gonzaga, viva o som da Quena, viva o violão, viva o piano, viva Van Gogh, viva a estrela de Belém, viva os Reis Magos, viva o exército de homens e almas, viva! Viva a bicicleta, viva Santos Dumont, viva o abrigo anti-nuclear, viva o livro, viva a transparência do sábio, viva a falta de ignorância, viva o chiclete e a banana, viva a chance, viva a xota da Xuxa. Viva o meu amigo Condé, viva a minha amiga Jô que morreu de AIDS, e a minha amiga Bia de Luna que é poeta mimada, viva o meu querido amigo Leonardo Da Vinci, viva a padaria do português, o pão francês, viva o Macaco Simão, viva os Borboletas Azuis, viva a monarquia, viva a eletricidade, viva o campo magnético, viva a bolacha Maria, viva o pinto do nono, viva o vinho da nona, viva a Itália, viva a viola de dez cordas, viva a mulher pelada, viva a noiva, viva a Índia e o planeta lilás que circunda Andrômeda, viva a linha vermelha da razão, viva Reich, viva Debussy e Vivaldi, viva a Santa Maria a Pinta e a Niña, viva Cristóvam Colombo, o genovês (que parece que era catalão), viva a sabedoria dos Lamas, viva a lama, viva o pau duro, viva o pau mole, viva o computador, viva a luz, vivas à saúde e a possibilidade de se comer de tudo. Viva Einstein e a relatividade que não é pouca. (Tudo isso gritava o padre recém saído do seminário, que rouquenho e ao microfone, enfrentava a sua primeira quermesse, depois de ter entornado muito, muito, muito quentão). Alguns fiéis pareciam preocupados com a possibilidade d’ele ter enlouquecido ... um pouco! Fazer o quê? A quermesse já havia chegado ao fim mesmo! E o padre havia ganhado um ursinho de pelúcia (nas argolas) e estava feliz. Era isso! Apenas isso. Só.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

COMENTÁRIO NA TV DEMITE JORNALISTA

PRIVATIZAÇÕES - por walmor marcellino

Os adversários políticos e especialmente os inimigos da pátria assoalham que a privatização das rodovias bem como a privatização da Amazônia são apenas desoneração do Estado, que deve voltar-se para outros fins que não assegurar o que é público como se fosse um genérico e não um bem de capital. E genérico tem preço, ou seja, é remédio de baixo preço. Mas suponhamos que certas coisas não tenham remédio. Como, por exemplo, o neoliberalismo de esquerda corrigir o neoliberalismo de direita; como o próprio neoliberalismo de direita foi uma correção da social-democracia depois que se provou a inviabilidade de a KGB dirigir a máfia russa de Ieltsin e Gorbachov para desconstruir o Gulag. Cantemos: “E o mundo foi rodando nas patas do meu cavalo ...” (Geraldo Vandré).
Sei que o tema é espinhoso como a coroa de Cristo; pois nada é de graça, a não ser num comunismo pandêmico; e o último comunista já terá sido enforcado nas tripas de um liberal, e ponto sepulcral.
Como disse o Temporão, pandemia só da dengue, do crime de colarinho sujo e da insolação trabalhista. Isso depois que “o centralismo democrático”, com ressaibos de stalinismo (disse o filósofo Tarso Genro), teria levado toda a direção do PT para o brejo, não fosse a cristianização do Delúbio Soares associada com a do Marcos Valério e de alguns estrategistas que assumiram o projeto meridiano de construir um PT hegemônico juntamente com o Roberto Jefferson e o Bispo Rodrigues. Cada coisa tem seu tempo, afirmou o governador Jacques Wagner secundando o sindicalista Ric Berzoini e qual.
Talvez as pessoas não compreendam que o governo tem dificuldades para trocar sua reforma agrária privada da Amazônia pela reforma agrária comunitária das terras de mau uso (como devastação, desmatação e plantação de eucalipto) ou de pouco uso; para trocar a privatização do uso das rodovias e ferrovias pela cooperativação administrativa das vias de transporte (que não são bem propriedade de Estado capitalista, mas, a ser diferente, pode cheirar a cooperativismo...); para trocar as bolsas privadas de estudo pelas bolsas públicas de estudo; para trocar o pagamento de serviços de saúde privada pela assistência pública de saúde. Pois o regime de trocas em uso começa com um parafuso de rosca sem fim.
Se tal acontecesse, o regime de trocas ou a economia de mercado iria desfigurar o governo nacional-popular que penosamente está sendo montado sem que os inimigos (e os amigos) percebam. Na verdade, vamos conseguindo “distrair” os grandes opositores que são os aplicadores em juros e emolumentos, os contratantes de obras e serviços públicos, os acionistas de banco e de bolsa e alguns patifes ilustres das instituições públicas superiores e os texugos. Principalmente estes.

QUANDO CHEGA O VERÃO

Multidões se reúnem nas praias buscando um contato com as ondas do mar que nos proporcionam prazer e descanso.Porém, o caminhar do ser humano deixa sua trilha fatal nas areias da praia.
Milhões de sacolas de nylon e plásticos de todo o tipo são largados na costa, e o vento e as marés se encarregam de arrastá-los para o mar.
Uma bolsa de nylon pode navegar várias dezenas de anos sem se degradar.As tartarugas marinhas confundem-nas com as medusas e as comem, afogando-se na tentativa de engoli-las.

Milhares de golfinhos também se confundem e morrem afogados.

Eles não têm capacidade para reconhecer os lixos dos humanos, simplesmente, se confundem, até porque, "tudo o que flutua no mar se come".
A tampa plástica de uma garrafa, de maior consistência do que a sacola plástica, pode permanecer inalterada, navegando nas águas do mar por mais de um século.

O Dr. James Ludwigg, que estava estudando a vida do albatroz na ilha de Midway, no Pacífico, a muitas milhas dos centros povoados, fez uma descoberta espantosa.
Quando começou a recolher o conteúdo do estômago de oito filhotes de albatrozes mortos, encontrou: 42 tampinhas plásticas de garrafa, 18 acendedores e restos flutuantes que, em sua maioria, eram pequenos pedaços de plástico. Esses filhotes haviam sido alimentados por seus pais que não conseguiram fazer a distinção dos desperdícios no momento de escolher o alimento.

Na próxima vez em que Você for à sua praia preferida, talvez encontre na areia lixo que outra pessoa ali deixou.Não foi lixo deixado por Você, porém, é SUA PRAIA, é o SEU MAR, é o SEU MUNDO e VOCÊ deve fazer algo por eles.Muitos pais jogam com seus filhos o jogo de: "vamos ver quem consegue juntar a maior quantidade de plásticos?" como forma de uma inesquecível lição de ecologia.
Outros, em silêncio, recolhem um plástico abandonado e levam-no para suas casas, com restos do mar. Você os verá passarem sorridentes, sabendo que salvaram um golfinho. "Não se pode defender o que não se ama e não se pode amar o que não se conhece".
enviado por liége sentorini - avast.com

domingo, 21 de outubro de 2007

LARGO ESQUERDO DA ORDEM - poema de marilda confortin






Das chagas da igreja, quebrando a ordem

se ouvem blasfêmias
quando as fêmeas de raças diversas
procuram a praça prá se cruzar.
Quando uma virgem
maria aparecida da vida
pronuncia o seu santo nome em vão.
Quando uma ave maria cheia de graça
passa na praça
e não pára para rezar.


Das ruínas, feminina
a cívica união das meninas
se reserva, se preserva
dos olhares de quem passa
quem cruza, quem caça, quem reza,
quem roga uma praga no calçadão.


Nossas boas senhoras do rosário
rogam por nós, pecadores solitários
caçadores de tesouros noturnos
bebedores, operários
do largo esquerdo da ordem.
Acendem velas para o cura da capela
pela não abolição da escravatura
dos pretos bonitos
da igreja dos mortos de são benedito.


A fibra de vidro dos ponteiros do relógio
conta com flores
quantas foram as horas
premeditadamente matadas
nas arcadas franciscanas
e denuncia o atraso no encontro marcado


na frente da crente presbiteriana
Água benta, água ardente
arte sacra, arte nata
boates, beatas
brotam no mesmo chão.


O largo é um misto
de santo e profano.
O Largo é isto,
espelho curitibano

TRASEIROS E CÉREBROS - por adilson luiz gonçalves

No filme “Os Sicilianos” (“Clan des Siciliens”, 1969) há uma cena em que o fantástico ator Jean Gabin chama a atenção de Alain Delon e, em tom entre o crítico e o irônico, dispara: “Você tem o cérebro abaixo da cintura!”...Obviamente, a tradução foi bastante amena, pois o texto original é bem mais “específico”.Será que essa é a condição da classe média, que não tira o “traseiro” da cadeira, para negociar juros e taxas menores com as instituições bancárias, e só discute e reclama em “mesas de bares”?Sinceramente, não sei o que é pior: essa “letargia” que o presidente Lula atribui à sociedade, ou a “idéia fixa” que tem conduzido a política econômica do país.Inerte a sociedade não é! Se fosse, com certeza, Lula não teria sido eleito! E o que a sociedade esperava com sua eleição? Mudanças, principalmente na política econômica!Infelizmente, o que se vê, no setor, está mais para continuísmo do que para evolução, permeado por cuidados que, longe de denotarem prudência, beiram à falta de curiosidade científica. É como se os responsáveis pela política econômica tivessem uma receita única – imutável - baseada no ditado: “Não se mexe em time que está ganhando!”. Não há dúvida que existe alguma verdade nele, mas a prática também demonstra que times que “estão ganhando” tendem ao colapso, por saturação, distração, obsolescência ou inércia. Por conta disso, estrategistas renomados alertam que é imprescindível aprimorar idéias e renovar de metas, constantemente, com o objetivo de alcançar novos patamares de desenvolvimento... Em vez disso, o que se vê é um repetitivo e sufocante apertar dos cintos de uma camisa-de-força. Cada nova ata do COPOM demonstra que seus integrantes têm medo. Só que medo, em excesso, tolhe o raciocínio e pode descambar em paranóia!O presidente minimiza a responsabilidade do governo e critica a sociedade “chorosa”. Exorta-a para que se encha de coragem e levante o “traseiro” - bastante dolorido, pela política tributária - para negociar com os bancos... Enquanto isso, o governo federal acena com uma provável “ajuda” financeira aos operadores de planos de saúde... Já a ministra Dilma Youssef afirma que o governo não pode intervir nos preços praticados pelas concessionárias de serviços públicos... Ué? A sociedade também pode negociar para diminuir as tarifas públicas?Talvez o governo diga que sim... Mas qual o limite entre a livre negociação e as garantias previstas nos contratos de privatização, consideradas como “cláusulas pétreas” pelas agências controladoras? E quem é esse “mercado” que estabelece a valor das tarifas?Quando a sociedade levantou o traseiro, nas eleições de 2002, resolveu “mexer em time que estava ganhando” na esperança de mudar um modelo que já estava se esgotando. Por prudência, creio, o atual governo optou por evitar mudanças abruptas. Só que já está na hora de sair da “banguela” e estabelecer novas metas. O mínimo que a sociedade cobra desse – e de todos os governos – é coerência! Em nome dessa condição o presidente Lula deve ponderar se faz sentido criticar as taxas de juros elevadas, praticadas pelo sistema bancário, e, ao mesmo tempo, manter e, até, ampliar uma das maiores cargas tributárias do mundo! A sociedade também pode levantar o traseiro para mudar isso, ou deve continuar a mantê-lo, exposto, na janela...? Supondo que a recomendação também seja a de reclamar: Qual a fronteira entre a recusa em pagar novas taxas ou reajustes de tarifas abusivos, e a desobediência civil?A inércia, o descaso e o medo têm efeitos negativos em todos os setores da sociedade! A inércia e o descaso atrofiam as funções cerebrais, o que coloca o cérebro “abaixo da cintura”. Já o medo - quando atinge o estágio de pavor - pode afetar o sistema digestório, principalmente os intestinos... Nessas circunstâncias é preciso ter muito cuidado, para evitar que o cérebro seja, definitivamente, perdido...Para afugentar esse risco é fundamental que o governo federal - que tem méritos e erros, como qualquer outro - demonstre que, também na condução da política econômica, a esperança vence o medo!

Filme: Os Sicilianos Título original: Clan des Siciliens País: França
Idioma: francês e inglês
Ano: 1969
Direção: Henri Verneuil
Roteiro: José Giovanni, baseado na obra de Auguste Le BretonGênero: Crime / Drama
Elenco: Jean Gabin, Alain Delon, Lino Ventura, Irina Demick, Amedeo Nazzari, Philippe Baronnet, Karen Blanguernon, Yves Brainville, entre outros.

LUCY VOLTOU


sábado, 20 de outubro de 2007

A biblioteca de Shishmaref - conto de frederico füllgraf



Manhã gélida de inverno precoce em início de maio, o sol abduzido em plena curva ascendente, e apagada a metade dos seus raios. Recortados contra o céu de chumbo pendurado opressivamente sobre a praia tropical, alguns coqueiros confundiam-se com o negativo de uma dentadura falhada. Encalhado na arrebentação, o que lembraria um monólito, de gelo cinza-fosco, dissolvia-se ao toque das ondas mansas, alcançando a praia como escultura inacabada. Na base do objeto insólito jazia um pingüim morto, com a expressão do terror congelada em suas pupilas azuis de gelatina murcha. Sua cabeça descansava sobre uma tábua de madeira profundamente fincada no gelo sujo. Deste, saltava papelão encharcado, o resto da capa de um caderno, lavada pela maré salgada. A cada porção de gelo cavada à mão, mais papel. Agora, livros. Vários. A única tábua e os livros insinuavam restos de um sistema, talvez uma estante, arrancada à força de sua posição. Uma página esgarçada de um livro sem capa relatava a fuga de Bernard Marx para a reserva dos “selvagens” – Huxley? Mais ao fundo da tábua, um mapa rasgado nas dobras, com uma geografia desbotada, inútil. E uma lata enferrujada de tabaco Half & Half. No meio do escolho, escondia-se uma foto em preto e branco, corrugada: um grupo de caçadores? Estavam a bordo de uma canoa e empunhavam lanças muito compridas, de três metros aproximadamente. O resto da cena, o alvo da caça, desafiou minha imaginação, pois faltava; a foto estava rasgada ao meio.
Naquele 18 de março, estava rabiscado numa das primeiras páginas do caderno, algo estranho, inquietante acontecera. O gelo desaparecera, deixando à vista a água do mar. Ninguém recordava um fenômeno assim insólito. Normalmente o gelo costumava despedir-se somente n´...[palavra impronunciável, mas traduzida ao Inglês como...] “a lua do sétimo mês, quando os pássaros cuidam de seus recém-nascidos”. De repente, gritos. Alguns velhos e mulheres lembraram-se: mais de dez caçadores tinham avançado sobre o mar, deslocando-se sobre o gelo. Um helicóptero decolara à procura dos homens. O desfecho hilariante: até o momento de seu resgate, os extraviados não sabiam que estavam flutuando sobre uma enorme plataforma de gelo descolada da ilha, rodopiando mar adentro. “Você não pode afirmar que está se movendo, quando o mundo inteiro ao seu redor está à deriva”, um dos sobreviventes comentara ao autor do diário.
Desnorteio. Em 1912 o Endurance de Sir Ernest Shackleton encalha no Mar de Weddel, faz água e começa a adernar. Com toda a tripulação e carga já a salvos, Frank Hurley, o australiano que fotografava e filmava a expedição, lembra-se, petrificado de frio e angústia, das dezenas de chapas fotográficas e latas de negativo em 35mm esquecidas a bordo. Desobedece a ordem de esquecê-las de vez, mas regressa das entranhas do barco, quando a proa, empinada contra o céu noturno, já mirava a Ursa Maior e metade de seu casco já estava engolfada. A câmera registra o desastre até os últimos momentos do Endurance. Apesar de mudas, pelas emendas das imagens de 1912 ainda vazam os uivos e mugidos pavorosos da madeira, triturada pelos dentes afiados do gelo. Resignados, à noite os náufragos armam suas barracas e atam seus barcos de salvamento às estacas fincadas sobre o gelo, que acreditam profundo. Só ao amanhecer percebem que seu mundo é um imenso território à deriva, flutuando no mar, rumo ao desconhecido. Os diários não o confirmam, mas é verdade que choraram sobre seus trenós inúteis, depois de terem devorado seus quarenta cães de tração. Antes deles, Robert Falcon Scott e seus companheiros abateram uma manada de cavalos no pólo. Mas essa é outra estória, a da deriva da sensatez.
Encharcadas, as folhas do diário apócrifo dissolviam-se entre os dedos. Na tentativa de secá-las ao vento, várias delas se perderam, rasgando ou esvoaçando de volta ao mar encrespado. Apesar de interrompido por borrões e brancos, o que restava do relato encaixava-se fragmentaria-mente, dando sentido ao registro. Um nativo chamado Akuvaak, que também era conhecido por Oliver Leavitt, amanhecera na barra, sobressaltado. Pregados nos movimentos do mar, seus olhos marejados de vento afiado acompanhavam a arrastada deriva de uma vasta bancada de gelo sobre a superfície alisada do oceano. Advertira que aquele era gelo fino demais, caso se aproximasse, em menos de cinco minutos teriam que dar o fora dali. Correram por suas vidas. Cerca de um quilômetro da orla, mão trêmula, esbaforido, o autor registrara: “Aproximando-se lentamente, a barreira vinda do mar chocou-se contra a costa da ilha, também de gelo, e a terrível colisão pareceu um terremoto, formando montanhas. Não é tudo o que vi, pois ajoelhei, as mãos entrelaçadas para uma prece, porque pensei que era o fim do mundo”. Na continuação, uma frase mencionava uma casa (tombada? desmoronada?) mas estava borrada.
Procurei distrair-me com o que fora um volume de um livro, tornado tijolo macilento, pegajoso, com frases embaralhadas, palavras com banguelas de letras, deslizando pelas bordas, caindo no mar: “E isso não se deve a nada que possa ser ouvido, ou visto, ou tocado, mas sua causa é algo puramente imaginário. O lugar não é bom para a imaginação e não aporta sonhos tranqüilizadores durante a noite” - advertência tenebrosa como os cenários do entrevado Lovecraft, cuja sombra tingiu as raízes dos coqueiros: tentáculos negros e calosos de polvos aflitos, penetrando e agarrando-se ao que restava da terra. Dentes sem gengiva, mundo descarnado, tentando se equilibrar sobre o precipício líquido. Senti-me tolo, ridículo, tive vontade de rir, e ri com medo, ao lembrar-me da ilha do desterro do mago Próspero. Para ele caía como uma luva a frase de Müller: “Onde as paisagens são belas, espreita a traição”. E esta insólita biblioteca marinha parecia dialogar com as razões do meu retorno à praia, território fantasmal. Poucos meses atrás, as generosas e sinuosas ancas do corpo nu de M. lagarteavam ao sol por aqui, esparramadas como duna entre as dunas, sulcadas por um delta de Vênus arbustivo, com fendas escurecidas e úmidas, perfumadas de maresia, nas quais me lambuzei. Depois, como é sabido, o mar invadiu a geografia. Bebeu areia, feriu a paisagem das terras baixas de Bangladesh ao Delta do Nilo, vomitou sobre os cartões postais de Kiribati, Vanuatu, Lohachara, Suparibhanga e Ghoramara – paisagens agora em branco no mapa de Mercator.
Duas horas foi o tempo que a brisa encharcada de névoa pútrida, sulfurosa, levou para secar algumas folhas isoladas de uma espécie de diário de campo. Pareciam anotações etnográficas, com referências a um lugar, “onde as coisas tinham sido feitas do mesmo modo, antigo, sem perturbações, desde tempos imemoriais”. Por um instante duvidei que o lugar era deste mundo, tropical, mas não teimei em decifrar o mapa com sua geografia lavada, porque essa disposição de textos não era acidental: sua intenção era irônica. Algo universal, contudo, certo personagem central da narrativa, um tal de Angatqaq, xamã. Sua percepção do universo dizia da vida como cenário de permanente confronto entre forças sobre-humanas
e os mortais (Nota algo frívola do narrador: ”se eu tivesse sido condenado a viver nestas paragens nada hospitaleiras, esquecidas por Deus, também teria inventado a minha teoria da conspiração”).
Retomando a seriedade respeitosa, o autor do diário recordava madrugadas mágicas, cujo silêncio era entrecortado pela cadência de tambores do xamã. No diário jura tê-lo visto conversar com uma beluga, que respondera assobiando das profundezas do oceano, maravilhando o povo reunido. E a apavorante dança do urso branco ? - um espetáculo de transmutação! Os enormes dentes afiados como estiletes e as garras que durante o ritual nasciam respectivamente da boca e das unhas do feiticeiro, aterrorizava os presentes, fazendo-os debandar. Algo vingado, o narrador anotara na margem de uma folha, que o “terror” infundado pelo bruxo era intencional. Conhecedor da rapinante alma humana, suas incorporações, espécie de “ética do sobrenatural”, visavam delimitar rigorosamente o número de animais abatidos, assegurando o equilíbrio. Mandingueiro, advertira para o perigo da perda da alma e da “intrusão de um objeto estranho”, que em seu caminho cruzara com almas vagabundas, que saltavam do corpo de um infeliz e saíam a passear...; o povo reunido em silêncio na praça, ficara aparvalhado. Em apuros, consegui rabiscar no verso do papel laminado do maço de cigarros, a lindíssima imagem usada pelo bruxo para ilustrar seu conceito de memória: “caixa de ferramentas para a coleta de tesouros”... Acendi o último cigarro e olhei em torno. Sentia-me devastado, uma caricatura de personagem da Tempestade, desterrado em paisagem de traição, ali abandonado pelo anjo maluco Ariel...
Ao final da tarde, as últimas folhas do diário não estavam completamente secas, mas manuseáveis. Consegui entender que em 1890 teriam desembarcado alguns homens desconhecidos na costa; carregando cruzes. Eram brancos, sorriram muito e distribuíram folhetos com desenhos. Reuniram o povo na praça, onde mandaram afastar as carrancas dos animais abatidos e adorados, e em seu lugar ergueram uma mesa de pernas altas, que chamaram de altar. Um dos folhetos causara espanto e seduzira o povo, que foi logo ter com o xamã e dizer-lhe que Assembly of God era um nome muito mais bonito para a gargi, a praça das assembléias. E então coisas estranhas começaram a ocorrer. Primeiro, o feiticeiro fora impedido de invocar o espírito dos animais: agora, em seu lugar um sacerdote branco imprecava a um deus ausente e pedia bênçãos para uma caça farta. Depois, o espanto geral: na segunda vez em que foram distribuídos, os nativos se negaram a comer aqueles biscoitinhos, chatos e semi-transparentes como escama de peixe, que o presbítero lhes colocava sobre a língua: então os homens brancos comiam o seu próprio deus ??
E um enorme número de animais foi abatido; não pelos nativos, claro!, mas pelos caçadores que tinham ocupado as últimas fileiras da capela improvisada; todos com o mesmo livro de orações sobre os joelhos. Cavalgavam enormes barcos a motor, armados com uma máquina lançadora de flechas. Como previra o xamã, a caça começara a escassear – a intrusão?, pergunta o narrador, perplexo. Abandonado, o feiticeiro intuíra o fim de seus tempos e retirara-se para uma enseada distante. Convertida a maioria dos nativos, caíram as ultimas árvores, os animais foram abatidos no período sagrado da resguarda e os aparelhos de TV ensinaram a comer alimentos de preparo rápido, embalados em papel, plástico e vidro, que logo encheram o supermercado e o consultório do médico; ambos instalados ao lado da nova igreja - acrescenta o diário, limitando-se ao factual com fina ironia. Seu autor arriscou apenas um breve comentário sobre a tragédia, uma autocrítica imbecil de seu próprio letargo: “Nunca imaginei que isto pudesse acontecer comigo - em que mundo, diabos!, vivi nestes anos todos ?”.
Da enseada divisei a ruína do farol, já parcialmente engolfado pelo mar e apesar de associação descabeçada, o cenário evocava Hypatia, filha de Téon, o último guardião da Biblioteca. Remota referência, já fora de ordem: além de mulher, rodeada por machos e cristãos, filósofa pagã, astrônoma guardiã de fogos e livros antigos. Imaginei-a caminhando em manhã ensolarada sobre os paralelepípedos dispostos em forma do universo, tomando o rumo da Biblioteca; muito bela, os pensamentos acossados por uma equação celeste. E, de repente, vindos do nada, saltam sobre ela quatro, cinco monges encapuzados, sacam de suas adagas e esfaqueiam-na até a morte. Depois os assassinos de Cirilo arrastam-na até a catacumba de uma capela, babam de desejo sobre seu corpo ainda quente, cortam-no em pedaços e lançam-no às chamas – seqüestrada, brutalmente desviada de sua trilha, antes mesmo que pudesse advertir no céu, cujo mapa decifrava melhor que uma quiromante a palma da mão, a enorme onda negra e gelada, que engolfaria M., sentada na ponta daquela rocha; jamais antes alcançada por um pingo d’água. Engraçados são os labirintos da mente, as associações insólitas: a astrônoma, o mágico e o feiticeiro – “bibliotecários” em extinção. Mas esta triangulação entre personagens aparentemente tão desvinculados no tempo e no espaço era uma zombeteira com sabor da bílis negra. No vaivém do pingüim morto na arrebentação, boiavam folhas de papel esgarçado de um certo “Protocolo de Intenções”, como os últimos vestígios da Biblioteca

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

FÚRIA

Sobre a Paz


Em assuntos internacionais, um período de trapaça entre dois períodos de guerra.


ambrose bierce

CENA IV - poema de walmor marcellino

Se a morte fosse só uma coisa verdadeira
por que ela mataria as pessoas
além dos bichos
e das flores depois de seu devido tempo
e das folhas no outono estival?


Então qual a razão por que elas estariam
vivas?... para depois morrerem
no abandono de todas as coisas animadas
e engrandecidas pela beleza
que lhes emprestamos?


As pessoas morrem como se tivessem
sido reais, concretas como uma árvore,
como um rio de águas claras
e fervilhantes.No assemelhado descanso
de uma parcela de vento
em seu mormaço.


Morremos como uma coisa
em que o mundo apenas dá sinais,
se marca, se divisa, se relaciona
diversamente...
Apenas como ele se faz

PRÊMIO Ignóbil

De médico, cientista e de louco, cada um tem um pouco. Realmente isto é uma verdade. O IgNobel é uma paródia do prêmio Nobel e é oferecido anualmente aos autores de pesquisas curiosas e inusitadas. E bota inusitado nas basbaquices que aparecem, e no fundo até parecem sérias, ou aos autores por vezes acreditam que realmente são. Segundo os organizadores o premio destaca as idéias que em principio geram risadas, mas que posteriormente fazem pensar. Então tá.
Veja as (piadas) idéias nas suas categorias.

Paz: Forças Armadas dos EUA, por pesquisar bomba que provocaria comportamento homossexual entre tropas inimigas; ninguém do Pentágono foi buscar o prêmio.

Medicina: Brian Witcombe e Dan Meyer, britânicos, por estudo sobre os efeitos colaterais da prática de engolir espadas.

Biologia: Dra. Johanna van Bronswijk, da Universidade de Eindhoven, na Holanda, por um censo de todos os fungos, insetos e bactérias que habitam nossas camas.

Economia: Kuo Cheng Hsieh, de Taiwan, por patentear mecanismo para prender assaltantes de bancos jogando uma rede sobre eles.

Aviação: Equipe da Universidade de Quilmes, na Argentina, por descobrir que Viagra pode ajudar um hamster a se recuperar dos sintomas do jetlag.

Química: Mayu Yamamoto, do Japão, que criou um método para extrair fragrância e sabor de baunilha de esterco animal.

Lingüística: Equipe espanhola que mostrou que ratos não diferenciam uma pessoa falando japonês de trás para frente de alguém falando holandês de trás para frente.

Os Organizadores.

GERÚNDIO DEMITIDO - ?????

Decreto nº. 28.314, de 28 de setembro de 2007


Demite o gerúndio do Distrito Federal, e dá outras providencias.



O governador do Distrito Federal, no uso das atribuições que lhe confere o artigo 100, incisos VII e XXVI, da Lei Orgânica do Distrito Federal, DECRETA:

Art. 1º - Fica demitido o Gerúndio de todos os órgãos do Governo do Distrito Federal.

Art. 2º - Fica proibido a partir desta data o uso do gerúndio para desculpas de INEFICIENCIA.

Art. 3º - Este decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 4º - Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 28 de setembro de 2.007
119º da República e 48º de Brasília


JOSÉ ROBERTO ARRUDA

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

VÍCIO - poema de marília kubota

pensamentos em curto-circuito
ir ao mesmo ponto
temer a saída
do instante seguinte

quero te prender
quero me perder
no labirinto

sou o mal
o maldito
sou o destróier
o delito

quero eternidade
não quero parar
de vencer o mito

boa noite, papai do céu - poema de edson de vulcanis e thadeu wojciechowski

lua cheia
o vazio não cabe mais em mim
sinto a terra que me enleia
dentro dessa cova

nos últimos minutos
a morte em vida tem sido assim

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

PÃO E CIRCO (do Sol) - de ewaldo schleder

Dizer que o povo come o pão que o diabo amassou e que o circo pegou fogo seria simplismo, fora a imprecisão de memória e lugar. Entretanto, há um aval histórico na “política do pão e circo”. Séculos atrás, o circo era o Coliseu romano. Hoje é o Circo do Sol (o canadense Cirque dü Soleil). Depois de tantos anos, o processo civilizatório mudou o perfil, o caráter do espetáculo e também o seu espírito – ma non troppo. Em Roma, a falta de trabalho no campo despachava os campesinos para a cidade, como sempre, alhures. Multidões buscavam sobreviver ao caos; não encontravam serviço digno, mas escravidão (velha conhecida, mais e menos violenta). Nada de novo? No Brasil, o Circo do Sol, depois da estréia em Curitiba, se apresenta em outras capitais, até março de 2008. Os ingressos custam de 130 a 400 reais (sem câmbio negro). Padrão euro, dólar americano, canadense.
No entanto, sim, vale a pena assistir. Pela alta qualidade do que se apresenta, a extraordinária estrutura, logística e tanto mais. Mas, antes de saber se vale mesmo a pena, convém consultar a carteira de dinheiro e a lista de prioridades. Sem esquecer que os shows, a princípio, se restringem a clientes especiais de um certo banco, que banca a publicidade da grande cena. É claro que se trata de um produto cultural para muitíssimos poucos. Para estes, a cultura. Amplificada pelo circo moderno. Pós-miséria, diria aquele bandido filósofo, sob holofotes, entre um presídio e outro. De resto, ninguém mandou ser pobre, ora bolas.
No circo romano, ao sabor do imperador da vez, os homens sentenciados – plebeus, escravos – disputavam o centro da arena com tigres e leões, não adestrados e ainda por cima famintos. No Circo do Sol, nada de espezinhar animais. Sinal claro de avanço: nos costumes e no respeito à natureza. O novo circo traz uma integração de gêneros - cênicos, musicais – que absorvem culturas de rua de mais de 40 nacionalidades, as que formam o elenco. Notam-se elementos do teatro mambembe, da antológica magia circence (malabares, trapézio, palhaços, bobos da corte), da ópera, do balé, de danças e ritmos exóticos. Um resumo do romântico namoro do artista popular com o seu respeitável público.
Enquanto isso, em Roma, Caio Otávio dividia a sociedade em ordens senatorial e eqüestre, incluindo estratégias de controle e arrebanhamento social. Nas filas do pão, o assunto dominante era o show no Coliseu às 5 da tarde. Em comum, tanto o circo antigo como o moderno prezam o frescor dos números apresentados, a realidade flagrante, tudo ao vivo, a beleza do espetáculo cheio, exaustivamente ensaiado – o circo romano se garantia pela repetição do roteiro: feras a devorar homens, levando a massa ao delírio, ao gozo sádico.
Alegría é o nome do atual espetáculo do Soleil. O hispânico acento agudo no ‘i’ é uma regra ortográfica do Cirquish – dialeto próprio, imaginário, criado pela companhia canadense. Outras semelhanças entre as duas lonas seriam a universalidade do entendimento e o trânsito de conceitos estéticos consagrados ou (re)inventados, comuns ao gosto de todos os viventes. Em linguagem mundana, portanto: pani et circensis, onde houvesse povo; alegría, onde houver público com poder aquisitivo. No mais, secos e molhados à vontade: nas televisões (a realidade pautada?), sabadões e domingões da vida. Lá onde passa o circo dos horrores – nada a ver com o maior espetáculo da Terra, o Circo do Sol!, todavia patético, como o Coliseu romano.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

ABDUÇÃO REAL - poema de jairo pereira

três e tanto da madrugada: jairo o abduzido
como por encanto a S 10 levita e muda de via
sou pego pela polícia rodoviária em pista dupla
:era só de vir e fui: uma noite bebendo e fumando
o Macedo o Dino o Osso e os metaleiros
naquele bar de garagem em Curitiba
pura vertigem a viagem transetílica
um pai de família aquelas horas
zonzo com visitantes das estrelas
oh meu deus q. brincadeira!
da radiação recebida na grande esteira fria
um ser afônico por cinco dias e mais trinta
de gengivite posicrônica como disse-me o dentista.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

TEMPO? - poema de jb vidal

que idade tens? perguntam,
a todo instante, sem poder, respondo
não sei,
não contei os sofrimentos que passei,
os sonhos que penso ter sonhado,
as dores que senti, quantas lágrimas derramei,



não sei quantos silêncios me fiz,
quantos amores tive e penso que amei,
não contei os caminhos que andei,
quantas pedras recebi quantas atirei,
quantas aflições ofereci quanto magoei,
quantas vezes penso que pensei,



não sei o tempo do tempo que passo,
se vivo ou se me vivem no universo,
se me conto no tempo ou no espaço,
não contei quantas dúvidas [ou se dúvida sou]
se existo por contar ou por pensar em existir,
se me olho e não me vejo se desejo sem sentir,



não contei quantos prazeres vivi quantos neguei,
quantos fui quantas almas mostrei,
em quantas noites morri quantas voltei,
jamais contarei
a morte o fará por mim,
quando na cova saberei se fui, estou ou serei

PAPEL DO JORNALISMO CULTURAL - de marcelo de castro

As páginas de cultura dos jornais, de circulação local, regional ou nacional, trazem na grande maioria das vezes, matérias, reportagens ou artigos voltados para uma cultura que segrega parcela da população. Ora, se um faminto não tem acesso à comida, quiçá ao teatro, ao cinema, aos grandes eventos! Se não tem acesso ao “bê-a-bá”, quiçá às obras euclidianas, machadianas ou quaisquer outras obras de grande vulto!

Cultura para nós, chamados “letrados”, pode ser tudo isso citado acima. E, nos deliciamos com tais objetos. Porém, cultura também é saber “juntar as letrinhas”. Soletrar. Contar até dez. Pintar com giz-de-cera.

Porque os jornais não separam um pequeno espaço, na seção de cultura, para tentar estimular essa cultura primária? Essa resposta é fácil: pobre não compra jornal. O espaço do jornal é caro. Ou qualquer outra desculpa que atinja o vil metal. Pobre não compra jornal, mas o abastado compra. E, estimulando esse abastado a fazer algo pela cultura primária, pode surtir algum efeito, mesmo que pequeno. Onde está o caráter social do jornalismo? Ficou nos primórdios? O espaço é caro? Não precisa abdicar. Conquiste parceiros nessa idéia! As empresas têm seus projetos sociais e o espaço do jornal pode ser aproveitado por elas. Até incentivo fiscal existe para facilitar essa troca.

O que não é admissível é a desfaçatez, o mascaramento, o apartheid cultural que é promovido pelos impressos diários, semanais ou mensais.

Os espaços destinados à cultura tornaram-se uma grande agenda, onde até se paga para que matérias sejam publicadas. A revisão desse papel do jornalismo cultural deveria ocorrer de imediato, para que os meios de comunicação possam ajudar tirar o atraso que se encontra a educação brasileira.

domingo, 14 de outubro de 2007

Os Transgenicos e a pena de morte - de valdir izidoro silveira

A pena de morte já está instalada no Brasil. Ela foi decretada pelo Presidente Lula quando referendou a Lei de Bioinssegurança que aprovou o plantio de transgenicos no Brasil e também quando deu super poderes a CTNbio. Por que dessa minha afirmação? Porque os transgenicos estão matando pelo mundo afora!
A microfauna do solo está sendo destruída; microfauna essa responsável pelas transformações que se processam no solo, tornando-o o ente vivo. O glifosato está destruindo as minhocas, os colembolos e outros seres que atuam no solo. Agora mais recentemente estamos assistindo, indignados, a mortandade e sumiço das abelhas, responsáveis pela polinização.

É ou não é uma pena de morte que está sendo decretada para sumiço da humanidade, para destruição do planeta; pena de morte essa decretada por um Congresso Nacional, cuja maioria corrupta (vide caso Renan Calheiros) e irresponsável está a serviço das multinacionais.

Será que essa gente sem caráter só pensa em dinheiro? Será que essa gente que vive batendo no peito que é religiosa não pensa no futuro dos seus netos e dos que virão após nós? Haja hipocrisia!

-ISMO / poema de léo meimes

Falas muito do passado
Mas tens futuro?
Ó senhor de todo destino.

Seu passado
Iluminado
Terá força
Sobre o que vem?

Não enxergarás
Não terás voz
Com tudo isso
Manterá a lucidez?

E sua clarividência
Onde foi parar?

Aquela vontade de
Ser notado, criar
E recriar.

Lutar!

Falas muito do passado
Mas terá você
(Rastro, Espectro
De um passado pagão)
Lugar no futuro?

CAFÉ DA MANHÃ - poema de alexandre frança

Como a traça esmagada no papel manteiga
Como quem come letras serifadas no café.
O crocante é pétreo gozo de anis.
A aridez, bicho da seda.
Tecendo bocas de bocejos
Organizo a infantaria pária:
Caem, uma a uma,
as cartas do cárcere inventado (desenho de crianças com câncer na parede de ketchup)

um brinde, dizem as últimas pulgas da platéia,
a dose quimioterápica ao feliz cliente do Mc’Donalds
sai pela saliva do guarda: “visita só amanhã”.

Talvez não escrevendo nada
morresse esmagado pela pincelada desastrosa do artista.
A mancha vermelha ressecada
Seria trocada por uma senhora mancha
De leite longa vida.

TE PEGO LÁ FORA - de adilson luiz gonçalves

Que o Congresso Nacional foi transformado num circo, disso ninguém tem dúvida; mas, parece que nossos congressistas e senadores resolveram ir fundo, também, na área de dramaturgia: Agora, tem gente ameaçando dar surra no primeiro mandatário do país, ao vivo e em cores!Antes, a coisa era um pouco mais “light”, com nossos “representantes” limitando-se a expressões, como: “Vossa Excelência é um desqualificado!”; e insinuações sobre o exercício de meretrício por alguns opositores. Hoje, os ameaçam, explicitamente, as “vias de fato”!Será que a TV Câmara e a TV Senado resolveram entrar com tudo na disputa pela audiência, enfrentando as emissoras de canal aberto e a cabo? Parece que sim, pois, além das “novelas” - as CPIs -, também estão programando lutas de “vale-tudo”! Ou será de “tele-catch”? A dúvida existe, pois, no “vale-tudo”, a coisa é “séria”, enquanto que no “tele-catch” há um pouco de encenação, com golpes combinados e torcedores “típicos”, como a velhinha de guarda-chuva, etc... O que ambos têm em comum é que não vale golpe baixo! Mesmo quando o juiz, comicamente, fecha os olhos para as “maldades” cênicas do vilão, e permite que ele vença, os injustamente derrotados e, até, alguns “torcedores” selecionados entram no ringue para dar uma “surra” neles, para o delírio da assistência. Lembram de Ted Boy Marino, Fantômas, Tigre Paraguaio & Cia?Pois é... Só que representar o povo não é nada disso! Ou, pelo menos, não deveria ser. Embora a truculência, física e verbal, não seja novidade no meio político, ela nunca foi símbolo de maturidade ou integridade de seus praticantes. O “coronelismo” do campo, com seus jagunços e matadores de aluguel, e políticos folclóricos, com suas capas pretas e “lurdinhas”, nunca foram exemplos para a democracia. Brandir "toalha molhada", tampouco. Dizer que tem “aquilo roxo” pode ter importância para quem tem interesse ou tara por aberrações anatômicas, mas, não é atestado de dignidade e ética para o exercício de mandatos eletivos. Usar de espaços públicos para chamar opositores “para a briga” também não é o que se espera de nossos homens públicos.A denúncia de que alguns políticos de oposição estariam sendo monitorados por órgãos de inteligência governamental, é grave! Mas, isso não os deveria surpreender, já que quem se propõe a representar o povo deve, por princípio, não ter nada a esconder. Já a afirmação de que estariam recebendo ameaças – extensivas a parentes - é gravíssima, e inaceitável! O curioso é que a solidariedade vem, também, de quem têm ligações com personalidades que quase foram cassadas, por motivos análogos... Não importa! As denúncias são sérias devem ser apuradas com rigor absoluto! Mas, entre o desconfiar e o provar há um percurso, que inclui a necessidade de denunciar, para salvaguardar a integridade física e moral do ameaçado; e a prudência, para aguardar as diligências cabíveis. O estado de direito, característica da civilização moderna, estipula que o assunto seja tratado no âmbito jurídico, e não por autotutela! Ameaçar fazer justiça com as próprias mãos, dar demonstrações verbais de “macheza” e afins podem agregar componentes dramáticos, mas não têm, nem podem ter, peso significativo em regimes democráticos. Os antigos eram mais discretos: marcavam duelos, com padrinhos e tudo... Só que, fosse na base da força física, ou da habilidade com florete ou pistola, o vencedor não era, necessariamente, quem tinha razão. Quase sempre, nenhum tinha! E mesmo quem vencia, só demonstrava, com isso, capacidade física ou habilidade com armas. O mesmo vale, em muitos casos, para as palavras...Agora, se a “lógica” for privilegiar a truculência física, então, em vez de votações em dois turnos, teremos lutas, com dois assaltos. O eleitor terá que escolher entre lutadores de: boxe, caratê, kung-fu, tae-kwon-dô, sumô, luta greco-romana, jiu-jitsu... “Ultimate fight!”: Para abreviar a tramitação, as lideranças poderão escolher seus “campeões”, para um torneio estilo medieval... Quem ficar de pé, no final, aprova ou veta a lei! Se o vencedor for da oposição, o presidente ainda terá o direito de desafiá-lo, numa última tentativa de aprovar sua proposta... Bem, nesse caso precisaríamos ter um presidente peso-pesado, em plena forma física... Algo parecido com o atual Governador da Califórnia: Arnold Schwarzenegger! Mas, mesmo ele teve que se desculpar por ter chamado alguns de seus opositores de “maricas”, por não terem aprovado uma lei proposta por seu governo.Falando sério: Oposição e situação sempre irão existir em regimes democráticos, pois a alternância de poder implica em disputa de poder! O que se espera de nossos políticos é coragem e valentia, sim; mas, para mudar o que existe de errado nesse país, e não para defender a si próprios e aos seus, ameaçando surrar seus pretensos antagonistas.Esse tipo de exemplo, aliás, é perigoso, pois, talvez, faça os eleitores crerem que é possível melhorar o desempenho de nossos homens públicos com o mesmo tipo de artifício.Se a moda pega...

sábado, 13 de outubro de 2007

POEMA de lúcia jimenez - env. por walmor marcellino

Eu calo e minha voz
se for mortificada
onde se escuta o silêncio
com a respiração embargada.
A neblina cobriu o céu
na translucidez madrugada;
anda pela rua o léu
de cabeça desembaraçada;
a cortina sustém minha passada
trôpega, triste, avançada..
Estou pra depois, desesperada.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

PAULO AUTRAN morre aos 85 anos


A ARTE está de L U T O.

POEMA da INVEJA ( da série RATOS) de nelson padrella

Não se pode roubar a luz do pirilampo
que cada vagalume tem a sua
Que iria um rato fazer com o brilho de outrem
se não iluminar o próprio rabo?

Assim como vitórias são de vencedores
não se pode beber da glória alheia
Se não és capaz de brilhar entre os que ascendem
contenta-te com teu triste destino.

Pois o segredo da vida se resume
em tirar alegria do que é simples
Infeliz de quem, por pura inveja,
sendo rato, sofre em não brilhar qual pirilampo.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

FÚRIA

SOBRE O JORNALISMO


Primeiro apure os fatos. Depois pode distorcê-los à vontade.



mark twain

MAU HUMOR - por lula vieira

Não me lembro direito, mas li numa revista, acho que na Carta Capital, um artigo levantando a hipótese de que todo o cara que tem mania de fazer aspas com os dedinhos quando faz uma ironia é um chato. Num outro artigo alguém escreveu que achava que jamais tinha conhecido um restaurante de boa comida com garçons vestidos de coletinho vermelho. Joaquim Ferreira dos Santos, em 'O Globo' de domingo, fala do seu profundo preconceito com quem usa 'agregar valor'. Eu posso jurar que toda mulher que anda permanentemente com uma garrafinha de água e fica mamando de segundo em segundo é uma chata. São preconceitos, eu sei. Mas cada vez mais a vida está confirmando estas conclusões. Um outro amigo meu jura que um dos maiores indícios de babaquice é usar o paletó nos ombros, sem os braços nas mangas. Por incrível que pareça, não consegui desmentir. Pode ser coincidência, mas até agora todo cara que eu me lembro de ter visto usando o paletó colocado sobre os ombros é muito babaca. Já que estamos nessa onda, me responda uma coisa: você conhece algum natureba radical que tenha conversa agradável? O sujeito ou sujeita que adora uma granola, só come coisas orgânicas, faz cara de nojo à simples menção da palavra 'carne', fica falando o tempo todo em vida saudável é seu ideal como companhia numa madrugada? Sei lá, não sei. Não consigo me lembrar de ninguém assim que tenha me despertado muita paixão. Eu ando detestando certos vícios de linguagem, do tipo 'chegar junto', 'superar limites', essas bobagens que lembram papo de concorrente a big brother. Mais uma vez, repito: acho puro preconceito, idiossincrasia, mas essa rotulagem imediata é uma mania que a gente vai adquirindo pela vida e que pode explicar algumas antipatias gratuitas. Tem gente que a gente não gosta logo de saída, sem saber direito por quê. Vai ver que transmite algum sintoma de chatice. Tom de voz de operador de telemarketing lendo o script na tela do computador e repetindo a cada cinco palavras a expressão 'senhoooorrr' me irrita profundamente. Se algum dia eu matar alguém, existe imensa possibilidade de ser um flanelinha. Não posso ver um deles que o sangue sobe à cabeça. Deus que me perdoe, me livre e me guarde, mas tenho raiva menor do assaltante do que do cara que fica na frente do meu carro fazendo gestos desesperados tentando me ajudar em alguma manobra, como se tivesse comprado a rua e tivesse todo o direito de me cobrar pela vaga. Sei que estou ficando velho e ranzinza, mas o que se há de fazer? Não suporto especialista em motivação de pessoal que obrigue as pessoas a pagarem o mico de ficar segurando na mão do vizinho, com os olhos fechados e tentando receber 'energia positiva'. Aliás, tenho convicção de que empresa que paga bons salários e tem uma boa e honesta política de pessoal não precisa contratar palestras de motivação para seus empregados. Eles se motivam com a grana no fim do mês e com a satisfação de trabalhar numa boa empresa. Que me perdoem todos os palestrantes que estão ficando ricos percorrendo o país, mas eu acho que esse negócio de trocar fluidos me lembra putaria. E para terminar: existe qualquer esperança de encontrar vida inteligente numa criatura que se despede mandando 'um beijo no coração'?

ESTICANDO A CORDA


A revista VEJA publicou uma matéria na sua edição do dia 03/07 com relação aos 40 anos da morte do revolucionário Che Guevara atacando a figura histórica com raiva. Populares manifestaram-se queimando e pisoteando exemplares da revista na Boca Maldita em Curitiba.
foto do jorn. gustavo henrique vidal

SENTIR PRIMEIRO - poema de mário quintana

Sentir primeiro, pensar depois
Perdoar primeiro, julgar depois

Amar primeiro, educar depois
Esquecer primeiro, aprender depois

Libertar primeiro, ensinar depois
Alimentar primeiro, cantar depois

Possuir primeiro, contemplar depois
Agir primeiro, julgar depois

Navegar primeiro, aportar depois
Viver primeiro, morrer depois

UMA PHILOSOPHIA ATIRADA NO FORMIGUEIRO - poema de jairo pereira

minha philosophia no formigueiro
o pouco q. concebe é partilhado entre os presentes
formigas de ofícios raros constroem no subsolo
estruturas sobre estruturas
minimundos num canteiro
tenho sentenças prontas pra entregar
poentes na ponta da língua
palavras formigas asadas na multidão dos signos
rastejos de insetos truscos
compostos de verbos novos códigos em se fazendo
tenho ideos de idéias e ideologias
pensamentos no pensamento
relâmpagos de ditos no transespaçotempo
tenho sóis guardados pra noites grandes
solares solaríssimas minhas investidas nos fatos
tranceiras as lides do pensar nas vias dos entreatos.

JÁ É UM AVANÇO

Aprovada pela Câmara Municipal de Curitiba a lei proposta pelo vereador Jair César PROIBINDO circos que trabalhem com animais de se apresentarem no município. Indo, agora, para a sanção do prefeito.

O PALAVRAS, TODAS PALAVRAS estava apoiando a iniciativa juntamente com seus amigos e vamos continuar até que tal providência seja adotada pelo governo do Estado do Paraná ou pelo Governo Federal. Não é mais possível que nos dias que correm ainda seja uma "diversão" assistir as apresentações de animais que para chegarem até o palco foram caçados no seu habitat ou criados para essa finalidade, passando diariamente por sessões de tortura para que possam aprender as "gracinhas" pelas quais todos deverão rir. Sugerimos que todos os leitores, que aprovam a inicitiva, mandem emails para os deputados estaduais, federais e senadores cobrando uma atitude mais ética quanto à questão.

Assembléia Legislativa do Paraná
Câmara Federal
Senado Federal

terça-feira, 9 de outubro de 2007

O SUJEITO ÁPORO - poema de joão batista do lago

Cava dentro em mim
O inseto amargurado
Solitário em sua dor
Cava… cava… e cava
Cava silenciosamente
Desesperadamente só
Cava sem lamento (e)
Tudo que encontra: pó


Só ele vê as crateras
Onde reside o pus (do)
Ser: verme em vulcãoHumano: danado cão
Pois mesmo escavado
Não se dá por vencido
Assim convencido
Gera-se deus-inseto


Metamorfoseia-se:
Orquídico em Fênix
Surgente das cinzas
Vê-se sujeito presente
- Inseto agora ausente –
Voltado das cavernas
Pretende ser gente (e)
Plantar orquídea agente.

GÊNESE de um vitral - de joão osório

O artista plástico João Osório Brzezinski, um dos nomes consagrados da arte paranaense, está no Beto Batata, alto da quinze (Curitiba), com seu mais recente trabalho GÊNESE de UM VITRAL (2,28 X 2,28) e mais 18 estudos para a finalização da obra. o vitral foi encomendado por Robert Amorim, proprietário do restaurante, e ficará permanentemente no local. Até o dia 30/10 estará exposto juntamente com o estudo.

CAIO FERNANDO DE ABREU


"Em luta, meu ser se parte em dois. Um que foge, outro que aceita. O que aceita diz: não. Eu não quero pensar no que virá: quero pensar no que é. Agora. No que está sendo. Pensar no que ainda não veio é fugir, buscar apoio em coisas externas a mim, de cuja consistência não posso duvidar porque não a conheço. Pensar no que está sendo, ou antes, não, não pensar, mas enfrentar e penetrar no que está sendo é coragem. Pensar é ainda fuga: aprender subjetivamente a realidade de maneira a não assustar. Entrar nela significa viver."

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

8 de outubro A MORTE DE CHE GUEVARA


Ainda na adolescência, o general Harry Villegas largou a vida de lavrador no interior de Cuba para pegar em armas contra o governo de Fulgencio Batista. Ele acabou sob o comando de Ernesto Che Guevara.

Villegas chegou a chefe da segurança pessoal do comandante Guevara, o acompanhou à África quando Che tentou criar um núcleo guerrilheiro no Congo e foi um dos únicos cubanos a sobreviver à ofensiva do exército boliviano.
Hoje em dia, 40 anos depois da traumática experiência, Villegas concedeu a entrevista abaixo ao correspondente da BBC em Havana, Fernando Ravsberg.

BBC - General, com que idade o senhor conheceu Che Guevara?

Harry Villegas - Convivi com ele desde os 15 ou 14 anos.

BBC - Como Che Guevara o influenciou pessoalmente?

Villegas - Pelo lado pessoal, ele me deixou o exemplo de lutar, de que sempre se pode mais, o exemplo de que quando se luta com amor, com paixão, quando se mergulha em uma obra, uma causa, sempre se pode chegar à vitória.

BBC - Uma das coisas que Che mais destacou foi a construção de um novo homem. Quase 50 anos depois da vitória da revolução, conseguiu-se criá-lo?

Villegas - Bem, acho que quando Che se foi, fez uma avaliação de como andava a revolução cubana e, em seus últimos escritos, que fez durante a sua viagem pela África e pela Ásia – na carta a Quijano - deixa bem claro que o processo revolucionário de Cuba naquele momento era irreversível.

Depois, nós tivemos problemas: desapareceu o campo socialista, o boicote foi reforçado, nos vimos obrigados a fazer concessões de caráter econômico, como aceitar o dólar, um conjunto de coisas que voltaram a dificultar alcançar este homem com o qual Che sonhara e do qual era protótipo. Não podemos dizer que o temos hoje, seguimos lutando para construí-lo.

BBC - Na América Latina tem havido mudança nos governos. Atualmente, muitos países são governados pela esquerda, que chegou ao poder por meio de eleições. Isso quer dizer que o caminho escolhido por Che estava equivocado?

Villegas - Bem, agora mesmo te expliquei que para Che a guerra de guerrilhas era a última alternativa para tomar o poder, que sempre que houvesse outro caminho, no qual não fosse necessário usar a violência - que sempre representa morte, destruição, sacrifício -, seria o mais correto.
Mas como não havia outra alternativa, ele escolheu este caminho.

BBC - Como se sentiria Che nesta América Latina com tantos governos de esquerda?

Villegas - Acho que se sentiria muito bem, feliz, acho que realmente há uma alternativa para poder construir um mundo diferente, um mundo melhor.

BBC - E na Cuba atual, como se sentiria Che?

Villegas - Estou pensando em como cresceram as desigualdades sociais em nosso país, pensando no que disse Fidel sobre o risco da corrupção, que também cresceu.
Há um debate político, por exemplo, em todo o país, nas fábricas, no bairros...

BBC - Que faria Che atualmente?

Villegas - Acho que Che estaria ao lado de Fidel, lutando ali ombro a ombro, quebrando a cabeça para conseguir recuperar todas estas coisas que se foram perdendo, entende?
Mas acho que o mais importante é a tomada de consciência em todo o nosso povo, que a está tomando abertamente, de que está em nossas mãos poder construir e manter essa sociedade e garantir o socialismo.
Esse é o objetivo fundamental, sem ter medo de ver as nossas deficiências. Foi isso que fomos convocados a fazer pelo segundo secretário do partido.
Além disso, a única forma de resolver as deficiências e os problemas é tomando consciência de que eles existem, e acho que Che realmente compreenderia que atualmente, o único caminho que temos é discutir, analisar, com toda a nossa juventude, todo o nosso povo, qual foi a obra da revolução, a que aspira a revolução.


BBC em Havana entrevista com Fernando Ravsberg

É E NÃO ESTÁ - poema de jb vidal

é outono e está verão,
sou hoje e estou ontem,

desconheço minhas estações,
parte da natureza deixo-me levar por si,

folhas marron-ferrugem não cobrem as calçadas,
meus pés sentem sua ausência, não é o que deveria, está o que não sei




o tempo rebela-se contra definições
ele É sempre e o demais transige,

o ciclo não é exato e o homem é impreciso,
se navegar é preciso que vento devo seguir?

senhor de mim mesmo não me conduzo,
minhas folhas não caíram, não tenho outono, pareço inverno





os frios estão por chegar, do tempo, das saudades, da campa,
nenhum terá o rigor deste que me congela desde o ventre,
sem origem nem destino, sinto-o, aqui, dentro,
Deus e o Demônio congelados comigo até a primavera das mentes,
quando a venda dos meus olhos escorrerá com as águas da morte,
então estarei diante deles, dentro deles, sendo eles, sendo um, novamente

FÚRIA

A coerência é o ultimo refúgio dos sem imaginação.


oscar wilde

Arroz, Feijão & Philosophia - jairo pereira

Informamos aos leitores que o artigo ARROZ, FEIJÃO & PHILOSOPHIA do escritor e poeta Jairo Pereira está completo, na página, com a publicação abaixo. As partes 1(um), 2(dois) e 3(três) são encontradas no mês de SETEMBRO e a parte 4(quatro) e Final neste mês de outubro nas "matérias publicadas".

Arroz, Feijão & Philosophia - final - jairo pereira

Fihnal



A voz de Hegel, soando baixinho entre as árvores. A voz sisuda, autoritária, que ante todo o metafisismo, alerta sobre o não afastamento demasiado do filósofo da nathureza, onde encontram-se os objetos mais importantes da filosofia. Não adianta procurar lá longe o que está aqui tão perto de ti filósofo. O problema é você, a nathureza (objetos) e o conhecimento que se tira dali, das coisas mortas, das coisas vivas, das coisas que causam, das coisas que implicam, das coisas que serenam, do tempo, da história e do vento. Filósofo é mesmo conceituador. Mania de verbo ser, o é pra tudo quanto é coisa. Poesia é produto fenomênico do pensamento. Poesia é... O tempo é cíclico. A história é repetitiva. Tudo é e deve ser para o filósofo impetuoso, aquele que arrisca tudo no saber, como os suicidas no morrer. Sofro delírios de silogismos no de vezenquando, o que revela em mim índole conceituadora, coisa de filósofo, além do que recebo estrelas no sótão depois da meia-noite, não namoro, perco botões das camisas à toa, metafisico (do recém-criado verbo metafisicar) sob as tempestades, peripatético, com conta estourada no banco. De quebra, ainda sou fanático por linguagem. Outra afecção má do espírito, já convulso de filosofia. Imaginar na hora do lanche, a composição de obras futuras, almejadas, tais como: A razão absolutória dos males do espírito ou Da atração da inteligência pelo mórbido. Boa parte da vida entregue às conjeturas, o quem sou? de onde venho? para onde vou? por quê? pra quem? como? Sempre um fio invisível enredando teu corpo, teu espírito de filósofo na hermética teia da aranha absoluta. Enredando. Desafiando. Que é pra se perquirir. Que é pra se engendrar pelo cognocer elevado. Que é pra repercutir verdades transfinitas. Que é pra subverter o real e o certo. Que é pra... Arroz, feijão e filosofia, é de se pôr na mesa todo dia. Filosofia a louca preciosa. A insubordinada que atenta contra as profissões contemporâneas, eis que convida ao ócio criativo e resgata a reflexão questionadora. Filosofia a desordeira. A santa. A obstinada. A traiçoeira, que mata de mentirinha a vida, antes da vida nascer. A que das perguntas faz respostas e das respostas, faz propriamente filosofia.

Antes que me caia uma tartaruga na cabeça, derrubada por alguma águia distraída. Antes que me caia um balde de tinta de cima da escada de frente à loja. Antes de tudo, que o filósofo que é filósofo se perca e se reencontre na vida e no pensamento, a fim de haurir do nada que é tudo uma razão feliz, de muito amor e elocubração para a vida presente e futura.


iAiRo pEreIrA

Autor de O Antilugar da Poesia, O Abduzido
e outros.
E-mail: jairopereiraadv@hotmail.com